segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sinergias & iluminações

Não é porque Ricardo Redisch é meu amigo. Mas é porque os poemas que li e reli nas últimas semanas, após o lançamento de Sinergias (Virgiliae, R$30), seguem me atravessando como lanças invisíveis e me torno uma mulher azulada quando a memória me prega essas peças. É quando sou novamente invadida por um violento exército dos woulds e, vocês sabem, dá muito trabalho resistir às forças imantadas do planeta. Resta, portanto, compartilhar os poemas enquanto decido o que fazer com meus woulds. 

Poeta cuidadoso, quase como um ourives, Ricardo é também um editor experiente. São 30 anos de trabalho sobre os livros dos outros. A história começou nos anos 1980, ao lado do editor-samurai Massao Ohno. Outro dia, ganhei um pôster esgotado e raro, com um poema automático dele em parceria com Roberto Piva + desenhos de João Pirahy, editado pelo japonês voador. 

Mas também não foi por isso que gostei tanto de seus poemas assim. É mais porque eles me obrigam a tomar atitudes que me levem à certeza de gol.  

Sem fim

Isso foi há muito tempo

Desde aquela época, os dias se repetem 
entre densas paredes de feltro;
um silêncio cortado apenas
por gestos e comentários ready-made

Uma presença vazia, estudada,
onde o avesso é um modo
de viver esta morte contínua 
atrás de óculos muito escuros

Desde que fomos interrompidos



Epicentro


tensão flutuante no travesseiro

epicentro
a rotação da terra
na cadeira de balanço
túnel de elipses

lapsos na escada
no avesso da dúvida

desengate do mistério



Falso alarme

Ninguém quer expor o flanco
a uma invasão inimiga
e depois ficar estendido
no campo de batalha.

Ninguém quer ouvir 
o grito dos feridos,
pisoteados por cavalos
perfurados por lanças.

Todos querem a segurança
e a reclusão do castelo.
Pelos corredores de pedra,
o desejo ardendo em surdina. 

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