Minhas histórias com o U2 começaram há mais ou menos 13 anos, quando comprei meu primeiro exemplar do álbum WAR e também de Zooropa e, quase em seguida, de Pop. Até que chegou 31 de janeiro de 1998 para uma Renata de rabo de cavalo & cheia de espinhas adolescentes na testa, portando um ingresso mágico comprado por R$60 [inteira] , impresso em papel azul, e algum dinheiro para gastar em tranqueiras como a bóia amarela gigante oficial da Pop Mart Tour e, finalmente, assistir a banda ao vivo, a muitas cores, direto do anel superior do estádio do Morumbi.
Duas semanas depois de balançar e ser alçada feito mola para todos os lados de uma geleia humana completamente deslumbrada -- e aquelas roupas de músculo? e aquela azeitona pendurada num palito que ficava ponta do palco? e aquele bigodinho mexicano pilantraço, hein The Edge? e aquele limão prateado que abria em Discotheque? puta que o pariu, o que era Discotheque? -- iniciei a prática de cabular aulas para visitar, clandestinamente, cada um dos andares da Galeria do Rock.
Funcionava assim: minha avó me dava uns 2 ou 3 Reais por dia para gastar no lanche. E eu usava um uniforme Capitão América. E também guardava uns passes de ônibus na carteira. A tática era guardar todo o dinheiro do lanche de segunda a sexta e, no extremo caso de fome, filar umas coxinhas da galera no recreio [deu certo por um tempo, até que as pessoas começaram a fugir]. Então chegava a sexta-feira e eu, sorrateiramente, me fingia de morta no busão para passar direto pelo ponto da escola e descer na Praça da República, avançar pelos mijódromos municipais do centrão, e grudar feito uma rã nas vitrines daquele buraco. Era uma oferta enorme: coisas oficiais novas e usadas, importados, bootlegs piratas, produtos japoneses com encartes malucos, fitas VHS copiadas das cópias com shows das minhas bandas preferidas em mil novecentos e bola, concertos filmados com aparelhos semi-profissionais.
Mas eu só tinha 10 Reais. E não podia falhar. Quem tem só 10 contos não vai gastar no disco da nova bandeca islandesa que viu no Lado B da MTV com Fabio Massari, né? E assim, foram comprados Boy, October, Rattle and Hum, The Joshua Tree e também uma fita pirata chuviscada com um vídeo de um show do U2 em Berlim, 1981, para não mais que 300 pessoas. O almoço vinha sempre no dogão do boliviano da frente, que aceitava passe de ônibus, e que nunca me matou com uma infecção alimentar [deve ser porque minha mãe me abastecia com anti-vermes anualmente; eram pílulas azuis e vermelhas, como as de Matrix]. Sem passes e sem dinheiro para a volta, o Capitão América versão feminina passava por baixo da catraca do busão e sentava no banco mais alto, felicidade total.
Foi numa madrugada de domingo pra segunda, janeiro de 2006, que São Paulo virou praia. Como se fossemos um bando de vagabundos irresponsáveis -- e provavelmente éramos -- nos alinhamos, centenas, numa fila que dava voltas no quarteirão do Pão de Açucar de Santana onde, um dia, alguém teve a genial ideia de vender ingressos para os shows do U2 no Brasil. Sacolas de feira, cadeiras de piscina, cangas -- quiçá, até bóias --, esteiras, cobertores, travesseiros, baralhos, rádios com caixinhas de som, e algumas baratas que nos visitavam por ali. Histórias sobre o show do U2 em Milão, a política de promoção dos concursados do Banco do Brasil, trepadas ilustres entre famosos em aviões da Varig, a crise na Varig, será que vai dar certo esse show dos Rolling Stones em Copacabana?, o Rio de Janeiro não tem jeito, eles nem têm show do U2, CHUPA RIO DE JANEIRO!, o Marcelo Tas falou que fã do U2 é tudo idiota, foda-se o Marcelo Tas, ela fez uma tatuagem do U2 no braço, é minha amiga, mas não acho que ela é doida não. O lance é trazer de casa pão com patê: esse mercado é muito caro e os funcionários não gostam da gente.
Em fevereiro de 2006, vi Rolling Stones e U2 num intervalo de 3 dias.
Mas era madrugada de domingo pra segunda, outra vez, quando eu nem precisei pagar ingresso. O set list foi meio bunda -- muito rockinho-pop 2000´s pro meu gosto --, as politicagens do Bono me dão brechas para estourar pipocas, botar mais gelo nessa coca-cola meio choca, e voltar pra tela porque não tem I Will Follow, mas tem Ultra Violet, e Ultra Violet é sempre tão bonita, você não acha? O u2 não está na TV, mas está no Youtube, nessa megalomania muito louca & brilhante ao mesmo tempo que começou com ZOO TV, foi pros caroços das azeitonas gigantes, depois para um palco em forma de coração, e depois pra uma ferradura [eu vi, eu vi!], e agora numa garra, num palco redondo, no meio do estádio: ninguém sabe pra onde olha.
É o Bono com essa jaqueta horrorosa outra vez. Errando a letra, rodando sem parar num microfone redondo, por todos os lados. Larry Mullen, bonito que nem Ultra Violet. Adam Clayton tem um baixo rosa-choque & branco. E o The Edge tem uma verruga no braço direito, que não passou no Youtube, mas eu vi. Eu vi o U2 na TV, que não era bem uma TV, era só uma tela. E no fim, não teve frio na barriga nem nada, mas deu pra sorrir. Também não teve The Fly mas eu, que já sou bem grandinha, continuo achando tudo isso muito cheio de cor, de música, e das emoções pessoais & coletivas que eu ainda preciso pra viver.
*U2webcast, transmissão ao vivo via satélite pelo Youtube para 1 milhão e meio de pessoas, do show realizado ontem em Los Angeles, no estádio Rose Bowl. 360º Tour.
Duas semanas depois de balançar e ser alçada feito mola para todos os lados de uma geleia humana completamente deslumbrada -- e aquelas roupas de músculo? e aquela azeitona pendurada num palito que ficava ponta do palco? e aquele bigodinho mexicano pilantraço, hein The Edge? e aquele limão prateado que abria em Discotheque? puta que o pariu, o que era Discotheque? -- iniciei a prática de cabular aulas para visitar, clandestinamente, cada um dos andares da Galeria do Rock.
Funcionava assim: minha avó me dava uns 2 ou 3 Reais por dia para gastar no lanche. E eu usava um uniforme Capitão América. E também guardava uns passes de ônibus na carteira. A tática era guardar todo o dinheiro do lanche de segunda a sexta e, no extremo caso de fome, filar umas coxinhas da galera no recreio [deu certo por um tempo, até que as pessoas começaram a fugir]. Então chegava a sexta-feira e eu, sorrateiramente, me fingia de morta no busão para passar direto pelo ponto da escola e descer na Praça da República, avançar pelos mijódromos municipais do centrão, e grudar feito uma rã nas vitrines daquele buraco. Era uma oferta enorme: coisas oficiais novas e usadas, importados, bootlegs piratas, produtos japoneses com encartes malucos, fitas VHS copiadas das cópias com shows das minhas bandas preferidas em mil novecentos e bola, concertos filmados com aparelhos semi-profissionais.
Mas eu só tinha 10 Reais. E não podia falhar. Quem tem só 10 contos não vai gastar no disco da nova bandeca islandesa que viu no Lado B da MTV com Fabio Massari, né? E assim, foram comprados Boy, October, Rattle and Hum, The Joshua Tree e também uma fita pirata chuviscada com um vídeo de um show do U2 em Berlim, 1981, para não mais que 300 pessoas. O almoço vinha sempre no dogão do boliviano da frente, que aceitava passe de ônibus, e que nunca me matou com uma infecção alimentar [deve ser porque minha mãe me abastecia com anti-vermes anualmente; eram pílulas azuis e vermelhas, como as de Matrix]. Sem passes e sem dinheiro para a volta, o Capitão América versão feminina passava por baixo da catraca do busão e sentava no banco mais alto, felicidade total.
Foi numa madrugada de domingo pra segunda, janeiro de 2006, que São Paulo virou praia. Como se fossemos um bando de vagabundos irresponsáveis -- e provavelmente éramos -- nos alinhamos, centenas, numa fila que dava voltas no quarteirão do Pão de Açucar de Santana onde, um dia, alguém teve a genial ideia de vender ingressos para os shows do U2 no Brasil. Sacolas de feira, cadeiras de piscina, cangas -- quiçá, até bóias --, esteiras, cobertores, travesseiros, baralhos, rádios com caixinhas de som, e algumas baratas que nos visitavam por ali. Histórias sobre o show do U2 em Milão, a política de promoção dos concursados do Banco do Brasil, trepadas ilustres entre famosos em aviões da Varig, a crise na Varig, será que vai dar certo esse show dos Rolling Stones em Copacabana?, o Rio de Janeiro não tem jeito, eles nem têm show do U2, CHUPA RIO DE JANEIRO!, o Marcelo Tas falou que fã do U2 é tudo idiota, foda-se o Marcelo Tas, ela fez uma tatuagem do U2 no braço, é minha amiga, mas não acho que ela é doida não. O lance é trazer de casa pão com patê: esse mercado é muito caro e os funcionários não gostam da gente.
Em fevereiro de 2006, vi Rolling Stones e U2 num intervalo de 3 dias.
Mas era madrugada de domingo pra segunda, outra vez, quando eu nem precisei pagar ingresso. O set list foi meio bunda -- muito rockinho-pop 2000´s pro meu gosto --, as politicagens do Bono me dão brechas para estourar pipocas, botar mais gelo nessa coca-cola meio choca, e voltar pra tela porque não tem I Will Follow, mas tem Ultra Violet, e Ultra Violet é sempre tão bonita, você não acha? O u2 não está na TV, mas está no Youtube, nessa megalomania muito louca & brilhante ao mesmo tempo que começou com ZOO TV, foi pros caroços das azeitonas gigantes, depois para um palco em forma de coração, e depois pra uma ferradura [eu vi, eu vi!], e agora numa garra, num palco redondo, no meio do estádio: ninguém sabe pra onde olha.
É o Bono com essa jaqueta horrorosa outra vez. Errando a letra, rodando sem parar num microfone redondo, por todos os lados. Larry Mullen, bonito que nem Ultra Violet. Adam Clayton tem um baixo rosa-choque & branco. E o The Edge tem uma verruga no braço direito, que não passou no Youtube, mas eu vi. Eu vi o U2 na TV, que não era bem uma TV, era só uma tela. E no fim, não teve frio na barriga nem nada, mas deu pra sorrir. Também não teve The Fly mas eu, que já sou bem grandinha, continuo achando tudo isso muito cheio de cor, de música, e das emoções pessoais & coletivas que eu ainda preciso pra viver.
*U2webcast, transmissão ao vivo via satélite pelo Youtube para 1 milhão e meio de pessoas, do show realizado ontem em Los Angeles, no estádio Rose Bowl. 360º Tour.
8 comentários:
"..tudo isso muito cheio de cor e de música, de coisas que eu preciso pra viver." - essa frase foi tão pisciana! super me identifiquei.. ahhahaha =) adorei o texto!
Mais U2!
É, faltou I Will Follow. E faltou uma cueca pro Bono, mas td bem vai... Mitagem total.
que inveja: eu trocaria o show de 2006 pelo de 1998, fácil, fácil. fiquei com vontade de fazer um texto igual. comecei a gostar do u2 pelo clipe de discothéque e o meu primeiro disco da banda foi o pop. a banda era fantástica nos anos 90, pena que virou 'muito rockinho-pop 2000´s pro meu gosto'.
beijos, re!
oi,
não sei q me deu esses dias (deve ser meu repouso forçado), mas creio q só ouvi u2, com as devidas pausas sambistas pra cozinhar (cozinhar com rocknãorola #fail)...
aí veio esse teu texto, é, disse tudo. tb fui nos 2 shows, iria em outros, pq ter vergonha alheia de ídolo não tem preço, é quase a definição de envelhecer.
mas toda vez que ouço dressed up like a car crash your wheels are turning but you're upside down... ah, coração bobo, hehe.
obrigada por compartilhar tudo isso.
beijo
Eu tenho que confessar que chorei com Walk on, mais uma vez :)
e odiei o Bono com aquele volante na cara enquanto interpretava With ou Without you...Odiei! Preferia a Katilce! hahahahha
"Ter vergonha alheia de ídolo não tem preço, é quase a definição de envelhecer", your´re right, Ana!
"E odiei o Bono com aquele volante na cara enquanto interpretava With ou Without you...Odiei! Preferia a Katilce! hahahahha"; esqueci de contar a história da Cicarelli com a katilce, no show de 2006, Amanda. Me cobre por isso, qualquer dia eu conto.
"esqueci de contar a história da Cicarelli com a katilce, no show de 2006, Amanda. Me cobre por isso, qualquer dia eu conto."
Pode deixar que eu cobro:)
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