sexta-feira, 8 de outubro de 2010

New Jersey





No mundo dos frontmen carismáticos, Mick Jagger é Lúcifer, Bono é o Messias, Dave Gahan é Dioniso e Jon Bon Jovi é um anjinho de cera. Jagger excita, Bono hipnotiza, Gahan machuca e Bon Jovi sorri. Com sorriso Colgate. Ininterruptamente. Por 3 horas consecutivas. Animando menininhas entre os 15 e os 50 anos, empolgando alguns marmanjos, fingindo lagriminhas nas manjadas canções de amor noventistas. Sérios indícios bregas, e daí? Eu ali, na arquibancada azul; e o Bon Jovi no país da escova com laquê. Gigantesco no telão, ele, sua calça colada, sua tatuagem de Superman no braço esquerdo.

São trutas. Se comprimentam com aperto de mão entre as músicas. Tudo vai bem. Guitarrista competente, Richie Sambora sola previsivelmente. Tico Torres, modelo tchuby 2010, completava 57 anos naquela noite de 6 de outubro, suando e se matando de tanto bater [a cada pratada, um frio na barriga: "vai infartar, porra!"]. No teclado, um David Bryan discreto como uma ovelha & suas notas pasteurizadamente românticas, com cara de made in Miami. Sem ele, metade do clima vai pro chão. Mas a plateia nem tchuns. Todos estão envelhecidos, menos Jon, que vive no formol. Ele empunha um violão, depois guitarra, e até sola de vez em quando.

Num palco em que Jagger grita, Bono mia e Gahan sussurra, Jon Bon Jovi geme. E rebola. Faz biquinho. Bota a mão no peito. Faz que sofre. E depois sorri. Sorriso Colgate. A mulherada grita. E depois chora pra valer. Uma delas só de sutiã. A outra taca um pedaço da roupa no palco. Jon Bon Jovi pisca. E depois vira. A bundinha faz a festa no telão. E o estádio todo canta You Give Love a Bad Name [num dos raros momentos saltitantes do show], depois Always e These Days, tudo igualzinho ao que a gente ouvia no CD, voltando da escola. Jon no pôster da Bizz pendurado na porta. Jon de todos os tamanhos, em cristal líquido, em milhões de polegadas.

Ele ergue os braços. Há duas pizzas na camiseta azul. Imagino: deve ter chulé! Perto dos Rolling Stones, do U2 e do Depeche Mode, um show do Bon Jovi é meio brega, meio água com açúcar, meio produção pobrinha. Mas e daí? Lá vamos nós cantando outra vez.

Não faltaram hits. Bad Medicine deve ter tido uns 20 minutos, entrecortados até por uma cover de Pretty Woman. O público agindo como nas arquibancadas do vôlei masculino: gralhas e mais gralhas, felizes e contentes, ecoando para além do Hospital Albert Eistein. Poucas músicas novas. Uma pausa com cara de fim. E os pobres trabalhadores subindo a rampa, desesperados com a meia-noite. Veio ainda Bed Of Roses: nem Zezé di Camargo faria melhor. Mas e daí? Quem pagou, foi embora feliz.

"Toca Hey God!", eu gritei, em vão. E sumi na multidão 5 minutos mais cedo, para evitar a muvuca. Testemunhas dão conta de que Jon Bon Jovi sorriu até o fim.

5 comentários:

Unknown disse...

Texto delicioso!!!
Me deu ainda mais tristeza de não ter ído.. whatever. :(
Um sorriso do Bon Jovi pra vc! =D
Beijo!

Heloisa

Unknown disse...

Meu, nem curto o BJ, conheço poucas músicas do cara, mas confesso que seu texto me deu uma puta vontade de ter ido ao show!

João C. Baptista disse...

Brilhante! VIVA!

Larissa Rodrigues disse...

Quase consegui gostar do Bon Jovi depois de te ler. A última vez que eu tentei ver/ouvir qualquer coisa do Bon Jovi, meu irmão abandonou o barco e me deixou sozinha na sala, aí eu coloquei as pantufas e fui dormir. Pra mim ele parece um bonecão de cera, mas olhando pelo teu prisma, as coisas parecem bem mais palatáveis, quiça, adoráveis.

Andrea - Andy disse...

Rê,


Fui fã do BJ na minha adolescência! Fui naquele show de OUT/1995 (RJ). Gostava de cantar alto suas músicas "meio clichês", hahaha... hoje elas já não fazem parte do meu repertório. Mas... Eu teria ido ao show feliz da vida, se não estivesse de "molho" em casa me curando de um dodói.
Seria como voltar a um passado não muito distante.

Eu dei altas gargalhadas com o seu texto e é isso aí... Você disse tudo e mais um pouco. :)
Pereito!

Bjimm,

Andy.