"Uma vez eu estava numa cachoeira, numa trilha na Chapada Diamantina, acho que já com oxigênio de mais ou de menos na cabeça. E aí eu vi um mundo muito grande, uma cachoeira de 30 metros, uma visão muito maluca. E de repente fui transportada mentalmente para uma cabine de cinema. E imaginei todo mundo [do jornalismo cultural] trancado na cabine, quando é preciso reecontrar o mundo. As notícias estão no mundo, e não no Outlook Express. Hoje o jornalismo depende do Outlook - o que entrar, é notícia, e o que não estiver ali não entra. Talvez uma matéria esteja numa caminhada por algum lugar ou numa conversa com pessoas que não sejam seus amigos de sempre, do jornalismo cultural, porque esse também é um mundo que se retroalimenta. A cultura está por aí, por todos os lugares. Os personagens estão em todos os lugares". By Ana Paula Sousa
Não sou jornalista, mas arrisco mencionar alguns fatores que, somados, talvez possam explicar um pouco essa situação [do jornalismo unicamente focado no produto final]: preguiça jornalística; falta de cobrança do público leitor; pouquíssimos jornalistas realmente aptos a falar de cultura enquanto política; influência das assessorias de imprensa e da indústria cultural na definição de pautas; revistas e jornais que subestimam seus leitores; jornalistas culturais que preferem agir como "críticos de arte" do que como verdadeiros jornalistas. Como reverter esse quadro? É provável que a resposta passe pela seguinte questão: a cultura no Brasil ainda não é vista como algo fundamental e transversal. Se algum dia nossa sociedade e governos chegarem, de fato, a essa compreensão, a imprensa deverá acompanhar a mudança de visão. By André Fonseca
"Acho que só sobreviverá o jornalismo muito bem escrito e que dê conta dos movimentos culturais. O Brasil mudou nos últimos 10 anos, mas o jornalismo cultural mudou muito pouco e continua não vendo nada. O jornalista cultural só sabe olhar pro mundo com uma coleira no pescoço, e a única saída é tirar essa coleira. Mas enquanto o cara não sair da tela do Outlook, não vai ter jeito. Da tela do Outlook e do pedestal, né? Porque é incrível: trata-se de um tipo de jornalismo que repercute muito pouco e ainda assim as pessoas são arrogantes! Imagine se essas pessoas tivessem poder pra derrubar um presidente, de falar do que acontece em Wall Street, onde elas se colocariam? Esta arrogância é incompatível". By Ana Paula Sousa
As aspas de Ana Paula Sousa, ex-editora de cultura da Carta Capital, que agora prepara uma nova publicação de cultura pela Editora Matraca, foram retiradas da entrevista feita pelo André Fonseca para o podcast do blog Cultura em Pauta, bem aqui.
Para ler a íntegra da entrevista concedida pelo André Fonseca ao Julio Daio Borges no site Digestivo Cultural, clique aqui e vá buscar uma pipoca, sem deixar de prestar atenção no debate sobre o amadorismo dos artistas, o conservadorismo das empresas e as deficiências das políticas públicas para a cultura no Brasil, além de outras questões nem tão simples assim.