sábado, 12 de maio de 2007

El asilo contra la opresión

Em 1998, eu e Madonna tínhamos em comum uma única e soberana visão sobre o Chile: Iván Zamorano, o camisa 9 da seleção, que jogou contra o Brasil nas oitavas de final da Copa da França. Vá lá, falava-se muito de Marcelo Sallas também. Mas Zamora era muito mais legal. Cantava com vigor o hino chileno, era um raçudo capitão de time, e usava uma tiara preta para segurar os cabelos. Matador.

Nos meses seguintes, as aulas de Geografia com o falecido Sylvio me serviram para adquirir conhecimento sobre a ditadura chilena, as atrocidades de Pinochet, e alguma conexão nossa com o vizinho que não faz fronteira. Fernando Henrique Cardoso por exemplo, sabia de cor o hino do Chile, que terminava repetindo a frase "El asilo contra la opresión".

Assistindo hoje pela 5ª vez ao filme "Machuca", de Andres Wood,lembrei de quando marejei os olhos no cinema. Também lembrei de Roberto Bolaño, todas as fotos que já vi de Bolaño, imaginei quantos cigarros Bolaño devia fumar por dia e quanto álcool Bolaño deve ter consumido para morrer de problemas hepáticos antes dos 50, sem ser reconhecido em seu próprio país. Isso tudo porque minutos antes um amigo me disse que é impossível estudar Humanidades na América Latina. (Afinal, as idéias dos outros contaminam a gente até que consigamos decidir o que fazer com elas, não?)

Miro o olhos estáticos por trinta segundos no teto, e depois no lustre, e depois na maçaneta da porta. Calculo um frio despertar de outono em Santiago, sob a neblina da Cordilheira dos Andes - que eu também estudava nas aulas de Geografia Física, pintando as legendas com a mesma cor das montanhas. E me lembro também de uma certa banda de rock que tocava com baixo acústico, chamada Los Tres.

Agora me ponho a pensar por que raios eu nunca tinha cogitado viver um tempo, nem que seja pouco, en la tierra de Salvador Allende,Iván Zamorano, Roberto Bolaño...

Y Pedro Machuca.

7 comentários:

Anônimo disse...

Vc precisa ler Os Detetives Selvagens. Logo. E ver como os Andes, vistos de Santiago (do Cerro Santa Lucia), nao parecem montanhas, mas sim nuvens. Pedras (imensas rochas) pairando (leves, levissimas).

Anônimo disse...

Ótimo texto Renata, como sempre. É bom ver o Chile hoje e sentir que ele superou a ditadura e o populismo e hoje encontra-se no caminho da modernidade diferentemente do Brasil que continua sendo a mesma, nas palavras de João da Ega, choldra ignóbil!

Anônimo disse...

Delia, Delia...agora te senti em fofuras.

descompassada disse...

vamos pular juntas!

diego sieg disse...

Adorei seu blog... voltarei sempre!

beijos guria

Aurora Combs disse...

Ai Rê...casa comigo?
Te dou casa, comida e roupa lavada só pra vc ficar escrevendo essas coisas bonitas pra mim o dia todo!
Adoro!

Anônimo disse...

Machuca, passou esses dias na Tv Cultura. Ótimo filme. Tantas coisas para viver, tantos lugares, tantas histórias, e apenas uma Vida. Não sei se é mágico ou trágico (sei é uma frase de um filmes rs...).