quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Fim de semana

Sexta-feira, meia-noite. Atravessar a cidade em vinte e cinco minutos. 10 reais de gasolina num veículo 1.0, valente. Outros vinte e cinco minutos engarrafada na Mourato Coelho. 12 Reais o preço do estacionamento lotado - para um carro com seguro. Fila para entrar no FILIAL. 6 Reais o caldinho de feijão + 4,50 cada chopp. Homens bonitos, alguns. Homens bêbados muitos, e chatos em sua maioria. Fila para sair do FILIAL. 6 Reais cada Stella Artois num bar vizinho. Total de 70 Reais - dividido por 2 pessoas. A Vila Madalena não é mais tão divertida.

Sábado, nove da noite. Home, sweet home. 10 Reais numa pizza borrachuda + uma garrafa de coca-cola. Ele chega às 11. Vamos buscar um amigo e uma amiga. À meia-noite, a Estrada da Santa Inês. A deliciosa serra, o ar puro da serra, a deserta serra, a escuridão da serra, a estrada esburacada da serra. 5 reais de estacionamento. (Não foi necessário arcar com a gasolina). 10 Reais de couvert para uma banda de repertório manjado e qualidade média. 5,50 cada Stella Artois. Voltar para a civilização dói.

Domingo. 30 Reais de gasolina num veículo 1.0, valente. 30 quilômetros de Raposo Tavares. Almoço a 15 Reais por pessoa + bebidas + sobremesa + café. Interior de São Paulo. Dividimos a conta por 2 - com 4 pessoas na mesa, normal, nós convidamos. Papo vai, papo vem. Templo Zu Lai e o pagamento dos pecados. Chuva. Moedas na fonte de Buda. Mais chuva e trânsito complicado na Raposo Tavares e na Francisco Morato. Tardes deliciosas custam caro. Disse uma amiga: a vida cabe no limite do seu MasterCard. Ainda reluto.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Reptilia

Lembro quando juntamos um monte de All Stars de cores e procedências diferentes no Anhembi e, tão iguais aos outros,ficamos emocionadas ouvindo Reptilia dos Strokes. Lembro que naquele dia uma de nós mascava chiclete enquanto sorria e que as cervejas custavam caro. A Rita levou o maior número de cantadas de todos os tempos. Nos intervalos contávamos piadas de português imitando o sotaque da vovó. Tudo isso era tão bom que sei lá como não passo o tempo todo a me recordar.

Felicidade

1) "Does everyone stare?" - The Police
2) "Human Nature" - Michael Jackson
3) "Suedehead" - Morrissey (Saturday Night Live)
4) "Nothing Compares 2 U" - Sinead O´Connor
5) "Wonderwall" - Oasis (unplugged)
6) "Maria Bethania" - Caetano Veloso
7) "Ticket To Ride" - The Beatles
8) "Charlotte Sometimes" - The Cure
9) "Mystify" - INXS (live at Wembley)
10) "Sister Saviour" - The Rapture
11) "Angel" - Gavin Friday
12) "God Only Knows" - Beach Boys
13) "Touch Me" - The Doors
14) "Liar" - Rollins Band
15) "Academy Fight Song" - Mission of Burma
16) "Castles Made of Sand" - Jimi Hendrix
17) "I Will Follow" - U2
18) "Natural´s Not In" - Gang of Four
19) "Snip Snap" - Goblin
20) "Gimme Shelter" - The Rolling Stones

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Confissões de adolescente

Aos 4 eu não gostava da Xuxa, gostava do Bozo. Mas aí ganhei um LP do meu tio Nelo - Xou da Xuxa 3 -, no meu aniversário de 5 anos, festinha decorada com motivos da Turma da Mônica. Eu também não gostava da Mônica, preferia a Magali. Devido às pressões sociais me tornei uma criança flexível e assisti com meus primos a uma gravação do programa da Mara Maravilha, no antigo estúdio do SBT da Avenida General Ataliba Leonel.

Também não gostava de pentear o cabelo, mas devido às pressões sociais dava um jeito na maçaroca antes que alguém inventasse algum apelido boçal no chiqueirinho da perua escolar do Tio Celso, onde respondi a processo por atentado ao pudor por observar os bilauzinhos de André, Daniel, Bruno e Júlio César respectivamente. Pelo menos o mundo evoluiu e hoje em dia posso despentear a minha juba cogumélica em paz.

Aos 6, o sítio do patrão da Elizete. Meu pai bebia cerveja, jogava sinuca e saía para caçar jaguatiricas com os parentes cafonas da mulher dele. E eu tinha horror a cigarros e observava as unhas vermelhas descascadas daquelas semi-peruas "do lar" que ouviam Chitãozinho & Xororó abraçadas a seus maridos. Depois dormia triste com medo do escuro, deitada num travesseiro de fronha quadriculada. Nessa época também inventei 5 foguetes e fui a primeira mulher presidente do Brasil.

Minha prima Fernanda, nascida em 1988, arranhava minhas costas, me batia, pegava minhas bonecas, meus carros da Barbie, e um dia arrancou a perna do meu Ken preferido. Apesar disso tudo, gosto muito dela... que tem assim um baita muque e é 13centímetros mais alta do que eu.

Vivi no mundo da lua até os 8, quando a Prô Marlene disse pra minha mãe que eu era uma aluna aérea. Mas repetia, todas as sextas, no horário da morte de Cristo, a mesma oração passionista: "Senhor, eu vos agradeço por terdes morrido na cruz pelos meus pecados. Meu Jesus, misericórdia". Andava de uniforme impecável e após fazer o sinal da cruz, dava um beijinho na mão e, com um pulinho, me encostava aos pés do Cristo da rampa do 1º andar. Mudei muito até os 15, quando me expulsaram de lá.

Aos 9 tive piolhos. Beijava a televisão toda vez que Michael Jackson aparecia. "Free Michael", my campaign. Escrevi 15 cartas pedindo para conhecer o Lucas Silva e Silva. Chorei quando Leonardo Kickboxer foi expulso da Copa em 94, e depois fiquei possessa com a bomba-gol do Branco, aquele gordinho feio. Era amor mesmo. Aos 11 virei representante de sala e ganhei a primeira de minhas 5 medalhas de prata no handebol da Olipaulo. Desisti do vôlei ao descobrir que não passaria do metro e sessenta.

Com 12 anos eu escrevia bem, ouvia música bem e não gostava de ir ao cinema por ser hiperativa. Detestava axé, tolerava Ace of Base, ouvia Queen e Led Zeppelin e minha matéria preferida era História. Devido às pressões sociais comecei a frequentar as matinês do Espéria aos domingos de 1997 e, aos 13, fiz um bailinho na casa do João Luiz. Fiquei com 2 caras e o Fabiano levou um fora da Pétala - depois chorou na rua, em frente ao posto de gasolina.

Aos 14 eu primeiro vi o Bono e depois virei a noite após o show dos Rolling Stones antes de ir prá escola ostentar meu ingresso rasgado, cheia de purpurina na cabeça."Brown Sugar". Sofri bullyng por algum motivo - mas me vinguei. Me tornei a musa do Quiz MTV e ganhei 10 quilos - que depois, foram se espalhando modeladamente pelo corpinho infame. A família D´Elia reprovava meu comportamento e meus tios diziam que na MTV só tinha fumeta e mulher vulgar. Eu queria cursar Comunicação Social e meu pai dizia que isso não dava futuro. Aos 15, ouvi de mamãe: "você é um boi de piranha, Renata". Ainda estou amadurecendo a idéia.

Nos anos seguintes, cabulando aulas com minhas amigas burguesas-maloqueiras, eu já fazia coisas que os adultos faziam, só não tinha contas a pagar. Bebíamos cerveja e paquerávamos os gatinhos nas madrugadas da Brigadeiro Faria Lima, usávamos salto alto e seduzíamos os boyzinhos babacas da Vila Olímpia, subíamos a Serra da Cantareira com o carro em alta velocidade e, em 2001, nos confinamos por uma semana no inverno da Prainha de Santiago, escrevendo na areia, bebendo e jogando coisas uma na cara da outra. Ah sim, devido às pressões sociais eu também tinha um moletom da Polo Ralph Lauren. Mas àquela altura, eu já tinha levado um fora e foi então que eu li Primeiras Estórias, Dom Casmurro e A Hora da Estrela.

* Renata D´Elia ganha prêmios no chuveiro desde 1995. E esse texto ela dedica à Lucrecia Martel e Sofia Coppola.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Bolinhas de sabão

Foram quarenta e cinco minutos, oitocentas bolinhas de sabão, três canudos e duas canecas numa singela tarde de sábado, até que a chuva de verão encharcasse nossos velhos vestidos coloridos e encerrasse o dia.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

My heroin

Isso aqui é rascunho. De merda na sua cara e rosas na sua bunda. Fazia tempos desde as últimas letras num papel. Prá foder em letra e rima, nada como melodia. "I...I wish I could swim, like dolphins, like dolphins can swim". De arroto bruto, impensado, de odores feios, da úlcera velha, cicatrizada. Um dia ela existiu, coitada, pereceu. E eu vivi. De porra na boca, de porra, entendeu? De gozo calado e vívido. Dos fingimentos delas, aos goles. "Te quiero, te adoro, mi vida".

É o cheiro. O óleo. A espada nítida. A verdade que te falta. Infeliz.

Solto essa fumaça na cara sua, o cigarro do álcool de sempre. O pigarro que eu nem tenho, ainda. Estou aqui pensando em flores, cores, e nas bandeiras, prá nunca levantar. E na Banda de Ipanema, que não vi. Detesto essa festa, mas a cabeça é feita prá afundar. A festa. "La fezza da mamma", mas não da minha. A festa nosssa de cada dia. O Porto Pocas, branco e infernal. As mãos calejadas das mulheres de carnavais que não sentimos. As nossas mãos.

O útero dói pela baba de ontem. A tua ou a dele, tanto faz, pode ser. E deveria. Todas as babas, todas. Os anos e os futuros. "Nothing, nothinhg will keep us together, we could be there, forever and ever". As aspas. Essas almas imbecis. As que vagam. E as que procuram. Eu chego cinco minutos depois de você. Tudo bem. As trincas todas, viveremos assim. Eu vim da luta. As lutas tortas do papel, as letras todas, os labirintos. El Aleph. As trincas e quádruplas nossas. A vida inteira.

Minha fúria, a cândida branca, teus papéis. Teu jeito de análise que não sei mais. Eu gritei a vida inteira. Não cansei. Estou liberta. Somos nós. Somos eles. Não sou você. Você me quer. Eu te amo. "We could be heroes, just for one day".

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Raduan, parte I

"1) Começo te dizendo que não tenho nada contra manipular, assim como não tenho nada contra ser manipulado; ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência, ninguém escapa a isso, e acho que as coisas, quando se passam desse jeito se passam como não deveriam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Mas te advirto, Paula: a partir de agora, não conte mais comigo como sua ferramenta."

Raduan Nassar - do conto "Ventre seco", em "Menina A Caminho".