segunda-feira, 30 de abril de 2007

Dreams

Hoje eu sonhei com o Ibrahim Ferrer. Na verdade, ele cantava num churrasco de família, enquanto eu conversava com o sobrinho dele, Fernando.

Acordei, entrei no orkut, e dei de cara com a comunidade dele.

Winamp, modo shuffle: "Dos Gardenias", Buena Vista Social Club.

Que miedo!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Guarda um cravo pra mim

25 de abril era aniversário da minha avó. Lisboeta ela, com sotaque e tudo.

25 de abril é também a data da queda da Ditadura Salazarista, com a Revolução dos Cravos. Por isso o nome da ponte que eu exerguei da pista de pouso do aeroporto, em Lisboa. No fim de 2002 fazia frio e na ocidental praia lusitana batia um vento que nunca mais senti.

Em Vila Nova de Famalicão, terra de Camilo Castelo Branco, os portugueses sentavam-se às mesas dos cafés, tomavam uma xícara apenas, e por lá paravam o tempo ou encerravam os dias. Mantinham os olhos opacos mirados num ponto fixo inexistente, quiçá imaginário. Rodavam colherinhas nas borras. E faziam as contas em "contos de Escudos" para pagar em Euros.

Em maioria não eram vaidosos, viviam meio descabelados e distraídos. Olhavam feio para os ucranianos, que sentiam vergonha de existir. Faziam pedidos que eu não entendia, mas fingia que anotava. Quer dizer, as velhinhas eram diferentes. Nem sei que raios elas pediam, mas eu nem precisava entender era sempre café. Os patricios se espantavam quando eu servia as minhas desajeitadas tostas mistas. Por sorte, ninguém nunca reclamou com o meu tio, dono do café.

Entre eles, costumavam falar muito rápido uma língua que eu não entendia. Mas as crianças eram quietas, desde sempre melancólicas. Os ciganinhos é que agitavam as portas das escolas. Depois do almoço, eles jogavam games eletrônicos nas lan-houses enquanto imaginavam lutas reais em dialeto andaluz. Soltavam uns xinguinhos que eu adorava, e colocava no meu caderninho mental de expressões adoráveis em línguas desconhecidas.

Meus ouvidos doeram de frio na Foz do Douro. Corri e brinquei numa madrugada alcoólica pelos jardins do Bom Jesus de Braga. Me perdi pelo século XV no Castelo de Guimarães. Passei um ano novo bebendo champanhe sentada no teto solar de um carro parado na estrada (farofa à lusitana)e entrei de roupa e tudo no mar gelado de madrugada, em Póvoa de Varzim. Olhei as cidades e as luzes de mãos dadas com quem eu queria.

Eu não trouxe um cravo sequer.

sábado, 21 de abril de 2007

Claudio Willer - uma entrevista

Esta semana foi publicada no Site Cultura da Cásper Líbero uma entrevista com Claudio Willer.

Logo abaixo há uma questão na íntegra. A resposta publicada foi editada, mas aqui há umas curiosidades e detalhes importantes sobre a tradução da obra-prima de Allen Ginsberg, "Uivo, Kaddish & Outros poemas".

Enquanto traduzia “Uivo, Kaddish & Outros Poemas”, de Ginsberg, você chegou a se corresponder com ele. Conte-nos um pouco sobre estes diálogos. Quais foram as suas impressões sobre este homem por trás do escritor?

Foi decisiva para a preparação de Uivo, Kaddish & Outros Poemas a correspondência que mantive na época, em 1983, com o próprio Ginsberg, mais a nota autobiográfica (Autobiographic Precis) enviada por ele. A seleção dos poemas e o plano editorial lhe foram apresentados. Ele os aprovou, comentou, deu sugestões e esclareceu dúvidas de interpretação do texto. Depois de publicado Uivo, Kaddish e outros poemas, passou a enviar-me as novas edições de sua obra pela Harper & Row, com cartões para o dear translator friend. Deu notícias até pouco antes do final, em 1997.

Um procedimento que utilizei, sempre que tivesse função no texto, enriquecendo-o e adequando-se ao ritmo e prosódia, foi a dupla tradução, uma palavra para cada sentido. Isso de certo modo me foi sugerido pelo próprio Ginsberg. Uma das dúvidas que lhe apresentei referia-se à palavra rare, em Sobre a obra de Burroughs, um poema importante por conter uma poética, idéias sobre criação literária. Na frase with rare descriptions, a expressão rare corresponde a raro, diferente, especial; mas também podia significar cru, mal-passado, como em rare done meat, bife mal-passado. Ginsberg respondeu-me que, para ele, os dois sentidos cabiam, e a escolha ficava por conta da minha sensibilidade (your delicacy of feelings, escreveu). Então, fiz a dupla tradução, obtendo como resultado com raros relatos crus. Repliquei esse procedimento, dupla tradução, em outras passagens de seus poemas.

Ginsbrg foi atencioso, e profissional: levava a sério edições da sua obra. Agora, quanto a impressões sobre o homem por trás do escritor, não acrescentou muito, pelo seguinte: eu já tinha uma imagem de Ginsberg, formada por tudo o que havia lido dele e sobre ele. Se o tivesse encontrado pessoalmente, aí sim, teria acrescentado algo.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Pace e serenitá

Pace e serenitá (Pino Danielle - Giuseppe Daniele)

Si me vuò bene overamente
num me fasciss´cchiu aspettà
io non ti ho quiesto mai niente
solo pace e serenità

Si me vuò bene overamente
saje che sò uno che s´accuenta
quann´le storie son strane
miracoli nun se ponno fà

Si me vuò bene overamente
circ´ ´e me suppuurtà
quann´me perdo 'mmiezzo ´a gente
quann´m´assetto a te parlà
quann´sto zitto jurnate sane
pecchè num me ne fido cchiù"



O resto é bosta.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Tchau, Nair



Fique bem!

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Depois da tala, o braço.


Uma semana, três médicos, três talas: uma normal, uma com duas camadas de gesso e uma removível e super pesada, não necessariamente nesta ordem.

Renatinha é daquelas crianças incomuns, que brincam na rua mas se quebram nas quinas dos sofás.

Ela detesta a tipóia. Mas aí a mão adormece. Ela sente coceira e pontadas. E tem uma cachorra que acha mó legal esse braço assim. Galinha não aceita carinho da mão direita. Quer carinho e ataduras ao mesmo tempo. Culpa da vó Gracinda, foi ela que mimou.

Masoquista que só, Renatinha aceitou o convite do amigo Ivan (motorizado, porque busão nem pensar) e foi ao cinema. Esqueceu a carteirinha, pagou inteira, e assistiu "300" na sessão da meia-noite. (Entendeu o masoquismo agora?)

Morta de fome, foi ao "Pedaço da Pizza" e gastou menos que no ingresso do cinema. Pediu para o Ivan ajudar a colocar as luvinhas de plástico e acabou por engordurar-se inteira mesmo assim. Desajeitada, bateu o bração no guardanapeiro do Superman. Se fosse cleptomaníaca levava pra casa o Superman, os guardanapos, e ainda saía sem pagar.

Quebra-pau com gente bêbada em porta de boteco é fim de noite. Coisa mais chata! Friozinho, dói o braço. Chega de ficar na rua.

Casa, café, chocolate que sobrou da Páscoa. Michael Hutchence, Kylie Minogue, o plágio dos Titãs, todas as MTVs do mundo...um assunto que dura até dar sono. Tchau Ivan, obrigada por pagar a pizza. Da próxima vez eu pago. Assiste o DVD que te emprestei. Depois me fala se David Bowie não é Deus.

sábado, 14 de abril de 2007

Para fazer um poema ruim

Tenho ganas de gritar pelas terraças
Quebrar os telhados a passos largos e pulos de criança
Profanar aos gritos e interromper
as bocas, os cuspes, as trepadas
as noites de Cabíria.

Aquele Tadzio é um filho da puta
alucinação muda
miragem
que chuta na boca do estômago
quem já cansou de viver

Ou ainda
Oxalá branco e lindo
que leva pelas mãos
e sopra no rosto
prá sarar a dor

Quero ser a Deneuve Buñueliana
Paulo Autran com a bandeira preta
mas não ao mesmo tempo
pra não encavalar as estrófes

No fim quem se importa
se tem duas, três, quatro, cinco
seis, sete, mil
ou nenhuma linha

Agora Philip Glass me faz chorar prá dentro
mas eu amanheci pra fora
e não tem volta

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Aos 9, os olhos azuis

Eu sentava atrás dele, do lado esquerdo da sala, ao lado da janela. De vez em quando voavam as cortinas, e aos 9, isso era uma grande diversão. Eu era destra, e ele canhoto. Eu achava engraçado o jeito torto dele de escrever. Ele fazia uma letrinha miudinha, numa cor só de caneta. Eu fazia os títulos de rosa e os enunciados de azul.

Ele era branquinho, tinha a boca vermelhinha, com lábios mais grossos que os meus. Era um crânio, reza a lenda que aos 14 virou nerd. Falava baixo, era corinthiano, e tinha uma lancheira azul. Os cabelos não chegavam a ser escuros, mas encaracolavam e ganhavam volume. Quase um aristocrata de olhos azuis.

No começo da 3ª série eu peguei piolhos, e minha mãe decidiu cortar minhas madeixas. À esta altura, meus dentes permanentes já nasciam tortos. Morrendo de vergonha da minha falta de cabeleira, como boa pisciana, deixava minha imaginação fluir. Tinha lá umas meninas cujo sonho era menstruar. Uma delas, que era repetente, se sentia a mais malandra da galera. Jogava todo o charme de seus 10 anos de praia em cima dele. A mim, um tanto desengonçada, restava o underground da sedução.

Começou porque ele me ensiva Matemática eeu devolvia com Estudos Sociais. Eu era sãopaulina, e não ia abandonar o Campeão Mundial Interclubes pelo timinho dele. Mas ele tentava me convencer. Nós colecionávamos figurinhas de temáticas diferentes. Cantávamos Michael Jackson sem saber inglês. "Ao bidê", coisa do tipo. E não sabíamos colar nas provas. Até porque, não precisávamos.

Um dia eu andei o bairro inteiro de mãos dadas com o meu avô Odilon. Como sempre, uma mulher obstinada. 100 cruzeiros ou um pouco mais, 10 pacotes com 4 figurinhas cada. Tudo isso pra achar o Tupãzinho, e completar o álbum do Corinthians dele. Confesso que gostei do status que ganhei com isso.

Um dia o ônibus escolar foi embora e só voltou no ano seguinte. Ele foi estudar de manhã, e depois mudou de escola. Só nos vimos umas vezes, de relance, perto da Federal. Ele andava todo de preto, muito heavy metal pro meu gosto.

Aos 23, Renata D´Elia tem cabelos curtos por opção. Ainda acha Michael Jackson um gênio, mas agora é tradutora e dá aulas de inglês. E no orkut, o mundo é ainda menor que a zona norte de São Paulo:

"Oi, Renata! Lembra de mim? Felipe Lima, que estudou com você no Educandário. Bons tempos! Vejo que você escreve, adorei seu fotolog. É divertido. Você é jornalista? Nunca mais te vi, sempre tive vontade de saber onde você estava. Está linda nas fotos. Anota meu MSN..."

Papo vai, papo vem. Soft madruga, diria um escritor. "Vamos sair. Me dá seus telefones, a gente se encontra e toma um café. Você toma cerveja? Menina, nunca imaginei que você tomasse cerveja!"

POFT! Blackout. Fucking bad internet database. Felipe, cadê você? Felipe...

Por e-mail, algumas surpresas chegam.(No Natal do ano passado eu até chorei com uma).

"Renata,

Acho que a conexão caiu, e você não tinha mais paciência para falar comigo, risos! Mas é sério, anota meus telefones. Vamos nos ver, eu queria muito. Desde 93, é muito tempo! Escuta, quer dizer que a Tais ficou grávida e tem um filho de 3 anos? Me conta melhor essa história. E me grava os Cds que você prometeu. Vou cobrar, hein!

Um beijo - de quem já foi completamente apaixonado por você.
Felipe".


"Felipe,

Eu também já fui totalmente apaixonada por você.

beijos,
RENATA"

quinta-feira, 12 de abril de 2007

I´m afraid of Google

* de mão esquerda quebrada, vou demorar uns 30 minutos para escrever o post. Vai ter erro de português. Ah, chega!

Outro dia foi no Orkut. Fuçando no perfil de um gatinho que achei na comunidade do Gang of Four, achei uma foto que tirei do Andy Gill no show de São Paulo. Estava lá, lindona, mas sem crédito. Com educação, requeri meus direitos autorais. Ganhei os créditos e também um amigo.

Parece uma coisa boba, e na real, é atitude de fotógrafo de pobre ficar pedindo crédito. Mas quem disse que eu sou desse mundo de "money, success, fame, glamour"?

Há pouco, não aguentei ficar virtualmente de molho e abri o MSN. O nick de um amigo que se mudou pra Londres: "Você já Googleou seu nome hoje?"

E vamos lá. Renata D ´Elia - frase extata. 25 resultados. Você quer ver os resultados omitidos? Opa, "omitidos"? Não, não...

Deu o Site de Cultura, meu filho. E o Speakorama,o GuiaFest até o Música e Letra. Também o Gardenal.org, este blog, outros blogs, o fotolog,e o Flickr. E mais uns sites que nunca vi mais gordos.

Cliquei lá num tal Sampaist, pra ver se usavam meu santo nome em vão. Mas era uma foto do Flickr, com créditos e tudo.

Depois uma longa crítica minha sobre Claro q é Rock!, Tim Festival e outros shows do fim de 2005 - copiada, colada, e com créditos. Isso num site de música do nordeste. Não, eu não sabia que o tal site existia.

Pior: umas besteiras que eu escrevi nestes sites onde você pode deixar sua rasa opinião sobre filmes. E ainda resultados de vestibular, concurso público, fotos em sites de balada,etc...

Dá pra viver sem ser linkado por aí?

Vou criar um alter-ego.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Quatro pragas

Sou esse menino desagradável,
sem dúvida inoportuno,
de cara redonda e suja, que fica nos
faróis, onde as grandes damas,
também iluminadas,
onde as meninas que parecem levitar,
projetam o insulto de suas caras redondas e sujas.
Sou uma criança solitária, que
o insulta como uma criança solitária, e o avisa:
se por acaso bater na minha cabeça,
aproveitarei a chance para roubar-lhe a carteira.
Sou a criança que provoca terror
por iminente lepra, iminentes pulgas, ofensas,
demônios e crime.
Sou aquela criança que improvisa uma
cama de papelão
E espera,
certo de que você me acompanhará.” , Reinaldo Arenas



Teus olhos não ficam bem senão em mim
Que desato o bouquet de tua angústia
Neste tempo de espera.
Sofres um solidão recortada
Na tarde de tuas pálpebras
Absorto no retorno das nuvens
Magoadas de outros climas.
Só eu sei, silêncio de jade,
Flor da manha, Deus triste,
O que te consola do vento.
Só eu sei que não sabes
Eximir-te do enfado,
Da noite, das bocas.
, "Noturno", de Roberto Piva


the best often die by their own hand
just to get away,
and those left behind
can never quite understand
why anybody
would ever want to
get away
from
them
"Cause and Effect", Charles Bukowski


Polly Kellog e o motorista Osmar.
Dramas rápidos mas intensos.
Fotogramas do meu coração conceitual.
De tomara-que-cáia azul-marinho.
Engulo desaforos mas com sinceridade.
Sonsa com bom-senso.
Antena da praça.
Artista da poupança.
Absolutely blind.
Tesão do talvez.
Salta-pocinhas.
Água na boca.
Anjo que registra.
"Sumário", de Ana Cristina César.

domingo, 8 de abril de 2007

Abaixo o lirismo comedido!


Quando gênios dialogam:

"A tua burguesia é uma burguesia de loucos, a minha, uma burguesia de idiotas. Você se revolta contra a loucura com a loucura (distribuindo flores aos policiais); mas como se revoltar contra a idiotia? (...)

Você se revolta contra os pais burgueses assassinos permanecendo no mesmo mundo que é o deles... classista (é assim que nos expressamos na Itália)e, portanto, é obrigado a inventar de novo e de modo mais completo, dia após dia, palavra após palavra - a tua linguagem revolucionária. Todos os homens da tua América são obrigados, para se exprimirem, a ser inventores de palavras! Nós aqui, ao contrário (mesmo aqueles que têm dezesseis anos), já temos nossa linguagem revolucionária pronta e acabada, com uma moral implícita. Também os chineses falam como funcionários públicos. E eu também - como está vendo. Não consigo misturar a prosa com a poesia (como você faz!) - e não consigo esquecer jamais - e naturalmente nem neste momento - que tenho deveres lingüísticos."


Carta de Pier Paolo Pasolini para Allen Ginsberg, em 1967.

O trecho acima foi retirado do livro de Maria Bethânia Amoroso, "Pier Paolo Pasolini", editado pela Cosac& Naify. Isso na ocasião da homenagem a Pasolini, na 26ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Na foto, nada mais que um "TEOREMA".

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Saudade Da Vitrola. (Por Uma Foxy Lady Maloqueira)

Quando eu era pequena, meu avô Nicola fazia maracutaias na vitrola, pra que a música nas festas não parasse um minuto sequer. Eu acho que ele queria mesmo era ficar livre daquele monte de mulher italiana gritando sem parar.

No meu aniversário de 4 anos, minha maior diversão (além de correr, esfregar meu vestido branco no chão e ter os cabelinhos loiros grudados na testa) era observar o esquema daquela engenhoca caseira, que imitava as jukeboxes dos filmes que eu via na TV. Muito louco. De Topo Gigeo prá Bozo eram 10 segundos. Com a vantagem de ouvir aquele barulho (que parecia de robô) amplificado nas caixas.

Desconfio que meus olhos brilhavam ao ver o disco de cima passar pra baixo, ou pro lado, ou de um lado pra outro. Guardei na cabeça aquele sonzinho que range sujo, que os guitarristas modernosos de hoje querem imitar. Metia a mão no disco, parava a execução, soltava, rodava ao contrário, e tentava acompanhar a rotação com os olhos. Podia ter me tornado a rainha das pick-ups. Mas eu só queria ler as letrinhas do selo de ponta cabeça. E olhar as digitais porcamente registradas naqueles vinis de fim de festa. (Bons tempos de Pepino DiCapri. Agora minha avó e minhas tias-avós ouvem Daniel).

Renatinha, aos 4: - Pai, como é que eles inventaram essa agulha que passa no disco e daí sai música?
Hygino D´Elia, o pai: - Filha, vai brincar com a Juliana, a Camila, e a Carolina. Vamos tirar foto. Não vai ficar se jogando no chão porque menina não pode.

As mulheres costumam ser educadas para a futilidade desde cedo. E confesso que eu achava um pé no saco aquele show de calouros misturado com o concurso de "quero ser paquita 87/88". Aos 4 anos eu também descobri a vergonha alheia. Afinal, aguentar a Juliana, a Camila e a Carolina tentando roubar a cena pra sair nas fotos com a barriga de fora era mesmo uma coisa entediante. (Será que Sofia Coppola e Lucrecia Martel também se sentiam assim?)

Na minha vitrola pós-moderna, o Winamp, rola de INXS a Zbigniew Preisner em 6 minutos e 40. E depois Ray Charles. Mas de repente toca Yann Tiersen, e eu relembro meus prazeres Amelie Poulain. Procuro um saco de feijão ou lentilha, e não acho nenhum anão de jardim. No sofá tem uma Galinha com fitinhas vermelhas, que me roubou um carinho, virou pro lado, e dormiu.

Nevermind the fucking bullocks. Eu sou a Foxy Lady. Foi o Hendrix que me disse. Acabei de ouvir.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Choro no cinema. E pela Little Miss Sunshine.

Sempre achei injusto chamar de "comédia" filmes como A Pequena Miss Sunshine. Também nunca acreditei que comédia fosse inferior ao drama. Só acho que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Não tão simples quanto parece.

Chorar na cena das marionetes em A Dupla Vida de Veronique é coisa de gente sensível. "Coisa de viado", segundo um vizinho testostrônico-carnívoro-pimário. Sentir os olhos marejados por Ricardo Darín e Norma Aleandro em O Filho da Noiva é de praxe. Mas confesso aqui meu talento especial prá carpideira.

Veja bem, meu histórico tem lá suas peculiaridades. Eu chorei em O Grande Garoto, quando todo mundo ria do Hugh Grant com a guitarra. Mas também me emocionei com o início de Noiva em Fuga, só porque tinha uma noiva que fugia num cavalo (por campos verdejantes, claro) ao som de I Still Haven´t Found What I´m Looking For, do U2. Saí do cinema tonta e muda depois de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. E chorei, mas sem um pingo de tristeza, em Satyricon, de Fellini.

Percebe-se lá minha tendência a me emocionar com criancinhas do cinema, exceto as dos filmes iranianos com nome de fruta. Aquelas deveras me cansam. Mas antes tarde do que nunca, chorei com A Pequena Miss Sunshine. Mas assim, de soluçar. E juro, tentei me conter, mas não consegui.

Eu já sabia que Jonathan Dayton e Valerie Faris valiam a pena. Isso desde 96, com o "Tonight, Tonight", do Smashing Pumpkins. Já considerava Toni Collette das melhores atrizes desta geração. E o resto do elenco também não foi surpresa. Mas ainda é maravilhoso se deparar com coisas tão simples - e certeiras. A Miss Sunshine dá o que falar.

Chamem aí os filósofos pra botar o Nietzche no meio. Falem até de Kafka, se quiserem. Ou de Proust, James Joyce, Freud, David Copperfield. I don´t care. Choro mesmo.

PS: Olive, quer ser minha filha?

terça-feira, 3 de abril de 2007

Hey,stupid!

Alguém já mandou o Murphy pro inferno?

Deu certo?

domingo, 1 de abril de 2007

Como assim?

De madrugada eu liguei a televisão e pus no tal do Altas Horas do Serginho Groisman. Tinha uma banda, um microfone, uns violões e um cara vestindo um modelinho shopping center, com a cara do Brian Molko. Para minha surpresa, era o Brian Molko.

Era o Placebo. Escondidinho assim, no palquinho lateral do programa. O alvo dos flashes era o tal do caubói do Big Brother. E a Cristiane Torloni. Mas no palquinho lateral, o Placebo fazia um angústico. E respondia monossilabicamente às perguntas previsíveis da platéia.

Não fosse a tradicional cara de blasé glam, eu até acharia que Molko estava entediado. Mas não era só isso. Além de entediado, ele morria de vergonha. A pergunta que não cala é: por que as multinacionais da música fazem suas bandas pagarem esses micos?

E assim, a gente descobre que as ultra-modernosas-glamourosas-poderosas bandas inglesas também matam cachorro a grito.

Estou com medo de ligar no Faustão e tomar um susto maior ainda.