quarta-feira, 28 de março de 2007

Vê um Pasolini, por favor!

Uma mesa, três amigos, três cachorros-quentes grandes o suficiente para fazer babar quem come. Uma barba loira de costas pra rua. Uma nuvem branca de lado pro mundo. Uma magrela de óculos escuros contra o sol. Uma salsicha de soja. Um com milho, prensado, por favor. Um completo com catchup extra. Uma só garrafa de Guaraná Antárctica. Se fosse Brahma eu não bebia, eca! Coca-Cola ninguém quis. "É coisa de americano. Ainda tenho estas seqüelas da revolta adolescente". Quando eu era adolescente não sabia quem era Bukowski. Nem Trostki. Nem Bakunin.

E na primeira mordida, a gastrite dá sinal de vida. O importante é ser valente, seguir até o fim. Isso aí, garota! Um dia teu estômago pára de frescura. Tá pensando o quê? Que você vai desistir assim de um rango por causa dele?

São Paulo, 32 graus celsius de outono. É mais seco que o verão. Faz só uma semana, mas já dá pra diferenciar o calor de antes do calor de agora.

- Eu preciso ir pro metrô. Atravessem a rua e vamos comigo até lá, depois vocês voltam.
- Pô, o cara da banca de jornal não quis comprar meus cartuchos de impressora!
- Pasolini mudou minha vida. Ah, Kieslowski também. Mas Fellini é o maior cineasta que já existiu.
- Achei que você gostava dos filmes do Glauber...
- ... eu adoro "O Glauber". Amo.
- Fiquei assustado quando vi Pasolini. Até hoje fico assim.
- E eu, que nunca assisti? Alugo o quê? Tem na biblioteca? PÔ D´Elia, como é que pode você não gostar de Godard?

30 minutos e nada mais. Esqueci mais uma vez a escova e a pasta de dentes. Eu tenho uma necessaire da Macy´s, mas tenho medo de esquecer em cima de alguma pia. As outras são de amostra-grátis de remédio. E agora, o que eu faço com esse bafo de cheddar até chegar em casa?

Pier Paolo Pasolini morreu assassinado na praia de Ostia em 1975. Culparam um garoto de 17 anos pelo delito. "Cineasta, comunista, viado!". Afinal de contas, é como se rótulo fosse xingamento. Pior, como se fosse motivo.

Onde é que eu arrumo um poeta de imagens agora?

sábado, 24 de março de 2007

Jornalismo Cultural, parte I

Sérgio Martins, crítico da Veja, fez Renata D´Elia levitar e rir hoje à tarde, em curso da Revista Cult. Seguem trechos:

"As vacas sagradas são pró-democracia contanto que todos digam que elas são geniais".

"O Caetano me chamou de idiota em rede nacional, no programa da Marília Gabriela. Só posso considerar um elogio. Vindo de um cara que considera a Sandy uma excelente cantora..."

"Ah, tá. O Rick Bonadio proibiu as bandas dele de aparecer na Bizz. Você vai passar mal se eles não falarem com você? Ou se o Caetano não falar com você? Ou a Maria Rita? Ninguém e nenhum veículo vai morrer por causa disso".

"Hoje em dia é difícil. Existe uma geração de jornalistas que acham que o rock começou com o Nirvana".

"Os caras falam de Jack White [White Stripes] como se fosse o guitarrista mais original da história. Será que ninguém ouviu Led Zeppelin?"

Dá pra ser o mesmo depois disso?

A Piedade

Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da luta pela vida

as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo será dócil e só se ergueria aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam cu-de-ferro e me
fariam perguntas por que navio bóia? Por que prego afunda?

eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as estátuas
de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam que
eu tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça decompõem nos pavimentos
Os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através dos meus sonhos


- Roberto Piva, em "Paranóia"


Meu exemplar do livro foi editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2000. É a segunda edição, com ilustrações de Wesley Duke Lee. A primeira foi publicada por Massao Ohno entrevistado por mim e pela Dume, para o site de cultura da Cásper Líbero.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Coppola Antonieta

De fato, "Maria Antonieta" agrada aos fãs de Sofia Coppola e não aos admiradores da lendária Rainha da França. Historiadores e alguns biógrafos têm seus motivos para arrancar os cabelos. Que o digam os franceses, que andam pedindo a cabeça (sic) da diretora americana. Para eles, o filme não passa de uma grande piada de mau gosto. Me arrisco a dizer que a piada foi proposital. Que tal transcender a idéia de "superficialidade"?

Desde "As Virgens Suicidas" é evidente que a diretora se expressa pelos olhos das personagens principais dos filmes - sempre mulheres solitárias e incompreendidas. A mais interessante delas é Charlotte, de "Encontros e Desencontros". Mas está aí a riqueza desta Maria Antonieta, interpretada por Kirstin Dunst. Não é o mártir que interessa. Nem a Revolução Francesa.

Sofia Coppola conheceu a vida de Maria Antonieta através da historiadora Evelyne Lerner, e foi asesssorada por ela desde a primeira vez que pisou no Palácio de Versailles, em 2001. Mesmo assim, a diretora teve problemas com a pesquisa histórica e por isso protelou a realização do filme, colocando "Encontros e Desencontros" no lugar. Sofia se recusou a ler a mais famosa biografia da rainha, escrita por Stefan Zweig, por considerá-la rigorosa demais.

O resultado é uma visão peculiar da personagem histórica. A degola não aparece. Mas e daí? Trata-se de Sofia Coppola desmitificando a a rainha. Maria Antonieta é tão "humanizada", que parece simpatizar com o Tratado Social de Russeau enquanto o lê, deitadinha no jardim. Sua alienação política dá lugar a um gesto de amadurecimento no episódio da Queda da Bastilha, em que a rainha se mostra uma corajosa companheira de Luis XVI, depois de tanta desaprovação social.

O deleite aos que simpatizam com a carreira da diretora, fica por conta não somente dos figurinos e do visual, mas pela trilha sonora. Tem seus pés no kitsch, mas confesso que é maravilhoso assistir a uma ambientação do século XVIII ao som de New Order, Siouxsie & The Banshees, e Gang of Four. (Valeu, Sofia!)

E como referência é tudo nessa vida, sugiro aos mais atentos que prestem atenção na feiosa sem modos, cortesã do rei Luis XV, Madame Du Barry. A atriz é Asia Argento, diretora de filmes independentes e filha do mestre do terror, Dario Argento.

terça-feira, 20 de março de 2007

Ai se cai...

Pelo Gênio Dume, a minha fala.

Thanks.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Faculdade

Livro:"A Poética", de Aristóteles
Prazo final: Dois dias
Status: não inciado.
Objetivo: Aquele eterno blá-blá-blá
Humor: Que saco! E que blasfêmia contra o filósofo grego!

Livro: "MacBeth", de Shakespeare
Prazo final: Dois dias.
Status: Iniciado
Objetivo: Boa pergunta.
Humor: Sem muita emoção

Livro: "Odisséia", de Homero
Prazo final: Cinco dias
Status: Na estante.
Objetivo: Prova
Humor: Não dava pra deixar pra depois?


Livro:
"Crônicas da Província do Brasil", de Manuel Bandeira
Prazo final: Vinte e cinco dias
Status:
Na livraria.
Objetivo: Resenha
Humor: Eu sempre amei Manuel Bandeira. Em poesia.

Rádio: Série de 3 reportagens devidamente editadas
Assunto: 3 personagens peculiares da Feira de Antiguidades da Benedito Calixto
Prazo final: 15 dias
Status: Não iniciado
Humor: Bom.

Televisão: 3 pautas, 3 matérias devidamente editadas
Assuntos: Aquecimento Global, Crise do Aeroporto de Congonhas, Lei dos Outdoors
Prazo final: Trinta dias
Status: ... ... ... ...
Humor: Desespero

(continua...)

sexta-feira, 16 de março de 2007

Birthday

Hoje é 16. Mas eu não faço 26, nem 25. É 23 mesmo. Rápido & rasteito.

Vale um auto-parabéns? Opa! Acho que sim.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Cansei de ser mala

Adriano Cintra, baterista da pseudo-banda Cansei de Ser Sexy, teve um chiliquinho digno de "mamãe, ele roubou minha bola!" numa réplica às críticas de Álvaro Pereira Júnior. A electro-treta-modernosa está no Folhateen desta segunda-feira.

Eu explico: depois de muita adulação por parte dos colunistas pseudo-hypes da imprensa brasileira - com direito a diário de bordo das aventuras ultra-super-indies de sua trupe em terras estrangeiras, na Rolling Stone Brasil - o gênio da bateria realmente cansou de ser sexy. Mas gostou de ser mala. Ele mostrou que é moderno, mas continua macho: "...Sim, temos mais sucesso na Europa, que engloba 47 países, na maioria dos quais já tocamos e temos muitos fãs.(...)Uma coisa que ele precisa entender é que nós não somos e nem queremos ser o U2. Ou o Coldplay, que nos convidou para abrir o show aqui do Brasil e nós negamos. Acabamos de negar um convite do Muse para abrirmos no Wembley Stadium. Nós só nos envolvemos com coisas que realmente acreditamos"

Se é pra ser hype, melhor ouvir Stereo Total. Sem referências é fácil achar que qualquer um é gênio.

E que eu saiba, ninguém foi dormir na pia porque aquela bandinha "exótica-brasileira" não quis abrir pro Muse, em Wembley.

domingo, 11 de março de 2007

Ser freelance é...

Viver sem estabilidade, tomando calotes. Depender de gente que tem um carguinho qualquer e acha que está fazendo um grande favor em te contratar. E o pior, em (não) te pagar pelos seus serviços.

Se suas contas venceram, problema seu. O vale-refeição deles está lá todo dia 30.

Quando não cumprem a palavra, continuam achando que está tudo bem. Confudem o profissional e o pessoal e acham que qualquer "presentinho" te compra. Lembram-se de que existem prazos quando é o seu que está se esgotando. Quando precisam do seu trabalho com urgência, te valorizam por 2 dias. Quando você entrega no prazo e eles não precisavam daquilo pra ontem, é o seu pagamento que vira artigo de luxo.

As grandes empresas são previsíveis. Acham que te impressionam com qualquer salinha de reunião com ar condicionado. Te fazem sorrir pra câmera de identificação e te servem cafezinho descafeinado, com vista panorâmica da cidade. "Veja como te tratamos bem! Repare como nossos colaboradores sorriem!".

Seus executivos fazem aula de Inglês há anos e não saem do lugar. Nem a língua nativa dominam. Prova disso, é que os tais bacharéis engravatados precisam de aulas de redação para escrever simples cartas, que meu irmão de 9 anos faz melhor. Deve fazer parte destas baratas filosofias de RH o fato de complicar o que não tem complicação.

Nas festas da empresa, falam do trânsito e da violência da cidade. Fazem piadas sem graça. Comportam-se como pessoas civilizadas. Vestem a camisa da empresa por qualquer canapé de carpaccio. Matam o tempo com palestras que contam pela vigésima vez a história das estrelas-do-mar. (Neste caso tem hífen, mas eles nem desconfiam).

"Faça a diferença! Faça acontecer! Sua opinião é muito importante para nós!"

Destas empresas "diferenciadas", você recebe de volta uma falta de profissionalismo padrão.

sábado, 10 de março de 2007

Faraway, so close!


"You...
you, whom we love...
you do not see us...
you do not hear us.
You imagine us in the far distance...
yet we are so near.
We are messengers...
who bring closeness
to those who are distant.
We are messengers...
who bring the light
to those who are in darkness.
We are messengers...
who bring the word
to those who question.
We are neither the light,
nor the message.
We are the messengers.
We...
are nothing.
You are, for us...
everything."

Trecho original do roteiro de Wim Wenders, para "Tão Longe, Tão Perto", de 1993. O filme é a continuação de "Asas do Desejo" (1987), também filmado em Berlim. No elenco, os fabulosos Bruno Ganz, Otto Sanders e Natassja Kinski. Ah, também tem Willem Defoe e Peter Falk - interpretando ele mesmo.

O link direciona para um dos clipes dirigidos por Wim Wenders para o U2, "Stay - Faraway, so close!", trilha do filme em questão.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Freedom for my people

O Dia Internacional da Mulher talvez me renda algumas rosas até o fim do dia.

É agenda setting, mas dói: a notícia da adolescente morta por uma bala "perdida" no Rio acabou comigo, dias atrás. "Perdida", veja só. Mas aí tem o caso do menino arrastado até a morte, da menina baleada numa fila de banco, e como diz a velha canção do Chico, "Rezo até ele chegar cá no alto,essa onda de assaltos tá um horror"

Quando eu tinha 15 anos ganhei um documentário de Phil Jouanou sobre a trajetória dos irlandeses na América. No caso, o U2. Em Nova Iorque, Bono e The Edge passeiam pelo Harlem. E antes, anos antes que você pudesse acusá-los de demagogia, havia um músico cego na calçada. Uma gaita, uma guitarra e uma voz negra norte-americana. Cena preciosa. Mensagem familiar.

I need some freedom.
Freedom for my people
I want some freedom
Freedom
Freedom, freedom for my people
I'd like some freedom
I need some freedom for my people
Freedom
Freedom, freedom for my people

quarta-feira, 7 de março de 2007

A dúvida (La duda)


Participe da enquete sobre a melhor grafia para o nome do... esse personagem aí, filho do Sr. Barriga, no Chaves!

OPÇÕES)

A) Ñoño (en español)
B) Nhonho
C) Inhonho
D) Gnogno (perque io parlo italiano)
E) Ignoño (la mistureba)

Vote djá, nos comentários do blog!

O resultado será divulgado daqui a uma semana. O ganhador não leva nada.

terça-feira, 6 de março de 2007

"Ela disse sim, vem Kafka comigo..."

"Quando certa manhã Gregor Samsa despertou de sonhos intranqüilos, encontrou-se transformado num terrível inseto". Frase inicial de "A Metamorfose", de Franz Kafka.

Agora me diz: como é que alguém pode ser o mesmo depois de ler isso?

A convite da Folha de S. Paulo,dezoito escritores aceitaram o desafio de reescrever o trecho inicial da obra-prima de Kafka. Os resultados mais bacanas são:

Metamorfose
Quando certa manhã acordou de um sonho intraqüilo, encontrou-se em seu canto metamorfoseado num ser humano. E, o que lhe pareceu particularmente monstruoso, já com nome: Gregor Samsa. - Por Teixeira Coelho

O triste fim de Gregor Samsa
- Que porra é essa? - pensou Gregor Samsa ao depertar dum sono turbulento; seu corpo, à luz da manhã e de seus olhos, não era mais humano. - Por Paulo Lins

Por que não uma pedra?
Numa certa manhã, um inseto acordou metamorfoseado num cidadão chamado Gregor Samsa. Perdeu a habilidade de voar,de andar sobre as paredes, ganhou uma pasta preta, um chapéu e documentos. Seu ambiente restringiu-se à fria Praga. - Por Marcelo Rubens Paiva

O milagre da multiplicação
Quando Gregor Samsa despertou certa manhã, como se saísse de um sonho, viu-se transformado em Borges. Tinha um rosto pequeno, com fios brancos espalhados pelo queixo e pelas faces,numa barba que devia ser escura. Nada semelhante com o escritor. Mesmo assim, era ele. - Por Ronaldo Lima Lins

segunda-feira, 5 de março de 2007

Não é Campari Rock isso aqui?

"Não é Campari Rock isso aqui?", dizia Daniel Peixoto, do Montage, enquanto derramava sobre si uma garrafa de espumante da marca em questão. Isso em setembro passado, na última edição do festival.

Pois uma fonte me contou que não vai ter mais Campari Rock. É finito. Nem aquele golinho safado na entrada. E o risco é que sejam extintos também os shows de bandas como Gang of Four, Mission of Burma, MC5 e Supergrass - pra citar algumas das atrações das edições passadas.

Agora é rezar para que um novo patrocinador perca mais uns anos investindo nessas roubadas. Ou será que a Campari realmente acreditou nesse reposicionamento de marca? "Trading-up", como eles dizem lá no mundo corporativo.

Consolo: mandaram dizer que shows menores rolarão naquela tal CLASH, da Barra Funda.

De brinde, To Hell With Poverty, live on UK TV.

sábado, 3 de março de 2007

Esquerda ou direita, extremos volver!

Esta noite sonhei que estava na Venezuela e que Hugo Chávez tinha cabelos parcialmente brancos.

Havia um triciclo, daqueles do Kiko. E eu tinha de correr atrás do Chávez para fazer uma entrevista. Estouravam umas bombinhas que faziam fumaça revolucionária. Havia um cemitério ao lado, com túmulos de isopor e espuma.

Até que surge George W. Bush, a pé, sem seguranças, com óculos escuros escondendo o estrabismo. E eu penso "ué, ele não estava com o Lula?". Bush caminha em direção a Chávez, e permanece com o pescoço virado para trás, de olho em mim e no cortejo que entrava no comitério.

E Freud explica?

You don´t have to put on the red light

Se o The Police não voltou para salvar o mundo, salvar o Sting da chatice já valeria a intenção. A banda esteve impecável em sua apresentação no Grammy, a primeira desde os anos 80.

Se um dia assistir ao vivo Stewart Copeland se esgoelar na bateria, eu juro que choro. Andy Sumners tocou em São Paulo ano passado com Roberto Menescal e sua turma, mas passou batido. E a promessa é de que a turnê de reunião da banda passe pelo Brasil.

Caça-níquel ou não, who cares?

O Grammy é tão fajuto que até o Milli Vanilli já foi premiado. Pra quem não sabe, descobriram tempos depois que os "cantores" do grupo dublavam as vozes de outros. Mas algumas apresentações valem ser vistas. Um bom exemplo é o tributo a Joe Strummer, que juntou no mesmo palco Elvis Costello,Dave Grohl, Bruce Springsteen e Steve Van Zant tocando "London Calling", do Clash.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Uma câmera de vídeo e a vergonha alheia

Terça, no Via Funchal, a duas horas e meia do show do Coldplay. Renata D´Elia, Evelyn Vavassori e Kleber Nascimento bebem cerveja a preço de whisky. Sentados nas cadeiras numeradas do lado esquerdo do palco, eles sentem a presença de alheios.

CICRANO COM SOTAQUE MINEIRO: "Estamos aqui nesse lugar ma-ra-vi-lho-so chamado Via Funchal, aqui em São Paulo e...cara...olha esse teto, olha esse palco, olha essas luzes, tem dois, quatro telões...show, muito show! E o show nem começou ainda! Daqui a pouco tem o Coldplay, o melhor do século XX, XXI, XXII e sempre! Esta aqui é a fulana, este aqui é o beltrano, e eles são a prova viva de que as pessoas do Orkut são reais..."

FULANA COM SOTAQUE MAIS MINEIRO AINDA:"É isso aí gente! Muita emoção de tá aqui! Filma lá ó... acho que o Chris Martin, ele tá cabeludo"

CICRANO COM SOTAQUE MINEIRO, olhando para a câmera: "Aqui é assim: eles chegam e vão pra um lugar reservado...eles devem fazer um esquema".

BELTRANO COM SOTAQUE PAULISTA: "Aí, galera, tô muito afim de ouvir Fix You!"

Começa a banda de abertura. Renata, Evelyn e Kleber rezam para Deus-Pai-Todo-Poderoso. Mas acho que ele não ouviu porque tava muito barulho e a música era muito ruim.

Clique aqui
para ver os vídeos de Shiver, Speed of Sound, por Renata D´Elia.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Se Coldplay fosse o maior problema do mundo...

Se Coldplay fosse o maior problema do mundo, tava bom. Desde quando fazer música pra ser cantada é problema? Ninguém é obrigado a ser experimental. E de rock experimental eu posso dizer - melhor que Thiago Ney, com certeza. Ser jornalista afetado é fácil. Modelo Leão Lobo musical.

Não estou discutindo aqui o que é "mela cueca" ou não. Nem vou opinar sobre a lista dos mocinhos "demagogos" do showbizz. Se Chris Martin é o novo Bono, não faz diferença. Mas reduzir os 27 anos de ótimos serviços prestados à música pelo U2 ao rótulo de "banda comercial" é uma mistura de pose com falta de informação.

Por essas e outras, anda insuportável ler qualquer coluna musical. Além da péssima qualidade dos textos, existe essa maniazinha caipira de crítico suburbano quando sobe na vida. Tô falando desse deslumbramento de quem viaja só pra assistir o Paleò ou o Reading Festival.

Não dá praa viver de aposta na "melhor banda dos últimos tempos desta semana". Mas tem gente que vive.