quinta-feira, 30 de abril de 2009

A little respect

Em todo o planeta, ha trilhões de trabalhadores. Alguns contra a própria vontade. Outros trabalham em más condições. Praticamente todas ganham mal e se esforçam absurdamente para pagar as próprias contas. Muita gente passa os dias contando as horas para sair do serviço. Outros ficam nervosos no trânsito, em duas, três, quatro conduções. Tem gente ganhando zilhões. Tem gente contando as moedas. Existem os positivistas. Existem ainda aqueles que enxergam o trabalho sob a perspectiva de Nietzche. Existem os vagabundos - ah, os nossos amáveis vagabundos! Os nossos odiosos vagabundos! Existem os idealistas. Os puxa-sacos. Os homens brilhantes. Os escritores, os poetas, os músicos, os ambientalistas, os loucos, as bacantes, os pervertidos. Os pensadores. Existe gente que ganha a vida tentando resolver os seus problemas. Entender a sua cabeça. Existe gente que diz que você é neurótico, que você tem pânico, que você tem estresse, que você está deprimido, com síndrome disso, síndrome daquilo. Há também os que salvam vidas e os que matam pessoas. Existem os ladrões. Os vampiros. Os psicopatas. E as pessoas que tentam detê-los. Nesse momento, trilhões de pessoas estão apavoradas com a gripe suína. Centenas de milhares estão se preocupando em erradicá-la. Há pessoas desesperadas, procurando emprego. Mães solteiras sustentam sozinhas seus filhos ganhando muito menos do que os filhos da puta que as largaram Mães solteiras se tornam invisíveis. E seus filhos se tornam vítimas do trabalho infantil. Filhas de todas as mães se tornam mulheres violentadas. Mulheres estupradas são condenadas ao inferno por cardeais exploradores do que nos resta de fé. Mulheres reduzidas a pedaços de bunda são endeusadas, enquanto todas as outras são desmerecidas, diariamente, pelo tipo de cretinice que sai da boca de Carrie Prejean. Carrie nunca deve ter pensado. Nunca deve ter tipo um problema para resolver sozinha. Nunca deve ter trabalhado. Não deve conhecer nenhuma pessoa brilhante. Não deve sentir o coração disparado na hora do gol. Não deve chorar nem sorrir ouvindo música. Não deve saber quem foi Jean Paul Sartre ou Simone de Bovoir. Não deve ouvir aplausos quando goza. Possivelmente, Carrie Prejean não goza. Com a cabeça podre, deicidiu então usar o corpo. Não é feia, mas todo mundo já viu melhores. Candidatou-se à Miss. E depois de perder o prêmio do corpo, decidiu puxar a descarga. Saiu tudo pela boca. Resolveu lutar contra o casamento gay. Virou então a miss do atraso. Carrie Prejean é o símbolo de todos os casamentos heterossexuais que faliram. Tudo isso enquanto, no mundo inteiro, trilhões de pessoas pagam impostos pela igualdade que não têm. Milhões de pessoas se apaixonam por outras do mesmo sexo. Constróem lares. Constróem sonhos. Constróem vidas que são destruídas por pessoas como Carrie Prejean, que não estarão lá quando o companheiro do Fulano tiver doente. Pessoas que lutam para que o Fulano não tenha direito à herança de seu companheiro, quando ele morrer. Pessoas que possivelmente mantém, em casa, armas de fogo tão bem guardadas quanto seus talheres de prata. Pessoas que não passam de tubos digestivos falhos, e que soltam dejetos pelos orifícios errados. No mundo inteiro há pessoas muito melhores brigando por um pingo de dignidade. No mundo inteiro, há pessoas pedindo abraços silenciosamente. No mundo inteiro, todas as pessoas precisam de respeito. Ninguém precisa de Carrie Prejean.