Durante esses dias frios que passei confinada trabalhando sobre intermináveis revisões, a amada jukebox eletrônica de cada dia andou me transportando para décadas passadas e vidas futuras com álbuns inteiros. E todos vieram a calhar como jamais antes. Outra vez a mesma sensação estranha e louca de absorção e regurgitação ao mesmo tempo, fato corriqueiro nos meus dias de eclipse.
Primeiro foi Miles Davis - Sketches of Spain (1960), com arranjos de Gil Evans - que a reboque trouxe o poderoso Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, com a Orquestra Filarmônica da Filadélfia regida pelo John Williams [certamente você lembra dele como o compositor de trilhas como Superman e Guerra nas Estrelas]. E teve ainda Workin´ with the Miles Davis Quintet (1956) - com a melhor versão já feita de "It Never Entered My Mind"; Kind of Blue (1959) e Round About Midnight (1955), nessa ordem.
Com um pé na Espanha e outro numa Florianópolis ibérica, resolvi baixar os dois volumes da mágica Antología de Paco de Lucía, que se tornou a obsessiva-compulsiva master dos últimos dias. Também teve espaço para o brilhante encontro dele com Al Di Meola, que qualquer dia comento melhor. Sarah Vaughan com seus três discos em português e versões de Beatles, chegou mais recentemente à jukebox, junto de uma coletânea francesa de Chet Baker - quem procura acha, meus amigos - e eu achei : Le Poet Du Jazz é o nome.
A vanguarda coexiste com os clássicos sem um pingo de chatice na presença de Laurie Anderson. Registros brilhantes, desde nosso último jantar à luz de velas e estrelas em Mamanguá, que ganhou o tempero inesperado da fase pop de... Miles! You´re Under Arrest (1985) traz recriações de hits como Human Nature, de Michael Jackson [aqui ao vivo em Montreal] e Time After Time, da Cindy Lauper.