Por Renata D´Elia
Aproximadamente 200 pessoas habitavam o hall de entrada do charmoso teatro do CCBB, no centro de São Paulo, dia 17 de abril. Lá, as empadas da lanchonete respiram o que alguns chamam de “alta cultura”. Mas desta vez o verniz é outro. O público em maior parte é formado por jovens na casa dos vinte e poucos, daquele tipo preocupado em ser moderno. Tudo isso na espera de assistir a apresentação dos cearenses do Montage, com participação do ex-baterista do Sepultura, Iggor Cavalera. O show faz parte do projeto Supernovas, que traz à capital paulista as novidades do pop nacional com a participação de nomes consagrados.
No telão, a apresentação de Zé do Caixão: “Eles fazem o som das pistas, o som do sexo, do suor”. É o sinal de entrada para o programador de batidas eletrônicas Leco Jucá e o guitarrista Maurício iniciarem a execução de “Raio de Fogo” até que Daniel Peixoto adentrasse o palco. Vestindo uma saia rodada com um casaco de couro colado ao corpo, o vocalista, de scarpins pretos, iniciou sua performance mais do que peculiar. Comandando um lento strip-tease até ficar de sunga, Daniel exalou sexualidade com ares de Madonna e Iggy Pop ao mesmo tempo. Ainda assim, originalíssimo.
Funcionou, salvo a surpresa aos puritanos desavisados da platéia. Mesmo sentado, o público foi tomado pela intensidade performática e sonora em “I Trust My Dealer” e “Presidente Americano”. Definido como “electro-punk”, o som às vezes não se limita ao rótulo. Principalmente quando um ex-baterista de metal, Iggor Cavalera, sobe ao palco e toca ao vivo, adicionando batidas mais do que energéticas ao som de uma banda que tradicionalmente toca sem bateria, sem baixo e sem perdão. A participação de Cavalera encheu de vigor as execuções de “Hi Ophrah” e “Benflogin”, durante toda a segunda parte do show.
O Montage é uma banda de palco e amplificadores. É ao vivo que fica nítida a crueza e a objetividade de som e performance. Bem diferente da presunção conceitual e da atitude indie vendida por nomes como o Cansei de Ser Sexy, e outras modernices do sul e sudeste. A banda mostra referências, mas também traz novidades.
Em alta no circuito paulistano de baladas, o Montage abriu para Cardigans e Gang of Four na última edição do Campari Rock, em 2006. A pecha de banda GLS pode soar um tanto incômoda aos que julgam transcender as tribos. Daniel Peixoto e Leco Jucá parecem estar acima destas classificações, embora parte de seu público esteja mais ocupada em ostentá-las. Ao contrário de muitas das novidades aduladas pela crítica especializada, o Montage merece atenção. Por mérito, por sonoridade e pela tal da “atitude”.
* texto originalmente publicado no site Speakorama, em abril de 2007
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