quarta-feira, 27 de junho de 2007

Capô de Fusca (Killing Moon)

Na fila tinha um bêbado com uma coletânea na mão. Falava enrolado, mas parecia gente boa. Inventou necessidades fisiológicas no meio do programa ao vivo. E eu tinha 17 e me inscrevi por telefone. Duas amigas e o dinheiro do busão, pra variar. Mas dessa vez até rolou uma Coca-Cola na padaria.

Ian McCulloch em pocket show na MTV Brasil, coisa e tal. Frio moderado no Sumaré, mais quente que no dia do IRA!. E o bêbado gente boa que inventou necessidades fisiológiocas no meio do programa ao vivo perdeu o bloco mais importante. "The Killing Moon" versão acústica, bonito de mais. Acho até que esses pockets são o melhor de Ian McCulloch pós-80´s.

Aqueles óculos e os inconfundíveis cabelos arrepiados, lábios grossos. Ian McCulloch, coisa e tal. Facinho pra todo mundo, autógrafos e fotos com abraços na porta do estúdio móvel, em pé na caixa de brita, sentado na escada de ferro. O melhor de Ian McCulloch pós-80´s é a retórica sobre o U2. Falando mal, na maioria das vezes. (Ian, eu ainda gosto tanto de você...) O Echo não teve seu "Achtung Baby", nem sua Zoo TV.

Give me an assinature here, please? No papel mesmo. E um abraço inglês. Mas pelo menos não mandei autografar coletânea. Segundo a Evelyn, isso é chutar cachorro morto. Mais velha que eu, uma menina lhe deu um perfume. "It´s french, I hope you like it". A Evelyn escondeu a tatuagem do U2. Senão ia chutar cachorro com raiva.(Ian, eu ainda gosto mesmo de você).

Calça de sarja, cáqui era a cor.


*No que sobrou da MTV, é exibido neste momento o belíssimo clipe de "Bring On The Dancing Horses", do Echo & The Bunnymen, dirigido por Anton Corbijn.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Pequenas doses de século 21

Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza...

Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab agora deu de apagar os grafites que embelezavam a cidade, considerada uma das capitais mundias da arte urbana. A justificativa dos líderes do partido - que atende pela nova alcunha de "Democratas", é simples e óbvia: o cumprimento do projeto de despoluição visual da cidade. Até porque aquelas faixas asquerosas e o excesso de outdoors de outrora são iguaizinhos aos desenhos de osgemeos ou Vitché, não? A ignorância é tamanha que desconsidera os parâmetros básicos que diferem a pichação do grafite. E olha que o debate sobre a pichação é vasto. Mas a arte, nós sabemos, tem papel secundário na sociedade brasileira(sic).

Não encaixa

Alunos do curso superior de Jornalismo de uma das mais renomadas faculdades do país estão sentados, enfileirados frente aos computadores de um laboratório, terminando suas avaliações bimestrais. Mais um daqueles trabalhos em grupo, proposta super moderna, interdisciplinar e multimídia. Coisa do futuro. Dois jovens da mesma idade, um gay e uma hétero, coincidentemente católica entusiasta, discutem rapidamente sobre homossexualismo. Em minutos, a conversa chega ao ápice:

ELA - Duas mulheres juntas não dá, não encaixa. Não é preconceito, é uma questão lógica e científica! Ninguém estudou anatomia aqui? O corpo não foi feito pra aquilo.

Após a minha intromissão e o acaloramento da discussão, chego a várias conclusões, mas pegando o gancho, vai uma bem triste: 100 anos depois, os estudos que Freud iniciou sobre o desejo continuam reduzidos a uma "sub ou pseudo-ciência" por muita gente. E para estes "o sexo que eu faço é mais bonito e legítimo que os dos outros". (Se é que esse povo faz sexo, course).

sábado, 23 de junho de 2007

Cidades privadas

Está disponível "La Ciudad Que Huye", de Lucrecia Martel, no blog do Ariel, editor do curta em questão. O post acompanha um belo texto.

O documentário foi produzido ano passado para uma conferência internacional sobre urbanização e faz uma denúncia sobre o crescimento de condomínios fechados particulares, que reduzem o espaço público nas grandes cidades, diluindo a idéia da vida em comunidade.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Cão que late não morde

Sempre sobra alguma coisa na gaveta. Hora de botar pra fora.

Cão que late não morde

Nada acontece. Só uma grande reviravolta na vida de alguém que prefere não perceber. Ou finge que não. “Até O Dia Em Que o Cão Morreu”, romance de estréia de Daniel Galera, é uma narrativa rápida e certeira. O livro foi relançado pela Cia Das Letras em março deste ano, mas publicado originalmente em 2003 pela Livros do Mal, editora independente encabeçada pelo autor.

Na história, um homem de 25 anos gasta o tempo esvaziando a cabeça e latas de cerveja, num apartamento sem mobília, em Porto Alegre. Formado em Letras, ele não trabalha, não lê, não vê televisão, não usa o telefone, e sente fortes dores no estômago. Sustentado pelos pais, o protagonista vive só e sem objetivos. Sua vida muda quando um cachorro vira-lata e uma modelo chamada Marcela invadem sua rotina e seu apartamento.

Até aí, nada de anormal. Não fossem pequenas pérolas narrativas de uma literatura realista aparentemente sem profundidade, seria possível classificar o texto como mera “literatura de blog”. Mas sua fluidez e o detalhamento de cenários e diálogos são quase um convite para transformá-lo em filme.Beto Brant e Renato Ciasca não perderam tempo e filmaram “Cão Sem Dono”, baseado no livro. O roteiro foi escrito pelos dois diretores junto do inseparável parceiro Marçal Aquino.

A errância, a pseudo-indifrença e a apatia do personagem central não representam novidade para os leitores de Henry Miller ou Bukowski, ou de seus seguidores brasileiros. A diferença é que aqui, o sexo figura mais comedido. A história de um vadio que preza pelo não-envolvimento e evita paixões, a negação da funcionalidade do ser humano, e a absoluta falta de interesse em qualquer coisa poderiam resultar em mais um clichê. Mas o texto de Galera é honesto e acerta ao assumir os lugares comuns em passagens que reforçam a caracterização do anti-herói estereotipado.

O personagem perdedor, neste caso, está anestesiado por opção. Sem perceber, deixa-se engolfar pela perplexidade do imprevisto, mas segue praticando sua lei particular do mínimo esforço. No transparecer de uma existência passiva, porém observadora, surpreende-se com as peças do caminho. O fio condutor da história é o embate do racional com o emocional, que obriga o narrador a amar sem perceber. Marcela e o cão se recusam a tirar os dedos das feridas, embora ao longo do tempo, pareçam agir sem pedir nada em troca. No fim das contas, quem pede é o próprio vadio em questão.

Ao fugir do enfado, é Marcela quem norteia a inércia do narrador. Ele pertence agora aos frutos do seu próprio tédio. Sem saber o que responder, atende a convites, mas nunca convida. Sem saber o que pensar, relega as decisões aos outros. Um dia, vai chegar a sua vez, e não adiantará fugir.

sábado, 16 de junho de 2007

Semana de bar, Brant e música

Asterix na segunda.
Asterix na terça.
Provas e jogo do Boca com amigos e pizza, na quarta. (Quase perco o último metrô).
Asterix na quinta, velhas Caspervas.
Em seguida aquele bar sem nome, a velha lei da pirâmide, com os manos do JOD. Carona de madrugada. São Paulo acesa.
Entrevista com Beto Brant, o cineasta, na sexta. X-Egg na sequência. Metrô quebrado, sem condições. O bar foi o que restou. Grande Dan!
Japa food no sábado.


Miscelâneas do modo shuffle - Winamp:

Tricky - "Makes Me Wanna Die"
The Rolling Stones - "Sympathy For The Devil"
Elvis Costello - "Alison"
Thelonious Monk & John Coltrane - "Ruby, My Dear"
IRA e Fernanda Takai - "O Telefone"
U2 - "Night And Day"
Antony & The Johnsons - "You Are My Sister"
INXS -"Everything"
Nino Rota - Tema de "Noites de Cabíria"
Sonic Youth - "Sunday"
Portishead - "All Mine"
Chet Baker - "Like Someone in Love"
Aterciopelados- "Maligno"
Marvin Gaye - "What´s Going On"
Elis Regina - "O Que Foi Feito Deverá"
Kraftwerk - "Neon Lights"
Morrisey - "Suedehead"
Yann Tiersen - "Comptine d´un autre eté"
Zbigniew Preisner - "Olivier´s Theme"
The Ramones - "Teenage Lobotomy"

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Pérolas da semana

Pérolas do pensamento pós-moderno...

"Bando de remelentos! Deviam era levantar uns muros, fazer umas cerquinhas, e deixá-los lá, se reproduzindo. Daqui a pouco tempo, visitaríamos o Zoo-USP, o novo Simba Safari da cidade - jogaríamos miolinho de pão para os macaquinhos da FFFLCH, pela grade" - Sir Lofrets, filósofo espano-irlandês, no Sujinho.

"Parada Inglesa? Isso por acaso é metrô? Que metrô o quê, vai pra onde? Minha cara,não adianta justificar: isso é proselitismo de sua parte para com a zona norte" - Caio Cipro, Mestre em Oceanografia, no carro, às 4 da manhã.

"Ei, Renata, tenho uma idéia. Você torce pro São Paulo? Então, porque seria um puta furo pra você... cobrir a invasão gremista na Vila Belmiro! Nossa, isso com certeza você nunca viu, a torcida gaúcha é espetacular!" - I., de Porto Alegre, pelo MSN

DIÁLOGOS ARISTOTÉLICOS:

- A Ivete Sangalo é a Madonna dos pobres, você tem que entender.
- É tem razão. Pelo menos é melhor que Daniela Mercury.
- Ah, peraí: até minha avó morta é melhor que Daniela Mercury!
- conclusão de Evelyn Vavassori, ao telefone.


- Dei um puta fora com o cara da locadora.
- Ah, é? Que cê fez?
- Ele é daqueles que precisam, sabe? Aí ele me disse que não ia viajar no feriado, porque tinha um compromisso na Paulista. Daí lancei: "Ai, você também vai na Parada Gay?!", super in...
- E aí?
- Ele respondeu: "Parada Gay não, credo. Vou na Marcha Prá Jesus!"
-Evelyn Vavassori, na mesma conversa telefônica

terça-feira, 5 de junho de 2007

Na jukebox esta semana

Na jukebox esta semana constam álbuns recém lançados e outros que já têm aí um tempinho de internet e prateleiras. A técnica da resenha não conta nesse caso. O que interessa é espalhar essas singelas dicas. Que façamos todos o melhor proveito, claro.

Antony & The Johnsons - "I Am a Bird Now"
Lançado em 2005, o segundo disco da banda que acompanha a singular voz de Antony Hegarty traz melancolia na dose certa. Canções como "Hope There´s Someone" e "My Lady Story" servem para libertar o espírito de todos os maus agouros. Apadrinhado por Lou Reed, o grupo novaiorquino é daqueles pequenos tesouros na iminência de explodir. Ainda assim, para poucos.

Andrew Bird - "Armchair Apocrypha"
A NME já deu a letra, mas os críticos brasileiros ainda não caíram de joelhos - graças ao bom Deus. O violinista Andrew Bird acaba de lançar um disco dos mais bem produzidos do ano até agora. Para além do easy listening e algumas firulas, "Armchair Apocrypha" traz um excelente tratamento melódico e harmônico à canções como "Heretics" e "Schytian Empire". Elegante. Britânico até não poder mais.

Brett Anderson - "Brett Anderson"
Mas que saudade do Suede! Brett nem parece o mesmo homem que indagava "do you believe in love...there?", na letra de "The Drowners", no primeiro disco de uma das mais glamurosas bandas inglesas, ever. Bons tempos aqueles de 1995. Tempos mais reflexivos esses de agora. Hora de ostentar os primeiros (charmosíssimos) pés de galinha à beira dos olhos, e não esconder os cabelos lisos, grisalhos. As guitarras gritam menos, mas os vocais de Brett Anderson, em tom confessional, ainda estão longe de passar despercebidos. Destaque para "Dust and Rain".


The Klaxons - "Myths of Near Future"
Recém lançado no Brasil, o compilado de estréia do Klaxons é o mais novo "melhor álbum da década". De fato, o som é vigoroso, dançante e empolgante. Mas ninguém vai se rasgar por causa disso. Ou vai? Pra quem tem ouvido música nos últimos 30 anos, as releituras soam descentes. Atenção para "Two Receivers" e "As Above,So Below".

The Gossip - "Standing In The Way of Control"
No palco, uma vocalista com mais de 100 quilos deita, rola, grita,esperneia... e canta feito uma negona dos anos 70. Isso é o que dá pra ver no YouTube. Mas o som é bom de verdade. A começar pelas tão aclamadas influências pós-punk: aqui o baixo tem a mesma importância que a guitarra, o som é cru e propositalmente garage. Méritos nas faixas "Standing In The Way of Control" e "Listen Up!". O álbum, de 2006, foi produzido por Guy Picciotto, do Fugazi. Indie? Pra que te interessa esse rótulo?

PS: Resenha do novo álbum da Björk, aqui no Speakorama.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

A tediosa chama do desejo

No novo álbum de Björk, "Volta", há um dueto com Antony Hegarty (de Antony & The Johnsons). "The Dull Flame of Desire" é um poema russo de Fyodor Tyutchev, que no álbum aparece em tradução feita para o filme "Stalker", de Andrei Tarkovski.

(Algumas das imagens mais lindas do mundo estão em Andrei Rublev, vale ressaltar)



A tediosa chama do desejo


Eu amo seus olhos, meu querido (minha querida)
Esse fogo esplêndido, brilhante

Quando de repente você os levanta
E destila um olhar rápido e devastador

Como que acendendo e iluminando o céu
E há ainda encanto maior

Quando os olhos do meu amor se entreabrem
Quando tudo se queima em beijos de paixão

E através dos seus cílios abatidos
Eu vejo a tediosa chama do desejo


* tradução de Renata D´Elia, do Inglês.