quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nara 70

Fui tomada pelos furores de Elis Regina e não me lembrava dos 70 anos de Nara Leão, comemorados no mesmo dia dos 30 anos de passagem da colega. Posto aqui apenas três interpretações que julgo sensacionais e que me despertam maior interesse na Nara. 

A primeira vem por motivos óbvios. A segunda porque tem o Tremendão e me acompanha desde a primeira coletânea da Nara que comprei. A terceira pela conotação política que  traduz exatamente o que eu penso do mundo e dos terráqueos. 




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

30 anos sem Elis: uma reportagem, vários comentários e um top 12


[Não tenho crédito das fotos. Se aparecer o autor, basta avisar que eu coloco. Culpa de quem compartilhou sem!]

Três coincidências e vários afetos me ligam à Elis Regina. Somos piscianas do terceiro decanato e ela fazia aniversário um dia depois de mim. E depois, morreu no dia do aniversário da minha avó italiana, além de ter sido a cantora preferida da minha avó portuguesa. A partida aconteceu há 30 anos e a Folha de S. Paulo publicou reportagem minha enfocando a relação da diva com a cidade de São Paulo. A ideia era fazer um retrato mais humano e pessoal, fugindo um pouco do que todo mundo vai dizer nas homenagens e descobrir seus lugares paulistanos favoritos, em paralelo aos acontecimentos mais marcantes de sua carreira na capital paulista. 

O link da Folha Online está bem aqui.  Foram 22 entrevistas em três semanas de apuração: do filho João Marcello Bôscoli a Milton Nascimento, passando por Rita Lee, Jair Rodrigues, fãs, e até o Seu Manuel, dono de um açougue no pé da Serra da Cantareira, onde Elis viveu nos anos 1970.

Vou dar uma palhinha das sobras dessas entrevistas que fiz. Mas vai ser um post 3 em 1: listo meus 12 momentos preferidos de Elis Regina na televisão, comento cada um deles, e forneço informações e depoimentos que ficaram de fora da minha apuração para a Folha. A escolha foi feita segundo critérios que considero históricos, mas também por questões afetivas e pelo link com histórias que coletei.

Sugiro ler primeiro a matéria, depois os extras. Algumas características de Elis, como a escolha de compositores inéditos, o ciúme e a rivalidade com outras cantoras, foram citadas por diversas fontes e aparecem aqui em diferentes contextos. Vamos lá, na cronologia!

1. Arrastão
Em 1965, a TV Excelsior organizou o I Festival Nacional de Música Popular, que inaugurou o tal do ciclo dos festivais que revelaram Deus e o mundo como conhecemos (pra não me alongar nos impactos disso na história e na cultura brasileira). A vencedora foi “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, que revelou Elis Regina. É por causa dessa  performance hiperbólica e radiante, girando os braços para trás, que Elis recebeu o apelido de Hélice Regina, e posteriormente, Pimentinha, este último dado por Vinicius.





2. O Fino da Bossa
Com apresentação de Elis Regina e Jair Rodrigues, com o Zimbo Trio no palco, o musical da TV Record contava com a participação de gente como Elza Soares, Alaíde Costa, Nara Leão, Jorge Ben e Wilson Simonal. O programa deu origem a diversos clones em outras emissoras. TV brasileira tinha musical e teledramaturgia, not reality shows. 



3. Elis Especial na TV Globo #1 (1970)
O que pode explicar a qualidade desse arranjo de "Wave" e da produção do Elis Especial na Globo dos anos 1970 além do talento e da boa vontade de um monte de gente reunida, tanto do lado artístico, quanto do lado televisivo? Era Elis em sua fase carioca, casada com Ronaldo Bôscoli, de cabelos curtíssimos como os de Mia Farrow e curtindo os novos ares meio soul de "Em Pleno Verão" (1970), produzido por Nelson Motta, que inclui o dueto que lançou Tim Maia em "These Are The Songs". É uma Elis Regina cool e menos extravagante, recebendo críticas ácidas do bossanovíssimo Bôscoli pela postura, pelo guarda-roupa e pela dicção que ele considerava cafonas; enterrando de vez os braços que giravam como hélices em "Arrastão". A cantora teve uma série de especiais globais mensais que em nada se assemelham ao Big Brother Brasil.

4.Elis & Michel Legrand na Tv Alemã (1972)É a melhor versão de "Summer of 1942". Legrand chegou a afirmar que Elis Regina era uma das maiores cantoras do mundo. Mas o fato é que a carreira de Elis nunca deslanchou no exterior, incluindo uma fatídica apresentação metade perfeita e metade ruim (de acordo com ela), ao lado de Hermeto Paschoal no Festival de Montreux. Mas essa história fica pra outra vez. Reparem no final do especial, com "Mundo Deserto de Almas Negras", de Roberto e Erasmo.


5. Ensaio - Tv Cultura (1973)
Uma das edições mais célebres do programa Ensaio, veiculado pela TV Cultura de São Paulo, teve Elis Regina cantando com o segundo marido, o pianista César Camargo Mariano, e seus arranjos intocáveis e ainda não superados dentro das formas que eles deram à MPB. O clássico é chique e é completamente dela. O repertório não podia ser mais abrangente: vai de Gilberto Gil a Sueli Costa, passando por Milton Nascimento, Chico Buarque e Tom Jobim. A linguagem do Ensaio é um primor à parte, a cargo do diretor Fernando Faro.


6. Dois Pra Lá, Dois Pra Cá no Fantástico (1975)
Marília Pêra anuncia a canção de dois dos compositores preferidos de Elis Regina: Aldir Blanc e João Bosco. Longe da antiga parceira musical há quase uma década, o pianista do Zimbo Trio, Amilton Godoy, achava que a cantora estava ficando muito politizada nos anos 1970, procurando mais discurso do que musicalidade. Mas muito antes que ela gravasse "O Bêbado e a Equilibrista", símbolo da abertura política do Brasil, comentou a eficiência das composições da dupla carioca ao ser apresentado a eles por Elis. "Ela de fato era muito perfeccionista e acertava muito quando gravava novos talentos. Foi assim com o Ivan Lins e também com Aldir e João Bosco", afirma.  


7. Falso Brilhante (1976)
A TV Bandeirantes produziu um especial do show Falso Brilhante, absoluto sucesso em São Paulo. Detalhe no copo de whiski logo na abertura, que denuncia o local da gravação: o restaurante Mexilhão, no Bexiga. A direção é de Roberto Oliveira, que também foi empresário de Elis, e é irmão do compositor Renato Teixeira. Nessa altura, Elis lançava compositores como Belchior e Thomas Roth. Primava pelo ineditismo. "Lembro de uma vez na casa dela na Serra da Cantareira. Estávamos eu, minha mulher, ela e o César jogando uma partida de Yan, um jogo de dados muito popular na época, enquanto rolava uma das centenas de fitas que ela devia receber de novos compositores. Ninguém estava ligado na música, mas a Elis sim. Ela se levantou quando percebeu uma música realmente boa, voltou a fita, ouviu novamente e acabou gravando depois. Era da Fátima Guedes", conta Thomas Roth.

O sucesso de bilheteria de Falso Brilhante foi tão estrondoso, que um grupo de cambistas chegou a se organizar e oferecer um buquê de flores a Elis Regina para agradecer os lucros da temporada. A cantora os recebeu nas coxias do Teatro Bandeirantes, tirou fotos e gargalhou com as histórias que contavam, de acordo com o guitarrista Natan Marques.


8. Elis e Milton (1977)Elis estava grávida de Maria Rita. Sobre a rivalidade dela com outras cantoras, Milton conta que a viu defendendo a então novata Simone do ataque de um amigo, durante um jantar num restaurante paulistano, na década de 1970.  "Ela ficou bravíssima, o clima pesou. Eu posteriormente contei isso à Simone. Dizem que a Elis era muito ciumenta, mas nesse caso ela protegeu a colega", afirma Milton.



9. Doce de Pimenta (1979)
Atuando em turmas antagônicas desde os anos 1960 -- Elis na MPB, Rita Lee entre os roqueiros -- as duas ficaram amigas quando a Pimentinha visitou Rita (que estava grávida) na cadeia, em plena ditadura militar, presa por porte de maconha. Muito antes de gravar "Alô Alô Marciano", Elis convidou Rita e Roberto de Carvalho para um de seus especiais na TV Bandeirantes. Elas duetam num improviso delicioso, dialogando como comadres que realmente eram. Composta por Rita para desmitificar a fama de brava e o apelido de Pimentinha da amiga, a música nunca foi lançada em disco, mas causou um pequeno barraco nos bastidores do programa. "Putz cara, só me lembro de pedaços desse dia. Um deles foi tenso pra mim: Elis quebrou o pau com o César porque se recusou acompanhar a "roqueira" (eu, no caso), e a banda acabou fazendo tudo sem ele. Fofocamos pra caralho, Elis esculachava certas cantoras novas -- segundo ela, eu era compositora, achava chique -- e num dado momento as chamou de "noviças do vício". Eu adorei a frase e posteriormente fiz uma música com esse nome", afirma Rita sobre o episódio. 


10. Aprendendo a jogar (Globo, 1980)
"Tivemos uma convivência intensa e curta em meio à confusão familiar que se instalou na família dela após a separação do César. Ela se identificava muito com meu orgulho paulista, achava que isso quebrava um pouco a carioquice das composições que vinha gravando. Eu, afinal, tinha lançado um disco chamado 'Coração Paulista'. Entramos nas rádios FMs com essa música", diz Guilherme Arantes, compositor de Aprendendo a Jogar, que foi feita por encomenda de César Mariano e entregue uma semana depois. 



11. Elis e Gal (Globo, 1981)O jornalista Marcio Gaspar trabalhava como assessor de imprensa da gravadora Warner e acompanhava Elis Regina em 1979, época do lançamento do disco "Essa Mulher", em todo tipo de compromisso com rádios e televisões. A temporada de shows do álbum aconteceu no Palácio Anhembi. Mas antes, Elis deu um pequeno piti na coletiva de imprensa do show, no hotel Caesar Park da Rua Augusta. "Ela tinha voltado do Rio, onde gravou um especial da Globo com outras cantoras, como a Gal Costa e a Marina, que estava começando. Chegou atrasada, com uma flor no cabelo, meio Billie Holiday e muito brava. Começou a reclamar que tinha gravado especial com aquele 'bando de gente que se acha cantora' e disse que eram todas umas sapatões. Ninguém publicou uma linha sobre isso", conta Marcio. Taí um outro momento de puro coleguismo feliz com a Gal Costa, em 1981.


12. Me Deixas Louca (Bandeirantes, 1981)
Esta é a última aparição de Elis na TV. Pronto. O que você quer que eu diga?


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

No início havia Rolling Stones

Tô aqui me deliciando com um álbum triplo que reúne singles dos Rolling Stones lançados no Reino Unido até 1967. Os B-sides são fantásticos. "Child Of The Moon", por exemplo, foi lançada com o single de "Jumpin' Jack Flash" e ganhou esse clipe alá Kenneth Anger dirigido pelo Michael Lindsay-Hog, de arrepiar os bracinhos dos fãs como eu. "We Love You" também é pedra fundamental de uma cultura videoclíptica voltada para a incorporação do underground. 





segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ryuichi Sakamoto



Ryuichi Sakamoto é um cara sensacional. Um dos poucos que me fazem encarar um passeio virtual pela ala de world music de qualquer rádio internética. Mais que isso: é quem torna plausível encarar o ar-condicionado de uma loja Fnac para comprar CDs de world music. É também um dos aniversariantes mais legais do dia 17 de janeiro e tem show marcado em São Paulo para o mês de maio, no festival Sónar. E o melhor de tudo: não é electro-pop, nem synth-pop, nem stupid pop.

Ele vai tocar com o alemão Alva Noto que, além de uns barulhinhos conceituais, faz umas performances visuais muito loucas e cria instalações modernosas pra todo mundo fingir que entende. É quase um excesso minimalista. Mas com Sakamoto, deve ter seu valor.

Temos conexões astrológicas. Seu histórico de parcerias e colaborações com piscianos é invejável (vocês sabem: sou bairrista e ufanista em termos zodiacais). O primeiro peixe da história é bem grande. Foi Bernardo Bertolucci que escreveu e dirigiu "O Último Imperador", "O Pequeno Buda" e "O Céu Que Nos Protege", com três belas trilhas de Sakamoto. A primeira, parceria com David Byrne e Cong Su, ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original em 1988.

O outro é David Sylvian, criador do Japan, que moldou a estética da new wave antes mesmo do Duran Duran. Eles estão juntos em "Forbidden Colours",  trilha sonora de "Furyo - Em Nome da Honra", com David Bowie no elenco, e em várias colaborações até "Heartbeat (Tainai Kaiki II)", pequena obra-prima  com participação da cantora mexicana Ingrid Chávez, tão fresca quanto qualquer revival noventista.

As aventuras transatlânticas de Sakamoto chegaram ao Brasil com colaborações do percussionista Naná Vasconcellos, e com Marisa Monte. Mais, segundo disco da carioca produzido por Arto Lindsay, parceiro de Sakamoto, foi parcialmente gravado em Nova York e ganhou uma mãozinha do japonês nos teclados de Rosa, versão do clássico de Pixinguinha. Ele também vai à África com o cantor Youssou N' Dour, e ao País de Gales com o baixista Pino Palladino, que já trabalhou com o Tears For Fears e outros caprichosos do pop. Um bom exemplar da safra de experimentações multilíngues e multiétnicas do japonês é o álbum "Beauty" (1989), com a turma mais relevante da época, e ainda a frente de muito hype.

Só não cito a parceria bossanovista de Sakamoto com Jacques Morelenbaun e Arto Lindsay, sempre envoltos em tecidos verde e amarelos, porque Ed Motta e outros bicões desses projetos não entram no meu boteco. Estamos também em brevíssima greve de Caetano Veloso, outro arroz de festa colaborador de Sakamoto: distância é saudável para manter os egos leoninos sob controle. De resto, tá tudo feliz e valendo muito a pena pagar pra ver.







domingo, 1 de janeiro de 2012

Saúde, 2012!

Rita Lee Jagger, aniversariante de 31 de dezembro, gosta de dizer que os últimos serão os primeiros. 

E eu não sei você, mas enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz. Um ano novinho em folha também deve servir pra isso. Tim-tim!