sábado, 27 de junho de 2009

Crianças caminham na lua (cronologia comentada)

1987: Renata D´Elia tem 3 anos. É apenas uma cabecinha loira maçarocada que tem medo de dormir sozinha porque acha que Michael Jackson vai vir lhe pegar. Ele é o zumbi do clipe que, anos mais tarde, ela vai considerar como o melhor de todos os tempos. Esperta, sua tia Vilda utiliza Thriller para chantageá-la: "cala a boca e vai dormir se não o Maicon Jéckison vem te pegar!" Para o mundo, o cantor é Deus e lança o álbum Bad. Ele programa a primeira de uma série de turnês tão monstruosas - e incríveis - quanto os monstros de Thriller.

1990: O Brasil perde a Copa nas oitavas de final para a Argentina. Renata é uma criança loira e banguela, que vai para a escola de ônibus escolar de segunda à sexta religiosamente às 12:15 e chega em casa às 18:40. Numa casa de veraneio em Ubatuba, tia Vilda brinca de esconde-esconde, e decide pregar uma peça nas sobrinhas - Fernanda tinha 3 anos -, uma verdadeira covardia: mandou que as duas fossem bater cara juntas (era autoritária) e, causando pavor, surgiu do escuro imitando um monstro e dizendo que era Michael Jackson. Fernanda nunca mais se recuperou do trauma.

1991: A mãe de Renata a leva ao cinema para assistir Esqueceram de Mim. O ator mirim Macauley Culkin é um dos primeiros fetiches que brotam naquela cabeça loira maçarocada. Michael Jackson lança o álbum Dangerous. O Brasil pára diante da TV para assistir a estreia de Black Or White, o primeiro clipe do disco. Renata não entende aquilo muito bem, mas adora os efeitos especiais, sai cantando a música errado em inglês, além de seguir achando o Macauley Culkin muito legal. Ele aparece no clipe.

1992: Os meninos do vôlei ganham a medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona. Tia Vilda escuta Michael Jackson. E Madonna. E trilhas sonoras internacionais de novelas. Assiste, diariamente, a um extinto programa de videoclipes da TV Gazeta, o Clip Trip. Estreia um novo clipe de Michael Jackson: tem Magic Johnson e uma modelo negra que, anos mais tarde, Renata vai achar cool, já que ela é casada com David Bowie. Remember The Time se passa no Egito. Renata adora História e acha o Egito muito legal.



1993, outubro: Sentiu endurecer o corpo e de repente acelerar o coração. Era como se um raio tivesse lhe atingido devagar. Era um fascínio, uma espécie de transe, uma atração irresistível diante de incomensurável fulgor. Alguns meses antes, Renata havia sido atacada por uma multidão de piolhos e sua mãe mandara-lhe cortar seus cabelos bem curtos. Isso dificultava um pouco seu raciocínio, e por isso, ela não conseguia entender. Michael Jackson está no Brasil. Michael Jackson está no Playcenter. Michael Jackson está no palco e o planeta gira em torno dele. Renata acompanha cada detalhe pela TV. As crianças na escola imitam o moonwalk. Renata voa pela janela, com o movimento das cortinas. Ela não tira o pensamento dele.

1993, outubro, parte 2: Renata não está bem. Ou está. Ela não está como antes. Ela não consegue mais brincar com a lista do mercado, não sente mais o cheiro dos vidros de shampoo, nem faz questão de empurrar o carrinho. Está enfeitiçada. Não consegue tirar os olhos dos olhos castanhos no centro da capa de Dangerous, pela vitrine da loja de discos, no Hipermercado Eldorado do Shopping Center Norte. Renata adentra, pela primeira vez, uma loja de discos. E descobre que essas coisas têm cheiro. Custou 200 cruzeiros - vovó Grace que comprou.

1993, outubro, parte 3: O SBT anuncia "o show do século". É Michael Jackson. Renata pensa que é o show do Brasil. Renata mal consegue esperar. Renata mal consegue dormir! Pede para tia Vilda gravar. Vilda é uma pessoa métodica. Se programa para ocupar os dois videocassetes da casa e grava logo em duas fitas, uma delas para Renata*.

1993, outubro, parte 4: Hora do show. Renata sente, pela primeira vez os olhos marejados desde a morte do trapalhão Zacarias. Olhos fixos. Renata sente o coração disparar. Michael Jackson está no palco. Está na televisão. Está por toda a parte. As pessoas gritam. As pessoas choram, passam mal. Renata não consegue entender. Renata está paralisada. Michael Jackson também. Michael Jackson está de calças, sapatos e casaco preto brilhante, camiseta regata e meias grossas brancas, e esconde parte do rosto com um chapéu na batida indefectível, que dá lugar ao baixo, até que Michael comece a se mexer. Parece um príncipe. Michael Jackson é seu príncipe. Ele desliza pelo palco de costas, e para na ponta dos pés. É Billie Jean. Renata descobre a mágica. Michael Jackson é todo dela.



1993, outubro, parte 5: Michael Jackson e seus bailarinos desafiam a gravidade dançando Smooth Criminal. Renata tenta fazer a mesma coisa em casa. Bate a cabeça na quina do sofá e se espatifa no chão. Sua mãe é uma mulher muito séria e nessas horas diz apenas: "pára!".

1993, novembro: Renata D´Elia desenvolve sua primeira obsessão. Seu coração dispara a cada 10 segundos de Michael na TV. Com ajuda da tia Vilda, grava todas as aparições dele. Ela sabe tudo. Coleciona revistas. E passa a cometer pequenos delitos. Uma vez, no cabeleireiro, distraiu a própria mãe e as demais dondocas para arrancar uma página de revista com uma foto de meia página de Michael (na página de trás, estava Elvis Costello). A cena se repete em consultórios médicos e odontológicos, pelos próximos dois anos. Aos 9, a garota monta um esquema de contrabando de dinheiro do lanche junto da colega Ísis para comprar, escondida da vovó Grace, todas as revistas e pôsteres possíveis. A pequena delinquente mirim esconde as provas do crime no fundo da mochila escolar.

1993, dezembro: Ganha de presente o álbum Thriller. Adquire o hábito de ouvir música por horas e horas, a portas fechadas, e grava todas as canções de Michael Jackson que escuta no rádio. Numa dessas missões, ouve pela primeira vez Got To Be There (mas só deu pra gravar da metade pro fim). A partir dali, passa a sonhar acordada com frequência e decide seu rumo na vida: ser campeã olímpica de vôlei nas Olimpíadas de 2004, depois estudar jornalismo, e ainda se casar com Michael Jackson.

1994: Renata é monotemática. Só pensa naquilo. No Michael Jackson, é claro. Ganha de presente o álbum Bad e coletâneas dos Jackson 5. Também gosta de Madonna. Quer ser mais ou menos que nem ela, porém casada com o Michael. Ele é acusado de abuso sexual de menores. Renata se empenha em provar ao mundo que ele é inocente. [Ele é meu marido, pai dos meus 6 filhos, porra!]. À esta altura da pré-história, comprava papel vegetal de seu amigo desenhista, o Leandro, e copiava Michaels para depois personalizá-los: versão cabelo vermelho, com barba, óculos escuros ou óculos do Clark Kent.

1994, meados: Ganha o cartucho do videogame Moonwalker para o Master System III. Michael Jackson mata os inimigos com a força da gravidade e com um chapéu. O avô de Renata acha engraçado.

1994, maio: Michael Jackson se casa com Lisa Marie Presley. Renata se deprime. Mas segue comprando revistas. Passional, desenha bigodes em todas as fotos da algoz. E conta os dias para a separação do casal. A praga deu certo e eles se largaram pouco tempo depois. [Quem mandou mexer comigo, cachorra?]

1995: Renata ainda coleciona revistas. Ganha, finalmente, um Microsystem CCE com tocador de CD. Seu primeiro CD é Off The Wall, de Michael Jackson. O segundo é Greatest Hits I, do Queen. E depois Voodoo Lounge, dos Rolling Stones. O primeiro dos Doors. E uma coletânea de Elvis Presley (ela já perdoou Lisa Marie). O rock n´roll vai, aos poucos dominando sua vida. Enquanto isso, segue gravando clipes, incessantemente, por entre os chuviscos da MTV. Michael Jackson lança HIStory e faz uma apresentação emblemática no VMA´s. Renata assiste, ao vivo, de casa. E sonha com o admirável ano de 2009, grávida de Michael Jackson, entrevistando Mick Jagger para a MTV e assistindo a todos os shows legais do mundo.



1195, data desconhecida: Renata consegue o endereço da caixa postal do seu queridão pela seção de cartas da Revista Bizz. Um belo dia, coloca uma pequena escrivaninha na sala e, enquanto seus avós assistem à novela das 7, escreve uma carta de próprio punho em folha pautada de caderno e endereça a Michael Joseph Jackson. Tudo isso num nível de inglês pré-Fisk. Coloca tudo num envelope branco pequeno convencional [ainda não sabia nada de marketing] e envia. Um mês depois, a carta está de volta: intacta.

1996:
Olimpíadas de Atlanta. Por que Michael Jackson não cantou nas cerimônias de abertura e encerramento? Renata adquire Zooropa, seu primeiro CD do U2. E também Jagged Little Pill, de Alanis Morrisette. E também o primeiro do Garbage. Michael Jackson volta ao Brasil, dança no Morro Dona Marta, no Pelourinho, e beija a testa de Glória Maria. Se Renata fosse jornalista e trabalhasse no Fantástico, ela é que ganharia o beijo no lugar da Glória Maria! Renata precisa tomar uma providência. Mas ele vai embora, antes.

1997, novembro: Renata D´Elia decide se divorciar, simbolicamente, de Michael Jackson e o troca por Michael Hutchence meio "virtualmente", já que o australiano morreu logo depois. Aos 13, Renata aprende, com seu amigo João Luiz, a passar por baixo da catraca do busão e economizar o dinheiro para gastar na Galeria do Rock. Heloisa Lima é testemunha.

1998 - 2004: Durante esse período, Renata cresce, aparece, se apaixona por várias pessoas, e deixa Michael Jackson de lado. Em termos. Seus olhos brilham quando tira pó dos Cds e encontra Off The Wall. Se emociona todas as vezes que ouve, e não são poucas. Não gosta que falem mal de Michael Jackon. Ele já tem 3 filhos, e um dia, sacode um deles pela janela. Renata não entende. Vira sócia do bar. Seu negócio é falar de música. E literatura. E Mapplethorpe. E cinema. E Pasolini. E Fellini. E segue a viver.

2004: Renata não está nas Olimpíadas. Ela se pega de novo diante da TV. Numa terraça velha do centro de São Paulo, um poeta fala sobre A Piedade. Renata sente o coração bater mais rápido. E começa tudo outra vez (só não quis casar com ele).

2005, 2006, 2007, 2008: Renata faz jornalismo. Trabalha com música. Quer se casar com outra pessoa. Quer fazer mágica. Acumulou bagagem musical. Acumulou críticas a fazer. Assistiu uma centena de shows. Já viu Bono e Mick Jagger. Vovó Grace se foi. Renata entrevista várias pessoas. Escreve um livro-reportagem sobre Roberto Piva & a poesia paulista. E, sabe-se lá o porquê, mas começa a se resgatar sem querer, pelos velhos discos de Michael Jackson, que agora tem 50 anos, está falido, desfigurado e desacreditado. Mas ela sabe bem o que já quis. Quer vê-lo ao vivo no ano que vem, é óbvio que ele vai voltar! Quer lhe encontrar e lhe perguntar assim: "você tem noção do que acontece com os outros quando você pisa no palco? e com você, o que acontece?" Quer aprender a fazer mágica.

2009, 24 de junho: Renata sonha com Michael Jackson. [Content supressed]. É um sonho bom. Ela sorri quando acorda. Renata não entende.

2009, 25 de junho, 18 às 21 horas: Sentiu endurecer o corpo e de repente acelerar o coração. Era como se um raio tivesse lhe atingido devagar. Era um fascínio, uma espécie de hipnose, uma atração irresistível diante de incomensurável fulgor. Ela disse NÃO. E depois NÃO! E não conseguiu fazer outra coisa a não ser noticiar freneticamente cada um dos indícios que confirmavam a luz se apagou. A Terra não tem forças para girar.

2009, das 22 horas do dia 25 de junho às 14 do dia 26: Renata D´Elia é jornalista. Não consegue dormir nem acreditar que Michael Jackson morreu. As portas estão fechadas e Renata aperta as mãos contra o rosto como se fosse uma criança loira maçarocada, que tem medo do escuro e de não conseguir sonhar.

2009, 26 de junho: Quando criança, Renata aprendeu que os cabelos crescem quando a gente dorme. E que as pessoas crescem quando sonham. E que as pessoas fazem mágica quando aceleram os corações dos outros. E compreendeu que Michael Jackson era peça-chave desse quebra-cabeças maluco que se chama origem e que se chama paixão e que impele as pessoas a deixarem suas próprias pegadas na superfície do planeta.

2009, 26 de junho, ainda de manhã: Heloisa Lima procura Renata. "Foi a primeira coisa que pensei: quase ninguém sabe, mas eu sei, você começou ali". Pessoas que ficaram nos anos 1990 também. Os recém-chegados não entendem. Renata caminha freneticamente pela casa e durante o banho, desenha com o nariz nos azulejos de vapor. E dorme.

2009, 27 de junho: Renata D´Elia acorda de um sonho fantástico em que crianças como ela caminhavam na lua, observando descargas elétricas espetaculares atingirem devagar os corpos de outras crianças na superfície de todo o planeta. A Terra treme.

* A fita VHS gravada do SBT com o show "Dangerous" em Bucareste quase furou entre 1993 e 1996, mas sobreviveu a todos os terremotos possíveis.

Michael Jackson e o cidadão de bem

Suponhamos que Michael Jackson tenha sido pedófilo. Sim, suponhamos, porque nada foi provado judicialmente e diante dos sanguessugas ao redor dele, é preciso atenção redobrada. Em 1993, veio a primeira acusação. O molestado seria um garoto de 13 anos que fora visto ao lado do ídolo em diversas ocasiões públicas, inclusive junto a outras crianças, viajando pelo mundo de primeira classe, curtindo a badalação da fama, e dormindo em hotéis 5 estrelas com um estranho enquanto deveria frequentar a escola e dormir na casa dos pais. Antes que o cantor fosse a julgamento, houve um acordo milionário para que o pai do garoto retirasse a queixa. Abafou-se o caso. E com tanto dinheiro no bolso, supõe-se que tenham acabado os problemas da família do garoto. Os de Michael Jackson, em compensação, estavam longe de terminar.

Até os habitantes de Neverland (sic) sabem muito bem que o dinheiro corrompe. E a julgar pelo exemplo, é capaz de resolver problemas tão sérios quanto as marcas profundas de um garoto molestado sexualmente. Tudo muito simples. Mas a primeira pergunta é: se o seu filho de 13 anos sofresse abusos do tipo, você aceitaria dinheiro para abafar o caso ao invés de ver seu agressor na cadeia, pagando pelos seus atos? O que é mais importante: a justiça - e segurança de outras possíveis vítimas - ou uma bela dinheirama na sua conta?

Poucos anos depois, vieram novas acusações. Sem acordo financeiro desta vez. A polícia da Califórnia revistou a casa de Michael Jackson, cercou seus funcionários, amigos, família, buscou testemunhas e investigou o caso, como manda o figurino. Michael Jackson foi algemado diante das câmeras de TV do mundo inteiro. Julgado num tribunal de Santa Mônica, foi absolvido. Herdou dívidas supotamente maiores do que sua fortuna. Não conseguiu se recuperar do baque. Mesmo morto e reconhecido como o maior artista pop de todos os tempos, levou consigo, entre outros títulos contraditórios, o de pedófilo.

Mas espere aí, meu honrado cidadão de bem: você teria deixado seu filho dormir na casa de um homem recluso, solteiro, esquisitíssimo e que já foi acusado de pedofilia? Mesmo que nada tenha sido provado, sobram indícios: comportamento infantil, parque de diversões particular, histórico de agressão durante a infância, desequilíbrio psicológico, milhões de dólares na conta bancária, e claro, muitos mimos, presentinhos e uma alta dose de magnetismo pessoal para atrair crianças indefesas. Mmmmm, pensando bem, pode render um bom dinheiro, não? E se o "comedor de criancinhas" fizer uma reforma na sua casa, te der um carro, financiar os estudos de seus filhos e ainda por cima, for um grande artista pop? Você pode até conseguir alguma fama em cima dele! E depois de tudo - mesmo que ele não tenha feito nada - você pode meter um processo no cara e ganhar uma boa grana. Mudou de ideia agora?

Suponhamos que você tenha deixado sua criança inocente passar um final de semana com Michael Jackson. Surpresa: ele abusou do seu filho! Quem será mais culpado? Você ou pedófilo? Esta é a grande hipocrisia dos honrados "cidadãos de bem", pais de família que, numa vaidade monstruosa, entregam seus filhos de bandeja, como se fossem prostitutas informais.

Eu não sei se Michael Jackson molestou crianças. Espero que não. Sobre ele, me interessam outras coisas. De acordo com a justiça, não houve crime. Mas o que acontece entre quatro paredes envolvendo um homem e uma criança - que nem deveria estar lá - só eles podem saber. No entanto, me parece muito mais cômodo, especialmente na preguiça de pensar, escolher umas fotos bizarras na internet, zombar do nariz que desmancha e de todas as estranhezas desse cavaleiro da triste figura, numa espécie de linchamento moral de um fantasma vivo, coisa que se arrastou por uma década e meia.

Essa é uma prática muito comum, especialmente entre os hipócritas, já que é muito mais cômodo fazer juízo de um "ser humano deplorável" que eles nunca conheceram. Diante da situação, eu não teria tanta repulsa de Michael Jackson. Teria medo mesmo é do "cidadão de bem".

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Moonwalker in the sky

Não me interessa falar de recordes, de máscaras, de nariz, de vitiligo, de pedofilia, de Wacko Jacko e de um monte de coisas que não são mágicas. Disso tudo, suspeito que nosso herói tenha sido também uma vítima. Falamos da mesma pessoa sob perspectivas diferentes. Mas tudo bem. Quer dizer, estava quase tudo bem até Michael Jackson morrer de repente. E de repente eu também morri.

Um pedaço de mim foi embora. Ainda me lembro quando, em tempos distantes - e muito mais bonitos -, uma pequena célula colorida nasceu, fincou raizes e começou a tomar os tecidos de meu corpo até dominar minha força centrípeta. Eram as primeiras vezes que meu esqueleto vibrava e que meu cérebro tentava, em vão, imitar os passos de alguém, pela sala de casa. Moonwalker. Walking on the moon.

Foi ouvindo - e vendo - Michael Jackson que eu entendi o que era arte . A mais pop , imediata, acessível, e não menos legítima do que todas as outras. Percebi o que era música e cada um dos instrumentos musicais. Comecei a pesquisar. Descobri o vinil - meu primeiro disco foi o Dangerous, que minha avó me deu. Também passei a trancar a porta do quarto para sonhar e percebi que, de alguma forma, eu também queria fazer música ou viver dela. Frio na barriga para ver o show na tevê. Emoções novas e um estalo, que agora me acomete outra vez: paixão é uma coisa que move as pessoas pela órbita implacável das suas obsessões.

Foi quando eu vi que conhecia muito bem alguém que nunca tinha conhecido. E de vez em quando, Michael Jackson me abraçava tanto, tanto e tanto, que até o travesseiro cansava de fazer de conta. Lambia a tela da tevê quando ele aparecia. Escondia o pôster no fundo da mochila. Escrevia meu nome nos corações das capas dos discos, na coleira do tigre de Thriller. Tudo isso era segredo, mas agora vou dizer que tantos anos depois, o que eu queria mesmo era dar nele um grande abraço. Taí, um abraço. Não foi nessa vida, Michael, mas ainda te vejo dando a volta por cima. E muito obrigada, sobretudo, pelo rastro que você me deixou: gravidade, movimento e fulgor.


Little child:


Com a grande Siedah Garret:


Billie Jean is not my lover:


By Martin Scorsese:


E a mais bonita (genial até no ensaio):

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Das verdades absolutas

"I absolutely love you, but we´re absolute begginers", David Bowie

sábado, 20 de junho de 2009

O diploma e os heróis do mar

17 de junho de 2009, 19 horas. Eu estava naufragada, barbuda e agarrada a uma bola de vôlei chamada Wilson, quando escutei a voz profética que não me salvou:

- "Puta que o pariu, Renata! Caiu a obrigatoriedade do diploma! Depois de tudo que a gente passou! 4 anos, muito dinheiro, muita encheção de saco. Tudo bem, o TCC valeu. Mas tirando você, essa faculdade não serviu nem pra fazer amigos", disse a menina Húngara de RayBan. Só mais uma estagiária contando as moedas pro busão depois de fazer o que um repórter formado deveria fazer, só que ganhando 1/3 do piso salarial, que pelo jeito, acaba de ir completamente prás cucuias.

Ou esta porcaria de classe (o "amontoado") vai finalmente se unir pra lutar contra a precarização total do trabalho de seus jornalistas, sejam eles diplomados ou não?

Começaram os protestos. Ontem mesmo, na Avenida Paulista, foram vistas centenas de focas ameaçadas em extinção. Dizem que elas pareciam alcoolizadas e usavam camisetas vermelhas com a inscrição da palavra JUCA. Uma equipe de peritos está catalogando os exemplares, pois é provável que elas se atropelem pelas correntes marítimas. [Notou-se a presença relâmpago de uma foca sênior bastante rara, modelo apostrofado, que atende pelas iniciais R.D. Minutos depois, ela desapareceu].

Confesso que, do jeito que foi feito, me assustou um pouco. E olha que nunca achei que alguém precisasse fazer faculdade para escrever pirâmides invertidas. Vai além quem tem talento e bom nariz para farejar histórias mal contadas & pontas soltas tão obsessivamente a ponto de fazer uma puta reportagem. Ou várias dessas. Daquelas que eu lia quando era pequena e que me davam vontade de ser como eles. E pra mim, eles eram desbravadores. Heróis do mar.

Parecia mágico. Mas nada como um ponto de vista. Para vossa excelência Gilmar Mendes, tudo isso é como... cozinhar!

Sempre achei que sociólogos, historiadores, botânicos e até bombeiros poderiam coexistir a jornalistas graduados nas redações. Equipes multidisciplinares. Contudo, acho errado desmerecer o papel das faculdades de comunicação. Todas elas vão ter que se mexer. Mas onde eu arrumaria tempo, motivo e AMPARO para realizar um projeto pessoal de reportagem em profundidade, aos 24 anos? Só foi viável como trabalho de conclusão de curso - uma puta experiência -, que ainda por cima virou livro. Agora é justo que cada um procure a qualificação que julgar melhor para si e que as empresas decidam como querem compor seus quadros funcionais. Contanto que não vigore a prática - e a leviana ideia - do "qualquer um faz".

No plano do jornalismo analítico e opinativo basta lembrar que, em maior parte, o time da maioria dos jornais vem de outras formações. E que nenhum jornalistinha "despolitizado, formado nesse curso limitado e burro"(segundo a simplista & preconceituosa visão que acabo de ouvir de um estudante de História), vai tirar um Doutor Political Sciences de lá. Mas afinal, as divisões de mundo sempre foram classistas, não? E agora zombam de nós aqueles que nos consideram uma casta inferior. Vai ver acreditam que fariam melhor uso do pseudo-poder fomentador da esfera pública. Coitados.

Algumas coisas me incomodam. O terrível hábito de esculhambar, por exemplo. "Profissãozinha de merda, não precisa nem de diploma pra fazer isso aí!" Não me culpem pela resposta grosseira depois dessa. É claro que tem muita gente limitada, e faz-se um jornalismo limitado por aí, mas vamos combinar que os nossos patrões têm uma bela de uma culpa no cartório. E se alguém pode tirar um sarro disso aqui somos nós, como já fiz no texto abaixo sobre as famosas pirâmides invertidas.

Alguns argumentos parecem piada. Como a dúzia de músicos que acham que eles é que deveriam escrever sobre música e não quem não "entende" do riscado. Mas escrever que é bom, com precisão e qualidade para diversos públicos -- não só pra eles --, pouquíssimos fazem. E ainda por cima desprezam o conhecimento dos outros. Músicos desprezando ouvidos? Soa mal. Vindo de uma classe aberta, porém regulamentada por um conselho do qual participam tanto guitarristas autodidatas quanto maestros & doutores, me parece um tiro no pé. Ou vão querer fazer divisão classista & reserva de mercado na OMB, "só entra bacharel"?

Existem ainda os apocalípticos. Comemoram a vitória nessa pseudo-guerrilha ideológica que mistura conceitos democráticos com a banalização da profissão alheia. Para eles, o fim do diploma enterra o jornalismo que, afinal, já se tornou desnecessário na era dessa imensa praia de nudismo open bar chamada "convergência digital". [Nada contra praias de nudismos, que fique claro]. O problema é vulgarizar. Na farra dos reducionistas, pra ser jornalista ninguém precisa sair da ilha. Basta apurar de qualquer jeito e sair falando o que quiser.

Mas e então, vamos morrer na praia? Juntinhos, de mãos dadas, sem função, jogados às traças? Desvalorizados pela inteligentsia much more able to do it? Desvalorizados por nós mesmos?

O medo é a desprofissionalização. E também o fato de não ter quem banque investigações. Alguém precisa discutir a "pobreza" de informações. E fora isso, não faz muito sentido ser contratado pra apurar matéria no Google. Pra que chamar de imprensa uma massa de gente que traduz às pressas os textos da Reuters que serão igualmente reproduzidos em todos os sites noticiosos ao mesmo tempo, com a mesma foto? O que muda são os erros de orotografia. E ninguém precisa de diploma pra isso.

Algum orgulho, apesar de tudo. Aquela cabeça de bronze do Cásper. Corredores abafados. Algumas paixões. Uma considerável patota de bêbados que já me acompanharam. Colegas malas, porém felizes. Professores & trejeitos. E a meia dúzia de amigos que vai restar. Mesmo que me sinta desperdiçada por uma grade curricular inflexível. Time for change, diria Obama. Espero que não façam lambança com as disciplinas técnicas. Nem com nossos órgãos laboratoriais. E que não sumam do mapa com a História, a Ciência Políica, a Antropologia. Que tratem as nossas futuras focas com muito amor e carinho, pois elas estão mais carentes do que nunca.

Por isso me despeço insone, pendurada nessa bola Wilson. Mas não sou reserva de mercado não. E nunca fui.

Aproveito e mando mensagens em garrafas ao mar. Abraços a quem encontrar.

RENATA D´ELIA, jornalista desde sempre.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Como concordar com Thiago Ney

"Tudo bem que a lei é para todo mundo, mas será que Caetano Veloso realmente precisa de incentivo fiscal para montar uma turnê? Porque se até o Caetano precisa de incentivo fiscal, então é melhor estatizar de vez a cultura desse país. Pelo menos a bagunça vai ficar menos hipócrita".Thiago Ney, no caderno Ilustrada - Folha de S. Paulo, hoje.

E alguém aí acha que a coroné Paula Lavigne vai ficar a ver navios?

domingo, 14 de junho de 2009

Éluard

La terre est bleue comme une orange
Jamais une erreur lês mots ne mentent pás
Ils ne vous donnent plus a chanter
Au tour dês baisers de s'entendre
Lês fous et les amours
Elle sa bouche d'alliance
Tous les secrets tous les sourires
Et quells vêtements d'indulgence
A la croire toute nue.

Les guêpes fleurissent vert
L'aube se passé autour du cou
Un collier de fenêtres
Des ailes couvrent lês feuilles
Tu as toutes les joies solaires
Tout le soleil sur la terre
Sur les chemins de ta beauté.

A terra é azul como uma laranja
Jamais um erro as palavras não mentem
Elas não lhe dão mais para cantar
Na volta dos beijos para se entender
Os loucos e os amores
Ela sua boca de aliança
Todos os segredos todos os sorrisos
E que roupagens de indulgência
Para acreditá-la inteiramente nua

As vespas florescem verde
A aurora se enrola no pescoço
Um colar de janelas
Asas cobrem as folhas
Você tem todas as alegrias solares
Todo o sol sobre a terra
Sobre os caminhos da sua beleza

Poema de Paul Éluard em Capitale de la Douleur (1926)
Tradução: Claudio Willer

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pirâmides invertidas

Esse ofício que escolhi é uma coisa engraçada. É como se você fosse abduzido pelas forças ocultas da "fudida & mal paga organization inc." com a incrível missão de piramidizar o planeta. A partir de então, o mundo inteiro passa a caber em pirâmides invertidas. Qualquer assunto, qualquer pessoa, qualquer fato brota do teto como uma gigantesca estalactite triangular. A gripe suína, a erradicação das moscas varejas na América Latina, a construção de um muro na Faixa de Gaza, técnicas para a implantação de telhados verdes, bolas de tênis sustentáveis, o novo reality show da televisão do bispo, a morte do Mar de Aral, o IDH da China, o método de interpretação teatral stanislavskiano ou a décima quinta cirurgia no nariz do Michael Jackson: é tudo seu.

E depois, ganhar a vida. Vai uma piramidezinha aí? Comigo é três por 10, promoção! Aceito passe espírita e dinheiro do Banco Imobiliário.

São vários os desafios. Tijolinhos, por exemplo. Sempre quadradinhos ou retangulares, angulares e perfeitinhos. Como não se empolgar diante da mágica possibilidade de escrever sobre a cerimônia de posse do secretário regional da XPTO Institute pela libertação do Sri Lanka em 100 caracteres de um texto "simétrico e elegante" com informações apuradas pela internet? Como não suar frio antes de botar o gravador perto daquela boquinha murcha do governador? Como não vibrar após um dia de trabalho numa baia de 4 metros quadrados repetindo mentalmente mantras peculiares como "arranque os adjetivos, arranque os adjetivos, arranque os adjetivos" ou "sem nariz de cera, sem nariz de cera, sem nariz de cera" e ainda "abre aspas, fecha aspas, abre aspas, fecha aspas, verbo dicende, verbo dicende, ponto final"?

Outra coisa engraçada é que jornalista não trabalha em empresa, mas em "veículo". O que também traz surpresas, é claro. Uma vez eu disse isso a um conhecido português e, meia hora de conversa depois, ele me perguntou qual era mesmo o nome da viatura em que eu trabalhava. Você pode se considerar um felizardo se o seu veículo te botar numa viatura de vez em quando e te mandar entrevistar uma figurinha aqui, cobrir um evento ali ou uma coletiva acolá. Puro glamour. É geralmente nessas horas que se fila umas boas bóias pra economizar o dinheiro do vale-refeição e também se aproveita para fazer uma social e competir com seus colegas sobre quem faz a pergunta mais corajosa & astuta [mas vale lembrar que de vez em quando não pega bem quebrar o clima de camaradagem, sabe como é]. É também muito importante saber impostar a voz ao se apresentar dizendo "boa tarde secretário, meu nome é Fulano de Tal e eu trabalho para o veículo Tchan". Seus colegas da Editora Tchun morrerão de inveja.

Escrever para um jornal ou site é, em 90% dos casos, igualzinho a apertar parafusos chaplinianos em Tempos Pós-Modernos. A diferença é que a gente bota o gravador na boca do Serra e por isso acredita estar muito próximo do poder. No fim do dia, nem é preciso se esforçar: basta caprichar na cara de "sou foda", ajustar bem os oclinhos de armação preta, e tomar cuidado pra não perder aquela camisa de força chamada "manual de redação e estilo" na catraca do busão. Tudo isso antes de beber cerveja no boteco sujo e discorrer sobre a superioridade do meu lead sobre o seu, do seu sublead sobre o meu, disputando quem come nos restaurantes mais badalados, viajou para os lugares mais exóticos, conheceu as baladas mais descoladas, e escutou primeiro a música que vazou daquela bandinha de garagem dinamarquesa de electro-psy-tchananan-dub.

Deve haver alguma conotação romântica em tudo isso. Terá sido amarração para o amor? Ex-colegas de faculdade, por exemplo: vários deles eram completamente fanáticos pelas pirâmides. Estufavam os peitos e cerravam os punhos para defenderem seus textos enquanto seus rostos se ruborizavam e suas artérias saltavam numa fúria de dar inveja aos bravos Leões da Fabulosa. Perseguiam pirâmides invertidas perfeitas como se fossem os púbis das mulheres de seus sonhos. Será que se casaram com elas? Foram prá cama, ou ficaram só nas "triangulares"? Uns beijinhos, talvez?

Muito medo do dia em que as transas de jornalistas também se tornarem assépticas e couberem em pirâmides invertidas padronizadas, duras, e até cortadas pelos pés.

*Madmoiselle Renata D´Elia, autora do texto, afirma que, apesar do tamanho dos ossos, não trocará seu ofício por nenhum outro. A menos que receba uma proposta milionária para virar naturista marajá em alguma ilha paradisíaca do Pacífico e passar os dias alimentando pelicanos. E mesmo assim, tratará de montar e produzir o informativo mensal dos cocos, palmeiras e tartarugas gigantes ou qualquer coisa que o valha, contanto que seja escrito no dialeto próprio das crianças mágicas & curandeiros invisíveis.

** Somando todos os prós e contras, a autora ainda acha que essa história de regulamentação & desregulamentação da atividade jornalística é o samba do crioulo doido, a meteção total dos pés pelas mãos e a maior tapação de sol com a peneira ever.

*** Acima a famosa estalactite triangular instalada no Museu do Louvre, que [vejam só que bacana, amiguinhos!] simboliza a tão perseguida transparência nossa de cada dia.

Jagger & Wolfe

" 'Oh meu Deus, Andy, eles não são divinos?',
- e espalhados pelo palco, os cinco Rolling Stones da Inglaterra, que se moldaram nos Beatles, só que numa deformação mais vulgar. Um deles, Brian Jones, tem uma cabeleira bem Beatle.

´Oh Andy, olha o Mick! Ele não é lindo? Mick! Mick!'

No centro do palco, um rapaz baixo e magro de suéter de malha, com a gola quase caindo por cima dos ombros, cabeça enorme...com o cabelo cobrindo a testa e as orelhas, esse cara tem uns lábios fora do comum. São dois lábios peculiarmente grossos e de um vermelho extraordinário. Dois lábios que pendem do rosto como miúdos de frango. Seus olhos se derramam lentamente sobre a horda de menininhas com uma suavidade digna de xarope Karo e então se fecham, e depois começam a se abrir no mais lânguido, mais íntimo, mais molhado, mais labial, mais concupiscente sorriso que se possa imaginar. Nirvana! As menininhas gritam histericamente, agitando os braços em direção ao palco.

Elas vivem uma experiência mística. Ficam em pé nos assentos. Começam a berrar, inclusive entre as músicas. As expressões em seus rostos! Interiamente extasiadas! Ali, bem ali, debaixo das luzes sulfurinas, estão eles. Meu Deus, eles estão bem ali! Mick Jagger, com suas mãos tábidas, agarra o microfone e aproxima dele sua cabeça gigantesca, abre aqueles lábios de miúdos de frango e começa a cantar... com voz de crioulo. Exagerada. Bo Diddley. You movoung boo meb bee-uhtul, bah-bee, oh vonna breemb you´honey snurks oh crim pulzy yo'mim down - e fazendo um novo trejeito, virando-se para as menininhas histéricas com seus lábios de miúdos dissolvendo-se..."

TOM WOLFE, em The Kandy-Kolored Tangerine - Flake Streamline Baby. Com tradução (já bastante antiquada - por isso dei uma recauchutada) de Luiz Fernando Brandão para a L&PM na coletânea Décadas Púrpuras, 1989, sob o título de A Garota do Ano. O texto integral é na verdade um perfil histórico e brilhantemente escrito sobre Baby Jane Holzer -- a proferidora das aspas entusiasmadas sobre Mick e os Rolling Stones -- musa de Andy Warhol. Publicado originalmente na Revista New York, do jornal The New York Herald Tribune, em 6 de dezembro de 1964.

Acima, Jane Holzer by Andy Warhol e Mick Jagger by David Bailey, ambos em 1964. Abaixo, Tom Wolfe na capa da Time, 2 de novembro de 1998.

terça-feira, 9 de junho de 2009

A mais singela

Como concordar com Caetano

"Odeio cocaína. Tudo: odeio a maneira como as pessoas aspiram, odeio o fedor do corpo de quem cheira. Odeio a cultura de economia paralela ilegal que cresceu por causa do consumo da cocaína". Posição de Caetano proferida em entrevista para a revista Poder, reiterada no jornal O Estado de S. Paulo de hoje. E eu concordo!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Vai sair!

É isso aí, rapaziada: Renata D´Elia e Camila Hungria acabam de fechar com a Azougue Editorial, do grande figura Sérgio Cohn, para a publicação de "Os Dentes da Memória - Uma Trajetória Poética Paulistana", livro-reportagem que narra a trajetória dos poetas Roberto Piva, Claudio Willer, Antonio Fernando de Franceschi e Roberto Bicelli pelos últimos 50 anos.

Vou fazer alguns agradecimentos aqui pra ninguém ficar com ciúme & cara feia prá titia: thanks a lot to Ana Maria Horta, Andressa Zanandrea, Carlos Franco, Daniela Ramos, Danila Módena, Douglas D´Angelo, Eliana de Figueiredo Santos, Joca Reiners Terron, Kleber Nascimento, Miguel de Almeida, Mônica Brincalepe Campo, Wagner Lopes Pires e Welington Andrade.

PS1: Para quem quiser conferir um pouco do histórico desse projeto, clique aqui. Para ler a matéria publicada no site da gloriosa Faculdade Cásper Líbero, clique aqui. Se quiser doar dinheiro para uma das duas autoras, entre em contato via anagrama pelo e-mail...

PS2: Não me contenho, e quero deixar aqui também o meu "vaffanculo" à meia dúzia de urubus de plantão. Deve ser duro de entender, mas vou explicar com todas as letras: vocês fracassaram.

PS3 [para Camila Hungria]: agora falta ter um filho, plantar uma árvore e dominar o mundo!

Piece

Escrever em fragmentos: que dificuldade é essa de juntar pedaços?

3 de junho

Na janela de casa bate um sol tímido. Faz três anos que Grace se foi, mas daquela vez não fazia frio. Foram dias estranhos em que as pessoas imitavam as sombras e as grandes almas não tinham vida. Cachorros tristes farejavam chinelos & lambiam paredes. Demônios disfarçados disputavam cabeças em prêmios mórbidos. Super-heróis com superpoderes me faziam caminhar. Você não apareceu. Eu desapareci. Eu estava insone e havia adquirido o hábito de pensar sozinha, andando em círculos pelo quintal. Quando era noite, fugia. O que ninguém sabe é que no fundo eu já sabia. Eu apenas evitava os dias.