quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Big Apple X Terra da Garoa: as prefeituras

Últimos prefeitos de Nova York: David Dinkins, Democrata, 1990-1993; Rudolph Giuliani, Republicano, 1994-2001; Michael Bloomberg, Republicano, 2002-2013; Bill de Blasio, Democrata, desde 2014.

Últimos prefeitos de São Paulo: Luiza Erundina, PT, 1989-1992; Paulo Maluf, PP, 1993-1996; Celso Pitta, PP, 1997-2001; Marta Suplicy, PT, 2001-2004; José Serra, PSDB, 2005-2006; Gilberto Kassab, DEM, 2006-2012; Fernando Haddad, PT, 2013-2016; João Doria, PSDB, a assumir em 1º de janeiro de 2017.

Os democratas ficaram 20 anos longe da prefeitura de Nova York. Se nenhuma bomba política cair, eles terão acumulado, entre 1990 e 2018, apenas 8 anos à frente da Big Apple. Sozinho, Michael Bloomberg ficou 12 anos no poder em três mandatos. Bloomberg é, na verdade, um ex-republicano que tornou-se independente no meio do caminho. Vale frisar que o bilionário governou a cidade aliado à ala republicana e é acusado de elitista por boa parte dos cidadãos novaiorquinos, embora tenha apoiado Barack Obama à presidência anos atrás e expressado repúdio ao republicano Donald Trump em cima do palanque de Hillary Clinton neste 2016.

Contando que ninguém morrerá ou será golpeado até lá, o prefeito eleito João Doria ainda estará no cargo em São Paulo em 2018, ano das próximas eleições em Nova York. Entre 1990 e 2018, São Paulo terá passado, portanto, 10 anos nas mãos da esquerda e 18 nas mãos da direita. Puxando a conta para os anos eleitorais no Brasil e considerando os período de 1988 a 2016, o primeiro de Erundina e o último de Haddad, São Paulo tem 12 anos de esquerda, 16 de direita.

Trata-se das cidades mais ricas, populosas e multi-étnicas de seus países. Analisando esse período, São Paulo tem mais alternância de poder, mas pode-se dizer que em nenhuma das duas cidades a esquerda conseguiu se manter no poder por mais de 4 anos seguidos até o momento. Dos prefeitos novaiorquinos citados, há um afro-americano (Dinkins), dois ítalo-americanos (Giuliani e de Blasio), e um judeu (Bloomberg). Dentre os prefeitos paulistanos, Erundina é migrante nordestina; Maluf, Kassab e Haddad são libaneses, Marta é bisneta dos barões de Vasconcellos, Serra é ítalo-brasileiro, Doria vem de família nordestina de senhores de engenho e proprietários de terras desde o período colonial.

Nunca morei em Nova York e vivo numa São Paulo tão paulistana que não tem nada a ver nem com a São Paulo da cabeça de muitos paulistanos nem com a Nova York da cabeça dos brasileiros, mas outra hora eu prometo que falo mais sobre as diferenças e semelhanças desses prefeitos. Bom dia!

domingo, 9 de outubro de 2016

O parklet Jaçanã-Tremembé

Estou impedida de treinar há 2 meses devido a um problema na coluna, mas ontem e hoje resolvi me rebelar e retomar o velho hábito de caminhar por 5 Km ao redor de uma praça onde, nesta primavera que finalmente deu as caras, ipês amarelos e rosas florescem e trazem com eles todo um espírito de passado e de interior no extremo norte desta dura capital Non Dvcor, Dvcor.

Estavam lá duas famílias inteiras sentadas vendo a vida passar, uma velhinha de bengala arriscando passos heroicos com a filha já na meia idade, pássaros cantantes, trabalhadores braçais do Hospital São Luiz Gonzaga se exercitando com seus uniformes nos aparelhos públicos, crianças cheias de energia e um menino de aparentes 7 anos, que quase atropelei com minhas passadas largas, amontoando pedrinhas no chão e ameaçando um inimigo imaginário: "é a guerra! vai começar a guerra!"

Completam a vida local o pipoqueiro de colarinho azul, a perua kombi que vende lanches, a vendedora de cocadas, o vendedor de laranjas, as laranjas empilhadas em sacos por aproximadamente 50 metros na rua de lazer, uma saxofonista de semáforo desfilando um repertório que ia de Alceu Valença a "Garota de Ipanema" e "Primavera" de Tim Maia.

Os sobrados ao redor formam um mosaico de cores aleatórias. São lotes paulistas, um tipo de arquitetura para as massas que tende a desaparecer conforme a especulação imobiliária das varandas gourmets captura o gosto das novas massas, embora por aqui algumas tendências tardem e falhem. A igreja onde fui batizada e fiz minha primeira comunhão está pintada de amarelo e, pelo que me consta, abriga um desses padres jovens e carismáticos.

Bem em frente há um parklet da prefeitura, muito limpo, muito conservado, com uma placa que explica o que é um parklet, pra que servem parklets, quais as vantagens dos parklets e que diz que aquele parklet se chama Jaçanã-Tremembé. Talvez seja o único parklet entre os vários quilômetros que agregam esses dois distritos e a subprefeitura em questão. Não sei e nunca contei. Passei 5 minutos sentada e percebi que ali, no fundo da paróquia, ainda existe o salão onde um professor de música da minha infância me ensinou a tocar e cantar uma música do Chico Buarque chamada "Passaredo", que se tornou uma espécie de Pai Nosso, uma lembrança automática e que nunca mais esqueci.

Aquela São Paulo dos cosmopolitas, dos gestores, dos modernos, dos militantes, dos cultos, dos super ocupados nos ignora completamente e talvez, por isso mesmo, ainda estejamos salvos por aqui.