Esta semana foi publicada no Site Cultura da Cásper Líbero uma entrevista com Claudio Willer.
Logo abaixo há uma questão na íntegra. A resposta publicada foi editada, mas aqui há umas curiosidades e detalhes importantes sobre a tradução da obra-prima de Allen Ginsberg, "Uivo, Kaddish & Outros poemas".
Enquanto traduzia “Uivo, Kaddish & Outros Poemas”, de Ginsberg, você chegou a se corresponder com ele. Conte-nos um pouco sobre estes diálogos. Quais foram as suas impressões sobre este homem por trás do escritor?
Foi decisiva para a preparação de Uivo, Kaddish & Outros Poemas a correspondência que mantive na época, em 1983, com o próprio Ginsberg, mais a nota autobiográfica (Autobiographic Precis) enviada por ele. A seleção dos poemas e o plano editorial lhe foram apresentados. Ele os aprovou, comentou, deu sugestões e esclareceu dúvidas de interpretação do texto. Depois de publicado Uivo, Kaddish e outros poemas, passou a enviar-me as novas edições de sua obra pela Harper & Row, com cartões para o dear translator friend. Deu notícias até pouco antes do final, em 1997.
Um procedimento que utilizei, sempre que tivesse função no texto, enriquecendo-o e adequando-se ao ritmo e prosódia, foi a dupla tradução, uma palavra para cada sentido. Isso de certo modo me foi sugerido pelo próprio Ginsberg. Uma das dúvidas que lhe apresentei referia-se à palavra rare, em Sobre a obra de Burroughs, um poema importante por conter uma poética, idéias sobre criação literária. Na frase with rare descriptions, a expressão rare corresponde a raro, diferente, especial; mas também podia significar cru, mal-passado, como em rare done meat, bife mal-passado. Ginsberg respondeu-me que, para ele, os dois sentidos cabiam, e a escolha ficava por conta da minha sensibilidade (your delicacy of feelings, escreveu). Então, fiz a dupla tradução, obtendo como resultado com raros relatos crus. Repliquei esse procedimento, dupla tradução, em outras passagens de seus poemas.
Ginsbrg foi atencioso, e profissional: levava a sério edições da sua obra. Agora, quanto a impressões sobre o homem por trás do escritor, não acrescentou muito, pelo seguinte: eu já tinha uma imagem de Ginsberg, formada por tudo o que havia lido dele e sobre ele. Se o tivesse encontrado pessoalmente, aí sim, teria acrescentado algo.
2 comentários:
conduta ética correta!
vc atualiza muito rápido! adoro =)
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