sábado, 8 de novembro de 2008

Descobri que os fãs do Skank são felizes

Uau, onde estão todos os jovens modernosos, os neo-hippies e os hype-indies de classe média-alta? Onde estão todos os olhares blasé, todas as roupitchas da Galeria Ouro Fino, todos os All Stars, todas as costeletas e os cabelos milimetricamente desarrumados, as mulheres propositalmente bissexuais, onde estão as tintas vermelhas nos cabelos e sobretudo aquela velha depressão amiga, muita tristeza, muita melancolia, muito rock inglês?

Puxa! Quer dizer que os pós-modernos paulistanos não são os donos do mundo? Quer dizer então que as baladinhas do Baixo Augusta (é o baixo-high-society-oh-yeah!) não são o centro do mundo? Existe vida fora da matéria?

Existe, minha gente. No show do Skank de ontem, realizado no Citibank Hall no comportado & bastante beautiful bairro de Moema, zona sul da cidade, se reuniram garotas bem nascidas com todas as canções e onomatopéias de Samuel Rosa na ponta da língua, mulheres de salto alto - que dançaram felizes da vida por duas horas -, casais de namorados jovens, casais de meia idade se divertindo pra caramba, vestibulandos de 17 anos com transgressores copinhos de cerveja nas mãos, e egressos rebeldes da classe média da zona norte, como yo, achando tudo aquilo "legal".

Legal em termos. Legal sem emoção. Legal, mas cansativo depois de meia hora. Pelo menos não ofende. O Skank do show Estandarte não mudou nada. O Skank e a classe média limpinha, conservadora e bem comportada se dão bastante bem. É o pessoal do amigo secreto no Fridays. Mas eles têm todo o direito. "Samuel Rosa é alto astral", disse a bela quarentona atrás de mim. Eu também acho, dona. Simpático moço, sorridente e dedicado,animando a galera. Ele é charmosinho - e eu nunca tinha reparado nisso, que bom que agora eu percebi. Tem belas guitarras. Ele coleciona, né?

Henrique Portugal faz cara de bancário com sono, indo embora da pizzaria. Toca teclado e [finge que] toca violão. Lelo Zanetti é um bom baixista, discreto, na dele. Haroldo Ferreti está mais na dele ainda. E assim, tudo fica meio burocrático. Previsível. Mas o público nem liga.

O público não sabe cantar Helter Skelter. O público gosta de Skank mas não conhece Beatles. O público tem preguiça de buscar as referências musicais que os próprios músicos sublinham. A emblemática canção dos Beatles foi executada com a presença de Andreas Kisser do Sepultura, e membros ensebados daquela banda Cachorro Grande (...zzzzzzzzzz, atitude rock n´roll!, zzzzzzzz....). A emblemática canção dos Beatles terminou o show. O show não foi emblemático. Mas não tem problema. O Skank sabe fazer seus fãs felizes. Eu apenas não estou entre eles.