sábado, 22 de dezembro de 2007

Agradecimentos públicos sobre 2007

Agradecimentos públicos aos amigos e às boas novas do ano: Aline e Jordani - contando todas as horas de almoço, janta e bar. À La Dume pela parceria, confiança & cumplicidade. À Camis Hungary por decidir ter um filho comigo. A Ariel Ledesma, Wagner Lopes e Douglas D´Angelo pela ajuda e pelas trocas. Lenes e Silmara, pela vola aos 80´s e pela encheção de saco (que eu proporciono). Ao Ivan e ao Caio, pela conversa fiada de sempre e a noite e o boteco e a comida asiática. Ao Vilasanchez pelos ouvidos atentos e a esperança de sempre encontrar gente assim, em algum lugar.

Aos amigos de sempre, é claro - rumo às nossas bodas de prata! Very soon! Família & amores idem.

A Mark e Andressa + Lofreta pelas oportunidades. Aos mantedores dos sites Cronópios e Cinequanon pelo espaço. Obrigada Veri e Débora pelas indicações que deram frutos.

Aos cineastas, músicos e produtores culturais - na verdade, também às suas equipes e assessorias de imprensa -, que toparam bater um papo comigo e foram muito solícitos nessa tentativa de promover um diálogo, mesmo que ainda pequeno, sobre arte e cultura. Em ordem de chegada: Academia Internacional de Cinema, Lucrecia Martel, Massao Ohno, Beto Brant, CasaCinePOA, Pato Fu, Hurtmold e The Eternals.

A Roberto Bicelli, Roberto Piva e Cláudio Willer pelas palavras incríveis - escritas e faladas, pelas entrevistas que geraram outras, e pela pequena convivência decisiva.

Aos demais entrevistados e os que publicaremos em breve - inclusive professores da Cásper, Newton, Mônica, Amadeu, Limão, Reinaldo Moraes, entre outros: obrigada.

Às almas infelizes e corrosivas que dedicaram tempo e energia a prejudicar os outros, uma frase do próprio Bicelli: "Seguimos vivendo. Porque a maior vingança é viver bem e, se você viver o bastante, o enterro do teu inimigo passa diante da tua casa".

"Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia." Riobaldo, personagem de GRANDE SERTÃO: VEREDAS, no trecho final do livro de Guimarães Rosa.

FELIZ ANO NOVO! Que a gente se ame e se respeite.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Eu grito, tu gritas, eles gritam

Quem sou?
De onde venho?
Eu sou Antonin Artaud
e basta dizê-lo
como sei dizê-lo
imediatamente
vereis o meu corpo atual
voar em estilhaços
e em dois aspectos notórios
refazer
um novo corpo
onde nunca mais
podereis
esquecer-me
- Antonin Artaud,"Post Scriptum"


"O panarício é um sofrimento atroz. Mas o que mais me fazia sofrer, era não poder gritar. Porque eu encontrava-me num hotel. A noite já caíra e o meu quarto estava entalado entre dois outros onde havia gente que dormia. Então pus-me a tirar do crânio tambores, metais e um instrumento que ressoava mais que os órgãos. E aproveitando a força prodigiosa que me dava a febre, fiz deles uma ensurdecedora orquestra. Tudo tremia com as vibrações. Depois, com a certeza de que num tumulto assim a minha voz não seria ouvida, desatei a uivar, a uivar horas a fio, até que, pouco a pouco, me senti aliviado." - Henri Michaux

sábado, 8 de dezembro de 2007

A mediocridade

Tem gente que dá asa à cobra. Mas cobra não é pássaro. Voa baixo e por tempo limitado.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Frases (do meio) da semana

Imagem com fantasmas
"Televisão digital prá quê? Pra ver Faustão?"- E.V., realista, fazendo a janta.

Doutor, eu não me engano...
"Corinthiano é que nem mulher de malandro: gosta de apanhar! O marido bebe, bate, depois pede pra voltar e ela fica doidinha! Mora até debaixo da ponte com um cara desses!"- D.G., da fiel torcida, em resolução Freudiana.

A culpa é do divórcio
"Se não nos resta nem amor, nem religião, nem dinheiro na conta bancária pra dividir, além do incômodo de mudar de casa e brigar pela biblioteca, ao menos preservemos o casamento... pelo bem do planeta!" - Nora Bär, editora de ciência do jornal argentino La Nación, comentando o resultado de pesquisas que apontam que pessoas divorciadas fazem mal ao planeta.

Paixão noir
"Eu quero te abraçar até o fim dos tempos. Vou te ligar hoje, mesmo com essa voz de atendente falida de motel. Ou sem voz, by código morse, o mais provável", Paul Henry, ardente (ui!), por e-mail.

Status
"Eu gostaria de gostar de Portishead. Com isso, eu seria mais cosmopolita" - Comentário de um usuário do Youtube, sobre um vídeo da banda.

O Rei e eu
"Ele tem 49 anos. É adulto. Se você aprende com seus reveses, sai fortalecido. Ele me pareceu um exemplo disso (...) Francamente, ele estava normal!"- Harriette Cole, editora da revista americana Ebony - voltada ao público negro, sobre Michael Jackson (mais branco do que nunca), que está na capa da revista. A entrevista, aliás, marca a comemoração dos 25 anos do álbum Thriller, que o consagrou como Rei do Pop. Tem uma matéria bem bacana sobre isso, bem aqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Top 10 lovesongs - 2000´s

Ainda faltam 2 anos para o fim da década e talvez, até lá, nossas angústias todas se resolvam ou se multipliquem. (Puta que o pariu, mas o que foi isso que eu falei?)

Essa lista de 10 merecia ter 8 e deixar lacunas para minervas futuras. Injustiças sejam feitas. De qualquer forma, vou me precipitar. De papo sério já basta aquele fingimento nosso de cada dia. A lista dos anos 2000 é incompleta e conta histórias em andamento. Mas minhas rolling stones renais se gabam pelo suor da escolha.

1) Mansun - "Legacy"
Atenção para o clipe! De novo, uma troca de décadas: Legacy é de 98 e o Mansun é, por acaso, uma das melhores bandas inglesas surgidas nesse período entre séculos. Nunca fizeram lá de muito sucesso no hemisfério sul. But I don´t care for it. "Nobody cares when you´re gone"

2) Interpol - "C´mere"
A melhor música do Interpol, uma das banda indies mais bacanas a tocar o mainstream nos últimos anos. Repertório denso e como percebe-se, com energia no palco. Rock n´roll simples, rápido, básico e nem por isso indolor.

3) Stereolab - "The Black Arts" Minha música favorita desta genial banda anglo-francesa [foto] é a única que aprendi a cantar. Uma mistura lisérgica e lírica de bossa nova com rock, dub e sei lá mais o quê. Dessa aí não tem vídeo no Youtube. Mas clicando no hiperlink, baatará escolher o álbum a baixar, direto do blog "Ouço mesmo, e daí?". Ouve lá.

4) PJ Harvey & Thom Yorke - "This Mess We´re In"
A melhor voz masculina da música popular mundial depois de Jeff Buckley, é a de Thom Yorke. Uma das mulheres mais classudas e vanguardistas desse mesmo cenário pop é a inglesa PJ Harvey. Eles estão juntos num telhado de um bairro sombrio. Chove em Nova York.


5) Aterciopelados & Miguel Ríos - "Maligno"

A versão original desta pérola do cancioneiro latino moderno foi gravada em 98, no álbum Caribe Atômico, pelos Aterciopelados (confira no link). Lá pelo segundo colegial fui ter contato com o que chamam por aí de"rock latino". E talvez, junto dos argentinos do El Otro Yo, esta seja a banda hermana que tenho mais vontade de ver. A versão escolhida é de 2001, com o espanhol Miguel Ríos. Sobre as parcerias de Ríos neste álbum com outras "estrellas" do hemisfério sul, eu falo mais qualquer dia desses.

6) The White Stripes - "Jolene"
Uma cover de Dolly Parton, se bobear, melhor que a original. Me disseram que os Stripes fizeram a selva tremer naquele show em Manaus, tempos atrás. Quando eu crescer eu quero ser baterista, mas assim, bem pesada e mediana, que nem a Meg White.

7) Wry - "In The Hell Of My Head"
Os meninos do WRY deixaram Sorocaba, no interior paulista e, sem dó, largaram tudo (ou melhor, nada) e se mandaram pra Londres. Deu certo. Lá eles tocam nos mesmos clubes underground em que os críticos da NME pescam suas novidades, para que, logo em seguida, os jornalistas brasileiros copiem as opiniões inglesas e assinem embaixo da ignorância que nos cerca nesse país.

8) Blur - "Tender"
Essa foi só pra dizer que Gorillaz não tá com nada. O que interessa é banda ao vivo. Presença física, gotas na testa do vocalista. Otherwise, não tem graça. Tender é 99, mas a MTv Brasil tocou isso pra valer em 2000. Em março daquele ano é que eu ganhei o álbum 13 de presente. Tá por aí jogado na casa de algum amigo, até hoje. A versão do clipe é até melhor que a do disco.

9) Robbie Williams - "Feel"
Em dezembro de 2002, todas as cidades portuguesas pairavam sobre tempo e espaço. Pessoas em câmera lenta, lacônicas, melancólicas. Chovia por dias e noites. Nevava na Serra da Estrela. Todos os olhos estavam opacos e miravam o longe pelos vidros transparentes dos cafés. Todas as televisões sintonizadas em programas ou canais musicais exibiam incessantemente ao clipe de Feel, de Robbie Williams, enquanto todas as casas noturnas empurravam Kylie Minogue goela abaixo do público jovem. Isso, é claro, se você não optasse por assistir a um show do AraKetu num cassino em Póvoa de Varzim. Eu escolhi os traços quadrados de Mr. Williams em sua fase "tchuby".

10) Björk & Antony Hegarty - "The Dull Flames of Desire"
Ganhou o dueto mais bonito de 2007. Pena que de perto mesmo, só vi Björk. E não é pouco. Mais informações e a tradução desse poema dentro de um poema (o filme Stalker, de Andrei Tarkovski), clique aqui.

sábado, 24 de novembro de 2007

Espelho e sombra

Minha cabeça bate no teto. Eu não tinha olheiras nessa mesma pele branca quando, pela primeira vez, senti minha cabeça bater no teto. E depois quebrar o telhado. A melhor sensação do mundo é enxergar as estrelas todas juntas, nunca uma por vez. Eu mordia os próprios dentes e serrava os caninos. Até conseguir respirar. Sempre foi assim: segundos, minutos, ou horas, dias. Até que alguém me puxasse pelos pés para fincá-los no chão. Gosto quando fazem com ternura. Essa casca nunca foi tão dura. Mas não pesa tanto assim.

Eu me obedeço moderadamente. A gente tem de se respeitar. Ainda faço covas rasas ao sorrir. Ainda sorrio bastante e gargalho o mesmo tanto, por outros motivos. No espelho, uma pequena marca na testa e a mesma pinta perto da boca. Memórias do ônibus escolar. As minhas agendas de adolescente tinham lá um questionário: tipo sanguíneo, sinal particular, em caso de emergência avisar a (eu não dava o telefone com medo de matar a vovó do coração). Tinha também uns adesivinhos bobos, as estrelinhas que as professoras colavam. Eu já falei de estrelas.

Suava frio quando te encontrava. Eu não mudei nada. Encontro vultos das minhas vidas passadas e tenho ressaca pós-regressão. Eu tinha cheiro de cloro, de clube, de grama e de shampoo. Tinha cheiro de fogo e de rock n´roll. Não sei mais que cheiro eu tenho, mas deve ser bom. Mergulhava na piscina e contava até mil. Depois minha cabeça batia no céu, pra eu conseguir respirar. Ganhei milhões de vezes a medalha de ouro em Barcelona e naquela outra olimpíada de 2000. Vivendo e aprendendo a nadar. Maremoto e mar manso. Baía. Ilha. Vou nadar na pia quando batizar Maria Antonia. Ela vai sorrir.

Nunca usei aparelhos nos dentes. Preciso operar as amídalas e isso é perigoso: deixar a garganta nua. Uso lentes corretivas obrigatoriamente, segundo a carteira de habilitação. Eu me dirijo. Eu sigo as estrelas. Sinto frio na espinha e sofro por excesso de sangue, mas aqui dentro cabe tudinho. Meu sangue é azul que nem o de todo mundo. Eu sigo em pé. Mas sento no banco das velhinhas no metrô. Esse trilho aqui é meu. Agora eu boto a mão na taça. Eu era tudo mas não tinha nada. Eu agora apenas sou.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Humano, demasiado humano

Muito bacana o artigo que Andy Gill - criador e guitarrista de uma das minhas bandas favoritas, o Gang of Four, escreveu sobre Michael Hutchence no diário britânico Telegraph. Gill e Hutchence foram amigos e parceiros em composições que resultaram no único álbum solo (e póstumo) da carreira de Hutch.

Além das histórias engraçadas com gente como Bono, Johnny Depp, Paula Yates e Naomi Campbell, e de curiosidades sobre gostos e comportamento do cantor australiano, o texto carrega uma saudade sincera. Assim, daquele jeito que a gente sente de quem gosta. Nada piegas, mas com aquela sensação de impotência em remediar fatos irreversíveis. Sabe do que eu tô falando?




* na foto, Andy Gill & Michael Hutchence, no citado estúdio improvisado na casa de Hutchence, no sul da França.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Top 10 - lovesongs 90´s

Toda a música pop tocando no rádio, era aquele alto-falante sintonizado na rádio Cidade. Isso no Clube Guapira aos 8, aos 9, aos 10 e aos teens - com cheiro de grama, cloro e protetor solar. Sonhando acordada. Vivendo e aprendendo a nadar. Eu ganhei mais de mil vezes a mesma medalha de ouro em Barcelona. A mesma medalha e diversos agradecimentos diferentes. Debaixo d´água um peixinho, com ascendente em Escorpião. Futuro maremoto & mar manso ao mesmo tempo. Até desencanar do esporte. E construir um foguete.

De quando eu amava o Fabio, depois o Felipe, depois aquele carinha mais velho, da 8ª série...como era mesmo o nome dele? Do beijo na boca no corredor da escola. Do dia em que eu e a Natália choramos emocionadas, aos 11. A vó dela era portuguesa como a minha. De quando Phil Collins e Roxette emplacavam hits simpáticos. Julia Roberts era "Uma Linda Mulher". Dos tempos da acne e das festas com cuba-libre na casa do João. Ônibus escolar do pré II ao primeiro colegial. Primeiro nasceu a Mariana, depois a Barbara e finalmente o Guilherme. Hollywood Rock. NIRVANA, NEVERMIND. Sabrina Parlatore, Gastão Moreira e Fabio Massari na MTV. U2 no Morumbi. Mick Jagger & Keith Richards. Um monte de lembranças esparsas e outras coisas que eu acho que nunca mais vou esquecer.

Estrelinhas. E flores. Bexigas de gás. Castles in the air. Fucking gorgeous air.

1) U2 - "Ultra Violet"
You know I need you to be strong/And the day is as dark as the night is long
Feel like trash, you make me feel clean/I'm in the black, can't see or be seen
Baby, baby, baby...light my way

MacPhisto também ama. Na ZOO TV Tour.

2) The Cure - "Pictures of You"
O amor é dark nas propagandas da HP. 1989 era o ano. Mas tocava mesmo em 90.


3) Depeche Mode - "Enjoy The Silence"

Num clipe de Anton Corbjin, o Rei Gahan sobre montanhas cobertas de neve. Meu reino para qualquer coisa que venha do Rei Gahan [foto abaixo].



4) Massive Attack - "Unfinished Sympathy"
A day without a night. You´re the book that I have opend. And now I´ve got to know much more. Na infância eu achava que as discotecas - tipo aquelas que apareciam na televisão - tocavam Massive Attack. Blue Lines é um dos melhores discos da década.

5) Radiohead - "Creep"
Outro dia criticaram um show do Radiohead: "pra que tocar Creep?" Tem gente que não me deixa esquecer de que é proibido ser pop. Tocou no rádio é pecado. Na prática, eu é que esqueço dessa gente. E ouço "Creep", a menos quando enjôo. Caguei pro alternativo (ok, não é bem assim). Mas precisa ser macho pra gastar todos os seus 200dólares pra bancar seu primeiro clipe. Esse também é Thom Yorke. Sabia?

6) Jeff Buckley - "Last Goodbye"
Qualquer dia dou um ensaio bacana sobre o dono da voz masculina mais incrível do planeta. Ele também usava uma Fender Telecaster.

7) Smashing Pumpkins - "Tonight, Tonight"
Um George Meliés pesado e pop ao mesmo tempo. A direção do clipe é de Johnatan Dayton & Valerie Farriss, que recentemente deram vida à Pequena Miss Sunshine. You can never ever leave without leaving a piece of youth.

8) Nirvana - "Where Did You Sleep Last Night?"
Pra não dizer que eu não falei das flores do velório de Kurt, quando ele ainda estava vivo. Eis o fim daquele acústico que todo mundo viu e ouviu até furar.

9)Buffalo Tom - "Summer"
Summer´s gone and someone saw you wasted. Eu cantava errado a letra toda e achava lindo. Sabe que até era melhor do meu jeito?

10) Suede - "Obsessions/My Insatiable One"
Ok, essa foi só pra ter o vídeo aqui, porque eu não paro de ver há duas semanas. Uma amiga sempre me diz que gastei mais dinheiro com Suede que com U2, ao longo da vida. Depois de Michael Hutchence e Dave Gahan... ainda bem que existe Brett Anderson[foto abaixo]. Obrigada, Inglaterra. (Quem quiser me dar o DVD no Natal, vou achar o máximo...)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Notas da semana

Há dez anos, morria Michael Hutchence. Meu amor platônico do começo da adolescência. De quando as meninas todas morriam pelos Backstreet Boys ou pelos irmãos Hanson. E eu, preferia roqueiros barbudos. Pro Guia da Semana, fiz um apanhado da enxurrada de notícias que circulam na Europa e Austrália, sobre a briga judicial entre a família Hutchence e Bob Geldof. A história eu conto aqui. E abaixo... uma foto paparazzo, com Michael Hutchence (à esquerda) passando pelo "algoz" na saída da balada. Reparem na cara de Sir Bob Geldof...



Por outro lado, felicidade. É muito bonito e até mesmo revigorante ver um amigo casar. A Lúcia, mãe do lindo Joaquim, encontrou alguém pra compartilhar a vida. E acabou por se tornar a primeira associada do clã Caspervas Inc. a abandonar a gandaia solteira. Mas a cadeira cativa é dela e ninguém tira! FELICIDADES! E saudações ao ET de Varginha! (Na foto da caravana paulistana, tá faltando a Ritex).

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Making of The Eternals (meu querido diário)

Eu e Felipe Vilasanchez, pedra bruta casperiana - que ainda vai fazer muita coisa boa em jornalismo, entrevistamos semana passada o trio The Eternals, de Chicago, para a Revista Paradoxo, da qual sou editora de música.

As fotos abaixo são do Felipe, tiradas com sua super Nikkon Hi-Tech de 5 quilos, durante a durante a entrevista no camarim do espaço SESI/FIESP. Clique nelas para aumentar. A matéria sai terça-feira, com fotos bem mais bacanas, do show em São Paulo.



domingo, 11 de novembro de 2007

Top 10 lovesongs 80´s

Não, não se trata da Festa do Sabão da Trash 80´s. Nem do Balão Mágico, nem Bozo, nem Xuxa, ou a mala-evangélica da Mara Maravilha (mensalista da mesma lavanderia que eu), ou qualquer outro pé na jaca,direto da nossa infância. Mas a coisa aqui tem os dois pés no rádio.

Não se trata de simplificar demais, mas de fato, é uma mais óbvia que as demais. Porém, de valor inegável.

1) Sinead O´Connor - "Nothing Compares 2 U"
Embora tenha sido lançada em 90, a canção é muito mais 89 que qualquer outra coisa. Sinead recusou o convite para a festa. Raspou a cabeça. Arrancou a maquiagem. Firmou a câmera num tripe diante de si, com fundo negro e pele branca, e cortou o plano pela metade. Depois chorou pela morte da mãe e deu vida à mais romântica e sincera composição do gênio Prince. Desperdiçou milhões de dólares alheios, que seriam investidos na propaganda enganosa dela mesma. Faturou outros milhões e emplacou um dos maiores hits das últimas décadas. Tentou se matar. Rasgou a foto do papa. Confinou-se no hall dos incompreendidos. Musa às avessas.

2) David Bowie - "Absolute Begginers"
Ao vivo na BBC em 2000. Bowie, David. "O rock n´roll é uma das fine arts".
Ive nothing much to offer/Theres nothing much to take/Im an absolute beginner/And Im absolutely sane/As long as were together/The rest can go to hell/I absolutely love you/But were absolute beginners/With eyes completely open/But nervous all the same/If our love song/Could fly over mountains/Could laugh at the ocean/sail over heartaches second time/Just like the films/Theres no reason/To feel all the hard times/To lay down the hard lines/Its absolutely true

3)Joy Division - "Love Will Tear Us Apart"
A canção preferida de toda uma geração, depois outra, e agora outra. O drama epiléptico de Ian. As dores do mundo de Ian. A luz e as trevas de Ian. A morte-viva de Ian. O fantasma de Ian entre nós. Control.

4) The Smiths - "There is a Light That Never Goes Out"
A sublime obra-prima de Morrisey. Indiscutível. Acima em versão ao vivo, por Noel Gallagher.

5) U2 - "I Still Haven´t Found What I´m Looking For"
Julia Roberts está fugindo. Ofegante, vestida de noiva, montada num cavalo preto, cavalgando pela relva americana de um filme americano com final feliz para ver no cinema à luzes apagadas e som estéreo em alto volume. Acima em versão gospel, direto de Rattle and Hum.

6) Soda Stereo - "Un Misil en Mi Placard"
Aqui, na versão acústica gravada em Miami, do álbum "Comfort Y Música Para Volar", que eu ganhei, emprestei, e nunca mais vi. Faltou grana & tempo, time is money. Não ia ser a primeira nem a décima volta triunfal caça-níquel de banda alguma que eu veria ou deixaria de ver. "O Police argentino". Balela. Por isso mesmo, importante. Pop-rock de qualidade a gente não pode desprezar. Tem que dar graças a Deus que exista.

7) Paralamas do Sucesso - "Quase Um Segundo"
Pra não dizer que não falei do Herbert.

8) INXS- "Never Tear Us Apart"
De quando fiquei apaixonada pelo Michael Hutchence

9) Billy Idol - "Eyes Without a Face"
Para ouvir repetidas vezes num vôo bêbado de São Paulo a Lisboa, "rádio TAP". Por falta de opção ou masoquismo mesmo. A saudade é forte.

10) Duran Duran - "Save a Prayer"

Para cantar às 2 da manhã, num karaokê da Liberdade, e ouvir coros. Com o agravante de um ex-namorado que assistiu a um show de Simon Le Bon & cia numa viagem à Disney. (Pode rir agora). Toma aí a versão live in Rio.

Travessia (parte I)

Por causa da minha tristeza, sei que de mim ele mais gosta. Sempre que estou entristecido é que os outros gostam mais de mim, de minha companhia. Por que? Nunca falo, queixa de nada. Minha tristeza é uma volta em medida; mas minha alegria é forte demais.


Desespero quieto às vezes é o melhor remédio que há. Que alarga o mundo e põe a criatura solta. Medo agarra a gente é pelo enraizado. Fui indo. De repente, de repente, tomei em mim o gole de um pensamento - estralo de ouro: pedrinha de ouro. E conheci o que é socôrro.


Os olhos que ele punha em mim, tão externos, quase tristes de grandeza. Deu alma em cara. Adivinhei o que nós dois queríamos - logo eu disse: -"Diadorim... Diadorim!" com uma força de afeição. Ele sério sorriu. E eu gostava dele, gostava, gostava. Aí tive o fervor de que ele carecesse de minha proteção toda a vida: eu terçando, garantindo, punindo por ele. Ao mais, os olhos me perturbavam; mas sendo que não me enfraqueciam. Diadorim.


Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo como fazer injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou - amigo -é quem a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, o Sesfrêdo. Ele não quis me escutar. Voltei de raiva.

Trechos esparsos do romance "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa. Riobaldo. Travessia.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O mundo na ponta dos dedos*

Por Beatriz Sarlo

Não posso me conectar a internet. A empresa que pago para me oferecer este serviço emite uma mensagem que informa, docemente, que todos os seus operadores estão ocupados. Sinto uma irritação profunda contra a música que se escuta entre uma mensagem e outra. Tenho a certeza de que cada segundo sem conexão me faz perder dinheiro. Na realidade, perco mais tempo do que dinheiro, porque deveria desligar o computador, pegar o pen drive e, como milhares de pessoas, mandar o e-mail ali no locutório da frente.

Por alguma razão, onde se mistura o ressentimento contra a empresa, a paciência e algumas vagas esperanças, não faço nada. Insisto com o impossível 0800 e sua enorme incompetência com usuários que, em seus escritórios ou em suas casas, escutam a mesma voz que lhes indica que todos os operadores estão ocupados com outros mil usuários que, por algum milagre da distribuição estatística da sorte, conseguiram ser atendidos.

É segunda-feira e devo enviar minha coluna a esta revista. Tenho várias horas antes de entrar na zona de perigo; mas por outro lado, poderia ligar para a redação e dizer que esperem mais um pouco ou que lhes mando um disquete logo mais. Finalmente, poderia fazer também o mais sensato, que consiste em pagar 1 peso num locutório e enviar a coluna de lá mesmo. As soluções são todas inegavelmente sensatas, mas é como se não estivessem entre as minhas possibilidades. Só quero que a empresa telefônica me conecte, somente a conexão me livraria desse sentimento que mescla frustração, isolamento, irritação e todas as normas de defesa do consumidor (vão me descontar da fatura o tempo em que não me forneceram o serviço? Pergunto-me, como se deles eu dependesse para meu bem-estar econômico futuro).

Penso em mudar de empresa. Mas me dou conta de que não tenho uma lista telefônica impressa e que, portanto, preciso estar conectada a internet para obter informações sobre as outras empresas, seus planos, e seus números de telefone. Juro que vou mudar de empresa assim que consiga me conectar. Me dou conta do caráter absurdo desse juramento, já que sou uma mera cliente, ou seja, somente uma entre milhares de usuários que logo complicará a própria vida: cortar o serviço, devolver o modem, esperar o modem do novo serviço... para que continuar? Estou presa à minha conexão como se meu computador e a empresa fossem irmãos siameses. Isso é tudo. Tenho que esperar que o suporte técnico me atenda ou que o serviço volte ao normal sem minha intervenção: não tenho outra alternativa, dependo inteiramente de algo sobre o qual não posso influir minimamente. Os órgãos de defesa do consumidor e as páginas de cartas do leitor nos jornais acumulam denúncias sobre convênios médicos, telefones e celulares.

O certo é que sigo sem me conectar a internet e também, para experimentar a moléstia mais profundamente, sigo sem cruzar até o locutório da frente. Nestas circunstâncias, me distraio com a pergunta: como era a vida antes da internet? A espera era uma dimensão fundamental de todas as minhas atividades: esperava cartas, esperava xérox de revistas ou livros que chegavam (ou não) pelo correio, esperava chamadas telefônicas, esperava poder locomover-me até uma biblioteca caso necessitasse de um texto clássico que não tinha, caminhava até as estantes para buscar, vagarosamente, um dado, consultava um CD da Enciclopédia Britânica que, em seu tempo, parecia o maior avanço do mundo (poder comprá-la e ter um leitor de CD no computador).

Antes da internet, eu esperava e provavelmente pensava um pouco mais antes de responder a uma carta, de pedir uma xérox a um amigo que estava longe, de fazer uma chamada internacional ou aceitar um convite. Antes da internet, eu esperava e meus dedos não agiam mais rápido que minha cabeça: hoje meus dedos são mais velozes que a cabeça. Teclam todo o tempo, sem parar e, se estão quietos, sentem um cacuete nervoso.

Antes da internet havia coisas que eu renunciava saber, pois seria muito trabalhoso encontrar a informação. Não se tratava de dados importantes e podia seguir vivendo sem eles (por exemplo: sabia que Sampras tinha ganhado mais que perdido de Agassi, mas não me importava o número exato; hoje, busco o número exato e também esqueço de tudo isso imediatamente porque sei que posso buscar essas informações novamente e que, para sempre, essa diferença de vitórias e derrotas estará na internet). Tampouco me parecia fundamental saber o ano de nascimento de Janis Joplin, porque jamais me enganaria sobre a época que ela marcou.

Hoje, tudo isso está na ponta dos dedos. Mas agora, nesse momento, estou sem conexão. Sofro. Se necessitar saber quantos anos viveu Libertad Lamarque no México, o que faço? A quem chamo para averiguar com que idade Ingrid Bergman conheceu Roberto Rossellini? Melhor, desligo o computador e, por via das dúvidas, vou ao locutório da frente.

* Coluna publicada originalmente no jornal El Clarín, da Argentina, em 28 de outubro de 2007. Tradução: Renata D´Elia

domingo, 4 de novembro de 2007

The big pearls

Examinando os line-ups das edições anteriores fica claro como o Tim Festival concebeu-se originalmente como um novo Free Jazz, para platéias igualmente "exigentes e elitizadas", embora tenha se tornado uma espécie de "best of combo" brasileiro de festivais como Glanstonburry, Coachella, Paleò e outros eventos dos sonhos.

Com atrações de temporalidade duvidosa porém necessárias para combater o atraso com que platéias brasileiras tinham acesso às novidades do rock e pop mundial, o festival cumpre sua missão mercadológica e atende parcialmente às demandas de um público majoritariamente jovem e modernoso, àvido pelas melhores bandas dos últimos tempos das últimas semanas.

As pequenas pérolas, no entanto, permanecem atiradas aos poucos. Tem gente que nem lembra delas. Em 2003, por exemplo, tivemos Beth Gibbons (do Portishead - foto abaixo)& kd lang, duas das mais incríveis cantoras surgidas nos anos 90, em shows transmitidos pela Globo enquanto eu devorava um cachorro-quente completo e prensado num dogão 24 horas em Santana. Bixete universitária, dura como só, não tinha verba para assisti-las no Rio de Janeiro. No meu lugar, estavam os astros da Malhação. A vida é dura (mas o cachorro-quente não).

Na segunda edição,em São Paulo, a musa PJ Harvey apontava para um amigo meu, ensandecido na primeira fila, cantando "I don´t neeed anything but you, such a shame,shame, shame...". E eu me encontrava nervosa e apreensiva antes de uma importante apresentação de faculdade no domingo, dia seguinte. Os shows de Primal Scream e Kraftwerk entraram para a história e foram comentados na TV por um Zeca Camargo bastante didático. Ele explicava sorridente e pacientemente a existência de monstros avessos à Ivete Sangalo, para os telespectadores do período pós-Zorra Total.

Tirei 70 fotos de Elvis Costello em 2005. Eu choraria lembrando de Mapplethorpe, no show do Television, mas a má vontade deles não permitiu. Tirando o Arcade Fire, pérola mesmo não tinha mais nenhuma. E Mapplethorpe não queria mesmo que eu chegasse perto dele. Um ano depois Patti Smith tocou longe de São Paulo, o único lugar do Brasil onde seria recebida à altura de sua importância. E em 2007 restou juntar-me no Anhembi aos amoados fãs de Björk, essa sim, a própria vanguarda.

Quando vi o clipe de All Mine, do Portishead, pela primeira vez, aos 15 anos, me perguntei se era mesmo aquela menininha muito estranha que entoava aquela voz. Gravei os quatro minutos de clipe num VHS que quase furou de tanto passar, até que a internet banda larga e o mundo dos downloads me salvassem do breu. Assistindo hoje ao DVD Portishead - Roseland Live NYC me reservo a oportunidade de ver Beth Gibbons, de jeans e camisa preta, fazendo muito melhor do que a maioria das musas hi-tech. There´s nowhere too hight for me. All mine you have to be.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Top 10 lovesongs - 70´s

Continuando a série, temo que dos últimos 20 anos para cá a lista perca um pouco da classe. Mas não do impacto. Por enquanto, estamos nos 70.

E dessa vez, a lista está mais pop. E tem até uma dobradinha.

O cotovelinho dói? Calma, minha gente, ainda não estamos na lama. Mas um dia, certamente, chegaremos lá!

1) Luiz Melodia - "Pérola Negra"
"Vocês não sabem o que era ouvir Pérola Negra nos anos 70", afirmou outro dia o dono do bar Feira Moderna, um lugar moderno na moderna Vila Madalena. Essa faz parte de qualquer lista de qualquer das melhores coisas, em qualquer período. Arranje algum sangue e escreva no pano: Pérola Negra, te amo, te amo. Obra-prima.

2) Doces Barbaros - "Esotérico"
Gal e Bethânia trocam olhares (ui!) na magreza esquelética baiana. Here we are, the exoctic brazilians: and you may touch us! Mistério sempre há de pintar por aí.

3) Queen - "You´re My Best Friend"
A singeleza da mais bela canção composta e escrita pelo meu baixista favorito em todos os tempos, John Deacon, faz parte do álbum "A Night At The Opera". (Aqui na versão Pikachu, para crianças crescidas)

4) Clube da Esquina 1 - "Me Deixa em Paz"
Do disco que juntou a patota mineira toda. Taí o link pra baixar. E aqui o site do Museu Clube da Esquina.

5) The Police - "Roxanne"
Foi prá puta mesmo que ele fez, aquela safada! Sting está gamado nela. E de cabeça feita. Ele quer casar. Deus dá asa à cobra.

6) David Bowie -"Heroes"
Jacob Dylan me deu um ídolo de presente e ele se chamava David Bowie. Foi há dez anos quando ouvi a versão de "Heroes" pelo Wallflowers, com letra traduzida pela MTV. I-I wish you could swim/Like the dolphins-like dolphins can swim/Though nothing-nothing will keep us together/We can beat them-for ever and ever/Oh we can be heroes-just for one day.

7) Rita Lee & Tutti Frutti - "Agora Só Falta Você"
De feeling e poros libertos. Só falta você. E agora?

8) Elis Regina - "Atrás da Porta"
De Chico Buarque e Francis Hime. Quer mais Medéia que isso?

9) Michael Jackson - "Rock With You"
Michael Jackson negro canta e dança sozinho no clipe de "Rock With You", que compôs aos 20 anos - com direito à virada genial de bateria que abre a canção. Girl, when you dance, there´s a magic that must be love ... A parceria com Quincy Jones começava ali, em 78, e rendeu pelo menos duas obras máximas: Off The Wall, o álbum em questão, e Thriller. I wanna rock with you, all night... dance you into day, sunlight...

10) Michael Jackson - "Got To Be There"
Eu tinha 9 anos ou coisa assim. Gravava fitinhas do rádio, o dia todo. Ficava esperando ansiosa tocar aquela uma ou aquela outra. Um dia tocou "Got To Be There".
Pobre gênio negro-branco, o que você foi capaz de fazer a si mesmo?

domingo, 28 de outubro de 2007

Gabriel Garcia Bernal

Faço parte do excêntrico hall de pessoas que confudem os nomes de Gael Garcia Bernal & Gabriel García Márquez.

Tipo assim: tá muito gostoso aquele Gabriel Garcia Márquez no filme do Almodóvar. Baita bocona carnuda!

Sacou?

Björk Gudmundsdottir

À mesa de um tradicional bar do Bixiga, estudantes de jornalismo falam pelos cotevelos:

"Não vem com essa de Sugarcubes. Aquela mulher se vestiu de pato e foi se apresentar no Oscar, Renata. E ela grita. Não dá!" - Gustavo Simon, às 2 da manhã.

Na madrugada de sábado, R. D´Elia & Andressa Z. conversam amenidades no MSN:

R.D.: - Amanhã vou ao show da Björk.
A.Z.: - Eu não acredito que você gosta daquela mulher. Ela pôs um ovo, Renata. UM OVO!
R.D.: - hahahahahahahahahahahaha
A.Z.: - Só me falta você falar que gostou daquele filme medonho...
R.D.: - O que ela fez com o Lars Von Trier?
A.Z.: - Eu torcia pra ela morrer, aquela desgraçada!
R.D.: - ... ... ... ...
A.Z.: - Se você disser que aquilo é bom eu me taco pela janela!
R.D.: - Calma! Péra! Se acalma... me deixa explicar...

Em todo caso, fica aqui o vídeo do Sugarcubes, a banda que revelou Björk ao mundo ainda nos anos 80. "Birthday", a mais bonita. No reunion concert de Reykjavik, ano passado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Top 10 lovesongs - 60´s

Continuando a saga das listas, sigo imersa até a cintura em certa pieguice - coisa que não perdôo nem em Neruda. Mas pelo menos ando evitando o extremo do kitsch.

Pensando bem, tudo isso é compreensível. Justificável. Perdoável. Um sorrisinho afinal, para quem carrega bexigas de gás em formato de coração no meio de um shopping center.

1) Beach Boys - "God Only Knows"
Na sinceridade mesmo. E uma coragem daquelas.
I may not always love you but long as there are stars above you. You never need to doubt it, I´ll make you so sure about it. God only knows what I´d be without you. If you should ever leave me, though life would still go on, believe me. The world could show nothing to me. So what good would living do me. God only knows what I´d be without you.

2) The Turtles - "So Happy Together"
Imagine how the world could be so very fine, so happy together.

3) Burt Bacharach - "Baby, It´s You"
Bom é ouvi-la mais despojada, com Patti Smith,já nos 70. Feita para ouvir bem alto, no fone de ouvido, subindo os morros da Vila Madalena numa segunda à tarde com destino a uma galeria de arte. 5 Reais no bolso e 50 fotos de Robert Mapplethorpe. And love is still in the air.

4)Chris Montez - "Call Me"
Call me, don´t be afraid you can call me, maybe it´s late but just call me. Tell me and I´ll be around you. Som de propaganda pró-sexo com camisinha, grande MTV Brasil! Canção daquele disco velho e amarelado, que a gente guarda embaixo da vitrola, no quartinho das bagunças.

5) The Doors - "Touch Me"
Poesia beat ou "neo-beat"? Psicodelia? Nada disso importa: tem um negão alucinado no saxofone, atrás de James Douglas Morrison e eles estão ao vivo na TV aberta.

6)The Rolling Stones - "Play With Fire"
Bela gravação de "Out of Our Heads" [foto], mesmo sem grandes arroubos blueseiros de Richards. A singeleza jaggeriana, vale a conferência.

7)Elvis Presley - "Suspicious Minds"
Elvis Presley estava de volta do exército em 1968. No ano seguinte, tocou Suspiscious Minds pela primeira vez e lançou o disco "From Memphis To Vegas". Vale também a versão acima, com Fine Young Cannibals, mas nada tão emblemático quanto a original.

8) Francis Lai - "Un Homme Et Une Femme"
Em "Um Homem, Uma Mulher", Claude Lelouch filmou a história de um casal maduro. Ele(Jean Louis Trintignant), um piloto de corridas. Ela (Anouk Aimée), uma professora divorciada, com filhos pequenos. A trilha sonora é uma bossa-nova francesa com homenagens a Caymi, Vinicius, João Gilberto, Tom & companhia limitada. Foi composta por Francis Lai e com Pierre Barouh em algumas faixas. Saravah!

9)Led Zeppelin - "Babe I´m Gonna Leave You"
Estou dormindo na pia pra quem acha Zeppelin brega. Sabe o Led, "aquela banda americana" (sic), como diria Caetano? Pois bem: com peruca & careta de Jimmy Page, ainda estou com eles. É assim que se acorda a vizinhança.

10) Lou Reed - "Pale BLue Eyes"
Right after Nico, there was Lou Reed in 68. There were those thin lips like mine. One of my favourite pisces zodiac sign member. Em 95, aqui no Brasil, estava Marisa Monte gravando "Pale Blues Eyes" em seu melhor disco até agora, "Verde Anil Azul Amarelo Cor de Rosa e Carvão". Além dos habituais Gilberto Gil e Paulinho da Viola, e de uma poesia decente de Arnaldo Antunes, o disco tem participação de dois grandes gênios gringos - falo mais qualquer dia desses: Laurie Anderson, a voz de "Meanwhile", de David Bowie; e o maestro Philip Glass em "Ao Meu Redor". Corre atrás aí, se já não tiver no acervo.

sábado, 20 de outubro de 2007

Top 10 lovesongs - 50´s

O jazz, o blues e a bossa. Algum samba pra não dizer que desprezo a pátria.

Começa aqui uma pequena série que separa por décadas as favoritas da tia nos momentos de blue mood ou deep emotions. A linha fina entre o cafona e o profundo. No céu e na lama. Exaltações e passarinhos verdes. Epifanias sobre a dor-de-cotovelo. Momentos "te amo, porra!". E ainda a metafísica e várias putarias das grossas.(Um mix de Peréio com Hilda Hilst). Como dândis ou num vai-e-vem frenético. Fica a gosto do freguês. Aqui vale tudo, desde que tenha muito amor (mas muito amor mesmo).

O que interessa é a década de composição, com espaço para certas versões posteriores.

Agora façam suas apostas, dêem os bracinhos a torcer e soltem a franga chorona que habita esses coraçõezinhos apaixonados. Que coisinha mais fofa!

1) Thelonious Monk - "Ruby, My Dear"
Qualquer nota e qualquer pausa de Monk, sempre. E um mantra delirante para "my dear". Melhor na versão com Charlie Rouse. (Sorry virtuoses, dessa vez não deu para Coltrane).

2) Miles Davis - "It Never Entered My Mind"
Danço abraçada com Richard Gere na varanda de um apartamento com vista para Manhattan. De repetente, abro os olhos. And still wonder why the hell it never entered my mind.

3)Ray Charles - "I Wonder Who´s Kissing Her Now"
A singeleza da possessividade. Ciúme com classe.

4) Sarah Vaughan - "My Funny Valantine"
Quando Sarah canta a dor de Chet. Existe uma gravação dela nos anos 70promovendo o transe no Anhembi, em São Paulo. Pertence ao acervo da TV Cultura. Desde os anos 90, nunca mais assisti. Também nunca mais esqueci. Não achei na internet versão que se compare.

5) Chet Baker[foto] - "Let´s Get Lost"
Let’s defrost in a romantic mist
Let’s get crossed off everybody’s list
To celebrate this night we found each other, mmmm, let’s get lost


6) Bola de Nieve - "Ay, amor"
Verdadeira pérola do cancioneiro cubano. Eis uma choradeira clássica, sem medo da lama. E com belas pianadas. Lección 10, livro 3, vamos a la la clase de Español. Grande Almodóvar!

7) Adoniran Barbosa - "Iracema"
(Eu moro em Jaçanã). Prefiro a versão cantada por Clara NUnes, mas aqui vale o espírito bebum da Elis, num boteco do Bixigão.

8) Astrud Gilberto (João Gilberto) - "Corcovado"
Existe uma versão gravada em português pelo Everything But The Girl, uns quarenta anos depois, ainda não disponível no Youtube. Qualquer dia conto a história dela. Até lá tento encontrar o vídeo e postar para apreciação.

9) Ella Fiztgerald - "Dindi"
A melhor versão do clássico de Jobim, pra mim, foi gravada por Ella - a mais sorridente das divas.

10) Edith Piaf - "Ne me quitte pas"
Embora na versão de Maysa, menos escandalosa, a súplica me soe mais verdadeira.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

a troca

procure ser nuvem. ou chuva

procure por mim. ou chova

garoa & relâmpagos

de novo, outra vez

prá sempre

mágica

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Paulo Autran



Como Porfirio Diaz, no filme Terra em Transe(1968).

Os extremistas criaram a mística do povo, mas o povo não vale nada.O povo é cego e vingativo. Se derem olhos ao povo, o que fará o povo? (O cano do revólver na mão de Diaz se apóia na testa de Paulo Martins).*

*Trecho do roteiro da memorável cena entre Paulo Autran e Jardel Filho (Paulo Martins), na obra-prima de Glauber Rocha.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

É essa a sua revolução?

"Em Havana, nos últimos meses, começou a aparecer um estranho e asqueroso fenômeno, entre grupos de jovens e gente não tão jovem assim. Eles começaram a exibir, em atos vergonhosos, uma vida cheia de modos extravagantes, encontrando-se uns com os outros na área de La Rampa, sentido oposto ao the Capri Hotel".

Fidel Castro, em discurso nos anos 60.

"Reinaldo, muitas vezes, aqui em Cuba, teve a intenção de suicidar- se. Levou sua vida com rebeldia o mais longe que conseguiu, mas no fim se suicidou [durante o estágio terminal de Aids]. De alguma forma, sua vida inteira foi um grande e maravilhoso ato de suicídio".

Ingrid González, atriz cubana, sobre o escritor Reinaldo Arenas, perseguido, preso e torturado pelo regime de Fidel Castro entre os anos 60 e 80.

"Meu nome agora, nesse momento é Reinaldo Arenas. Sou um escritor cubano, exilado em Nova Iorque. Me dedico a viver e a sobreviver. Sou um chamado "dissidente", em todos os sentidos, porque não tenho religião, sou homossexual, e ao mesmo tempo sou anti-Castrista. Ou seja, reúno todas as características para jamais ver um livro meu publicado, e para viver às margens de qualquer sociedade, em qualquer lugar do mundo".

Reinaldo Arenas, 1989. Poeta e romancista perseguido, expulso de Cuba e condenado ao exílio em 1980, foi preso e mantido condições desumanas, além de trabalhar como escravo em campos agrícolas, sem acesso ao fantástico-democrático-eficientíssimo sistema de saúde público cubano. Teve a sua autobiografia "Antes que anoiteça" adaptada para o cinema em 2001, com o espanhol Javier Barden no papel principal. Direção de Julian Schnabel. A tradução do título foi feita erroneamente no Brasil como "Antes do Anoitecer".

Voluntad de vivir manifestandose"


Ahora me comen.
Ahora siento cómo suben y me tiran de las uñas.
Oigo su roer llegarme hasta los testículos.
Tierra, me echan tierra.
Bailan, bailan sobre este montón de tierra
y piedra
que me cubre.
Me aplastan y vituperan
repitiendo no sé qué aberrante resolución que me atañe.
Me han sepultado.
Han danzado sobre mí.
Han apisonado bien el suelo.
Se han ido, se han ido dejándome bien muerto y enterrado.
Este es mi momento.

Reinaldo Arenas

(Prisión del morro. La Habana, 1975)

* aspas retiradas do documentário "Seres Extravagantes", de Manuel Zayas.

sábado, 6 de outubro de 2007

Heaven knows this is a heartland

"This is a song Charles Manson stole from the Beatles. We´re stealing it back", narração em off, por Paul Hewson. Um plano em preto & branco se abre, com a câmera em travelling. Talvez a maneira mais bonita de começar um documentário de rock. Pelo menos a mais bela que já vi. Aparecem no palco The Edge, Bono, Adam Clayton & Larry Mullen Jr - os irlandeses na América, rasgando ao vivo, uma versão de "Helter Skelter", dos Beatles. Este é RATTLE AND HUM (1988), de U2, dirigido por Phil Jouanou.



Bono & BB King, que também participa do álbum/documentário, na Lovetown Tour (1989)

HEARTLAND - U2 (na terra de Elvis, em Rattle and Hum)

See the sun rise over her skin
Don't change it
See the sun rise over her skin
Dawn changes everything
Everything
And the delta sun
Burns bright and violet

Mississippi and the cotton wool heat
Sixty-six a highway speaks
Of deserts dry
Of cool green valleys
Gold and silver veins
Of the shining cities

In this heartland
In this heartland soil
In this heartland
Heaven knows this is a heartland
Heartland...heartland

See the sun rise over her skin
She feels like water in my hand
Freeway like a river cuts through this land
Into the side of love
Like a burning spear
And the poison rain
Brings a flood of fear
Through the ghost-ranch hills
Death valley waters
In the towers of steel
Belief goes on and on

In this heartland
In this heartland soil
In this heartland
Heaven knows this is a heartland
Heartland...heaven knows this is a heartland
Heartland...heartland
Heartland...heaven's day here in the heartland
Heart...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Pequenos causos

Eu carrego estrelinhas cintilantes nas mangas, como cartas de bom jogador. Enquanto isso, Paula Dume espalha flores e cores pelas esquinas, nos avessos do cinza, onde a gente teima em habitar. And I love when it all happens.

Camila Hungria sempre disse que não adiantava quebrar a cabeça. Estava tudo à nossa frente. Um dia molhei a ponta do nariz na espuma do chopp escuro. Depois ela sorriu e reiterou "tia, viu só como era simples desde o princípio?"

Há três semanas, a fotógrafa Veridiana M. foi fotografada ao lado de um manequim da Richard´s. Ninguém acredita, mas é verdade. Roots!

Meu irmão Guilherme marca o gol decisivo do torneio de futebol dente-de-leite, na manhã de domingo. De longe, meu pai grita: "não falei que era teu, lindão?". Babi D´Elia gargalha e engasga com a Fanta Laranja. Ela lembra a irmã mais velha, mas faz covinhas quando sorri.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Competência mineira

Semana passada fui conferir um show do Pato Fu, só para convidados, no Sesc Vila Mariana. Na platéia, gente como Walter Franco, Tadeu Jungle, Edgard Piccoli e outras figuras. "A gente vai nos shows dos outros artistas e gosta quando eles vêm ver a gente", justifica Fernanda Takai, que me concedeu uma entrevista (publicada no Guia da Semana).

Perdida ali entre o staff da Tratore Records - distribuidora independente do novo disco "Daqui Pro Futuro", ex-Vjs da MTV, jornalistas e amigos dos integrantes da banda, consegui sacar muito bem o espírito da coisa. E olha que eu não acompanhava o Pato Fu de perto desde 1996, quando meu pai vasculhou as 11 lojas de discos do Shopping Center Norte para encontrar os álbuns "Rotomusic de Liquidificapum" e "Gol de Quem?", que eu ganhei de presente naquele Natal.

Ver o Pato Fu ao vivo não chega a surpreender, mas rende certo orgulho. Ano passado, quando assisti ao show do Cardigans, em que nenhum dos integrantes sabia o que fazer com os instrumentos, e muito menos onde se colocar em cima do palco, perdi a pouca fé no indie-pop. Aquela coisinha cool, bem produzida, que já não cola e nem decola. Por isso mesmo, é importante perceber que existem bandas brasileiras fazendo muito melhor no palco, do que os gringuinhos premiados no VMA´s. Isso além de apresentarem propostas musicais mais consistentes.

No caso do Pato Fu, trata-se de 5 músicos muito competentes no que fazem. Demonstram respeito pelo público. Tocam com o som minuciosamente passado (típico de quem realmente trabalha)e mostram-se cercados por uma bela equipe técnica. Não há exagero em conceito, nem pseudo-conceito. Apostam num repertório fincado nas baladas mais pop da carreira, e mesmo assim, conseguem sorrisos & palminhas até dos mais chatos, como eu. Destaque para "Made In Japan", "Depois", "Eu" e "Gimme 30" - desta última consegui captar alguns minutos, e já botei no Youtube.



As outras fotos do show estão logo ali, no meu Flickr.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Rá-tá-tá-tá

Não chega a ser incrível, mas os chamados "formadores de opinião" convidados a entrevistar Mano Brown no Roda Viva, não parecem diferir em nada dos "racionais" pseudo-manos das classes média e alta. Sabe aqueles branquelos bombados, de touca, com o rap trincando em último volume dentro das super pick-ups importadas, presente do papis? Pois a rasgação de seda é a mesma. Pura pose.

Sugiro que da próxima vez, a celebrada nata da intelectualidade paulista, mensuradora de genialidades, tope o desafio antropológico (sic) de analisar a realidade brasileira fora do espectro do chopp-com-colarinho made in Vila Madalena. Meia hora num ponto de ônibus do Largo da Batata já pode ser um bom começo.

Mano Brown, 2º grau incompleto, nunca me pareceu preguiçoso ao raciocinar. Mas decepcionou bastante ao demonstrar o que pensa. E quanto aos bacharéis...bateu medinho reacionário de apanhar dos manos, na hora da saída? Ou foi todo mundo junto fazer um glamuroso city tour pelo Capão Redondo, na doce madruga paulistana?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Xamânicas de Piva

Acaba de ser pulicada pelo site de literatura Cronópios, nossa entrevista com o poeta Roberto Piva. Clique aqui para ler.

"Agora vocês vão gritar enlouquecidas na esquina da Ipiranga com a São João,esperando que os demônios de Dante as alcancem, vindos de um disco voador às 5" - Roberto Piva, para Renata D´Elia & Paula Dume.

Abaixo, o poeta autografa livros em seu apartamento.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Terrorismo ideológico em português (sic)

Ontem, por telefone, um certo estadunidense bushista me contou suas impressões sobre o caso da pequena Madeleine, a criança inglesa desaparecida em Portugal há quatro meses. A argumentação segue abaixo.

"Você tem que entender, Renata. Há questões políticas envolvidas neste caso. Os portugueses querem se vingar dos ingleses há séculos, porque ficaram pra trás na História; esta é a única chance deles para provar a supremacia do país. Uma mãe jamais faria nada de mal contra a própria filha, mas os portugueses querem forçar o mundo a pensar que as mães inglesas são demoníacas e dissimuladas, tentando forjar essa versão de que os pais teriam matado a menina. Tudo isso porque a Inglaterra nos apoiou na Guerra do Iraque, e pela bronca com os ingleses! Você tem que entender que não se pode confiar nos portugueses nessa história. Além do mais, você viu aqueles tiras na televisão? Eles são horríveis, mal encarados, parecem porcos mexicanos!"

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Duetos de la vecindad

Há 7 anos, através do finado programa "Hermanos MTV" - apresentado em fases diferentes por Gastão Moreira, Soninha Francine e Fábio Massari, descobri que o chamado "pop latino" era mais bacana que o nosso.

É o caso do Soda Stereo, banda argentina liderada por Gustavo Cerati, que funciona como se fosse um U2 deles. Com sucesso estrondoso consolidado do Uruguai ao México, só não teve "Sodamania" no Brasil. A banda que decretou seu fim em 1997, voltou à ativa para uma série de shows que só não causam mais frisson que a volta do The Police. Quer dizer, isso em Buenos Aires, onde todos os táxis têm rock argentino tocando no rádio...

Em todo lugar deveria ser assim: um mainstream que se abastece do undeground - sem pasteurizar a coisa toda. Acha impossível? Pois bandas veteranas como a mexicana Cafe Tacuba e a colombiana Aterciopelados (que acabou em 2006) provam que não. Por milagre ou acaso das playlists mais privilegiadas, hoje dei de ouvidos com "Maligno", poderosa versão dueto entre os Aterciopelados e o espanhol Miguel Ríos, precursor do que hoje se entende (mesmo que simplista e erroneamente) como rock latino.

Andrea Echeverri, a vocalista da banda em questão, gravou recentemente o dueto bilíngüe "Tudo Vai Ficar Bem", com Fernandinha Takai, para o novo disco do Pato Fu, "Daqui pro Futuro". Andrea fez também uma participação antológica no álbum acústico do Soda Stereo, produzido pela antiga MTV Latino, "Comfort Y Música Para Volar", de 1996. Agora aproveite e clique aqui para assistir a "La Ciudad de La Furia". No te arrependerás.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Good Old Gonzo

Gafe do dia: "George W. Bush confunde australianos com austríacos, em Sidney"

SUÍNO DA SEMANA

Escolher o Suíno da Semana é sempre difícil, mas hoje é óbvio que vai para a zebra da vez, o derrotado Vice-Presidente Al Gore Jr. & toda sua derrotada família, proveniente do Tenessee e Wahsington DC, agora prestes a figurar entre a turminha dos sem-teto ou do endereço desconhecido. Gore será lembrado como o azarado, o bobão que entregou a Casa Branca a uma gangue de fedorentos senhores do petróleo do Texas, que não prometeram nada à nação além de um evidente colapso do mercado & graves punições para qualquer babaca degenerado que fizer sexo oral em território americano. Al Gore perdeu as eleições, desafiando assim todas as possibilidades e previsões de todos os setores da sociedade, após despontar para Presidente como o co-arquiteto dos tempos mais prósperos da História.

As chances reais desse acontecimento eram matematicamente iguais às chances de uma eleição presidencial terminar em empate, ou ainda, ao fato de um presidente líder do chamado "mundo livre" ser deposto do cargo pelo simples fato de ter curtido a boca de uma mulher... Jesus, e nós ainda conseguimos nos enfurecer contra o Taliban pelo fato das mulheres usarem véus!

A Sodomia ainda é crime na Virginia, um estado repleto de subúrbios abastados e arborizados, às margens do Rio Potomac de Washington. Foi lá que prenderam Marv Albert, acusado de não controlar a potência de seu suco-do-amor. As autoridades alegaram que a paixão dele tinha sido "pura demais", e o coitado foi afastado da NBA por um tempo... A Georgia é um outro estado onde você ainda pode ir pra cadeia por Sodomia, mesmo se cometer esse "delito" na privacidade da sua própria cama.


By HUNTER S. THOMPSON (1937 - 2005), 4 de dezembro de 2000.

Trecho da crônica que integra a coletânea de textos "Hey Rube", ainda não editada no Brasil.

Tradução: Renata D´Elia

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Surrealistic Pilots

Há cerca de um ano tomei conhecimento sobre a obra do psicólogo, escritor, dramaturgo e cineasta chileno - de expressão mexicana, Alejándro Jodorowsky. O responsável pela introdução foi Marcos Sposito, com quem compartilho certa predileção por trilhas sonoras de filmes B dos anos 60,70 e 80. "Como assim, você nunca assistiu Santa Sangre?". Confesso que nunca, até então.

Finalmente assisti Santa Sangre após eu e Paul Henry termos prometido o filme de presente ao poeta Roberto Piva. Baixei o DVD duplo com todos os extras e me deparei com um inusitado encontro entre Jodorowsky e alunos do curso de cinema de uma universidade americana. Num inglês sofrível, o diretor falava sobre a grande dificuldade em realizar projetos cinematográficos que, obviamente, não cabem na caixinha de idéias prontas Hollywoodianas. Ele afirma que seus filmes só passaram a ser exibidos nos EUA após John Lennon ter visto seu primeiro longa, El Topo, e passar a divulgá-lo junto dos curtas que fez com Yoko Ono.

Jodorowsky contou com a produção do italiano Claudio Argento para Santa Sangre, finalmente lançado em 1989, considerado até hoje uma obra-prima do "bizarro". Claudio estava acostumado a produzir as películas de horror do irmão, Dario Argento - conhecido como o "Hitchcock italiano". Guardadas todas as diferenças entre os diretores, é necessário dizer que o resultado de suas investidas é primordial para a sobrevivência das idéias dissonantes, mesmo entre os autores cinematográficos de verdade. Tanto Jodorowsky quanto Argento são grandes mestres do sensorial e do subconsciente. Delírio, surrealismo, medo e obsessões são as apostas de ambos, em oposição ao modismo de um cinema "híper-realista", como diria meu amigo Felipe Jordani.

Recentemente assisti também a Fando Y Lis (1968), filme de Jodorowsky baseado em peça de Fernando Arrabal. Depois dessa experiência fica difícil aplicar a palavra fantástico a qualquer outra coisa. Infantilidade, beleza, tormento e amor permeiam um universo narrativo filmado em preto e branco, provocando os sentidos e instigando a amoralidade nata de todo ser humano. Por outro lado, Suspiria, de Dario Argento explora a sensorialidade em todas as cores do pânico e do sobrenatural. Em nenhuma outra hipótese um assassinato seria bonito de ver - ou de ouvir, como na trilha composta pelo grupo de rock progressivo GOBLIN.



* acima, a personagem Lis (Fando Y Lis, 1968, A. Jodorowsky)

"Cuando llegues a Tar conocerás la eternidad y verás el pájaro que cada cien años bebe una gota de agua del oceano..."

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Antes que eu me esqueça

Em 1977, o cineasta e crítico Jairo Ferreira já havia filmado três curtas, auxiliado por gente como Carlos Reichenbach, Inácio Araújo e Rogério Sganzerla.

Conheceu o poeta Cláudio Willer no mesmo ano, entrevistando-o para a Folha de S. Paulo. Na época, Willer iniciava um projeto editorial chamado Feira de Poesia, que lançaria em dezembro sua primeira obra literária - "Antes que eu me esqueça", de Roberto Bicelli, com desenhos de um ilustrador até então desconhecido, Guto Lacaz.

Jairo Ferreira tomou conhecimento sobre o festim poético que se realizaria para o lançamento do livro em questão. Não por acaso, era o próprio Bicelli que organizava o evento, no Teatro Célia Helena. Não haveria somente sua leitura, mas participações de Roberto Piva, Eduardo Fonseca, Cláudio Willer, Nelson Jacobina e Jorge Mautner.

O resultado é um filme homônimo de 14 minutos, pouco (ou nada) visto nos últimos 30 anos. "Antes que eu me esqueça" faz parte do acervo do Itaú Cultural e está sendo exibido no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo - 2007, junto de outros 4 curtas de Jairo Ferreira.

Na foto abaixo, o encontro entre os poetas e alguns papagaios de pirata. Em sentido horário: Willer, Lia, Bicelli, Renata, Wagner e Douglas. No Catedral, São Paulo - ago/2007:

sábado, 25 de agosto de 2007

A long time ago, today

Tici e Pedro reecontram D´Elia, quase 3 anos depois, e decidem fazer uma invejinha na Thais:





Tel Aviv nunca mais será a mesma, agora que o Pedro vai chegar... segurem-se!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Fragmento às seis

Um porta-treco
segura Portinari num
retrato envelhecido
muito simpático

Notei que algumas horas são azuis

Um adesivo
e algumas fotos
Controle-remoto
Emilia e Saci-Pererê

Lembrei do Sítio do Tio Pão-de-Ló em 1989
(com um sorrisinho maroto)

Estava em San Vicente
a cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
as mulheres e os homens


- e passei pelo clube da esquina longínqua...
onde costumamos nos encontrar
nas manhãs de sol
quando chove

sábado, 4 de agosto de 2007

Além das nuvens

Num café parisiense um homem (Peter Weller) e uma mulher (Chiara Caselli), desconhecidos, sentam-se em mesas separadas. Nas mãos dele um jornal. Nas dela, uma revista. Minutos depois, ela se levanta e pede a ele para sentar à sua mesa. Perplexo e surpreso, o homem deixa-se acompanhar.

Mulher: Nessa revista, li uma coisa magnífica, e preciso compartilhar isso com alguém. Você é daqui?
Homem:Não, sou de Nova Iorque, mas moro aqui. E você?
Mulher: Sou italiana. Mas então, posso dizer?
Homem:- Sim, "sou todo ouvidos". É assim que se diz? (referindo-se à expressão idiomática).
Mulher: Sim...

(Silêncio).

Mulher: No México, cientistas contrataram carregadores para levá-los ao cume da montanha de uma cidade inca. A certa altura, os carrgadores não quiseram mais prosseguir. Os cientistas, irritados, não sabiam como fazê-los seguirem. Não entendiam o porquê de uma parada tão prolongada. Após algumas horas eles se puseram novamente em marcha. E por fim, o chefe dos carregadores ofereceu uma explicação.

Homem: O que se passou?
Mulher: Vejo que lhe interessa...
Homem: (sorrindo) Agora, muito

Mulher: Ele disse que haviam corrido muito e que por isso precisavam esperar suas almas.
Homem: As almas?

(Pausa)

Mulher:(sorri)É magnífico porque também corremos atrás de nossas coisas,e perdemos nossas almas. Devíamos esperar.

Homem: Para fazer o quê?
Mulher:(pausa) Tudo o que nos parece ínútil.

(Fade out).




*Em "Além das Núvens", de Michelangelo Antonioni e Wim Wenders(1995)

**Não se trata da reprodução fiel do roteiro, mas de uma breve descrição da cena e transcrição do diálogo, de acordo com as legendas em Português.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Aos Mestres - com carinho

A Itália me deu primeiro um nome, o meu. Os dos outros demoraram pra chegar. E trouxeram junto os olhares. Foi assim, o mergulho de olho aberto. De volta à tona nunca mais.

Vieram de mãos dadas Fellini & Nino Rota, Pasolini e a solidão - jamais o silêncio. Meu tapa no alheio dormente, em vão. O sonho, o pesadelo, as vísceras e a visão. A descoberta do intrínseco. Em seguida chegou Visconti, a arte em todos os detalhes. Com De Sica e Rosselini, a verdade sobre os meninos e os homens. La Magnani e o grito. Só depois o sorriso de Scola e Monicelli. Por último apareceu Zurlini, a Monica e sua valise.

Estava Antonioni discreto e atento em algum lugar onde o tempo não envelhece. Estava Antonioni na beleza, na suavidade, no complexo das relações humanas e na incomunicabilidade dos seres. O preto no branco e todas as cores, outras línguas. My very beautiful Blow-Up.

Ciao, Michelangelo.


* Dedicado também à memória do gênio Ingmar Bergman. Aos mestres, todo o carinho. E quanto "àquela", que levou a Bergman e Antonioni de uma vez, marquemos uma revanche para ambos. O cinema acerta as contas.

**Foto: cena de "Blow-UP - Depois Daquele Beijo", de Michelangelo Antonioni, inspirado na obra de Julio Cortázar.

domingo, 29 de julho de 2007

Trilha sonora para manhãs frias de sol que não esquenta

Tim Buckley - "Blue Afternoon" (1969)
Ou ainda voz potente para road movies de Vincent Gallo, coisa assim. O pai de Jeff o abandonou quando pequeno e nunca mais voltou. O filhote já era nascido quando as obras-primas do pai foram ofuscadas pelos gritos da rebeldia Jaggeriana, os ecos das guitarras de Hendrix, e o discurso paz & amor de Woodstock. Amargura e trauma. Melancolia folk com apetrechos orientais. O pai de Jeff faleceu em 1979, sozinho em casa.

Thelonious Monk - "The Best of Blue Note Years"
Melodious Thunk para iniciantes. Gênio sem partitura. Quebra-notas-como-quebra-átomos. Jack Kerouac e Neal Cassidy, se escrevessem poema. Charlie Rouse & John Coltrane. "Ruby, My Dear". Muitas vezes já foi abril em Paris.

Yann Tiersen - "Les Fabuleux Destin D´Amelie Poulain"
Eu também, Amelie! Eu também!

domingo, 22 de julho de 2007

Jorge Furtado e elenco falam sobre "Saneamento Básico - O Filme"



Por Renata D´Elia e Paula Dume

O gaúcho Jorge Furtado chega agora ao lançamento de seu quarto longa-metragem, “Saneamento Básico – O Filme”, em cartaz desde 20 de julho, em todo o Brasil. Rodado em três municípios da Serra Gaúcha – Monte Belo, Bento Gonçalves e Santa Teresa – entre julho e agosto de 2006, trata-se de uma co-produção entre a Casa de Cinema de Porto Alegre, a Columbia Pictures do Brasil e a Globo Filmes. Diretor de séries televisivas e de curtas premiados internacionalmente, Jorge aposta em uma comédia metalingüística, com pano de fundo social. Trama e personagens são inspirados na comédia dell´arte.

A sinopse aponta para uma pequena comunidade no Rio Grande do Sul, que pleiteia junto à prefeitura verbas para uma obra de saneamento, e em contrapartida recebe dez mil reais para a realização de um filme. Então, decidem fazer um vídeo sobre a obra em questão. “Demorei dois anos pra escrever este roteiro, feito especialmente para estes atores, os melhores do Brasil na minha opinião”, revela o diretor. O elenco conta com Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Paulo José, Tonico Ferreira, Bruno Garcia, Janaina Kremer e Lázaro Ramos. Furtado afirma ter realizado vários ensaios e leituras com os atores, o que rendeu alterações e novas inserções no roteiro. “Com o Jorge há muita liberdade para criar e nós todos acreditamos muito no filme. Literalmente vestimos a camisa”, brinca Paulo José, em alusão às camisetas de divulgação, que quase todos vestiam na coletiva de imprensa.

Ocorre em Saneamento uma mudança temática e narrativa na carreira do diretor, que nos três longas anteriores abusou das narrações em off e de perspectivas psicológicas, focando o universo juvenil. Jorge trilha agora um caminho oposto. “Todos os meus filmes anteriores poderiam ter a mesma sinopse: ‘jovem tímido e inteligente faz de tudo para conquistar a mulher amada’. Faço o possível para não imitar a mim mesmo. Mas às vezes não consigo, é uma mistura de estilo e preguiça”, revela o diretor, que encontrou o fio condutor do filme nas contradições. “Trata-se de um lugar muito pequeno, que tem dinheiro para fazer um filme, e não quer! Pensei em saneamento por ser algo essencial, e que ao mesmo tempo mais de 50% das casas brasileiras não têm”. Fernanda Torres leva a discussão mais adiante. “Cinema é caro mesmo quando é barato. Acaba sendo um artigo de luxo, com um valor muito louco num país de tantas desigualdades sociais. O filme do Jorge faz um retrato que gosto muito, ele explica o que é do cinema: ninguém resolve o problema do esgoto, mas os personagens resolvem suas questões humanas através da arte, através daquele vídeo”.

Segundo Nora Goulart, da Casa de Cinema de Porto Alegre, o orçamento do filme é de 2 milhões e 600 mil reais, coletado em parte através de dois concursos, um promovido pela Petrobrás, outro pelo BNDES. Os gastos com o lançamento atingiram mais 1 milhão de reais, orçados pela Columbia Pictures e pela Globo Filmes. Entre maio e julho, diretor e equipe técnica participaram de pré-estréias e debates fechados em escolas de cinema e universidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O objetivo é estimular a divulgação boca a boca e frear a redução de público – que tem tirado filmes nacionais de exibição poucas semanas após a estréia. “Para nós, vale a frase de Dostoiévski que encerra o filme: ‘a beleza salvará o mundo’. Somos o país de Noel Rosa, Lupiscínio Rodrigues, e não dessa gente corrupta e mórbida que está aí”, reflete Furtado.

* Matéria originalmente escrita para o Cinequanon
** Foto: Renata D´Elia

Relíquia Machadiana

Gostei da brincadeira. Agora vou tirar o pó da gaveta. De vez em quando vou publicar aqui resenhas antigas sobre livros, filmes e registros musicais já lançados há algum tempo. Vale até produção para a faculdade. Custa nada tentar.

Relíquia Machadiana
As controvérsias talvez girem em torno de seu nome em comparação ao de João Guimarães Rosa. Mas Machado de Assis é ainda considerado o maior escritor de língua portuguesa do Brasil, em todos os tempos. Trata-se do único autor brasileiro a receber críticas atemporais de relevância internacional e ser reconhecido como grande romancista em comparação aos contemporâneos europeus. Machado é um dos poucos a escapar da pecha do “exótico” a olhos estrangeiros.

Inicialmente influenciado pelo Romantismo, até promover uma virada radical para o Realismo com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de 1880, Machado é primordialmente lembrado como o romancista criador da personagem mais instigante da literatura brasileira, a Capitu, de “Dom Casmurro, lançado em 1900 – o livro brasileiro mais traduzido para outros idiomas. No entanto, era ele também um respeitado crítico literário e tradutor de obras como “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Lançou sete livros de contos, que ficaram à sombra da fama dos romances, embora tenham sido também objetos de estudo ao longo de mais de cem anos.

Em 1906, dois anos antes de sua morte, foi publicado “Relíquias da Casa Velha”, seu último volume de contos. “Pai Contra Mãe”, o conto de abertura do livro, revela o olhar minucioso de Machado, que mesmo doente, exercitava na pequena estória o talento de observador perspicaz. Eram os primeiros anos após a abolição dos escravos, e à chegada da República. Não foge ao autor portanto a menção àquele Rio de Janeiro novo e estranho, através da memória sobre o passado.

Machado utiliza uma narrativa em terceira pessoa sobre as fugas dos escravos em tempos de império, as formas de prendê-los e marcá-los a ferro para evitar reincidências. Isso para chegar até a história de Cândido Neves, que inadequado aos empregos fixos dos tempos de Império, virou um hábil catador de escravos fujões. Enamorado e casado com a costureira Clara, tornou-se alvo dos comentários alheios por não levar dinheiro à casa todo dia. Substituído por homens mais ágeis, Candinho ficou sem ofício, e sem dinheiro. Despejado, o casal que esperava um filho,levava conselhos de dar a criança.Tia Mônica, com quem Clara vivera antes de casar-se, era quem os dava moradia de favor, e quem tomou partido de tirar o menino daquela miséria.

A forma machadiana de esmiuçar problemas sócio-econômicos ainda contemporâneos é singela e precisa. Trata-se de uma reflexão sobre os marginalizados, como Candinho, que não tinha respeito nem sustento, por não se adequar à sociedade. Uma pessoa a quem não sobra alternativa, quando sim, um pingo de inventividade, ou de esperança. O ciclo da miséria humana é fechado por Machado em volta do ofício de Candinho – que capturava gente que fugia em direção à liberdade. È neste ofício, ao tentar capturar uma negra, que Candinho baseia sua última esperança em não dar o filho.

A rede de contradições da trama é social, política e moral – ainda que a narrativa se conserve simples e objetiva. Ao capturar a escrava, Candinho lhe ouve suplicar a liberdade, com o pretexto de estar grávida. Sua forma de verter as próprias agruras sobre os outros é recriminá-la, como que simbolizando o ciclo de perversidades de uma sociedade de dominados e dominadores, de vítimas e aproveitadores, mesmo que nem tudo seja tão maniqueísta assim.

Ainda que existam ações físicas e que sejam descritos sentimentos como fúria, ou mesmo a força física de um ou outro, Machado constrói uma narrativa psicológica, como de costume. E denuncia a barbárie, como se tivesse forma de fábula. Nela, seres humanos sujeitam as mais duras decisões de suas vidas a um efêmero e irresponsável jogo de poder e dinheiro. Características opostas como ternura e raiva, e posições contrárias como a de aproveitador e aproveitado, enriquecem, numa breve história, o perfil do personagem principal. Ninguém é completamente herói ou vilão. Não há simplismo em Machado de Assis.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Se a vida fosse uma final de vôlei feminino...

Sempre a mesma coisa com as duas maiores seleções das Américas.

As cubanas agem, provocam e berram feito menininhas encrenqueiras de colegial, daquelas que arrumam briga na saída da escola. Em grupo, tocam o terror mas sozinhas não se garantem. Como quase todas as mulheres do mundo, costumam abusar do emocional e apostar as fichas na irritação alheia. A medalha de ouro e os bicoitinhos de "parabéns" do Fidel são consequência: as jogadoras são ofensivas, voam e cacetam bolas em alta velocidade, e sabem como poucas desestabilizar as boas moças do outro lado da rede. Vilãs de respeito.

As meninas do Brasil são simpáticas, carismáticas, talentosas, esforçadas, raçudas e bonitinhas. Filhas perfeitas. Vencedoras de pódio, mas freguesas das finais. Isso porque, como quase todas as mulheres do mundo, se fragilizam e perdem a concentração em situações práticas. Graças ao bom Deus elas não agem como menininhas de colegial, são mais maduras e formam conjunto técnico superior. Mas na hora H, o maior adversário é o próprio medo. Cá entre nós, bastava confiar em si e enfrentar com mais coragem as muitas fragilidades alheias. Na maioria das vezes, quem começa a provocação não se garante em competência. Não custava nada checar.

Mas nem sempre as competições são assim.

Incompetência a gente vê todo dia. Preguiça e falta de treino também. A eterna mania feminina de jogar (e trapacear) pelo emocional às vezes funciona - principalmente com juíz vendido. Incrível aliás, como o número de cobras é infinitamente superior entre as medíocres. Mas elas não colhem os louros, pois não plantaram nada. Não entram pra História nem viram mitos. Acabam disputando o sexo do auxiliar técnico com a impostora ao lado. E seguem nessa auto-afirmação barata na segunda divisão.

O baixo-clero é gordo. Poucas provocadoras são grandes como Mireya Luis.

* o texto acima se pretende didático em 1º grau, e portanto não considera questões complexas como a esquizofrenia de caráter.

** este blog é vacinado contra teorias feministas clichezentas e prosaicas.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

M-U-R-D-E-R

Mais de 200 pessoas foram assassinadas ontem, naquele "acidente". Isso é genocídio.


A culpa não é minha, nem sua, nem nossa.


E aí, nos fodemos todos, de verde e amarelo. E de azul, branco, estrelinhas, desordem, regresso, fogo e

cinza
cinza
cinza
cinza
cinzas
fogo
água
e cinzas


Nos fodemos todos, com medalha de ouro e maravilha do mundo. Nos foderam, todos.


Depois eles tiram o corpo fora. E daí o dolo vai virar acaso. Amanhã é outro dia e é isso aí. Faz de conta que não foi nada. No dos outros é refresco.


Fatalidade. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal. Fatal.


* Me tirem daqui, pelo amor de Deus.