domingo, 31 de julho de 2011

É sexta agora!

Bem, chegou a hora. O livro mais esperado do ano é também candidato automático ao Prêmio Jabuti de título mais longo de 2011, com 80 caracteres sem espaços (HA-HA-HA). "Os Dentes da Memória - Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e Uma Trajetória Paulista de Poesia" (Azougue Editorial, 256 páginas, R$38,90) tem autoria de Renata D'Elia -- EU!-- e Camila Hungria. 

Autografaremos o livro ao lado dos poetas Antonio Fernando de Franceschi, Roberto Bicelli e Claudio Willer. Pena que Roberto Piva não está aqui pra ver isso, mas certamente será um tributo à sua obra. Anotem aí as coordenadas da noite do lançamento!

5 de agosto (SEXTA-FEIRA)
Das 19 às 22 horas
na Livraria da Vila - Lorena
Alameda Lorena, 1731, Jardins.

*Aceita os cartões Visa, MasterCard, Diners e Amex. Estacionamento no local. 

E tem até brinde: quem comparecer e autografar seu exemplar, ganhará entrada grátis com acompanhante para o espetáculo de dança "Paranóia", da Companhia de Danças de Diadema, com base na poética de Roberto Piva. Em cartaz no Sesc Vila Mariana durante o fim de semana. 

Estamos no UOL, na VEJA e no Globo News, pra quem quiser saber mais sobre o projeto. 



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sinergias & iluminações

Não é porque Ricardo Redisch é meu amigo. Mas é porque os poemas que li e reli nas últimas semanas, após o lançamento de Sinergias (Virgiliae, R$30), seguem me atravessando como lanças invisíveis e me torno uma mulher azulada quando a memória me prega essas peças. É quando sou novamente invadida por um violento exército dos woulds e, vocês sabem, dá muito trabalho resistir às forças imantadas do planeta. Resta, portanto, compartilhar os poemas enquanto decido o que fazer com meus woulds. 

Poeta cuidadoso, quase como um ourives, Ricardo é também um editor experiente. São 30 anos de trabalho sobre os livros dos outros. A história começou nos anos 1980, ao lado do editor-samurai Massao Ohno. Outro dia, ganhei um pôster esgotado e raro, com um poema automático dele em parceria com Roberto Piva + desenhos de João Pirahy, editado pelo japonês voador. 

Mas também não foi por isso que gostei tanto de seus poemas assim. É mais porque eles me obrigam a tomar atitudes que me levem à certeza de gol.  

Sem fim

Isso foi há muito tempo

Desde aquela época, os dias se repetem 
entre densas paredes de feltro;
um silêncio cortado apenas
por gestos e comentários ready-made

Uma presença vazia, estudada,
onde o avesso é um modo
de viver esta morte contínua 
atrás de óculos muito escuros

Desde que fomos interrompidos



Epicentro


tensão flutuante no travesseiro

epicentro
a rotação da terra
na cadeira de balanço
túnel de elipses

lapsos na escada
no avesso da dúvida

desengate do mistério



Falso alarme

Ninguém quer expor o flanco
a uma invasão inimiga
e depois ficar estendido
no campo de batalha.

Ninguém quer ouvir 
o grito dos feridos,
pisoteados por cavalos
perfurados por lanças.

Todos querem a segurança
e a reclusão do castelo.
Pelos corredores de pedra,
o desejo ardendo em surdina. 

domingo, 24 de julho de 2011

Miu Miu & Martel, na língua das vespas



                                                               Fotos: site oficial da Miu Miu

A novidade chegou há pouco por uma postagem do Ariel Ledesma Becerra, editor de filmes argentino, com o link  para o curta Muta, de Lucrecia Martel, lançado há poucos dias no site oficial da grife Miu Miu, de Miuccia Prada.  É o segundo curta da série The Women's Tales, em que cineastas de diferentes mundos criam filmes digitais sobre a feminilidade com total liberdade estética e narrativa dentro, é claro, do conceito da Miu Miu. 

O primeiro foi The Powder Room, de Zoe Cassavetes, filha do finado John com a atriz Gena Rowlands. É um belo filme  que abusa da trilha e dos traços pops alá Sofia Coppola. Ponto alto na participação da modelo e produtora musical francesa Caroline de Maigret. Mas o de Martel é tão mais inesperado quanto interessante dentro do universo surrealista e da visão absolutamente particular da diretora de A Menina Santa (2004) sobre as relações femininas. 

Muta, en español, significa "muda" nos dois sentidos: o de silêncio e o de transformação. São cerca de 6 minutos em um navio onde mulheres vestidas de Miu Miu surgem como vespas e se proliferam misteriosamente, num jogo de flashes ilusórios onde predominam sussurros, ruídos, estranhas vibrações e uma língua particular que elas usam para provocar, confabular, bater, beijar, guardar e bisbilhotar segredos enquanto se transformam em musas, exterminadoras, dedetizadoras, alienígenas ou coisa que o valha. 

Além dos curtas, o site oficial da Miu Miu traz um behind the scenes de cada filme e entrevistas com as realizadoras, modelos e atrizes participantes. A de Martel vem na língua das vespas. Ou dos aliens. Ou das mulheres.

Para saber quem é a próxima diretora do projeto, só mesmo ficando de olho no site.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Estamos apaixonados

Faz menos de 10 graus nessa cidade insone, tomada por uma névoa quase onírica, onde todos os corpos cobertos por camadas de couro e algodão continuam escondendo mistérios previsíveis. Estamos todos apaixonados, especialmente no inverno. Minha respiração, por exemplo, não resolve nada: continuo de garganta fria e sangue absolutamente quente, sou um choque-térmico ambulante e por isso, de vez em quando, penso que o remendo já gastou e que está na hora de preencher este coraçãozinho com outra matéria termoisolante. E você, vai ficar aí feito um poste ou vai botar um fim nesse tempo de espera? 

Os outros transeuntes fumaceiam, vão abrindo as bocas e lá vem o vapor. Imagina se tivesse cor? Se a gente pudesse abordar as pessoas dizendo que o meu bafo azul combina com seu bafo vermelho e que isso nos habilita automaticamente a sermos amigos e quem sabe até você goste de vinho e de música como eu. Os outros transeuntes caminham pálidos para os metrôs da meia-noite com seus olhos arregalados & seus ouvidos preenchidos por outras notas musicais de especulação e saudade. Mas eu apenas me importo com a possibilidade de te cruzar e de dizer o que ensaiei e aí quem sabe você não me tampe a boca com algo que valha por dez vidas [ou talvez os planetas resolvam se chocar nesse exato momento e de tudo isso reste apenas um estrondo].

Nas calçadas por onde andamos, o vento é implacável como a urgência das coisas, os asfaltos se desmancham como nuvens, balões vermelhos doloridos se misturam aos sinais de uma felicidade latente: it's just the nearness of you.  





Dentes da Memória no UOL, por Mauricio Stycer

O jornalista Mauricio Stycer escreveu uma resenha super bacana sobre o meu livro em seu blog no UOLA resenha do Mauricio captura muito da emotividade da coisa e de todo o magnetismo da figura do Piva. Aqui está o LINK pra quem quiser ler e comentar. Vale a pena ler o que ele escreveu. 

"Os Dentes da Memória - Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e Uma Trajetória Paulista de Poesia", que acaba de sair pela Azougue e terá lançamento oficial no dia 5 de agosto de 2011, na Livraria da Vila da Alameda Lorena, conforme já divulgado. 

   Roberto Piva, década de 1970, reproduzida do livro.