quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

U2 na Irlanda tropical



Faz 30 graus celsius em São Paulo no exato momento em que uma gigantesca população de pulgas gordas & piolhos mastigadores parte em direção às barbas e cabelos de nossos hipsters universitários, nossos riquinhos hypes, nossos indies de xadrez e nossas garotas hippie-chics: todos se coçam, todos se ouriçam -- elas arrancam as peles, eles arrancam os pelos --, e o motivo não era um pássaro, não era um avião, eram somente os indefectíveis sinais da mesma grande banda que eles juram detestar.

Nada como um show do U2.

Se fosse o Morrissey, gritar e rasgar-se era pouco. Mas hipster que é hipster, despreza U2. Eles preferem idolatrar 99% das bandas lideradas por riquinhos hypes e indies de xadrez que idolatram U2. Ou então, ficam quietinhos no armário, caprichando na pose de cocô-blasé. [Discutiremos a sutil dicotomia entre assumidos e enrustidos numa próxima oportunidade]. Mas para todos eles, qualquer definição é fácil: Bono é só um tiozinho chatão, The Edge é um guitarrista bundão e foda-se se eles fazam um baita showzão. Pronto, resolveu-se o teorema.

Enquanto isso, pulgas gordas & piolhos mastigadores seguem saltitando em direção ao hype. E de repente, hipsters universitários, riquinhos modernosos, indies de xadrez e garotas hippie-chicks quase se estapeiam pelo show de Amy Winehouse. Eles adorariam frequentar a Rehab. Mas nem tudo é possível para os hispters. "Alô, mãe, tô aqui na Pista Vip! A Amy rolou no chão, deu bafón, quase morreu e vomitou na minha cara. Tirei foto!" Cinco minutos depois, toda a glória da Rehab cai por água abaixo no estacionamento do Anhembi.

Em todo caso, se Amy der um treco, levo no bico Janelle Monae e Mayer Hawthorne.

Mas aí vem o show do U2.
E o fã de U2 que não quer ouvir Pride está para Paul McCartney como quem cagou para Hey Jude. Se você também faz parte do clube, encoste aqui sua mãozinha na minha, e vamos ao banheiro químico para nos poupar do discurso humanitário e dos classicões clichês, que já perderam vigor ao vivo, mas seguem no set list para agradar amadores e salseiros. [Mentira, a gente no máximo bebe uma água e poupa a garganta para berrar mais no bloco seguinte].

Os hipsters já nos mandaram ao limbo das massas. Os ressentidos já reclamaram de tudo. Os super críticos a postos nos chamam de otários com propriedade e convicção. Duas coisas nos restam: comprar um ingresso e chorar na rampa em abril de 2011 com mais uma bela história para a coleção.

Aos desavisados
Mal começou a pré-venda exclusiva para o fã-clube e os primeiros corvos já babaram no anúncio de um setor "privilegiado", a Red Zone, com ingressos a R$1.000. Também acho loucura e só pagaria essa grana pra ver o espírito de Michael Jackson dançando Billie Jean exclusivamente pra mim. Mas nessas horas a gente precisa ser didático. Vamos lá:

1) A Red Zone não é uma pista premium como a de Paul McCartney, Madonna, e de festivais como o SWU, em que se paga mais caro para ficar em frente ao palco, criando um clima de Israel X Palestina entre os setores da plateia. Trata-se de um camarote lateral próximo ao palco, com comes & bebes à vontade, produtos do merchandising oficial grátis e outros mimos. É um modelo de setor muito praticado fora do Brasil.

2) O valor líquido de cada ingresso, descontando impostos e a taxa da T4Fun, será revertido para um fundo global contra a Aids. Informações aqui:
www.joinred.com

3) O camarote não impede que os fãs da pista comum cheguem à grade e permaneçam na frente.
Muito pelo contrário. Procurem os vídeos, fotos e mapas de palco da 360° Tour e entendam: dentro do snakepit, estão os fãs que pagaram pista comum e chegaram primeiro. Isso é praxe nos shows do U2. Foi assim em 2006, quando eu estive no Morumbi dois dias seguidos.

4) O palco é enorme, redondo, centralizado na arena e cercado por uma garra gigante e um telão giratório que tornam possível uma boa experiência sensorial até para quem está longe. Quero dizer, isso é o que diz quem já assistiu a 360° Tour na Europa ou EUA.

5) Não é barato trazer uma parafernalha dessas pra América do Sul, que entrou na rota dos big shows outro dia. Mesmo assim, a média de preço dos ingressos dos U2 para todos os setores não é superior às de Madonna, Paul McCartney e Bon Jovi, que trabalham com estruturas menores de palco. Além do mais, nas pistas premium israelitas destes shows, não havia comida, bebida, produtos oficiais e outros mimos grátis. Muito menos renda revertida para salvar criancinhas, baleias ou coisas do tipo.

6) Fácil culpar as bandas pelo preço dos shows. Mas é preciso fazer uma apuração inteligente e aprofundada
pra ver como essa conta fecha e de quanta gente esse dinheiro de ingressos vai molhando a mão até chegar nos véios magnatas do rock.

Não, ninguém é obrigado a aguentar chatice politicamente correta ou apoiar o que alguns dizem ser "o U2 fazendo cortesia com o chapeu dos outros". Tampouco alguém é obrigado a comprar Red Zone, ou muito menos a ir ao show.

Informações sobre ingressos: www.ticketsforfun.com.br

4 comentários:

Leninha disse...

IN THE NAAAAME OF LOOOOVE! WHAT MORE IN THE NAME OF LOVE????
prefiro chatices politicamente corretas que qualquer bandinha que finge que é Rock... acho válida atitude, bem melhor que aqueles que tem seus quinze minutos de fama, acham que estao milionarios e torram só com coisas inúteis...

Bono é chato? Discordo... chato é Restart...

amo U2 DE PAIXÃO! Pela história, pela trajetória, pelas músicas, por tudo... até de Pride eu gosto!

Marcos Lauro disse...

Estaremos lá!

Felipe Salomão disse...

D'Elia, EU TENHO QUE IR!!! Dia sete "semo nóis" com dedo sangrando no telefone de novo!

Patricia Rocha disse...

Adoro ler seus textos. Juro que visualizei uma fila de pulga e piolhos seguindo fileiras de all stars.

coisa mais linda show do U2, cambada tem que respeitar!

abr