sexta-feira, 8 de maio de 2009

Você também está na mira

O governador José Serra tentou caminhar pelo centro de São Paulo na última Virada Cultural, mas tudo indica que não curtiu a "marolinha": deram de respingar vinho barato em cima dele. Mas que gente mal educada, não? Onde já se viu espirrar vinho Xapinha na camisa do governador? De acordo com reportagem publicada pela Folha de S. Paulo na última segunda-feira, o pretenso "next president of The United States of Brazil" manifestou "espanto com a quantidade de pessoas bebendo nas ruas". Seus fiéis escudeiros já defendem a coibição da venda de vinho nas próximas edições da Virada. E vamos botar fim nessa anarquia filha-da-mãe, sua manada de vaquinhas fumegantes!

Enquanto isso, em plena crise econômica mundial, a Lei Antifumo prevê fechar bares que desobedecerem a lei por até 1 mês. Será que o Serra vai proibir o fumo ao ar livre na próxima Virada Cultural? [Curiosidade: será que o Serra já fumou maconha?]. Sobre os exageros da lei, entre outras perguntas, o repórter da Folha indaga o secretário da saúde, José Roberto Barradas Barata:
A violência aumenta em todo o Estado, como mostraram estatísticas divulgadas na semana passada. Utilizar a polícia para tirar os fumantes de bares não é reduzir a força no combate ao crime?
Veja, eu não vou fazer nenhuma operação especial da polícia para combater o fumo. Vai acontecer... Por exemplo: há um desentendimento no trânsito. Um carro bateu no outro. Os dois descem e começam a discutir, começam a brigar. O que a gente faz? Chama a polícia. O melhor seria que não tivesse de chamar a polícia, porque ela deixa de ficar correndo atrás de bandido para vir separar briga de trânsito. Eu acho que a gente nem vai precisar chamar a polícia, mas, se precisar, vamos chamar como se chama para uma briga de marido e mulher, como briga de trânsito.

O dramaturgo não-fumante Mário Bortolotto afirmou em seu blog ter recebido ligação da Folha para dar sua opinião sobre a lei, que também proíbe atores de fumarem em cena. Ele também é contra a tonelada de proibições. Afinal, não interessa se Samuel Beckett, Nelson Rodrigues ou a minha avó escreveram peças em que os personagens fumam: esses personagens não vão mais fumar em São Paulo. Mesmo que Anton Tchecov tenha passado boa parte de seu tempo construindo personagens que fumam em distantes e frias cidades russas do século 19, em São Paulo, ninguém vai poder fumar no palco, nem que seja em russo. Por mímica, talvez - mas provavelmente teremos censores. Fumaça em São Paulo só se for de chaminé de fábrica, fogueira xamânica ou escapamento do busão.

E se você, caro cheirosinho anti-tabagista, ainda não teve as pernas cortadas pela moda pseudo-politicamente correta das proibições, acenda um cigarrinho, quer dizer, abra uma cervejinha que hoje é sexta. Mas seja feliz com moderação. Por enquanto temos muita fumaça de óleo diesel para respirar. E sua hora também vai chegar, afinal...

...você também está na mira.

[Desculpem, mas não deu pra não usar a foto clichê.]

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