sábado, 2 de agosto de 2008

78 rotações por minuto

Perdemo-nos pelas vias públicas. Adentramos as ruas erradas, viramos à direita antes da esquerda, quando deveríamos ter feito o contrário. Pegamos o caminho de volta sem querer e fomos parar novamente no centro de São Paulo, que saco. Estamos com fome.

Vou atrás, sentada na ponta do banco [quase escorrego toda vez que passamos por lombadas] e me agarro aos encostos de cabeça à direita e esquerda, pra me aproximar e manter o fio da prosa com meus dois interlocutores sem ter que gritar. De vez em quando me enxergo no retrovisor, e realmente não sei onde eu estava com a cabeça ao comprar esses óculos maiores que a minha cara.

A motorista de Rayban me acha parecida com ele, no jeito. O carona de bermuda e tênis às vezes fica meio amoadinho, mas é vulcão ativo. Eu realmente gosto dele. Mesmo quando está de mau-humor. Ele diz que gosta da gente. Eu gosto quando ele conta histórias. Tipo a do cara que usava calcinha e gostava de apanhar, a da amante ruiva que gostava de assistir, e também a da judia que fantasiava com garotos nazistas. Eu gosto quando ele solta frases nonsense pra a gente rir enquanto almoça. "O gato chôco do abismo".

É bom fazer as vontades de alguém, sentir-se à vontade com alguém. Sair por aí para falar besteiras muito importantes. Comprar salgadinhos de isopor e uma cerveja num posto de conveniência. A motorista de Rayban pagou uns chicletes pra uma menininha engraçadinha que sorriu pra a gente. O carona de bermuda acha que eu devo insistir na tática que comentamos outro dia. Eu tenho 24 anos e acho tudo isso muito legal. Mas onde é que foi mesmo que a gente errou o caminho? Eu quero almoçar!