sábado, 26 de maio de 2007

Divina soprano grega


Quem nunca ouviu Maria Callas cantar, não sabe o que é voz.

Quem nunca viu sequer um vídeo de Maria Callas interpretando ópera, não sabe o que é talento.

Linda. Lenda. Divina.

Da voz uterina.

Dolcissima Maria
Dagli occhi puliti
Dagli occhi bagnati


Dos olhos líricos.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Grace

Faz tempo, quase 365 dias. Parece que foi ontem. Você debaixo das cobertas no sofá da sala. E eu tentando fugir de casa mentalmente nos meus devaneios hormonais de 22. Minha sudorese noturna.

Pra não ouvir nem ver o que eu não queria, só pensar, Thelonious Monk em volume baixo no escuro. Depois no claro. E ainda no claro, no escuro, claro, escuro. Mudando de posição a cada 3 minutos, na cama em que você já não deitava. Kerouac na cabeceira, como se eu tivesse 16. Como se eu morasse na América, nos 50. Como se Getúlio Vargas não tivesse assinado tua carteira de indentidade brasileira.

Meu desespero estomacal. Grito abafado entre as pernas, no banheiro, portas fechadas. As vezes que te olhei nos olhos castanhos que nem os meus. E que menti docemente sobre o seu futuro e sobre o meu. Sobre os nossos. Pra você ficar em paz. As vezes que me isolei de porta sanfonada fechada, esperando a madrugada passar no teu sofá favorito, tirando fotos do meu céu da boca. Quando ouvi você me chamar baixinho e disse que não era nada, que já ia passar. E que cantamos Elis Regina pra madrugada acordar.

Eu já tinha conhecido teu Camões e teu Portugal, à beira mar plantado. E quanto Rolling Stones você já não ouviu, me mandando baixar. Adolescente malcriada. Sangue bom.

Mas você tinha razão. "Isso tudo não é nada, tem que olhar pra frente. Deixa essa gente pra lá". Seu soco no ar rangendo os dentes quando eu passei de novo na faculdade. Seu sotaque atacado e suas mãos cheias de pintas européias. "Você é tão inteligente!"

Seu soco silencioso no meu peito, sete madrugadas antes. Sua bravura. Sua graça.

Grace, I love you.

I really do.

sábado, 19 de maio de 2007

Bicellianas e outras.

No site tem uma matéria com o professor Sérgio Amadeu, da Cásper Líbero, que fala sobre o lançameto de seu livro. Sobre o quê fala o livro? "Commons". Clique aqui.

Na capa, tem uma entrevista com o grande Roberto Bicelli, poeta e coordenador interino da Funarte - SP. A entrevista editada está aqui - clique já. . As partes cortadas estão aqui, abaixo.

Como andam as políticas públicas na área das Artes Visuais?
A Funarte, através da Rede Nacional de Artes Visuais, atua em todo o país com artistas convidados e locais, críticos, documentaristas e palestrantes. Edita catálogos e livros de crítica sempre muito importantes e bem cuidados,atua no fomento, apóia a pesquisa, a experimentação, promove a circulação de obras, preserva a memória das artes visuais no Brasil recuperando e catalogando acervos. Ou seja, está também se adequando às propostas da nova direção que manteve em boa hora o poeta, músico, artista plástico,teórico e produtor de artes visuais Xico Chaves à frente do CEAV (Centro de Artes Visuais). Esta semana foram lançados sete editais que não beneficiam só as Artes Visuais, mas a música, o circo, e o teatro. Haverá a seleção de projetos de fomento para o Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras, por exemplo e também ocorrerão premiações como o Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea 2007. São ações muito promissoras no fomento da arte e da cultura.
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Quanto custa para o governo manter projetos como os Espaços Funarte de Artes Visuais, de São Paulo?
Posso falar da Funarte - SP que, em 2007 deverá gastar R$100.000,00 (cem mil reais) para expor 30 artistas escolhidos por júri constituído por Agnaldo Farias, David Cury e José Roberto Aguilar .É uma quantia que, bem aproveitada, dará conta do cachê dos artistas, da montagem, divulgação, catálogo e demais despesas inerentes às 6 exposições que faremos. Para os projetos que citei acima, serão destinados mais de 2 milhões de reais a cada um deles.

Celso Frateschi, ex-secretário de cultura da cidade de São Paulo, tomou posse como presidente da FUNARTE. A literatura está em pauta para fazer parte das ações promovidas pela instituição. Quais são as expectativas a respeito?
O novo presidente da Funarte, Celso Frateschi, grande ator e gestor experimentadíssimo, deseja que atuemos em sintonia com a Educação. Nesse sentido a Funarte não será apenas um espaço cultural a mais na cidade, mas um espaço de reflexão e de formação. A literatura será importante em todo esse processo e desenvolveremos ações de excelência na área.

A Lei Rouanet tem sido duramente criticada nos últimos tempos, em parte devido ao financiamento do projeto “Amores Expressos”. Como você enxerga este processo?
A Lei Rouanet deverá ser modificadas em muitos aspectos. O ministro Gil trabalha nesse sentido, tem o diagnóstico preciso da situação e esperamos que ele tenha apoio político para isso. Agora, quanto aos escritores viajantes: boa viagem!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Frases e diálogos da semana

Adoro mulheres livres como um táxi - Reinaldão, por e-mail, pra mim.

Estou sozinho feito um cachorro boliviano nesse boteco
- Reinaldão, por telefone, dias depois, para uma amiga minha.

Com sinusite? Virose? Só falta o Maluf bater na porta dela! - Reinaldão, na mesma conversa telefonica com a mesma amiga minha.


Seu tio gastou uma nota. Vai ser naquele bifê ali do lado do MacDonaldi. Na Luis Stamatis. Não, na Guilherme Dumont Villares. Guilherme não, não, Luiz! Luiz! Anotou?
- Pai, por telefone

Vou ser tia mais uma vez!, diz Júlia
Tua irmã tá grávida de novo?, indaga Renata
Não.
Como não?
Não essa irmã, outra - explica Júlia
Pô, mas ela é mais nova que eu!, exclama Renata
E você ainda se acha solteira por opção?, cutuca Júlia
Ah, só eu né?, diz Renata, com uma faca de bolo Pullman na mão

segunda-feira, 14 de maio de 2007

To do

É errado eu sei, mas fiz.

Bebi Coca-Cola no gargalo que eu sei que ataca a gastrite, bebi.

Bebi cerveja na hora do almoço cheia de carne e farofinha na boca e não aconteceu nada além do que eu não imaginava, bebi.

Dormi das seis da tarde às onze da noite e sei que de madrugada não dá sono até perto da hora de acordar, que saco, acordei.

Deixei a cachorra deitar de atravessado no travesseiro sem tomar banho há duas semanas e ela nem liga pra minha cara de reprovação, deixa ela.

Arrumei quinhentas vezes os livros na estante que não tem espaço nem ordem nem lógica e ainda não estou contente, estou.

Li o jornal de ontem sabendo que era de ontem e nem me toquei que ontem eu não sabia de nada que acontecia, eu.

Tomei um remédio esbranquiçado na boca do vidro que se a minha vó tivesse vendo me xingava, tome!

Te amo te quero te adoro "mi vida", não fiz.

Mas faço, faço contigo sim.

sábado, 12 de maio de 2007

El asilo contra la opresión

Em 1998, eu e Madonna tínhamos em comum uma única e soberana visão sobre o Chile: Iván Zamorano, o camisa 9 da seleção, que jogou contra o Brasil nas oitavas de final da Copa da França. Vá lá, falava-se muito de Marcelo Sallas também. Mas Zamora era muito mais legal. Cantava com vigor o hino chileno, era um raçudo capitão de time, e usava uma tiara preta para segurar os cabelos. Matador.

Nos meses seguintes, as aulas de Geografia com o falecido Sylvio me serviram para adquirir conhecimento sobre a ditadura chilena, as atrocidades de Pinochet, e alguma conexão nossa com o vizinho que não faz fronteira. Fernando Henrique Cardoso por exemplo, sabia de cor o hino do Chile, que terminava repetindo a frase "El asilo contra la opresión".

Assistindo hoje pela 5ª vez ao filme "Machuca", de Andres Wood,lembrei de quando marejei os olhos no cinema. Também lembrei de Roberto Bolaño, todas as fotos que já vi de Bolaño, imaginei quantos cigarros Bolaño devia fumar por dia e quanto álcool Bolaño deve ter consumido para morrer de problemas hepáticos antes dos 50, sem ser reconhecido em seu próprio país. Isso tudo porque minutos antes um amigo me disse que é impossível estudar Humanidades na América Latina. (Afinal, as idéias dos outros contaminam a gente até que consigamos decidir o que fazer com elas, não?)

Miro o olhos estáticos por trinta segundos no teto, e depois no lustre, e depois na maçaneta da porta. Calculo um frio despertar de outono em Santiago, sob a neblina da Cordilheira dos Andes - que eu também estudava nas aulas de Geografia Física, pintando as legendas com a mesma cor das montanhas. E me lembro também de uma certa banda de rock que tocava com baixo acústico, chamada Los Tres.

Agora me ponho a pensar por que raios eu nunca tinha cogitado viver um tempo, nem que seja pouco, en la tierra de Salvador Allende,Iván Zamorano, Roberto Bolaño...

Y Pedro Machuca.

domingo, 6 de maio de 2007

De noite

"Agora estou morrendo, mas ainda tenho muita coisa para dizer. Estava em paz comigo mesmo. Mudo e em paz. Mas de repente surgiram as coisas. Aquele jovem envelhecido é o culpado. Eu estava em paz. Agora não estou em paz. É preciso esclarecer alguns pontos. Por isso, vou me apoiar no cotovelo e levantar a cabeça, minha nobre e trêmula cabeça, e buscarei no cantinho das reminiscências aqueles atos que me justificam e, poertanto, desdizem as infâmias que o jovem envelhecido espalhou para meu descrédito numa só noite relampejante".

Parágrafo inicial de "Noturno do Chile", de Roberto Bolaño.