sábado, 24 de novembro de 2007

Espelho e sombra

Minha cabeça bate no teto. Eu não tinha olheiras nessa mesma pele branca quando, pela primeira vez, senti minha cabeça bater no teto. E depois quebrar o telhado. A melhor sensação do mundo é enxergar as estrelas todas juntas, nunca uma por vez. Eu mordia os próprios dentes e serrava os caninos. Até conseguir respirar. Sempre foi assim: segundos, minutos, ou horas, dias. Até que alguém me puxasse pelos pés para fincá-los no chão. Gosto quando fazem com ternura. Essa casca nunca foi tão dura. Mas não pesa tanto assim.

Eu me obedeço moderadamente. A gente tem de se respeitar. Ainda faço covas rasas ao sorrir. Ainda sorrio bastante e gargalho o mesmo tanto, por outros motivos. No espelho, uma pequena marca na testa e a mesma pinta perto da boca. Memórias do ônibus escolar. As minhas agendas de adolescente tinham lá um questionário: tipo sanguíneo, sinal particular, em caso de emergência avisar a (eu não dava o telefone com medo de matar a vovó do coração). Tinha também uns adesivinhos bobos, as estrelinhas que as professoras colavam. Eu já falei de estrelas.

Suava frio quando te encontrava. Eu não mudei nada. Encontro vultos das minhas vidas passadas e tenho ressaca pós-regressão. Eu tinha cheiro de cloro, de clube, de grama e de shampoo. Tinha cheiro de fogo e de rock n´roll. Não sei mais que cheiro eu tenho, mas deve ser bom. Mergulhava na piscina e contava até mil. Depois minha cabeça batia no céu, pra eu conseguir respirar. Ganhei milhões de vezes a medalha de ouro em Barcelona e naquela outra olimpíada de 2000. Vivendo e aprendendo a nadar. Maremoto e mar manso. Baía. Ilha. Vou nadar na pia quando batizar Maria Antonia. Ela vai sorrir.

Nunca usei aparelhos nos dentes. Preciso operar as amídalas e isso é perigoso: deixar a garganta nua. Uso lentes corretivas obrigatoriamente, segundo a carteira de habilitação. Eu me dirijo. Eu sigo as estrelas. Sinto frio na espinha e sofro por excesso de sangue, mas aqui dentro cabe tudinho. Meu sangue é azul que nem o de todo mundo. Eu sigo em pé. Mas sento no banco das velhinhas no metrô. Esse trilho aqui é meu. Agora eu boto a mão na taça. Eu era tudo mas não tinha nada. Eu agora apenas sou.

3 comentários:

Aline disse...

I like it.
Esse post é você em doses homeopáticas.

;*

descompassada disse...

desde que a conheci, vejo estrelinhas ao redor dela.

Hélio Sales Jr. disse...

Terá sido a lua cheia? Conjunção astral? Todo mundo parece estar meio surreal esses dias. Vendo estrelas. Ouvindo estrelas. Falando sozinho. Enquanto essas memórias remoídas aleatoriamente estiverem se transformando em textos tácteis como esse, tá valendo.
BEIJO!
:D