Para evitar um fiasco de vendas, a produtora Time For Fun decidiu reduzir drasticamente os preços dos ingressos que restam para os shows de Madonna no Brasil em dezembro, conforme informações do jornal O Estado de S. Paulo. E bem, ainda restam muitos ingressos. Só não sei o que acontece com quem comprou antes a preços mais caros. É possível que vigore a lógica da liquidação comum às calças jeans & eletrodomésticos. Mas isso é assunto do Procon. Vamos aos fatos que interessam.
O show de Lady Gaga no Morumbi, no último dia 11 de novembro, tinha de fato muitos espaços sobrando. A razão entre o copo meio cheio e o copo meio vazio depende de outras variantes. A julgar pela política de "pague 1, leve 2" que vigorou por iniciativa do patrocinador master quando os ingressos encalharam, o pior foi evitado. Consideremos também a baciada nos sites de compras coletivas e os cambistas desesperados vendendo ingresso de R$300 por R$40 na porta do estádio.
Boa parte do público comemora com "bem feito!" frente aos produtores que, até 2011, esgotavam ingressos a preços caros com direito a confusão nos postos de vendas e reclamações sobre panes nos sistemas de e-commerce, além de uma versão peculiar das pistas VIPs com serviços bem mais chinfrins do que seus equivalentes europeus/americanos.
Boa parte do público comemora com "bem feito!" frente aos produtores que, até 2011, esgotavam ingressos a preços caros com direito a confusão nos postos de vendas e reclamações sobre panes nos sistemas de e-commerce, além de uma versão peculiar das pistas VIPs com serviços bem mais chinfrins do que seus equivalentes europeus/americanos.
Mas trata-se de dois big shows que, pelo menos em partes, aglutinam os mesmos consumidores. E eles desembarcam no Brasil com intervalo de menos de 30 dias e durante a baixa temporada do hemisfério norte, onde se concentra o faturamento grosso das turnês. Madonna tem quase 30 anos de vantagem sobre sua nova rival, com uma marca mais consolidada, dezenas de clássicos musicais e imagéticos do pop, maior influência cultural e comportamental, além de um público fidelizado nos moldes massivos da indústria do disco.
Apesar dos hits e da forte influência de Gaga nos últimos 5 anos, seus "little monsters" têm média de idade inferior. Boa parte concentra-se entre colegiais e universitários com menos autonomia e poder aquisitivo, dependendo dos pais para comprar ingresso e viajar para assistir shows. Conforme apurei em reportagem para o Valor Econômico, o share de turistas nos grandes shows internacionais pode ultrapassar 40% do público em cidades como São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.
Apesar dos hits e da forte influência de Gaga nos últimos 5 anos, seus "little monsters" têm média de idade inferior. Boa parte concentra-se entre colegiais e universitários com menos autonomia e poder aquisitivo, dependendo dos pais para comprar ingresso e viajar para assistir shows. Conforme apurei em reportagem para o Valor Econômico, o share de turistas nos grandes shows internacionais pode ultrapassar 40% do público em cidades como São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.
A Time For Fun representa com exclusividade no Brasil a promotora Live Nation, maior do mundo. A Live Nation possui contratos para gerir as turnês de Lady Gaga e Madonna, além de nomes mega-rentáveis e ultra-lucrativos como o U2. No caso de Madonna, um contrato "360°" com vigência de 10 anos foi firmado em 2007. Inclui seus álbuns, singles, licenciamento de produtos, merchandise oficial e turnês. As turnês são superproduções. Superproduções são caras. E no fim das contas, a Live Nation morde 10% do que Madonna arrecada. Mas deve pagar US$120 milhões à cantora ao longo destes 10 anos independente do que ela arrecadar.
Apenas em 2012, estima-se que a Rainha já tenha recebido entre US$30 e US$40 milhões pela parceria. Fazendo uma conta de quitanda, é como se ela tivesse virado uma "empregada de luxo": precisa cumprir a agenda de shows estipulada pela Live Nation para atingir suas metas de lucro. Em sua última turnê, a "Sticky & Sweet" (2 shows no Rio e 3 em São Paulo, 2008), Madge se estafou com o calendário abarrotado de apresentações.
Apenas em 2012, estima-se que a Rainha já tenha recebido entre US$30 e US$40 milhões pela parceria. Fazendo uma conta de quitanda, é como se ela tivesse virado uma "empregada de luxo": precisa cumprir a agenda de shows estipulada pela Live Nation para atingir suas metas de lucro. Em sua última turnê, a "Sticky & Sweet" (2 shows no Rio e 3 em São Paulo, 2008), Madge se estafou com o calendário abarrotado de apresentações.
Acontece que apesar da apresentação triunfal de Madonna no intervalo do Superbowl (evento de maior exposição e receita publicitária dos EUA), em fevereiro, o kickoff das vendas do disco ficou abaixo do esperado pela Live Nation. Aí você pensa: "ok, ninguém vende mais discos". Só que a perna da turnê "MDNA" numa Europa em recessão também não rendeu o suficiente. O empresário dela, Guy Oseary, chegou a pressionar a Live Nation para reduzir os preços e aumentar a venda de ingressos. Tanto Madonna quanto Lady Gaga não fizeram shows na Austrália, com um mercado de entretenimento habitualmente forte, mas saturado nesta temporada. A suposta má fase do setor em todo o mundo foi uma das justificativas da diretoria da Time For Fun para a baixa procura neste fim de ano.
Enquanto isso, o Rock In Rio comemora a venda de 80% dos ingressos para sua edição 2013 já na largada e sem confirmar todo o lineup, mas tendo como headliners nomes rentáveis do rock n' roll, como Bruce Springsteen e o Metallica, com público fiel. Capitaneada pelo Pearl Jam e agendada para março de 2013, em São Paulo, a segunda edição do festival Lollapalooza ainda não esgotou nenhuma de suas 3 datas com ingressos R$330 por dia, mas esgotou o primeiro lote com rapidez.
Alguém aposta que os preços dos ingressos cairão nos próximos anos? Que os festivais ganharão protagonismo e a era dos megashows solo pode estar no fim? Que a cauda longa gerará cada vez menos artistas com tamanho suficiente para as superproduções e grandes arenas? Um mapeamento inicial para fomentar a discussão foi publicado na New Yorker em 2009, mas ainda é válido. Leia aqui.
Enquanto isso, o Rock In Rio comemora a venda de 80% dos ingressos para sua edição 2013 já na largada e sem confirmar todo o lineup, mas tendo como headliners nomes rentáveis do rock n' roll, como Bruce Springsteen e o Metallica, com público fiel. Capitaneada pelo Pearl Jam e agendada para março de 2013, em São Paulo, a segunda edição do festival Lollapalooza ainda não esgotou nenhuma de suas 3 datas com ingressos R$330 por dia, mas esgotou o primeiro lote com rapidez.
Alguém aposta que os preços dos ingressos cairão nos próximos anos? Que os festivais ganharão protagonismo e a era dos megashows solo pode estar no fim? Que a cauda longa gerará cada vez menos artistas com tamanho suficiente para as superproduções e grandes arenas? Um mapeamento inicial para fomentar a discussão foi publicado na New Yorker em 2009, mas ainda é válido. Leia aqui.
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