sexta-feira, 6 de abril de 2007

Saudade Da Vitrola. (Por Uma Foxy Lady Maloqueira)

Quando eu era pequena, meu avô Nicola fazia maracutaias na vitrola, pra que a música nas festas não parasse um minuto sequer. Eu acho que ele queria mesmo era ficar livre daquele monte de mulher italiana gritando sem parar.

No meu aniversário de 4 anos, minha maior diversão (além de correr, esfregar meu vestido branco no chão e ter os cabelinhos loiros grudados na testa) era observar o esquema daquela engenhoca caseira, que imitava as jukeboxes dos filmes que eu via na TV. Muito louco. De Topo Gigeo prá Bozo eram 10 segundos. Com a vantagem de ouvir aquele barulho (que parecia de robô) amplificado nas caixas.

Desconfio que meus olhos brilhavam ao ver o disco de cima passar pra baixo, ou pro lado, ou de um lado pra outro. Guardei na cabeça aquele sonzinho que range sujo, que os guitarristas modernosos de hoje querem imitar. Metia a mão no disco, parava a execução, soltava, rodava ao contrário, e tentava acompanhar a rotação com os olhos. Podia ter me tornado a rainha das pick-ups. Mas eu só queria ler as letrinhas do selo de ponta cabeça. E olhar as digitais porcamente registradas naqueles vinis de fim de festa. (Bons tempos de Pepino DiCapri. Agora minha avó e minhas tias-avós ouvem Daniel).

Renatinha, aos 4: - Pai, como é que eles inventaram essa agulha que passa no disco e daí sai música?
Hygino D´Elia, o pai: - Filha, vai brincar com a Juliana, a Camila, e a Carolina. Vamos tirar foto. Não vai ficar se jogando no chão porque menina não pode.

As mulheres costumam ser educadas para a futilidade desde cedo. E confesso que eu achava um pé no saco aquele show de calouros misturado com o concurso de "quero ser paquita 87/88". Aos 4 anos eu também descobri a vergonha alheia. Afinal, aguentar a Juliana, a Camila e a Carolina tentando roubar a cena pra sair nas fotos com a barriga de fora era mesmo uma coisa entediante. (Será que Sofia Coppola e Lucrecia Martel também se sentiam assim?)

Na minha vitrola pós-moderna, o Winamp, rola de INXS a Zbigniew Preisner em 6 minutos e 40. E depois Ray Charles. Mas de repente toca Yann Tiersen, e eu relembro meus prazeres Amelie Poulain. Procuro um saco de feijão ou lentilha, e não acho nenhum anão de jardim. No sofá tem uma Galinha com fitinhas vermelhas, que me roubou um carinho, virou pro lado, e dormiu.

Nevermind the fucking bullocks. Eu sou a Foxy Lady. Foi o Hendrix que me disse. Acabei de ouvir.

2 comentários:

Anônimo disse...

você é, praticamente, uma Oliver Sunshine.

Anônimo disse...

Eu não tive primas pra me mostrarem o que eu não deveria ser...

Que droga!