Observar a velocidade em que os peixes voam e soltam fogos de artifício enquanto o barco deixa pelo caminho seu rastro andarilho, solitário. Apreciar o negro do mar, o negro do céu e as inclassificáveis tonalidades de cinza que permeiam todos os espaços daquele imenso vazio. Perceber os ruídos e ecos da natureza ao procurar estrelas cadentes por todas as constelações visíveis do hemisfério sul. Nadar e mergulhar com vaga-lumes d´água, milhares deles, milhões, bilhões. Arrancar a roupa toda para abrir os poros e sentir-se livre. Permanecer de boca e olhos abertos, depois de sorrir aos queridos. Deixar que o corpo bóie inerte pela madrugada da revelação. Assistir o sol nascer mais belo por minutos incontáveis e contemplar as novas cores, uma por uma (na maior parte do tempo somos daltônicos). Silenciar pela manhã e cantar durante as refeições. Sentir que a braveza se esvai depois de dormir, acordar e perceber que não foi sonho. Soterrar os pés no solo marinho e, talvez, alcançar a outra borda - onde não podemos mais ser vistos. Visitar as pedras e as casas abertas. Desprender-se do ser para o sentir. É um viver suave, até partir. Nos veremos em breve.