Muita gente sabe por alto, mas quase ninguém faz conta a respeito. O poeta Roberto Piva foi produtor de shows de rock durante o maior período de hiato em sua obra poética - entre as publicações de Piazzas [1964] e Abra os olhos e diga ah! [1976]. A importância dele para a difusão da cena rock n´ roll durante os anos de maior influência da MPB no país não é café pequeno. E ninguém aqui está se referindo a Mutantes ou aos grupos surgidos no ranço tropicalista; Piva aliás, faz questão de afirmar: "a gente não dava a mínima pra isso tudo".
Então aluno da Escola de Sociologia e Política e professor de Estudos Sociais em escolas da periferia de São Paulo, ele acabou lançando bandas obscuras como o Spectral Zôo - "o conjunto que mais se auto-marginaliza na cidade, conseguindo grana pro sanduíche já basta" -, Distorção Neurótica e a Glass Stone Game , primeiro grupo do baterista Duda Neves, que de Mark Davis [a.k.a. Fabio Jr] a Kiko Zambianchi, passou também pelas bandas de Zé Rodrix, Ná Ozetti, Zé Geraldo e até Arrigo Barnabé.
A mais lendária das investidas de Piva, no entanto, é a Made in Brazil [foto abaixo - em 1973], hoje com mais de 40 anos de estrada, famosa também pela "influência" visual nos Secos & Molhados, e posteriormente no Kiss. Ou você nunca ouviu dizer que as máscaras do Kiss foram "inspiradas" nas faces setentistas de Ney Matogrosso & cia? Há quem jure que a maquiagem de Paul Stanley, com sua estrelinha preta em volta de um dos olhos, é cópia descarada daquela usada pelo guitarrista da Made, Oswaldo Vecchione, já em 1969, alguns anos dos gringos aparecerem.
Famoso no mundo do rock como Zeca Jagger, o crítico Ezequiel Neves passou a integrar a Made in Brazil em 1976. Mas consagrou-se mesmo foi como produtor dos discos de Barão Vermelho e Cazuza, na década de 1980. Nos primórdios da Rolling Stone Brasil,em 1972, Neves escreveu sobre o poeta & agitador cultural. "Roberto Piva é um dos sujeitos mais explosivos que conheço. Sua capacidade de congregar jovens para a música pop destrói todas as cinzentas barreiras de concreto que asfixiam os paulistas. Antes de Piva organizar concertos, praticamente não havia nada."
E completou: "Quando cheguei de Londres, no final de 1970, encontrei todo mundo falando dos pop shows que ele organizava. Fui a vários deles. A garotada vibrava, os conjuntos eram bons [ótimos, alguns] e a atmosfera era puro Woodstock-mirim. Piva fazia sua apresentação de cada um deles e suas palavras amplificadas pelas caixas de som eram sempre aplaudidas. Piva me lembra um super-índio branco, um cacique que espera para sua tribo o nascimento dias melhores cheios de sol e música".
Sobre seu método de divulgação, o poeta falou à revista. "Eu vou de bairro em bairro e pela vibração descubro os hambúrgueres, os botecos, as sinucas onde a garotada daquele bairro se junta. Chegando a esse boteco, eu sigo o princípio de Platão, escolho o garoto mais bonito, entrego os lembretes impressos do show e digo: você tem que levar todo mundo no meu show. Aí eu consigo o que nenhum veículo de comunicação de massa vai conseguir, o toque pessoal da comunicação. Aquilo que o Fourier chamou de 'autoridade da atração´."
[continua...em páginas mais recheadas e suculentas, devidamente editadas e impressas, very soon.]