Ligo para a assessoria de imprensa de uma grande multinacional. É a terceira vez em 3 dias. Tenho prazos. Tenho entrevistas para fazer, matérias para escrever, fotos para conseguir, e um editor que vai editar tudo isso depois. Ótimo. Explico para a amável assessora, pela terceira vez, os detalhes da pauta. Só me falta ela pedir a relação das perguntas em bloco, com réplicas, tréplicas, quádruplicas [sic]. Ela finge que analisa minuciosamente o que digo.[Quatro anos de faculdade pra quê, afinal?] Respondo a mais perguntas do que sou capaz de fazer - e eu é que sou a perguntadora aqui. E depois de tudo, ainda tenho que mandar um e-mail "formalizando esse pedido para avaliação do cliente" da assessora fofa.
"Peraí, minha nêga, o cliente é seu! Eu não sou balcão de negócios. E formalize você o meu pedido! Se vira, benzinho. E me traga uma Coca-Cola média sem gelo, faz favor", dá vontade de dizer. Se eu não tivesse clientes, acho até que falaria. Mas de minha parte, apenas acho que está na hora de fundar uma assessoria fast-food: tudo muito rápido, prático, com direito a fotinho do funcionário do mês e tudo mais. Comeremos carne sintética do mesmo jeito, apenas seremos mais felizes. Valerá a pena, enfim.
Voltando à formalização, seria mais fácil preencher um formulário. "Brasileira, solteira, branca, 25 anos, 1, 62 m. Ex-fumante. Alérgica a Binotal. Sangue O +. Plano de saúde Unimed, com direito a apartamento. Não como frango". Mas tudo bem, eu mando o e-mail. Me pedem para informar com quais outras fontes estou apurando. Me pedem para informar qual é o posicionamento do veículo em que trabalho - se faz parte da reestruturação do grupo tal ou não, quantas matérias publicamos por dia, e quando publicaremos a fatídica reportagem. Ela quer que eu mande a matéria pronta, se bem entendi. E só depois o super-medroso-cliente dela decidirá se quer falar comigo ou não. No fim das contas, terei 10 minutos para falar com um porta-voz Robocop, mais treinado que um cão farejador do FBI. Eu bem que tentei, mas não consegui me livrar do corporativês. E já diria o Professor Raimundo: "E o salário, ó!". Mas será mesmo que eu sou quem mais perde com isso?
"Peraí, minha nêga, o cliente é seu! Eu não sou balcão de negócios. E formalize você o meu pedido! Se vira, benzinho. E me traga uma Coca-Cola média sem gelo, faz favor", dá vontade de dizer. Se eu não tivesse clientes, acho até que falaria. Mas de minha parte, apenas acho que está na hora de fundar uma assessoria fast-food: tudo muito rápido, prático, com direito a fotinho do funcionário do mês e tudo mais. Comeremos carne sintética do mesmo jeito, apenas seremos mais felizes. Valerá a pena, enfim.
Voltando à formalização, seria mais fácil preencher um formulário. "Brasileira, solteira, branca, 25 anos, 1, 62 m. Ex-fumante. Alérgica a Binotal. Sangue O +. Plano de saúde Unimed, com direito a apartamento. Não como frango". Mas tudo bem, eu mando o e-mail. Me pedem para informar com quais outras fontes estou apurando. Me pedem para informar qual é o posicionamento do veículo em que trabalho - se faz parte da reestruturação do grupo tal ou não, quantas matérias publicamos por dia, e quando publicaremos a fatídica reportagem. Ela quer que eu mande a matéria pronta, se bem entendi. E só depois o super-medroso-cliente dela decidirá se quer falar comigo ou não. No fim das contas, terei 10 minutos para falar com um porta-voz Robocop, mais treinado que um cão farejador do FBI. Eu bem que tentei, mas não consegui me livrar do corporativês. E já diria o Professor Raimundo: "E o salário, ó!". Mas será mesmo que eu sou quem mais perde com isso?