quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Let England Shake

Não esqueci da PJ Harvey, musa habitual em toda casa que se preze. Seu disco "Let England Shake" veio a calhar com a crise europeia e a tonelada de protestos na Inglaterra no ano do casamento do Príncipe William com a plebeia Kate Middleton. É a cantora mais cultuada da Inglaterra depois de Kate Bush -- num hype diferente de Amy Winehouse e Adele -- e uma das mais inventivas e iconoclastas em atividade. Dá pra entender o peso de um disco conceitual ora político, ora afetivo, às vezes orgulhoso, lançado por ela. 

A morte, a honra, a guerra e seus guerreiros estão lá, mas de um jeito feminino, com arranjos vocais corajosamente sofisticados para uma vocalista que não é das mais técnicas, mas que acerta no tom. Bandolins se misturam a cornetas, violões, guitarras, instrumentos de sopro e aquela harpa muito louca que eles chamam de "autoharp" (ainda não chegou na Santa Ifigênia, acho). E assim nós temos mais um pedacinho de arte que se afasta do pop tradicional e que por isso não vai ser trilha sonora do nosso verão fácil & colorido. Mas vale as audições introspectivas e desencanadas.     



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sobre Brasílias e Del Reys

O regente Tiago Pinheiro, à frente do Coral Paulistano e do CoralUSP, me contou uma história engraçada sobre uma Brasília, um atoleiro no Brooklin dos anos 1970, e uma canção do Nelson Gonçalves. Mas isso fica pra entrevista, que ainda vai sair na revista sãopaulo. Não vamos estragar a surpresa! 

Lembrei disso numa conversa sobre carros velhos, memórias de infância e música com um outro Thiago, o Teixeira, que descobri apurando uma matéria sobre futebol indie (porque não apenas as pautas, mas os personagens também devem ser interessantes, senão não vale a pena enriquecer o patrão). Ele é o feliz dono de um Lada vermelho. E começamos um papo sobre Variants, Opalas e Monzas que me lembraram  uma doce passagem paulistana. 

Foi possivelmente no ano 2000. Ou antes. Eu era adolescente e estava sentada no Palio da minha mãe, num semáforo próximo à estação Parada Inglesa do metrô. Estávamos no verão, fazia sol e nosso carro não tinha rádio. Foram exatos 10 segundos até que um Del Rey verde escuro, pitura intacta, bancos convidativos, ocupasse quase toda a largura da faixa ao lado. Dentro dele, duas garotas de óculos escuros. A motorista era ruiva, tinha um cabelão e mascava chicletes. Parecia absolutamente dona de si e do carro do vovô.  Todas as janelas estavam abertas e por elas saía o mais íntegro & alto som do Led Zeppelin. Três minutos depois, viraram à direita e nunca mais as vi. 

Até hoje não sei se delirei ou não, mas gosto de pensar que um dia vou dirigir piscianamente por toda a Califórnia até o deserto de Nevada com carro & música similares. Espero que as garotas do Del Rey tenham realizado sonhos parecidos. Agradeço por terem me dado esta visão embrionária do "vintage". 

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Portifa de Cidades - 2011

Comecei a cobrir Cidades em 2011. Gostei da novidade e em 2012 tem mais. Decidi postar aqui uma pequena parte deste portfolio impresso em veículos como a Veja São Paulo, a revista sãopaulo (Folha de S. Paulo) e o guia GPS. Vão também uns links para o que está online. E vamos colocar um pouco de ordem nessa baguncinha!

Na Veja São Paulo, tem os históricos dos bairros de Perdizes e Moema, respectivamente linkados. 

Na revista sãopaulo tem tudo isso aí embaixo, um pouco mais a sair, e esta matéria sobre cursos, pra quem quer aprender a plantar bananeiras no ano que vem. Clicando nas imagens já dá leitura, mas se salvar dá pra ampliar as matérias.

                                       O Dono do Traço - Pedro Paulo de Mello Saraiva, para o Edifício Acal (Jardins)  

                                                 O Dono do Traço - Vilanova Artigas, para A Casinha (Campo Belo) 


Com que vinho eu vou?  Sommelier Marcos Freitas dá dicas  para escolher a  garrafa certa em cada ocasião

                                   Iniciação científica - Revisitamos a Estação Ciência, na Lapa, com o físico André Cirelli. 

                                    Vale Quanto Pesa - Mercadão da Lapa vende iguarias a granel e importados                                                 

     GPS - Gabriela Fernandes, produtora de eventos, indica 5 lugares para o amigo secreto da firma 

 Quatro séculos no papel: Arquivo Histórico Municipal abre exposição inédita com documentos paulistanos 


Regata rock n' roll - Miranda Kassin e André Frateschi experimentam remar na Raia Olímpica da USP
Os indies da bola - Cansados da badalação dos grandes times, paulistanos buscam futebol de outras divisões

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Meshell Ndegeocello


Meu amigo Xinho esteve em Nova York e voltou dizendo que assistiu a um show da baixista Meshell Ndegeocello no Blue Note. [Tudo bem, ele venceu: batata frita!] Gosto dela desde os tempos no MTV na Chapa, programa matinal em que Cazé Peçanha, Sabrina Parlatore e Rodrigo se revezavam como apresentadores. Não posso dizer que virei fã, eu não sabia muito bem como ouvir música aos 13 anos. Mas andei resgatando algumas coisas dela e acabo de chegar ao recém-lançado "Weather", que não recebeu qualquer comentário na imprensa tupiniquim e é provavelmente o disco mais solto que ela já fez.

São baladas sexies e emotivas misturadas a lampejos pops dançantes, ainda assim intimistas. Vai um pouco de jazz, outro de eletrônico, e mais um pedacinho de funk, onde a baixista mostra virtuosismo. Um dos  destaques é "Rapid Fire", espécie de introdução à relação entre casais urbanos numa atmosfera sofisticada, mas meio safadinha. "Chelsea Hotel" serve para o primeiro beijo. "Dirty World" traz uma linha de baixo absolutamente irresistível com guitarras pontuais e trejeitos radiofônicos.

Comuns na carreira de Meshell, as instrumentações acústicas tem um de seus melhores momentos em  "Crazy And Wild", trilha perfeita para um filme neurótico-romântico que, quem sabe um dia, terei competência e paciência pra fazer. [Mas isso só vai dar pra explicar quando sair]. Revelações na mesma linha prosseguem na esperta "Petite Mort", pra deixar confusos os fãs jazzy-pops-bonitinhos de Norah Jones. Mas o que há de mais parecido com aquela Meshell dos anos 1990, com potencial de videoclipe pop entre adultos, é "Dead End", uma mistura de violões e teclados com melodia e arranjos que colam no ouvido e provocam dancinhas no volante, especialmente em manhãs de sol.

Que pena que não temos Blue Note ou sinais de Meshell Ndegeocello por aqui.



From The Sky Down

Anton Corbjn/1991

Quando o U2 chegou a Alemanha para gravar as primeiras experimentações que originariam o álbum "Achtung Baby", em 1990, o muro de Berlim havia sido derrubado e o país vivia um processo de reunificação. Bono, Larry, Adam e The Edge decidiram se juntar a um dos grupos barulhentos que ocupavam as ruas destroçadas da futura capital. Passaram lá uma meia horinha como idiotas, sem entender nenhuma palavra, no meio de uma multidão séria e brava. Só depois é que se deram conta: era um protesto de comunistas que exigiam a reconstrução do muro; as comemorações pela nova era estavam do outro lado da cidade. 

Tendo os acontecimentos políticos como pano de fundo e buscando o histórico da banda desde os primórdios na cena pós-punk de Dublin, o documentário "From The Sky Down", de Davis Guggenhein, enfoca os desafios e o duro processo criativo do álbum frequentemente considerado como o melhor do U2. O clima tenso entre os integrantes da banda e a pressão para enterrar a postura de tempos passados e se reinventar após sentir na pele o fracasso do álbum-filme-turnê "Rattle And Hum" são retratados por meio de entrevistas, imagens de arquivo e até gravações dos esboços de obras irretocáveis como "Mysterious Ways" e "One". 

Foi a criação de uma estética para além do "ritmo de Manchester" até as "repetições e texturas de Berlim", berço do Kraftwerk e da música eletrônica, como lembram Bono e The Edge. É uma nova identidade complexa, tão irreverente quanto messiânica, grandiosa. Uma auto-sátira megalomaníaca feita pra esconder -- e pra forjar -- uma banda que encara os grandes estádios, lidera grandes produções, e ganha as massas com um som próprio e cheio de assinaturas. O apoio de Daniel Lanois e Brian Eno como produtores, além de Flood como engenheiro de som, Anton Corbjin como fotógrafo e criador desta nova imagem, também estão lá. A turnê "Zoo TV" conta o resto da história. 

Mas o mais curioso é observar o U2 em três momentos na mesma Berlim. O primeiro, num show de 1981, 10 anos antes, na esquecida era "October". Foi o primeiro VHS pirata que comprei na Galeria do Rock, por sinal. O segundo é lá, no portão de Brandenburgo, em 2009. E o terceiro é recheio do documentário.   




sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um poema do Zé

Umbra Umbela

Debaixo de teu guarda-sombras estão:
Borrascas, tempestades,
Corpo cheirando após a chuva,
Uma nota de um real amarfanhada onde alguém escreveu:
Que Deus me proteja, em quase incompreensível garatuja;
Um luar que range como se estivesse enferrujado
de tanto ficar parado no mesmo lugar,
A fertilidade de teu ventre,
Pirilampos tingindo todas as tuas noites mal dormidas,
Cupins a desesculpir teu leito,
As ilusões perdidas, os sísmicos abalos
que as fraturas de teu solo provocam,
O hálito neutro da manhã tornado vento
E que o braseiro de teus lábios traduz no mais
desejado beijo de uma vida;
fotografias desbotadas, notas dissonantes, harmonias tortas
a se compor disparatadas e soar como um outono,
folhas a cair milimetricamente ao pé dos plátanos
(que nem sequer existem fora dos romances),
florilégios de uma corte decadente e distante e perdida
que olhos num esgar decifram em hieroglifos,
sentidos múltiplos da mesma escrita;
mesas de bares, beiras de lagos e afetos,
arquiteturas que fazem olhar os céus
onde as constelações se descortinam a não nos revelar nada;
dedos finos, longos, a se incrustar em minhas costas,
em suas doces trilhas indeléveis;
arfar que se desconhecia em noites surpresas
da magia de gozos indecifráveis;
murmúrios, sussurros, palavras ditas que teimam
em jamais se repetir, inclusão de auroras, membros dormentes, peixes olhando paredes de aquários acostumados a nada transpor,
desenhos animados, fantasias, balões pisados no fim da festa,
comemoração que nunca finda, bolos dormindo nas geladeiras para o café da manhã que não virá,
eu tremeluzo, me inflo e abundo
nesta animação tanta e inúmera que tu és.


José Eduardo Mendonça

14 discos de 2011



Óbvio que é carne de vaca listar os melhores do ano. Mas prometi a Sérgio Martins e Fernando Neumayer uma lista de melhores do ano. Para o Itamar Montalvão também (ou não?). Resolvi comentar rapidamente não necessariamente os melhores, mas parte dos discos lançados em 2011 que chegaram aos meus ouvidinhos e ainda não foram comentados neste blog. 

Acho que a relevância de alguns discos citados não ultrapassará a barreira de 31 de dezembro. É meio mala fazer a gincana de quem tira mais bandecas da cartola para hypar com os 15 segundos de fama. Mas também quero participar da brincadeira.

E, NOSSA, quanta mulher nessa lista! Não espere encontrar Criolo, nem Wilco, nem Emicida. A Meshell Ndegeocello e o Paul Simon eu prometi que resenho depois. De resto, pode entrar, abrir a geladeira e ficar à vontade. 




Kate Bush - "50 Words For Snow"
Faz muito frio em Londres e já deve estar nevando. Kate Bush é mais inglesa que todas as cantoras inglesas dessa lista. Basta ligar os dois ponto



s para entender o porquê da omissão quase total dos brasileiros sobre o novo disco de uma das cantoras e compositoras mais excêntricas -- e brilhantes -- ainda em atividade. No nosso país tropical, abençoado por Deus, não é mais tão hype fazer cara de londrino ou perdeu-se de vez a mínima vontade de transcender a cartilha indie-pop de balada da semana, a menos que seja para rasgar seda para Adele, em substituição à Amy Winehouse. 


"50 Words For Snow" não é coisa para preguiçosos. Passando longe do histrionismo que a consagrou,  Kate faz um estudo musical de texturas invernais. E a neve, vocês sabem, é algo quase sempre triste e belo. Bases minimalistas ao piano e agudos ainda inacreditáveis abrem o repertório com "Snowflake". 


Em "Lake Tahoe", a cantora divide vocais graves com os cantores eruditos Stefan Roberts e Michael Wood. Bateria jazzística e letras românticas de intensidade corporal ocupam os espaços sonoros em "Misty", composta para um homem das neves. A mais pop do disco é "Wild Man", de melodia imprevisível e arranjos vocais tão perfeitos e estranhos que só nos resta pedir à St. Vincent (aí embaixo) pra aprender. Em "Snowed In At Wheeler Street", um surpreendente dueto com Elton John. Na faixa-título, Kate e o ator Stephen Fry se empenham para encontrar 50 sinônimos, entre vários neologismos, para a palavra "neve". "Among Angels" fecha o disco contando uma historinha sobre o serafim encontrado por Kate no meio dessa neve toda. É tudo exatamente oposto à canção pop tradicional. E uma obra de arte, não puro entretenimento.



FEIST - "Metals"
5 estrelas. A menos que você se identifique mais com alguma paradinha eletrônica igual àquela paradinha eletrônica que a gente dançou no Baixo Augusta ano passado, um solzinho no céu e uma sainha rodada no salão. Aqui é outra coisa. Leslie Feist faz um passeio visceral pelo que há de mais lírico e ritualístico no folk. Entra um trabalho arrojado de vocais, metais e cordas, daqueles que dão peso dramático à coisa. The Bad In Each Other e Graveyard já nasceram clássicas. Cadê o road movie com história de amor e visual modernoso pra usar na trilha sonora? How Come You Never Go There recupera o espírito de pop sofisticado e cheio de pedigrees dos álbuns anteriores, aquela performance vocal que a gente adora na Feist. Mas assim, é um álbum para poucos. Se você não é dos poucos e tem medo de parecer cabeçudinho, vá ouvir Foster The People e curtir a baladinha e pronto, tchau, nada contra (olha só a crítica deles lá embaixo). 




Adele - "21"
Vou gastar pouquíssimo tempo para falar de Adele, a delícia pop eleita por crítica e público como revelação do ano, porque é tudo chover no molhado. "Set Fire To The Rain" é uma das baladas pops do ano. "Rolling The Deep" é a música do ano. "21" é um dos discos do ano. Compre aí.



Tom Waits - Bad As Me
É provavelmente o disco mais bem arranjado de Tom Waits. Tantos saxofones, baixos funkeados (com a participação de Flea, dos Red Hot Chilli Peppers), gaitas de Charlie Musselwhite, pianos e guitarras blueseiras cercadas de fogo, delírios incrementados. Crueza e grosseria -- no melhor dos sentidos -- só mesmo na voz. Um espírito loser aqui, um tanto de álcool acolá e estamos numa atmosfera conhecida no trabalho de Tom Waits, só que mais sofisticada. Há ainda participações do saxofonista Clint Maedgen, Ben Jaffe no trombone e clarineta, e Keith Richards na guitarra. Será que a finada Amy Winehouse teria topado cantar em Bad As Me? Combinava com ela. De novo, no melhor sentido. Destaque para "Chicago", "Talking At The Same Time" e "Face To The Highway".

SuperHeavy - "SuperHeavy"
Desceram a lenha nesse disco na Rolling Stone, muita gente chamou de "muito étnico". Acho étnico, mas também digno, embora longe do maravilhoso. A banda formada por Mick Jagger, Damian Marley, Joss Stone, Dave Stewart (do Eurythmics) e A. R. Rahman faz uma mistura de reggae com rock e um pouco de eletrônico num disco que salienta a ala domesticada da Jamaica na Inglaterra. Mas tem aí pelo menos alguns bons momentos. "One Day One Night" e "Beautiful People" são dois exemplares de levada reggae bem sucedidos. "Never Gonna Change" é uma balada pop levada no violão com ares de "Out Of Tears", de Jagger e Richards, gravada pelos Rolling Stones no álbum "Voodoo Lounge" (1994). O ponto alto fica com "Rock Me Gently", em que Damian e Joss dividem os vocais, crescendo num refrão cantarolável e pegajoso.



Gal Costa - "Recanto"

Gal veio de um recanto escuro, como diz o verso de abertura do disco composto e produzido por Caetano Veloso. É a pura verdade. Nas mãos erradas, há pelo menos 20 anos ela produz vergonhas alheias exemplares, pesa no tom, e é cafona. Soa velha até cantando clássicos. Mas aqui ela se acerta. Sem os grandes agudos e histerias vibrantes do passado, nossa cantora mais cerebral provoca emoções distintas -- nunca derramadas -- num álbum que mistura violões a guitarras de ares vintage com leves traços psicodélicos, cacoetes de Gainsbourg e efeitos eletrônicos, inclusive em modulações vocais imperdoáveis aos puristas da MPB. Mas Gal chegou ao século 21. A molecada está ali: Moreno e Zeca Veloso, filhos de Caê e seus parceiros nos bem sucedidos Cê (2006) e Zie-Ziee (2009), além do produtor mais badalado da cidade, Kassin. Há a mesma poética caetana de herança concreta antenada, em busca de uma afirmação jovem, conceitual e minimalista. Agora os modernos já podem sair do armário: é hype gostar de Gal em canções como Tudo Doi, Autotune Erótico, O Menino e Mansidão, a mais bossanovista do repertório. Gal is alive. "Pelos caminhos que levam à grande beleza/americana global minha voz na panela-la". 


Lulu Gainsbourg - "From Gainsbourg To Lulu"

Pouco comentado no Brasil, é coisa chique. O filho de Serge e Jane Birkin convidou uma turminha ilustre para recriar pérolas da obra do pai num tributo sem erros. Começa com L'Eau A La Bouche em versão de samba para exportação. O derramado Rufus Wainwright imprime sua assinatura de diva ao piano a um dos mais belos exemplares da "chanson", Je Suis Venu Te Dire Que Je M'En Vais, numa válida versão sem resquícios da performance bêbada & emocionada de seu autor. Tem direito a um quarteto de cordas, inclusive. Scarlett Johansson encarna Brigitte Bardot em Bonnie & Clyde, em dueto com Lulu. Mas rá, essa foi fácil e óbvia, apesar da repaginada satisfatória. Johnny Depp & Vanessa Paradis abusam do baixo na indefectível Ballade de Melody Nelson. O francês Mathieu Chedid "M", Iggy Pop e Marianne Faithful também estão por ali. Destaque para Requiem Pour Un Con e Manon. Não precisa nem reinventar completamente o que está aqui. Para ouvir no carro, no metrô, em casa e na praia. Útil para jantares entre amigos. 


kd lang and The Siss Boom Bang - "Sing It Loud"

Esse monte de cantorinha fazendo mimimi bem baixinho + uns musiquinhos com uns barulhinhos e efeitinhos. Vocês adoram, vá entender. kd lang é o oposto. Praticamente um Roy Orbinson mulher, que também usa ternos, uma de nossas melhores cantoras desde os anos 1980. Canta para uma rua inteira, dá até medo. Foi darling nos anos 1990, enfiou o pé na jaca em trabalhos irregulares, encontrou a meditação e foi viver com namorada e cachorro nas montanhas. Mas aí ela resolveu cantar com sua velha banda e lançou um disco sem novidades estéticas, mas uma espécie de porto seguro onde a gente pode ser meio folk, meio rock, e muito denso, como em seus primeiros trabalhos. Vai lá, nêga, sem medo de quase parir enquanto canta. Solte as emoções, tenha lá duas ou três catarses e ouça o disco. Destaque para I Confess, uma súplica apaixonada, a derrubadora oficial de indies anódinos aqui nessa lista. A balada Heaven, por exemplo, também vale pra quando você quiser levar alguém pra cama (mas não conta pra ninguém que eu disse isso, preciso ser uma crítica séria).


St. Vincent - Strage Mercy
Não pega bem falar mal de Annie Clark, mais conhecida como St. Vincent. Longe de mim, aliás. Inventiva e elegante, numa atmosfera menos previsível do que de costume entre suas contemporâneas. Quando você acha que vai descambar pro uso banal de ecos e loopings, ela se antecipa a você com guitarras contrapostas a teclados que te levam da baladinha fechada a um link maluco. É o caso de "Surgeon", "Dilettante" e "Cheerleader", possivelmente as melhores do disco. Espere só até ela se achar completamente. Não haverá mais pontos baixos e a gente vai ter um belo próximo disco.


Lira - "Lira"
Graças a Deus esse disco de estreia solo de José Paes de Lira, o Lirinha, mal lembra os vôos de seu antigo grupo, o Cordel do Fogo Encantado, e desculpe aí se você se rasga pelos herdeiros do mangue beat, mas eu acho uma libertação necessária. O que pega aqui é a crueza e a honestidade de canções 100% guitarrísticas com algum regionalismo de sobra e flertes com o samba e o jazz. É coisa moderna. Otto, Fernando Catatau, Ângela Rô Rô e o recém-falecido Lula Cortês são algumas das participações do disco. Destaque para "Sidarta", "Sistema Lacrimal" e "Noite Fria".


Fleet Foxes - "Helplessness Blues"
Não uso barba, não falo caipira, tenho até algumas peças xadrez no armário mas tomo banhos demais para ser hipponga. Citem o Bob Dylan que quiserem: a ressurreição do Fleet Foxes, continuada no álbum de 2011, está no naipe de Sá & Guarabyra, Mercedes Sosa, um pouco do Clube da Esquina e do cancioneiro folclórico sulamericano, mas esse aí não pega bem ouvir. E o Fleet Foxes é mais mala. Prefiro os nossos violeiros. 


Foster The People - "Torches"
Grouplove - "Never Trust A Happy Song"
Black Keys - "Sister"

Não é gol de placa, mas uma abertura discreta no placar: apenas o disco de estreia da banda de synth-pop mais querida de Los Angeles, com todo aquele clima de festa, com direito a Houdini e Pumped Up Kicks, que são uma coisa muito boas de ouvir na balada e fora dela. É isso e a faixa de abertura, Helena Beat, mais algumas espertezas do tipo Don't Stop, um pop de refrão adesivo teletransportado dos anos 1960 para o século 21, com alguns tapinhas eletrônicos. Difícil de distinguir uma coisa da outra, é tudo muito homogêneo e não faria lá tanta falta deletar esse disco do HD. Vale a conferida pra não passar em branco pela banda, que ainda vai colar uns hits no futuro. E mesmo nessa linha, o Washed Out (que elogiei aqui anteriormente), faz melhor com Amor Fati e adjacências. No terreno do abadá indie no Playcenter, vale citar o Grouplove, com disco de estreia vibrante e colorido, flertando explicitamente com o rock, e mais expressivo que o Foster The People. Há pelo menos duas faixas pra pular de alegria: Tongue Tied e Lovely Cup. O melhor dessa safra indie tem os pés fincados no rock e se chama Black Keys, direto do Tenessee. Não comento, só posto uma dica.






terça-feira, 13 de dezembro de 2011

5 pautas fantásticas paulistanas

Sugestão 1: Alice, do País das Maravilhas, indica 5 buracos para seguir um coelho branco em São Paulo.

Sugestão 2: A São Paulo dos 7 anões -- Zangado elege o trânsito, Atchim reclama da poluição, Mestre dá palestra sobre a desfuncionalidade urbana, Soneca indica 5 lugares para roncar em público, Dengoso faz denguinhos com a estátua viva da Paulista, Dunga bate palmas e Feliz diz que a cidade é como Nova York, muito antenada e cosmopolita. Branca de Neve fugiu num SUV com o Príncipe Encantado e não vai querer dar entrevista. 

Sugestão 3: O espírito do poeta Roberto Piva elege 5 lugares xamânicos onde playboyzinhos paulistanos ouvirão, pela primeira vez, o poderoso ronco dos bugios. Inclui ilustrações e legendas para introduzir o gavião de penacho aos frequentadores do Baixo Augusta. 

Sugestão 4: Alzira Casado, terapeuta de casais, indica 5 lugares públicos de São Paulo para enfiar uma bolacha na cara daquele safado, galinha, sem vergonha que te traiu com aquela pilantra vagabunda. Ela ensina técnicas para dar audiência ao escândalo. Inclui infográfico para compreensão do termo "vagaranha", uma junção da vaca com a galinha e a piranha. 

 Sugestão 5: O último integrante da tribo romântica do leste indica 5 lugares paulistanos onde é possível ver estrelas numa noite de verão suficientemente propícia para dizer "eu te amo".