"[ROBERTO PIVA] A minha primeira experiência foi com uma dose inteira de Purple Haze, na Serra da Cantareira. Fomos em dois carros, junto com outras pessoas que também tomaram a droga. Lá, eu entrei no meio do mato e, repentinamente, quando bateu o ácido, olhei para o Sol e vi como se fosse uma grande tangerina gotejando amor para o universo. Então tirei a roupa. Fiquei totalmente nu, e caminhei por todo aquele mato sem me machucar em nenhum espinho. Depois comi um pêssego como se fosse pela primeira vez. Aliás, tem um verso no meu livro Quizumba em que relembro isso, falo na volta do pêssego pródigo. Quando retornamos da Cantareira, eu via o eixo do fusca através do chão do carro. E, depois, chegando na cidade, ouvi Jimi Hendrix na casa de um amigo e percebi que era um músico que tentou musicar o movimento das plantas submarinas, a dança das algas. Saí dali e fui no cinema ver Satiricon, do Fellini. Sentei a três metros da tela e aí percebi porque Fellini deu ácido para os atores fazerem aquele filme e porque ele, Fellini, também tomou ácido. Esse foi um filme que vi 18 vezes. Achei uma beleza, uma coisa... Quando surge aquele menino com uma coroa de rosas na cabeça, aquelas rosas entraram no meu cérebro. Foi muito bonito. Mas eu tinha tomado um ácido tão forte que fiquei viajando dois dias. Aí enche um pouco o saco, porque você fica batendo os dentes, numa espécie de delirium tremens".
TRECHO RETIRADO DO LIVRO "Os Dentes da Memória - Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e Uma Trajetória Paulista de Poesia", de Camila Hungria e Renata D'Elia. (Azougue Editorial). À venda aqui e aqui para todo o Brasil.
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