Ryuichi Sakamoto é um cara sensacional. Um dos poucos que me fazem encarar um passeio virtual pela ala de world music de qualquer rádio internética. Mais que isso: é quem torna plausível encarar o ar-condicionado de uma loja Fnac para comprar CDs de world music. É também um dos aniversariantes mais legais do dia 17 de janeiro e tem show marcado em São Paulo para o mês de maio, no festival Sónar. E o melhor de tudo: não é electro-pop, nem synth-pop, nem stupid pop.
Ele vai tocar com o alemão Alva Noto que, além de uns barulhinhos conceituais, faz umas performances visuais muito loucas e cria instalações modernosas pra todo mundo fingir que entende. É quase um excesso minimalista. Mas com Sakamoto, deve ter seu valor.
Temos conexões astrológicas. Seu histórico de parcerias e colaborações com piscianos é invejável (vocês sabem: sou bairrista e ufanista em termos zodiacais). O primeiro peixe da história é bem grande. Foi Bernardo Bertolucci que escreveu e dirigiu "O Último Imperador", "O Pequeno Buda" e "O Céu Que Nos Protege", com três belas trilhas de Sakamoto. A primeira, parceria com David Byrne e Cong Su, ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original em 1988.
O outro é David Sylvian, criador do Japan, que moldou a estética da new wave antes mesmo do Duran Duran. Eles estão juntos em "Forbidden Colours", trilha sonora de "Furyo - Em Nome da Honra", com David Bowie no elenco, e em várias colaborações até "Heartbeat (Tainai Kaiki II)", pequena obra-prima com participação da cantora mexicana Ingrid Chávez, tão fresca quanto qualquer revival noventista.
As aventuras transatlânticas de Sakamoto chegaram ao Brasil com colaborações do percussionista Naná Vasconcellos, e com Marisa Monte. Mais, segundo disco da carioca produzido por Arto Lindsay, parceiro de Sakamoto, foi parcialmente gravado em Nova York e ganhou uma mãozinha do japonês nos teclados de Rosa, versão do clássico de Pixinguinha. Ele também vai à África com o cantor Youssou N' Dour, e ao País de Gales com o baixista Pino Palladino, que já trabalhou com o Tears For Fears e outros caprichosos do pop. Um bom exemplar da safra de experimentações multilíngues e multiétnicas do japonês é o álbum "Beauty" (1989), com a turma mais relevante da época, e ainda a frente de muito hype.
Só não cito a parceria bossanovista de Sakamoto com Jacques Morelenbaun e Arto Lindsay, sempre envoltos em tecidos verde e amarelos, porque Ed Motta e outros bicões desses projetos não entram no meu boteco. Estamos também em brevíssima greve de Caetano Veloso, outro arroz de festa colaborador de Sakamoto: distância é saudável para manter os egos leoninos sob controle. De resto, tá tudo feliz e valendo muito a pena pagar pra ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário