sexta-feira, 25 de julho de 2008

Paz

Garabato

Con un trozo de carbon
Con mi gis roto y mi lapiz rojo
dibujar tu nombre
el nombre de tu boca,
el signo de tus piernas
en la pared de nadie.
En la puerta prohibida
grabar el nombre de tu cuerpo
Hasta que la hoja de mi navaja
sangre
y la piedra grite
y el muro respire como un pecho.

Octavio Paz

domingo, 20 de julho de 2008

Coincidências astrais

Akira Kuroswa e eu temos a lua em Virgem, o ascendente em Escorpião e o meio do céu em Leão. O escritor Victor Hugo e o compositor Maurice Ravel, além dessas características astrais, também eram piscianos como eu.

A coincidência cósmica entre ascendente e meio do céu se extende entre eu e Aretha Franklin, Charles Chaplin, Giovanni Casanova, Katherine Hepburn e Sigmund Freud, Clint Eastwood, Nicole Kidman, Marc Chagall, Napoleão Bonaparte, Julio Iglesias, Richelieu, Michel Focault, Sathya Sai Baba, Henri Toulouse Lautrec, Cary Grant, Diane Keaton, Edgar Allan Poe, Natassja Kinski, Margareth Tatcher, Tom Jobim, e Nijinski.

O maestro Quincy Jones também é pisciano com o meio do céu em Leão, e casou-se com Natassja Kinski. Peter Fonda nasceu em 2 de março e também tinha a lua em Virgem. Frank Sinatra e Eric Clapton têm o mesmo signo que eu no meio do céu, porém mapas atrais bem diferentes. O mesmo vale para Barack Obama, Edith Piaff, Grace Kelly e Friederich Nietzche, só que para o signo ascendente.

Desconfio que existam excentricidades comuns a todos nós.

Long live, Dercy!

"Minha avó materna viveu 113 anos. Acho que vou até os 140", Dercy Gonçalves [we love you], 101 anos, ainda esta semana.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Frase da semana

Nenhuma situação é tão complicada que uma mulher não possa piorar. [Daniel Faria]

terça-feira, 8 de julho de 2008

Atalho

No Parque Rodrigues Alves o comércio de bibocas, os botecos sujos com mesas de sinuca - habitados por aposentados barrigudos - os portões enferrujados, fachadas improvisadas e pinturas desgastadas, denunciam as ruas estreitas e tortuosas, por onde passeiam cães mais livres do que as pessoas. Os meninos ignoram o século chutando bola e empinando pipas, enquanto a rapaziada domina as calçadas devorando amendoins e gargalhando em voz alta num fim de tarde qualquer. O emaranhado de fios caídos à mostra e os postes pichados de branco e preto no cinza predominante denotam as cores da anti-paisagem. Próximo ao número 222 da Rua Borges, começa e termina uma travessa curta, escura & caótica chamada Simone de Beauvoir.

We could be pregnant, just for one day

Tudo começou na lista de uma sala de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, com a chuva de e-mails sobre a formatura. Até que a primeira mensagem fofa apareceu e desencadeou nossas veias familiares:

Ana Paula: Gente, já sei que não vou poder participar da festa (meu filho estará com 1 mês!). Mas é possível participar somente da colação, sem aderir ao resto?

Camila H.: Você está grávida? Que máximoooooooooooooooooooooooooo!

Guilherme P.: Quando eu falei que seria pai, semana retrasada, a reação foi contrária. Por que esse feminismo?

Bruno F.: Eu te apoiei quando você tentava fabricar um filho, Gui. Só disse que para isso você precisa começar a gostar de mulheres.

Renata D.: Eu também tô grávida.

Bruno F.: E o filho não é meu!

Guilherme P.:
Brochas não fazem filho, Bruno.

Ana Luiza: Rê, acho que seu filho já vai nascer falando!

Renata D.:
Em três idiomas, for sure! Federico ou Emanuel se for menino; Rafaela se for menina.

Guilherme P.: Isso me lembra um parto normal que aconteceu dentro de um presídio masculino no Kansas. Os nomes agora me fogem. Ela tentava passar pela vigilância com um radio de três idiomas. Disparou na frente dos guardas. Em japonês.

Renata D.: No meu caso, foi assim: eu estava de saco cheio dessa vida de assassina profissional e já estava afim de dar um pé na bunda do Bill. Ficava meio enjoada após as refeições e, durante um encontro profissional com o grande editor-samurai Massao Ohno, passei muito mal, depois fui embora.

Então decidi comprar um exame de gravidez na farmácia; fiz e deu positivo. Aí foi aquela correria toda. Quatro segundos depois eu tive que render a pistoleira coreana e convencer a capanga a desistir de me atacar... mas o fato é que estou viva e agora vou embora do Brasil pra criar meu filho em paz, longe daqui.

PS: Parei de fumar, inclusive.


VINTE MINUTOS DEPOIS, NO MESSENGER, surge uma amiga ligada a outros companheiros de classe...


Patricia: D´Elia! Me contaram que você tá grávida!

Renata:
Mas já?

Patricia:
Você não tava tomando pílula pra controlar hormônio?

Renata: Eu tava, mas tipo...

Patricia: Como é que você me faz uma coisa dessas agora?

Renata:
Uai, do jeito que todo mundo faz. Você tem outra sugestão de como fazer?

Patricia: Eu não acredito D´Elia, você é louca!

(Silêncio. Janela ociosa por 3 minutos).

Patricia: Mas tudo bem, meu ... tô feliz por você, mesmo não aprovando a sua relação com ele.

Renata: Ele quem?

Patricia: Como assim? Não é dele?

UMA HORA DEPOIS, POR E-MAIL, SURGE UM EX-COLEGA DE FACULDADE QUE SE MUDOU DO PAÍS...

Thiago: Parabéns, Rê! Achei que você ia viajar depois da faculdade! Mas agora acabou a boemiaaaaaaaa!!! rs rs rs (...)

Renata: Ah, menino, eu já não sou boêmia faz um tempinho. Sabia que as grávidas podem - e devem - tomar cerveja preta todos os dias? Ademais, parei de fumar e me matriculei na hidroginástica. Comprei um maiô azul royal e tudo.

TRINTA MINUTOS DEPOIS, DE VOLTA AO MSN MESSENGER...

Camila H.: Meu, você tá grávida?

Renata: Tô, cara. E vou embora do Brasil assim que nascer.

Camila H. [frenética, numa enxurrada de mensagens]: Meu! Como você é estranha, Renata! Como é que você esconde isso de mim? De quem é essa criança?

Renata: Fica calma, Leãozinho. É do Bill.

Camila: E VOCÊ DÁ ESSA NOTÍCIA PRA MIM NO E-MAIL DA CLASSE????
QUEM É BILL?

Renata: O Bill, do Kill Bill.

Camila: Pára de zoar, mano!

Camila: A pílula falhou? Você falhou a pílula, sua louca!!??

Renata: Ah, sei lá, fiquei sabendo hoje e tenho comido que nem um elefante...

Camila: Enjôo?

Renata: Minha barriga tá crescendo...

Camila: Não acredito, meu!

(3 longos minutos depois)

Renata: Então, Camis, é tudo verdade. Quase tudo. Só não estou grávida.

Camila: Caralho Renata, não me mata do coração!

Renata: Pensa, Camis. Sou brasileira e tenho o direito de enganar o país uma vez na vida sem ser presa por isso, pô.

Camila: Ai Re...sinceramente... não sei o que se passa nessa sua cabeça...

Renata: Calma, criança. Foi só uma estratégia para conseguir uma licença remunerada, cursar as matérias em regime especial na Cásper, sentar no banco cinza do metrô e arrumar uma pensão alimentícia - não quero casar.

Camila: Pensão de quem?? Quem é esse idiota desse Bill???

Renata: Mas vocês só pensam no cara? Além do mais, é mentira.

Camila: Mentira a gravidez ou o nome do cara?

Renata: Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

DOIS DIAS DEPOIS, VIA MSN MESSENGER, APARECE UM AMIGO DO RIO DE JANEIRO...

Lucas B.: Afinal, você está ou não está grávida? (coração pulando)

Renata: Hahahahahahahahahahahahaha!

Lucas B.: Não né? (Ufa!) Você é estranha, Renata. Mas no final, eu gosto de você. Só que agora perdeu a credibilidade, sua zuretinha! E pode me chamar de egoísta, mas eu não queria que você engravidasse agora.

Renata: Não fala assim comigo, criatura! E pensa bem, eu sou brasileira e tenho o direito de...

(História baseada em fatos reais)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Festa do caqui

"O evento de Paraty, não por acaso chama Festa Literária Internacional de Paraty. Porque todo mundo ganha em Paraty. As 12 pousadas ganham, os restaurantes ganham, pra ver a palestra no telão tem que pagar e pra entrar na Tenda dos Autores também. A Cia das Letras ganha. Até o vendedor de queijadinha ganha. O engraçado é que eu cruzei com o Christopher Hitchens em 2006 e perguntei pra ele, na cara dura: how much? E ele deu risada, porque tava ganhhando também. Os únicos que não ganham e que vão lá a custo de ticket refeição, estadia e traslado grátis são os brasileiros."

Marcelo Mirisola em entrevista à TV Cronópios.

domingo, 6 de julho de 2008

Das canções renascentistas

¿Con qué la lavaré
la flor de la mi cara?
¿Con qué la lavaré
que vivo mal penada?

Lávanse las casadas
con agua de limones;
lávome yo cuitada,
con penas y dolores.

(Villancico espanhol do século XV, autor desconhecido)

sábado, 5 de julho de 2008

O mundo anacrônico de Martel

Aconteceu ontem, em Paraty, a aguardada mesa com debates entre a cineasta Lucrecia Martel e o romancista João Gilberto Noll, na FLIP. Sob o título genérico de Ficções, já dava pra perceber que qualquer tentativa de aproximação entre os diferentes mundos dos dois ficcionistas cairia por terra. A mediação de Samuel Titan Jr foi competente, mas eram mesmo distintas as vibrações entre os convidados.

A libido talvez servisse como ponto de intersecção. Mas a famosa escrita provocante de Noll, nos trechos lidos de Acenos e Afagos [2008] - em que narra episódios da paixão de uma vida inteira de um homem por seu colega de infância - soaram por demais distantes da intensidade de Martel.[Impossível entender como é que tem gente que enxerga frieza e distância nesse cinema de câmeras que captam sensações e até o suor dos personagens].

Tensão e intensidade estão presentes em O Pântano [2001], A Menina Santa [2004] e aparentemente também na mais nova realização da diretora, A Mulher Sem Cabeça [2008], que tem sua primeira exibição pública pós-Cannes nesta FLIP.

Lucrecia não encara esses três filmes como uma trilogia. "Tudo isso é muito recente para que eu elabore uma teoria sobre eles, mas sinto que um ciclo se fechou". O roteiro de A Mulher Sem Cabeça, aliás, começou a ser escrito em paralelo com O Pântano, mas ficou em suspenso até que A Menina Santa, também engatilhado, se realizasse por completo.

Filmados em Salta, sua província natal, próxima à fronteira da Argentina com a Bolívia, seus filmes têm uma exótica relação com o tempo. São épocas anacrônicas. Histórias que podem se passar em qualquer parte das últimas décadas; exceto no último filme, em que os telefones celulares indicam proximidade com os dias de hoje.

São narrativas que recusam a linearidade, e onde não há a menor premissa de resolução objetiva ou reconforto para o expectador. A arte de Martel é um cinema de iminência, em que o mal estar anuncia algo por vir, mas os acontecimentos se espalham caótica e visceralmente em diferentes escalas temporais.

"Existe um poder nos verbos. O passado é como uma erva daninha que vai tomando o presente. No exercício da montagem é que eu consego misturar passado e presente, remontando os fatos a partir da memória. A memória é que dá o tom", afirmou Lucrecia. E certamente, trata-se da própria memória da autora. A diretora revela que seu estilo narrativo vem da infância, da cultura e da convivência familiar no interior. Principalmente na estrutura dos diálogos.

"A estrutura da fala, da linguagem, da forma. Isso vem de um tipo de conversa cativante que permeou minha infância. De quando as amigas de minha avó, mesmo doentes, fofocavam sobre a vida dos outros num tom curiosamente leve", conta a cineasta, para quem o cinema parte sempre da experiência física e emotiva de uma pessoa. "Por isso mesmo, minha narrativa remete a histórias imprecisas, mas que são extremamente relevantes para as pessoas. E à sensualidade emanada por todas essas pessoas juntas, no mesmo lugar".

O cinema, no entanto, faz menos parte dessas memórias de infância do que os vídeos caseiros produzidos em família. Em Salta não havia cineclubes. Lucrecia via filmes pela televisão, especialmente os westerns - os bons e os ruins. "Gosto quando sou convidada a participar de júris internacionais porque isso me força a assistir filmes. Não tenho cultura cinéfila. Não me sinto parte da comunidade nesses termos".

Lucrecia Martel aprecia filmes que não assumem a realidade como algo dado. Indagada a citar seus preferidos, vai de Bergman, Cronenberg e John Woo. E acha engraçado como ela mesma se tornou referência num tempo presente definido. "Não conheço muito de cinema brasileiro. Mas conversar com estudantes de cinema em São Paulo, aqueles que fazem agora seus primeiros curtas,tem sido muito bom. São Paulo tem uma ressonância em mim".

foto: divulgação/flip