segunda-feira, 29 de setembro de 2008

King Crimson

Faz mais ou menos dois anos que eu me devia alguns dias para ouvir King Crimson; com calma, como manda o figurino de todas as primeiras vezes na vida. Não foi por falta de aviso, pelo contrário, pequei por excesso de indicações. Sou cabeça dura e costumo deixar alguns conselhos de lado, até que a insistência me estraçalhe o telhado. Culpa do Xinho, this time. O momento perfeito chegou.

Comecei com "Red", álbum lançado em 1974, e de cara descobri duas formas alternativas (ou auxiliares - estou falando sério) de chegar ao orgasmo: "One More Red Nightmare" e "Starless", com uma baita progressão em bateria, baixo, saxofone [sem NADA de brega] e as guitarras em overdubs de Robert Fripp, que segundo Sir Marcos Sposito "não é malabarista, é gênio; isso metaleiro não entende".

Verdade, Marcos. Metaleiro não entende nada, a começar por cortes de cabelo & penteados, uso de cores e caimento de calças masculinas. De música, talvez precisemos mais ouvir do que entender. E sentir, claro.

sábado, 27 de setembro de 2008

O Imperador

Verte água sobre ti; e serás uma fonte para o universo.
Descobre-te a ti mesmo em cada estrela, e conquista
a impossibilidade do possível.

Alesteir Crowley, "O Livro de Toth".

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Móbile

Um móbile. Tudo que posso fazer é imaginar um móbile pendurado no teto de uma sala vazia e de uma janela quadrada de madeira antiga, completamente aberta para um dia branco, emoldurada por cortinas claras e leves que também se movimentam ao sabor de um hesitante vento que nem é vento e que nem é memória, que não é nada. É como sobrevoar um espaço familiar, durante uma temporada íntima, planejando finais felizes para daqui a alguns dias e seguir vivendo dos poucos sonhos que nunca acontecem depois que a gente acorda. No final das contas, são essas as nossas verdadeiras histórias.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Miguxês

Os amigos da gente devem pensar dentro de um código de ética e moral parecidos com os nossos. Porque na hora que apertar, não vai dar certo se for de outra maneira. Talvez seja mesmo um fator de caráter e educação familiar aliado à experiência, mas deve estar rolando por aí algum tipo de porralouquice-hedonoista-miguxa, que seja lá o que for, não é a minha praia. Meu anarquismo-individualista termina quando eu me preocupo com alguém ou apóio as decisões de qualquer pessoa. Descer do muro é preciso. Se não, melhor parar por aqui.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cala a boca, Sarah Palin!

Àqueles [poucos, porém muito inconvenientes] que ainda proliferam na boca pequena das comunidades internéticas que um novo governo republicano nos Estados Unidos faria bem ao Brasil, segue o link supremo, com provas absolutas e irrefutáveis sobre a limitada capacidade intelectual e política da candidata à vice-presidência americana Sarah Palin, e suas tradicionais apelações a todos os argumentos sectários dos quais até uma ameba desconfiaria.

A entrevista acima foi concedida ao experiente e muito bem preparado repórter Charles Gibson, da rede de TV ABC. O êxito está justamente na capacidade dele em argumentar com os dados de uma profunda e abrangente pesquisa, com perguntas incisivas, sem perder a educação. [Capítulo 1 do manual "Como Indagar um Candidato", ainda não disponível na biblioteca da sua faculdade de jornalismo].

O furor e a glamourização de uma figura patética como Palin não poderia dar pior sinal dos tempos. Por via das dúvidas, declaro meu voto na chapa Tina Fey e Amy Poehler!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Fresh intelligence

Sim sim, é verdade, eu juro. Não digo isso pra amenizar o impacto de uma piada ruim, mas de fato, eu estava sentada em frente ao computador muito bem acompanhada de um pratão de batatas fritas McCain[!] quando me deparei com a imagem da [espero] próxima primeira-dama estadunidense, Michelle Obama, estampando a capa de uma revista que tenho lido e acompanhado pela internet. Trata-se da Radar, provavelmente a publicação mais inteligente e carregada de sacadas irônicas a que tive acesso nos últimos tempos.

Não vou seguir rasgando seda, até porque não recebo um centavo prá isso, tampouco faço aqui apologia ao estrangeirismo. Mas realmente não dá pra ser feliz num país onde as opções de semanários de circulação nacional, por exemplo, vão de Veja à Carta Capital, que configuram duas espécies de pensamentos únicos dos quais tenho procurado me desvencilhar [com medo da máquina de moer cérebros e podar libido].

O que a Radar faz ao promover abertamente apoio à candidatura de Barack Obama é o oposto da falsa imparcialidade. E também muito diferente de oferecer espaço para que os portadores de opiniões sectárias opostas se execrem publicamente como fizeram Luciano Huck e o escritor[?] Ferrez via Folha de S. Paulo no ano passado, num pseudo-debate sobre a segurança pública no país.

Mas o mais importante é que a linha editorial prima por desancar as vacas sagradas. Aqui, pelo jeito, continua proibido. Brincadeira besta? Não, os novos ares, aliás, fazem muito bem prá tosse. Dessa vez a presa foi Patti Smith .

Mas a nota 10 fica mesmo prá capacidade da revista em rir da cultura pop e do cenário político americano. Qual revista brasileira é capaz de especular "em qual candidato Jesus votaria?" [A pergunta que não cala: se Deus é Fiel, será que Jesus é Mancha?] E que tal a versão do 11 de setembro de 2001 para crianças?

Em todo caso, dê uma olhadinha no site, tome uma meia hora de leitura e tire suas conclusões. Se o slogan "fresh intelligence" não colar com você, mesmo que não seja 100%, não brinco mais. Devolva a minha bola que eu vou brincar sozinha!

PS: Recebi de um amigo a indicação para leitura desse blog aqui, mantido pelo jornalista Vitor Angelo. A temática dos últimos posts vêm a calhar, com destaque para a palavra falada de Laurie Anderson e seu brilhante diagnóstico sobre a América.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Representando a quem?

A Câmara Municipal de São Paulo está movendo uma representação contra a vereadora e cadidata à prefeitura da cidade, Soninha Francine [PPS] por quebra de decoro, assinada por um dos líderes do DEM na casa, Carlos Apolinário.

Tamanha revolta se deve ao fato de Soninha ter afirmado, durante a sabatina do Grupo Estado, que alguns vereadores recebiam propina em troca de votos. O corregedor Wadih Mutran, outro membro do DEM, avisou que vai marcar um novo encontro para dar continuidade às investigações, já que não houve quórum para indicar um relator.

É no mínimo paradoxal que um político envolvido na máfia das ambulâncias atue como corregedor na câmara. E realmente ridículo que um vereador que se coloca contra o beijo gay e propõe uma lei que institui o Dia do Orgulho Hétero - e cujas bandeiras destoam das diretrizes de um estado laico, e da defesa de um ideal público, já que o político está ligado sectariamente aos anseios da comunidade evangélica - atue como um líder legislador. Ou você espera alguma justiça num lugar onde as leis são aprovadas por essas pessoas?

domingo, 7 de setembro de 2008

A contadora de histórias

"No início, só existiam pássaros. Os pássaros viviam no ar. Eles voavam sem parar, pois não havia terra para que pousassem. Certa vez, uma cotovia perdeu seu pai. Ele morreu e não havia terra para sepultá-lo. Então, a cotovia decidiu deixar que o corpo dele repousasse eternamente na parte de trás de sua cabeça. Esse foi o princípio da memória". [The Lark]

ps: a letra de "the lark" não foi encontrada na internet. trata-se de uma faixa inédita do novo trabalho de laurie anderson, "homeland", que será lançado no ano que vem. o fragmento da letra traduzido neste blog está, portanto, baseado na memória desta escriba sobre o show realizado sábado, no sesc pinheiros, em são paulo. neste link aqui, a própria laurie comenta o trecho, adaptado da peça grega "os pássaros", de aristófanes.

sábado, 6 de setembro de 2008

As flores de plástico não morrem

Desde que ganhei meu primeiro gravador de CDs - há cerca de 8 anos, no final do colegial - passei a cultivar o hábito de gravar seleções musicais específicas para meus amigos. Com ou sem ocasião especial: basta que eu queira compartilhar um pouco dos meus gostos. Até hoje costumo entregar os CDs junto de uma carta com comentários faixa a faixa, pequenas historietas sobre as canções e fragmentos de letras.

Existe uma avalanche de inovações tecnológicas anti-românticas avançando em minha direção, mas eu corro pra que nada me acerte. Por sorte, ainda tenho alguns amigos que valorizam essa minha forma de oferecer flores. Recebo pedidos. O último aconteceu há um mês, encomenda especial para o aniversário de Madame Hungria. Gravei uma coletânea de viagem que vai de Paco de Lucía a Rolling Stones.

De tempos em tempos, costumo mergulhar na música latina. Recordando as coletâneas "latinas" que já fiz, cada pessoa deve ter uma paixão d´eliniana diferente, por mais pop que seja. Engraçado encontrar esses registros, por acaso, nas prateleiras da casa de alguém. É sempre um exercício benéfico de nostalgia. "Você ainda guarda isso????". De repente dá um frio na barriga e então eu me redimo pelas vezes em que, ridiculamente, ofereci flores em vão.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Black magic on weekends

Ok, mais um capítulo de listas. Dessa vez não temos tempo para rodeios. A listinha abaixo pretende reunir pérolas encantadas da música negra mundial, para diversos fins. Em vez de uma nova série, vamos destilar várias listas de uma vez. Acompanhem, crianças, fará bem para a saúde. Black power, black magic! Enquanto isso eu vou dar uma de bamba e sacodir o esqueleto logo ali.

Dez mandracarias negras para um início de festa:

1) Marcos Lobo + Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz - "Alafia" [Brasil]
2) Fela Kuti - "Intro/Ololufe Mi/Trouble Sleep Yanga" [Nigéria]
3) Mulatu Astatke and his Ethiopian Quintet - "Konjit" [Mali]
5) Buena Vista Social Club - "Candela" [Cuba]
6) Sun Ra - "Saturn" [EUA]
7) Elmore James - "Talk To Me" [EUA]
8) Otis Redding - "Wonderful World" [EUA]
9) Herbie Hancock - "Chameleon" [EUA]
10)Stevie Wonder - "Sir Duke" [EUA]

Dez feitiços negros para acordar tranquila e alegremente no dia seguinte, mesmo de ressaca, sem dispensar uma leve melancolia inspiradora:

1) Ali Farka Touré & Ry Cooder - "Soukora" [Mali]
2) Salif Keita - "Madan" [Mali]
3) Cesaria Evora - "Xandinha" [Cabo Verde]
4) Ray Charles - "A Fool For You" [EUA]
5) Robert Johnson - "Walking Blues" [EUA]
5) Sun Ra & His Myth Science Arkestra - "The Blue Set" [EUA]
6) Thelonious Monk - "Nutty" [EUA]
7) Bola de Nieve - "Dejame Recordar" [Cuba]
8) Noel Rosa [que não era black] - "Palpite Infeliz" [Brasil]
9) Fela Kuti - "Monkey Banana" [Nigéria]
10)Youssou N´Dour - "Fenene" [Senegal]

[foto:fela kuti]

Dez magias negras populares para ninguém botar defeito: faça bom uso em seu automóvel, cante sozinho no metrô e imite o passo da lua no chuveiro!

1) Michael Jackson - "Billie Jean" [EUA]
2) Sade Adu - "Paradise" [Nigéria]
3) Stevie Wonder - "Isn´t She Lovely?" [EUA]
4) Marvin Gaye - "Mercy Mercy Me" [EUA]
5) Jackson 5 - "I Want You Back" [EUA]
6) Prince - "Kiss" [EUA]
7) Massive Attack - "Daydreamin" [Inglaterra]
8) Sandra de Sá - "Olhos Coloridos" [Brasil]
9) Jorge Ben - "Magnólia" [Brasil]
10)Des´Ree - "You Gotta Be" [Inglaterra]

Dez feiteceiras negras com poderes universais [acompanhadas por seus bruxos ou não lembrando ou não do bofe da balada]:

1) Ike & Tina Turner - "Proud Mary" [EUA]
2) Billie Holiday - "Strange Fruit" [EUA]
3) Nina Simone - "I Put A Spell On You" [EUA]
4) Ella Fitzgerald - "Stormy Weather" [EUA]
5) Aretha Franklin - "Don´t Play That Song For Me" [EUA]
6) Sarah Vaughan - "My Funny Valentine" [EUA]
7) Omara Portuondo - "Siboney" [Cuba]
8) Ethel Waters - "Harlem on My Mind" [EUA]
9) Elza Soares - "Mas Que Nada" [Brasil]
10) Miriam Makeba - "Chove Chuva" [África do Sul - com direito à letra em português e tudo mais]

[foto: ike & tina turner]

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Habemus ingressum!

Consegui comprar meu ingresso para um dos shows de Madonna no Brasil após 12 horas de tentativas no precário site Tickets For Fun no dia de ontem, e mais 4 horas de tentativas por telefone entre ontem e hoje, além de contar com o "fator amigo", já que o Felipe Salomão fez o favor de tentar a sorte por mim quando eu não já aguentava mais.

Ótimo. Estou feliz, afinal de contas, fiz tudo isso só pra ver a Madonna. E já prometi a mim mesma que não faço nunca mais. É muito chato saber que várias pessoas de boa fé se deram mal. Minha amiga Júlia Hilsdorf teve o valor do ingresso debitado de seu cartão, mas não obteve o tíquete. Outros amigos estão tentando até agora pelo call center, toda vez que dá uma brecha no serviço. [E ninguém aqui é desocupado, embora seja bastante cômodo aos donos da razão atribuir essa pecha aos "bobocas" da fila].

A professora Evelyn Vavassori, habitual frequentadora de shows, considerou o desrespeito tamanho logo de início, que nem tentou comprar ingressos. "Eu não vou porque está bem claro que nós passaremos muito estresse e pagaremos caro, mais uma vez, pelo privilégio de uma meia dúzia de convidados. Não trouxeram a Madonna pra a gente, não querem a gente lá. As coisas aqui acontecem sempre desse jeito porque a gente não boicota. Eu não tenho mais paciência", desabafou, por telefone.

Na Folha Online, especialistas em marketing e relações públicas afirmam que os danos à imagem da incompetente Time For Fun devem, no máximo, afastar alguns clientes. "Alguns clientes" é muito pouco. Por ironia, a relações públicas Raquel Arroyo, é mais uma das que já se afastaram do enrosco. "Por causa do preço e do desgaste, não tenho mais pique de ir a shows assim. Até porque devem ter sobrado pouquíssimos ingressos disponíveis para venda, já que antes vem o privilégio dos patrocinadores e da mesma panela de sempre".

Era de se esperar que funcionasse assim, aqui no país do Zé Carioca. "Eles que se danem".

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Bundalelê para Caetano

EJECT - Caetano Veloso X crítica
"Ele xingar críticos de "provincianos" é como Bin Laden acusar alguém de "terrorista". Tem espelho em casa, CV?". Alvaro Pereira Jr, no Folhateen de hoje. (Obrigada, Alvaro).