segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Top 10 lovesongs - 2000´s

Ainda faltam 2 anos para o fim da década e talvez, até lá, nossas angústias todas se resolvam ou se multipliquem. (Puta que o pariu, mas o que foi isso que eu falei?)

Essa lista de 10 merecia ter 8 e deixar lacunas para minervas futuras. Injustiças sejam feitas. De qualquer forma, vou me precipitar. De papo sério já basta aquele fingimento nosso de cada dia. A lista dos anos 2000 é incompleta e conta histórias em andamento. Mas minhas rolling stones renais se gabam pelo suor da escolha.

1) Mansun - "Legacy"
Atenção para o clipe! De novo, uma troca de décadas: Legacy é de 98 e o Mansun é, por acaso, uma das melhores bandas inglesas surgidas nesse período entre séculos. Nunca fizeram lá de muito sucesso no hemisfério sul. But I don´t care for it. "Nobody cares when you´re gone"

2) Interpol - "C´mere"
A melhor música do Interpol, uma das banda indies mais bacanas a tocar o mainstream nos últimos anos. Repertório denso e como percebe-se, com energia no palco. Rock n´roll simples, rápido, básico e nem por isso indolor.

3) Stereolab - "The Black Arts" Minha música favorita desta genial banda anglo-francesa [foto] é a única que aprendi a cantar. Uma mistura lisérgica e lírica de bossa nova com rock, dub e sei lá mais o quê. Dessa aí não tem vídeo no Youtube. Mas clicando no hiperlink, baatará escolher o álbum a baixar, direto do blog "Ouço mesmo, e daí?". Ouve lá.

4) PJ Harvey & Thom Yorke - "This Mess We´re In"
A melhor voz masculina da música popular mundial depois de Jeff Buckley, é a de Thom Yorke. Uma das mulheres mais classudas e vanguardistas desse mesmo cenário pop é a inglesa PJ Harvey. Eles estão juntos num telhado de um bairro sombrio. Chove em Nova York.


5) Aterciopelados & Miguel Ríos - "Maligno"

A versão original desta pérola do cancioneiro latino moderno foi gravada em 98, no álbum Caribe Atômico, pelos Aterciopelados (confira no link). Lá pelo segundo colegial fui ter contato com o que chamam por aí de"rock latino". E talvez, junto dos argentinos do El Otro Yo, esta seja a banda hermana que tenho mais vontade de ver. A versão escolhida é de 2001, com o espanhol Miguel Ríos. Sobre as parcerias de Ríos neste álbum com outras "estrellas" do hemisfério sul, eu falo mais qualquer dia desses.

6) The White Stripes - "Jolene"
Uma cover de Dolly Parton, se bobear, melhor que a original. Me disseram que os Stripes fizeram a selva tremer naquele show em Manaus, tempos atrás. Quando eu crescer eu quero ser baterista, mas assim, bem pesada e mediana, que nem a Meg White.

7) Wry - "In The Hell Of My Head"
Os meninos do WRY deixaram Sorocaba, no interior paulista e, sem dó, largaram tudo (ou melhor, nada) e se mandaram pra Londres. Deu certo. Lá eles tocam nos mesmos clubes underground em que os críticos da NME pescam suas novidades, para que, logo em seguida, os jornalistas brasileiros copiem as opiniões inglesas e assinem embaixo da ignorância que nos cerca nesse país.

8) Blur - "Tender"
Essa foi só pra dizer que Gorillaz não tá com nada. O que interessa é banda ao vivo. Presença física, gotas na testa do vocalista. Otherwise, não tem graça. Tender é 99, mas a MTv Brasil tocou isso pra valer em 2000. Em março daquele ano é que eu ganhei o álbum 13 de presente. Tá por aí jogado na casa de algum amigo, até hoje. A versão do clipe é até melhor que a do disco.

9) Robbie Williams - "Feel"
Em dezembro de 2002, todas as cidades portuguesas pairavam sobre tempo e espaço. Pessoas em câmera lenta, lacônicas, melancólicas. Chovia por dias e noites. Nevava na Serra da Estrela. Todos os olhos estavam opacos e miravam o longe pelos vidros transparentes dos cafés. Todas as televisões sintonizadas em programas ou canais musicais exibiam incessantemente ao clipe de Feel, de Robbie Williams, enquanto todas as casas noturnas empurravam Kylie Minogue goela abaixo do público jovem. Isso, é claro, se você não optasse por assistir a um show do AraKetu num cassino em Póvoa de Varzim. Eu escolhi os traços quadrados de Mr. Williams em sua fase "tchuby".

10) Björk & Antony Hegarty - "The Dull Flames of Desire"
Ganhou o dueto mais bonito de 2007. Pena que de perto mesmo, só vi Björk. E não é pouco. Mais informações e a tradução desse poema dentro de um poema (o filme Stalker, de Andrei Tarkovski), clique aqui.

sábado, 24 de novembro de 2007

Espelho e sombra

Minha cabeça bate no teto. Eu não tinha olheiras nessa mesma pele branca quando, pela primeira vez, senti minha cabeça bater no teto. E depois quebrar o telhado. A melhor sensação do mundo é enxergar as estrelas todas juntas, nunca uma por vez. Eu mordia os próprios dentes e serrava os caninos. Até conseguir respirar. Sempre foi assim: segundos, minutos, ou horas, dias. Até que alguém me puxasse pelos pés para fincá-los no chão. Gosto quando fazem com ternura. Essa casca nunca foi tão dura. Mas não pesa tanto assim.

Eu me obedeço moderadamente. A gente tem de se respeitar. Ainda faço covas rasas ao sorrir. Ainda sorrio bastante e gargalho o mesmo tanto, por outros motivos. No espelho, uma pequena marca na testa e a mesma pinta perto da boca. Memórias do ônibus escolar. As minhas agendas de adolescente tinham lá um questionário: tipo sanguíneo, sinal particular, em caso de emergência avisar a (eu não dava o telefone com medo de matar a vovó do coração). Tinha também uns adesivinhos bobos, as estrelinhas que as professoras colavam. Eu já falei de estrelas.

Suava frio quando te encontrava. Eu não mudei nada. Encontro vultos das minhas vidas passadas e tenho ressaca pós-regressão. Eu tinha cheiro de cloro, de clube, de grama e de shampoo. Tinha cheiro de fogo e de rock n´roll. Não sei mais que cheiro eu tenho, mas deve ser bom. Mergulhava na piscina e contava até mil. Depois minha cabeça batia no céu, pra eu conseguir respirar. Ganhei milhões de vezes a medalha de ouro em Barcelona e naquela outra olimpíada de 2000. Vivendo e aprendendo a nadar. Maremoto e mar manso. Baía. Ilha. Vou nadar na pia quando batizar Maria Antonia. Ela vai sorrir.

Nunca usei aparelhos nos dentes. Preciso operar as amídalas e isso é perigoso: deixar a garganta nua. Uso lentes corretivas obrigatoriamente, segundo a carteira de habilitação. Eu me dirijo. Eu sigo as estrelas. Sinto frio na espinha e sofro por excesso de sangue, mas aqui dentro cabe tudinho. Meu sangue é azul que nem o de todo mundo. Eu sigo em pé. Mas sento no banco das velhinhas no metrô. Esse trilho aqui é meu. Agora eu boto a mão na taça. Eu era tudo mas não tinha nada. Eu agora apenas sou.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Humano, demasiado humano

Muito bacana o artigo que Andy Gill - criador e guitarrista de uma das minhas bandas favoritas, o Gang of Four, escreveu sobre Michael Hutchence no diário britânico Telegraph. Gill e Hutchence foram amigos e parceiros em composições que resultaram no único álbum solo (e póstumo) da carreira de Hutch.

Além das histórias engraçadas com gente como Bono, Johnny Depp, Paula Yates e Naomi Campbell, e de curiosidades sobre gostos e comportamento do cantor australiano, o texto carrega uma saudade sincera. Assim, daquele jeito que a gente sente de quem gosta. Nada piegas, mas com aquela sensação de impotência em remediar fatos irreversíveis. Sabe do que eu tô falando?




* na foto, Andy Gill & Michael Hutchence, no citado estúdio improvisado na casa de Hutchence, no sul da França.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Top 10 - lovesongs 90´s

Toda a música pop tocando no rádio, era aquele alto-falante sintonizado na rádio Cidade. Isso no Clube Guapira aos 8, aos 9, aos 10 e aos teens - com cheiro de grama, cloro e protetor solar. Sonhando acordada. Vivendo e aprendendo a nadar. Eu ganhei mais de mil vezes a mesma medalha de ouro em Barcelona. A mesma medalha e diversos agradecimentos diferentes. Debaixo d´água um peixinho, com ascendente em Escorpião. Futuro maremoto & mar manso ao mesmo tempo. Até desencanar do esporte. E construir um foguete.

De quando eu amava o Fabio, depois o Felipe, depois aquele carinha mais velho, da 8ª série...como era mesmo o nome dele? Do beijo na boca no corredor da escola. Do dia em que eu e a Natália choramos emocionadas, aos 11. A vó dela era portuguesa como a minha. De quando Phil Collins e Roxette emplacavam hits simpáticos. Julia Roberts era "Uma Linda Mulher". Dos tempos da acne e das festas com cuba-libre na casa do João. Ônibus escolar do pré II ao primeiro colegial. Primeiro nasceu a Mariana, depois a Barbara e finalmente o Guilherme. Hollywood Rock. NIRVANA, NEVERMIND. Sabrina Parlatore, Gastão Moreira e Fabio Massari na MTV. U2 no Morumbi. Mick Jagger & Keith Richards. Um monte de lembranças esparsas e outras coisas que eu acho que nunca mais vou esquecer.

Estrelinhas. E flores. Bexigas de gás. Castles in the air. Fucking gorgeous air.

1) U2 - "Ultra Violet"
You know I need you to be strong/And the day is as dark as the night is long
Feel like trash, you make me feel clean/I'm in the black, can't see or be seen
Baby, baby, baby...light my way

MacPhisto também ama. Na ZOO TV Tour.

2) The Cure - "Pictures of You"
O amor é dark nas propagandas da HP. 1989 era o ano. Mas tocava mesmo em 90.


3) Depeche Mode - "Enjoy The Silence"

Num clipe de Anton Corbjin, o Rei Gahan sobre montanhas cobertas de neve. Meu reino para qualquer coisa que venha do Rei Gahan [foto abaixo].



4) Massive Attack - "Unfinished Sympathy"
A day without a night. You´re the book that I have opend. And now I´ve got to know much more. Na infância eu achava que as discotecas - tipo aquelas que apareciam na televisão - tocavam Massive Attack. Blue Lines é um dos melhores discos da década.

5) Radiohead - "Creep"
Outro dia criticaram um show do Radiohead: "pra que tocar Creep?" Tem gente que não me deixa esquecer de que é proibido ser pop. Tocou no rádio é pecado. Na prática, eu é que esqueço dessa gente. E ouço "Creep", a menos quando enjôo. Caguei pro alternativo (ok, não é bem assim). Mas precisa ser macho pra gastar todos os seus 200dólares pra bancar seu primeiro clipe. Esse também é Thom Yorke. Sabia?

6) Jeff Buckley - "Last Goodbye"
Qualquer dia dou um ensaio bacana sobre o dono da voz masculina mais incrível do planeta. Ele também usava uma Fender Telecaster.

7) Smashing Pumpkins - "Tonight, Tonight"
Um George Meliés pesado e pop ao mesmo tempo. A direção do clipe é de Johnatan Dayton & Valerie Farriss, que recentemente deram vida à Pequena Miss Sunshine. You can never ever leave without leaving a piece of youth.

8) Nirvana - "Where Did You Sleep Last Night?"
Pra não dizer que eu não falei das flores do velório de Kurt, quando ele ainda estava vivo. Eis o fim daquele acústico que todo mundo viu e ouviu até furar.

9)Buffalo Tom - "Summer"
Summer´s gone and someone saw you wasted. Eu cantava errado a letra toda e achava lindo. Sabe que até era melhor do meu jeito?

10) Suede - "Obsessions/My Insatiable One"
Ok, essa foi só pra ter o vídeo aqui, porque eu não paro de ver há duas semanas. Uma amiga sempre me diz que gastei mais dinheiro com Suede que com U2, ao longo da vida. Depois de Michael Hutchence e Dave Gahan... ainda bem que existe Brett Anderson[foto abaixo]. Obrigada, Inglaterra. (Quem quiser me dar o DVD no Natal, vou achar o máximo...)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Notas da semana

Há dez anos, morria Michael Hutchence. Meu amor platônico do começo da adolescência. De quando as meninas todas morriam pelos Backstreet Boys ou pelos irmãos Hanson. E eu, preferia roqueiros barbudos. Pro Guia da Semana, fiz um apanhado da enxurrada de notícias que circulam na Europa e Austrália, sobre a briga judicial entre a família Hutchence e Bob Geldof. A história eu conto aqui. E abaixo... uma foto paparazzo, com Michael Hutchence (à esquerda) passando pelo "algoz" na saída da balada. Reparem na cara de Sir Bob Geldof...



Por outro lado, felicidade. É muito bonito e até mesmo revigorante ver um amigo casar. A Lúcia, mãe do lindo Joaquim, encontrou alguém pra compartilhar a vida. E acabou por se tornar a primeira associada do clã Caspervas Inc. a abandonar a gandaia solteira. Mas a cadeira cativa é dela e ninguém tira! FELICIDADES! E saudações ao ET de Varginha! (Na foto da caravana paulistana, tá faltando a Ritex).

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Making of The Eternals (meu querido diário)

Eu e Felipe Vilasanchez, pedra bruta casperiana - que ainda vai fazer muita coisa boa em jornalismo, entrevistamos semana passada o trio The Eternals, de Chicago, para a Revista Paradoxo, da qual sou editora de música.

As fotos abaixo são do Felipe, tiradas com sua super Nikkon Hi-Tech de 5 quilos, durante a durante a entrevista no camarim do espaço SESI/FIESP. Clique nelas para aumentar. A matéria sai terça-feira, com fotos bem mais bacanas, do show em São Paulo.



domingo, 11 de novembro de 2007

Top 10 lovesongs 80´s

Não, não se trata da Festa do Sabão da Trash 80´s. Nem do Balão Mágico, nem Bozo, nem Xuxa, ou a mala-evangélica da Mara Maravilha (mensalista da mesma lavanderia que eu), ou qualquer outro pé na jaca,direto da nossa infância. Mas a coisa aqui tem os dois pés no rádio.

Não se trata de simplificar demais, mas de fato, é uma mais óbvia que as demais. Porém, de valor inegável.

1) Sinead O´Connor - "Nothing Compares 2 U"
Embora tenha sido lançada em 90, a canção é muito mais 89 que qualquer outra coisa. Sinead recusou o convite para a festa. Raspou a cabeça. Arrancou a maquiagem. Firmou a câmera num tripe diante de si, com fundo negro e pele branca, e cortou o plano pela metade. Depois chorou pela morte da mãe e deu vida à mais romântica e sincera composição do gênio Prince. Desperdiçou milhões de dólares alheios, que seriam investidos na propaganda enganosa dela mesma. Faturou outros milhões e emplacou um dos maiores hits das últimas décadas. Tentou se matar. Rasgou a foto do papa. Confinou-se no hall dos incompreendidos. Musa às avessas.

2) David Bowie - "Absolute Begginers"
Ao vivo na BBC em 2000. Bowie, David. "O rock n´roll é uma das fine arts".
Ive nothing much to offer/Theres nothing much to take/Im an absolute beginner/And Im absolutely sane/As long as were together/The rest can go to hell/I absolutely love you/But were absolute beginners/With eyes completely open/But nervous all the same/If our love song/Could fly over mountains/Could laugh at the ocean/sail over heartaches second time/Just like the films/Theres no reason/To feel all the hard times/To lay down the hard lines/Its absolutely true

3)Joy Division - "Love Will Tear Us Apart"
A canção preferida de toda uma geração, depois outra, e agora outra. O drama epiléptico de Ian. As dores do mundo de Ian. A luz e as trevas de Ian. A morte-viva de Ian. O fantasma de Ian entre nós. Control.

4) The Smiths - "There is a Light That Never Goes Out"
A sublime obra-prima de Morrisey. Indiscutível. Acima em versão ao vivo, por Noel Gallagher.

5) U2 - "I Still Haven´t Found What I´m Looking For"
Julia Roberts está fugindo. Ofegante, vestida de noiva, montada num cavalo preto, cavalgando pela relva americana de um filme americano com final feliz para ver no cinema à luzes apagadas e som estéreo em alto volume. Acima em versão gospel, direto de Rattle and Hum.

6) Soda Stereo - "Un Misil en Mi Placard"
Aqui, na versão acústica gravada em Miami, do álbum "Comfort Y Música Para Volar", que eu ganhei, emprestei, e nunca mais vi. Faltou grana & tempo, time is money. Não ia ser a primeira nem a décima volta triunfal caça-níquel de banda alguma que eu veria ou deixaria de ver. "O Police argentino". Balela. Por isso mesmo, importante. Pop-rock de qualidade a gente não pode desprezar. Tem que dar graças a Deus que exista.

7) Paralamas do Sucesso - "Quase Um Segundo"
Pra não dizer que não falei do Herbert.

8) INXS- "Never Tear Us Apart"
De quando fiquei apaixonada pelo Michael Hutchence

9) Billy Idol - "Eyes Without a Face"
Para ouvir repetidas vezes num vôo bêbado de São Paulo a Lisboa, "rádio TAP". Por falta de opção ou masoquismo mesmo. A saudade é forte.

10) Duran Duran - "Save a Prayer"

Para cantar às 2 da manhã, num karaokê da Liberdade, e ouvir coros. Com o agravante de um ex-namorado que assistiu a um show de Simon Le Bon & cia numa viagem à Disney. (Pode rir agora). Toma aí a versão live in Rio.

Travessia (parte I)

Por causa da minha tristeza, sei que de mim ele mais gosta. Sempre que estou entristecido é que os outros gostam mais de mim, de minha companhia. Por que? Nunca falo, queixa de nada. Minha tristeza é uma volta em medida; mas minha alegria é forte demais.


Desespero quieto às vezes é o melhor remédio que há. Que alarga o mundo e põe a criatura solta. Medo agarra a gente é pelo enraizado. Fui indo. De repente, de repente, tomei em mim o gole de um pensamento - estralo de ouro: pedrinha de ouro. E conheci o que é socôrro.


Os olhos que ele punha em mim, tão externos, quase tristes de grandeza. Deu alma em cara. Adivinhei o que nós dois queríamos - logo eu disse: -"Diadorim... Diadorim!" com uma força de afeição. Ele sério sorriu. E eu gostava dele, gostava, gostava. Aí tive o fervor de que ele carecesse de minha proteção toda a vida: eu terçando, garantindo, punindo por ele. Ao mais, os olhos me perturbavam; mas sendo que não me enfraqueciam. Diadorim.


Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo como fazer injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou - amigo -é quem a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, o Sesfrêdo. Ele não quis me escutar. Voltei de raiva.

Trechos esparsos do romance "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa. Riobaldo. Travessia.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O mundo na ponta dos dedos*

Por Beatriz Sarlo

Não posso me conectar a internet. A empresa que pago para me oferecer este serviço emite uma mensagem que informa, docemente, que todos os seus operadores estão ocupados. Sinto uma irritação profunda contra a música que se escuta entre uma mensagem e outra. Tenho a certeza de que cada segundo sem conexão me faz perder dinheiro. Na realidade, perco mais tempo do que dinheiro, porque deveria desligar o computador, pegar o pen drive e, como milhares de pessoas, mandar o e-mail ali no locutório da frente.

Por alguma razão, onde se mistura o ressentimento contra a empresa, a paciência e algumas vagas esperanças, não faço nada. Insisto com o impossível 0800 e sua enorme incompetência com usuários que, em seus escritórios ou em suas casas, escutam a mesma voz que lhes indica que todos os operadores estão ocupados com outros mil usuários que, por algum milagre da distribuição estatística da sorte, conseguiram ser atendidos.

É segunda-feira e devo enviar minha coluna a esta revista. Tenho várias horas antes de entrar na zona de perigo; mas por outro lado, poderia ligar para a redação e dizer que esperem mais um pouco ou que lhes mando um disquete logo mais. Finalmente, poderia fazer também o mais sensato, que consiste em pagar 1 peso num locutório e enviar a coluna de lá mesmo. As soluções são todas inegavelmente sensatas, mas é como se não estivessem entre as minhas possibilidades. Só quero que a empresa telefônica me conecte, somente a conexão me livraria desse sentimento que mescla frustração, isolamento, irritação e todas as normas de defesa do consumidor (vão me descontar da fatura o tempo em que não me forneceram o serviço? Pergunto-me, como se deles eu dependesse para meu bem-estar econômico futuro).

Penso em mudar de empresa. Mas me dou conta de que não tenho uma lista telefônica impressa e que, portanto, preciso estar conectada a internet para obter informações sobre as outras empresas, seus planos, e seus números de telefone. Juro que vou mudar de empresa assim que consiga me conectar. Me dou conta do caráter absurdo desse juramento, já que sou uma mera cliente, ou seja, somente uma entre milhares de usuários que logo complicará a própria vida: cortar o serviço, devolver o modem, esperar o modem do novo serviço... para que continuar? Estou presa à minha conexão como se meu computador e a empresa fossem irmãos siameses. Isso é tudo. Tenho que esperar que o suporte técnico me atenda ou que o serviço volte ao normal sem minha intervenção: não tenho outra alternativa, dependo inteiramente de algo sobre o qual não posso influir minimamente. Os órgãos de defesa do consumidor e as páginas de cartas do leitor nos jornais acumulam denúncias sobre convênios médicos, telefones e celulares.

O certo é que sigo sem me conectar a internet e também, para experimentar a moléstia mais profundamente, sigo sem cruzar até o locutório da frente. Nestas circunstâncias, me distraio com a pergunta: como era a vida antes da internet? A espera era uma dimensão fundamental de todas as minhas atividades: esperava cartas, esperava xérox de revistas ou livros que chegavam (ou não) pelo correio, esperava chamadas telefônicas, esperava poder locomover-me até uma biblioteca caso necessitasse de um texto clássico que não tinha, caminhava até as estantes para buscar, vagarosamente, um dado, consultava um CD da Enciclopédia Britânica que, em seu tempo, parecia o maior avanço do mundo (poder comprá-la e ter um leitor de CD no computador).

Antes da internet, eu esperava e provavelmente pensava um pouco mais antes de responder a uma carta, de pedir uma xérox a um amigo que estava longe, de fazer uma chamada internacional ou aceitar um convite. Antes da internet, eu esperava e meus dedos não agiam mais rápido que minha cabeça: hoje meus dedos são mais velozes que a cabeça. Teclam todo o tempo, sem parar e, se estão quietos, sentem um cacuete nervoso.

Antes da internet havia coisas que eu renunciava saber, pois seria muito trabalhoso encontrar a informação. Não se tratava de dados importantes e podia seguir vivendo sem eles (por exemplo: sabia que Sampras tinha ganhado mais que perdido de Agassi, mas não me importava o número exato; hoje, busco o número exato e também esqueço de tudo isso imediatamente porque sei que posso buscar essas informações novamente e que, para sempre, essa diferença de vitórias e derrotas estará na internet). Tampouco me parecia fundamental saber o ano de nascimento de Janis Joplin, porque jamais me enganaria sobre a época que ela marcou.

Hoje, tudo isso está na ponta dos dedos. Mas agora, nesse momento, estou sem conexão. Sofro. Se necessitar saber quantos anos viveu Libertad Lamarque no México, o que faço? A quem chamo para averiguar com que idade Ingrid Bergman conheceu Roberto Rossellini? Melhor, desligo o computador e, por via das dúvidas, vou ao locutório da frente.

* Coluna publicada originalmente no jornal El Clarín, da Argentina, em 28 de outubro de 2007. Tradução: Renata D´Elia

domingo, 4 de novembro de 2007

The big pearls

Examinando os line-ups das edições anteriores fica claro como o Tim Festival concebeu-se originalmente como um novo Free Jazz, para platéias igualmente "exigentes e elitizadas", embora tenha se tornado uma espécie de "best of combo" brasileiro de festivais como Glanstonburry, Coachella, Paleò e outros eventos dos sonhos.

Com atrações de temporalidade duvidosa porém necessárias para combater o atraso com que platéias brasileiras tinham acesso às novidades do rock e pop mundial, o festival cumpre sua missão mercadológica e atende parcialmente às demandas de um público majoritariamente jovem e modernoso, àvido pelas melhores bandas dos últimos tempos das últimas semanas.

As pequenas pérolas, no entanto, permanecem atiradas aos poucos. Tem gente que nem lembra delas. Em 2003, por exemplo, tivemos Beth Gibbons (do Portishead - foto abaixo)& kd lang, duas das mais incríveis cantoras surgidas nos anos 90, em shows transmitidos pela Globo enquanto eu devorava um cachorro-quente completo e prensado num dogão 24 horas em Santana. Bixete universitária, dura como só, não tinha verba para assisti-las no Rio de Janeiro. No meu lugar, estavam os astros da Malhação. A vida é dura (mas o cachorro-quente não).

Na segunda edição,em São Paulo, a musa PJ Harvey apontava para um amigo meu, ensandecido na primeira fila, cantando "I don´t neeed anything but you, such a shame,shame, shame...". E eu me encontrava nervosa e apreensiva antes de uma importante apresentação de faculdade no domingo, dia seguinte. Os shows de Primal Scream e Kraftwerk entraram para a história e foram comentados na TV por um Zeca Camargo bastante didático. Ele explicava sorridente e pacientemente a existência de monstros avessos à Ivete Sangalo, para os telespectadores do período pós-Zorra Total.

Tirei 70 fotos de Elvis Costello em 2005. Eu choraria lembrando de Mapplethorpe, no show do Television, mas a má vontade deles não permitiu. Tirando o Arcade Fire, pérola mesmo não tinha mais nenhuma. E Mapplethorpe não queria mesmo que eu chegasse perto dele. Um ano depois Patti Smith tocou longe de São Paulo, o único lugar do Brasil onde seria recebida à altura de sua importância. E em 2007 restou juntar-me no Anhembi aos amoados fãs de Björk, essa sim, a própria vanguarda.

Quando vi o clipe de All Mine, do Portishead, pela primeira vez, aos 15 anos, me perguntei se era mesmo aquela menininha muito estranha que entoava aquela voz. Gravei os quatro minutos de clipe num VHS que quase furou de tanto passar, até que a internet banda larga e o mundo dos downloads me salvassem do breu. Assistindo hoje ao DVD Portishead - Roseland Live NYC me reservo a oportunidade de ver Beth Gibbons, de jeans e camisa preta, fazendo muito melhor do que a maioria das musas hi-tech. There´s nowhere too hight for me. All mine you have to be.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Top 10 lovesongs - 70´s

Continuando a série, temo que dos últimos 20 anos para cá a lista perca um pouco da classe. Mas não do impacto. Por enquanto, estamos nos 70.

E dessa vez, a lista está mais pop. E tem até uma dobradinha.

O cotovelinho dói? Calma, minha gente, ainda não estamos na lama. Mas um dia, certamente, chegaremos lá!

1) Luiz Melodia - "Pérola Negra"
"Vocês não sabem o que era ouvir Pérola Negra nos anos 70", afirmou outro dia o dono do bar Feira Moderna, um lugar moderno na moderna Vila Madalena. Essa faz parte de qualquer lista de qualquer das melhores coisas, em qualquer período. Arranje algum sangue e escreva no pano: Pérola Negra, te amo, te amo. Obra-prima.

2) Doces Barbaros - "Esotérico"
Gal e Bethânia trocam olhares (ui!) na magreza esquelética baiana. Here we are, the exoctic brazilians: and you may touch us! Mistério sempre há de pintar por aí.

3) Queen - "You´re My Best Friend"
A singeleza da mais bela canção composta e escrita pelo meu baixista favorito em todos os tempos, John Deacon, faz parte do álbum "A Night At The Opera". (Aqui na versão Pikachu, para crianças crescidas)

4) Clube da Esquina 1 - "Me Deixa em Paz"
Do disco que juntou a patota mineira toda. Taí o link pra baixar. E aqui o site do Museu Clube da Esquina.

5) The Police - "Roxanne"
Foi prá puta mesmo que ele fez, aquela safada! Sting está gamado nela. E de cabeça feita. Ele quer casar. Deus dá asa à cobra.

6) David Bowie -"Heroes"
Jacob Dylan me deu um ídolo de presente e ele se chamava David Bowie. Foi há dez anos quando ouvi a versão de "Heroes" pelo Wallflowers, com letra traduzida pela MTV. I-I wish you could swim/Like the dolphins-like dolphins can swim/Though nothing-nothing will keep us together/We can beat them-for ever and ever/Oh we can be heroes-just for one day.

7) Rita Lee & Tutti Frutti - "Agora Só Falta Você"
De feeling e poros libertos. Só falta você. E agora?

8) Elis Regina - "Atrás da Porta"
De Chico Buarque e Francis Hime. Quer mais Medéia que isso?

9) Michael Jackson - "Rock With You"
Michael Jackson negro canta e dança sozinho no clipe de "Rock With You", que compôs aos 20 anos - com direito à virada genial de bateria que abre a canção. Girl, when you dance, there´s a magic that must be love ... A parceria com Quincy Jones começava ali, em 78, e rendeu pelo menos duas obras máximas: Off The Wall, o álbum em questão, e Thriller. I wanna rock with you, all night... dance you into day, sunlight...

10) Michael Jackson - "Got To Be There"
Eu tinha 9 anos ou coisa assim. Gravava fitinhas do rádio, o dia todo. Ficava esperando ansiosa tocar aquela uma ou aquela outra. Um dia tocou "Got To Be There".
Pobre gênio negro-branco, o que você foi capaz de fazer a si mesmo?