"Chega de mentiras/De negar o meu desejo/Eu te quero mais que tudo/eu preciso do seu beijo/Eu entrego a minha vida/Pra você fazer o que quiser/De mim/Só quero ouvir você dizer/Que sim/Diz que é verdade que tem/Saudade/Que ainda você pensa muito em mim". Grande Chitão, grande Xororó. Tenho muita saudade da Galopeira. Estou falando sério: o mundo sertanejo anos 80 era muito mais verdadeiro. Todo mundo trepava, todo mundo traía, todo mundo brigava, e todo mundo trepava de novo pra fazer as pazes. E naquela tarde de 2010 não havia um só boteco para beliscar uma coisinha e conversar tranquilamente sem que fossemos atropelados por uma manada de elefantas imbecis mal vestidas, acompanhadas de seus respectivos pitboys. Minutos depois, o pagode universitário. E o sertanejo universitário. Volta Chitãozinho & Xororó! Eu até que era feliz e não sabia.
Laetitia Sadier
Encontrei o Wagner Love (vulgo Wagner Montes) e uma amiga dele no saguão no Teatro do Sesc Vila Mariana. Havia homens cabeludos & mulheres barbudas vestindo xadrez, usando chapeus e calçando all stars de toda sorte. Era uma noite de quarta que ameaçava ser fria, mas não foi. O show de Lateitia Sadier, mais conhecida por sua performance como compositora, cantora, tecladista e trombonista do Stereolab, foi dos mais intimistas e rápidos (1 hora) dos últimos tempos. Tímida, canhota e meio desajeitada, errando de leve os tempos nas canções com uma Stratocaster preta e branca, ela cantou sem deslizes, intercalou canções com brincadeiras num inglês de sotaque parisienese e contou pequenas histórias sobre suas novas canções solo. As letras continuam espertas. E quase tudo isso era previsto. Mas faltou molho: ficou devendo bateria, backing vocals, teclados, mais guitarras e metais. Quem sabe na próxima? Quem sabe com Stereolab. Odilon Wagner aprova.
Sobre café e cigarros
"Empty hours/Spent combing the street/In daytime showers/They've become my beat/As I walk from cafe to bar/I wish I knew where you are/Because you've clouded my mind/And now I'm all out of time". Quem canta isso é Tracey Thorn (Everything But The Girl), só que num disco divino do The Style Council, 1982, Cafe Bleu. Uma das melhores vozes do mundo, na atmosfera esfumaçada de Paris. Paris Match é o nome da música. Favor atentar também para a bela faixa título instrumental, entre outras. You´re The Best Thing, por exemplo, é exatamente o guilty pleasure do indiezinho que ouve Antena 1 escondido e se absolve quando fica sabendo que quem canta é o Paul Weller. Flertando com Marvin Gaye e meio mundo da Motown inclusive. Coisa que eu gosto no Paul Weller é a coragem de mandar os indiezinhos de então às favas e largar o The Jam (que eu adoro) para encarar um projeto mais pop, mais melódico e, olha só, mais romântico. Só que no oposto da Galopeira.
Bônus Tracey Thorn (and I miss you... like the deserts miss the rain)
1) Walking Wounded, do disco homônimo (1996). Quem contou foi a Soninha Francine no Pé da Letra MTV, que eu tenho gravado em VHS desde então. Ben Watt -- marido e parceiro de Tracey no EBTG -- havia se recuperado de uma doença séria e rara e, por isso, o disco veio com clima de crise. Vendeu bem. Dali também surgiu a melodia de Wrong, que ocupa um lugar de honra na minha memória afetiva.
2) Time After Time, clássica atemporal de Cindy Lauper que até Miles Davis gravou, tem versão semi-acústica na voz de Tracey Thorn, também com o EBTG.
3) Corcovado (Jobim/Gilberto) também ganhou uma repaginada do EBTG em português. Tracey havia decorado a letra para cantar durante uma apresentaão em Lisboa, nos anos 1980, mas o show foi cancelado e a versão foi prá geladeira. Acabou recauchutada na coletânea RED HOT + RIO, que reuniu artistas pops e undergrounds gringos junto a craques brasileiros para duetos e versões inusitadas para clássicos da bossanova. Com curadoria da RedHot.Org, o álbum tem renda revertida para pesquisas sobre a Aids.
Ziggy Stardust
Acabo de conhecer um bebê de 8 meses, filho do meu primo. Luca tem nome de rico e menos de 1 metro de altura. Adentrou a casa cheio de si, já conhecendo as cores do tapete e do sofá, as vozes da família, quando abriu de repente um sorriso banguela e apontou para as caixas de som. Era David Bowie.
Christina Aiquemerda
Quem não viu, por favor veja e espalhe o mico do novo clipe de Christina Aguilera (que já fez escândalo na MTV Brasil porque se sentiu ofuscada pela Sabrina Parlatore, lembra?). Ela é do tipo que esperneia pra chamar atenção. Parece até ex-BBB: cada mergulho é um flash. A tontona resolveu surfar na onda de Lady Gaga e levou um caldo tão feio que até Madonna desceu do olimpo pra ver se machucou. Sou completamente a favor do amor livre. Mas em Not Myself Tonight, a apelação de Christina ao posar de bad girl baladeira e sair catando todo mundo é forçada de dar dó. Aliás, no hall das cadelas que rebolam nos EUA, sou mais as brasileiras, cujas produções valem tanto quanto elas: nada. Procure na web. Não vou perder meu tempo anexando isso aqui. O nome desse blog tem mágica.
M.I.A.
Indiezinhos e hypeiros de plantão babam ovo, rasgam as calças e choram de emoção, com a mão no peito, "genial, genial!", pelo novo clipe de M.I.A., sri-lankesa metade britânica que faz aquela mistura de batidões e spoken words. Dirigido por Romain Gavras, filho do Costa Gavras, o filme caminha na linha do "Violência Gratuita" do Michael Hanake, supostamente por reflexão política. Uau, que coisa! Há que apontam no clipe arroubos de apologia à violência e ao terrorismo (hein?). Eu simpatizo com a M.I.A., já até vi show dela no Tim Festival. Só não simpatizo com afetação hypeira e chatices do tipo.
II Seminário do Empadão Culturete
Este blog não tem críticas culturais. Quem quer críticas culturais deve procurar por críticos culturais. Desde já, desejo a todos uma boa sorte e recomendo guaraná em pó para não dormir na operação pente fino. Confesso ter dado risada: mais um curso de jornalismo cultural da Revista Cult. Gente interessante, concordo. Grandes nomes, que certamente merecem ser ouvidos: Beatriz Sarlo, Eric Lax. Grandes frias como Arnaldo Antunes. Tem até o Lobão. E jornalistas atuantes no mercado. Metade é freela, mas tudo bem. Parcela-se em 3 vezes. Esgotam-se as vagas. Lota-se o TUCA. Estudantes pleiteando seu futuro lugar ao sol das cabines de cinema às 9 da manhã. Alunos do curso de uma revista que ninguém lê, escrita por gente que ninguém conhece, discutindo situações que só existem no mundo dos sonhos, pela ótica de dinossauros respeitáveis, mas que se formaram há décadas e não vagaram seus lugares desde então.
Juntando todos os cadernos, veículos e editorias especializadas de São Paulo, quantos jornalistas culturais existem no mercado? Não estou falando de blogueiro amador e sites que não remuneram colaboradores (embora alguns editores desses já tenham dado cursos na Cult). Quantos indivíduos têm carteira assinada para escrever sobre cultura, em São Paulo? Ok, vamos ampliar o leque. Vamos incluir os freelas. Com quantas empadas se faz o coffee-break dessa coletiva? E mais: quantos alunos das especializações e mestrados em jornalismo cultural estão, efetivamente, ganhando a vida nesse ofício? Eu já fiz um curso de jornalismo cultural. E posso responder, em partes, algumas dessas e outras perguntas, exceto uma: onde foi mesmo que perdemos completamente a noção do ridículo?
6 comentários:
Meu priminho apontou um CD do Michael Hutchence. "Ele morreu?". Vai entender...
Quanto ao sertanejo antigo, pois é - ainda tenho lembranças do CLube do Bolinha. Parecia mais saudável de alguma forma. Hoje presenciei uma feira em pleno metrô por causa do Luan Santana.
E, por último, o jornalismo cultural. Caiu uma lágrima.
Experimentem Swing Out Sister!!!!
hahha muito bom o comentário sobre o sertanejo universitário! parem com essa porra! é forró universitário, pagode universitário agora sertanejo tb?! Nahhhh...
Ziggy Stardust, i love it!
quanto aos culturetes, não vou nem comentar né?
bjocas, darlin
Lateitia Sadier...Curti muito...conhecia o Stereloab da musica: The noise of carpet...Pena não saber antes do show dela. Re Vc sempre esta na frente na proxima avisa antes... Bem Tracey Thorn sem comentários;;; Apenas show... Hasta la vista Julio
Tava conversando no msn com o Lucílio, e ele constatou uma coisa importante, as duplas sertanejas deixaram de gravar músicas sobre vida na roça/estrada pra ficar na dor-de-corno pura e simples. Daí a coisa foi empobrecendo."Evidências" é um bom exemplo do começo da decadência.
Aí o sertanejo virou sertanojo, passando pra sertanejo universitário. DECADÊNCIA TOTAL. LIXO MUSICAL.
Esse Luca sabe das coisas!
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