sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O ciclo olímpico

No dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, eu estava apaixonada. Assisti parte das competições debaixo do edredom num quarto de hotel apertado no Rio de Janeiro, com os pés entrelaçados aos pés de outra pessoa, sem saber se lá fora chovia ou se fazia sol enquanto observávamos a vida selvagem do canário e do beija-flor pelas frestas de uma persiana vermelha. Comida e banho só existiam em breves intervalos e sem que a distância entre nós superasse o equivalente a uma régua de poucos centímetros, de modo que nossos elétrons giravam rapidamente em torno de um único e poderoso núcleo invisível para nossas retinas verdes e castanhas. Olimpicamente, concordávamos muito e assistimos a todos os jogos de vôlei evocando a presença de espírito de Marcia Fu. Era sofrido, mas era bom. Medalha de ouro! Bastava que puséssemos os pés na rua para que começasse um quebra-pau sinuoso pela geografia da zona sul. Era dos extremos. Nosso lugar era muito datado, muito cíclico, muito específico e muito intenso. But the times, the times are a-changing. Os jogos, hoje, são outros. 

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