Eu andava muito distante de qualquer laudinha por essas bandas. Mas aí me encontrei virtualmente com o Bruno Lofreta e, depois de algumas horas de conversa sobre geleias, goiabadas e rock n' roll, lembrei de uma cena da Avenida Paulista, em frente ao escadão da gloriosa Fundação Cásper Líbero, dias antes do Natal de 2005. Final de tarde. Era um casal terminando um relacionamento: um homem alto, magro e de expressão anestesiada, frente a uma mulher branquela & pequenina, de cabelos curtos, que chorava histérica ao som dos primeiros trovões antes da tempestade de verão. Ela se agarrou às mãos dele. Ele se soltou, disse alguma coisa, e deu no pé. Ela permaneceu aos prantos por cerca de, sei lá, um minuto e meio. Depois usou a bolsa para cobrir a cabeça no meio da enxurrada e se mandou no sentido contrário.
Milhões de filmes projetados na memória naquele intervalo.
O Bruno então me pediu, de cabeça, uma lista de 3 cenas românticas do cinema. E como eu sou teimosa, resolvi fazer uma lista das 10 que mais me marcaram, do pop ao clássico, do brega ao cult. Depois o Bruno deu a dele, certamente mais econômica e, acho eu, tão certeira quanto a minha. O problema é que nem tudo na vida -- de verdade ou de mentira -- é feito de milk & kisses. E daí que tudo isso não passa de um clichê? Quando os finais não são felizes, o que vale passa a ser a travessia e seus melhores recortes. Não é?
1) Body Heat (Lawrence Kasdan, 1981)
William Hurt usa uma cadeira para quebrar a porta e invadir a casa de Kathleen Turner antes de lhe dar um beijo, literalmente, cinematográfico. Amor bandido, paixão desgraçada!
2)Um Homem, Uma Mulher (Claude Lelouch, 1966)
Jean Louis Trintignant é um piloto de automobilismo. Anouk Aimée é uma linda mulher. Eles se aproximam e se apaixonam, totalmente à francesa. A trilha tem Francis Lai em arroubos bossanovistas, inclusive versões para Vinicius de Moraes e Baden Powell. Jean Louis e Anouk deitam-se na cama. A trilha sonora cede ao silêncio. Minutos depois, os olhos dela a transportam para outro lugar, por cima dos ombros dele. Por falta da cena na internet, contentem-se com o trailer ou comprem o DVD. Vale a pena.
3) Paris, Texas (Wim Wenders, 1991)
Clássica e insubstituível. Natassja Kinski é Jane, uma stripper que se prepara para satisfazer os desejos voyerísticos de mais um cliente numa cabine de sacanagem. O que ela não sabe é que do outro lado do vidro está Travis, seu ex-marido, que fora encontrado sem memória numa estrada deserta americana e, aos poucos, começa a juntar os cacos do passado em sua memória.
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4)9 e 1/2 Semanas de Amor (Adrian Lyne, 1986)
Momento fetiche-clichê. Mickey Rourke e Kim Basinger, dentro e fora da pele de seus personagens, eram provavelmente as pessoas mais sexies do mundo em 1986. Bryan Ferry -- na trilha sonora -- continua sendo um baita coroa. Na maratona sexual do casal super poderoso, além da clássica cena do strip-tease ao som de Joe Cocker, a bela trepada no maquinário do relógio público é digna das melhores fantasias coletivas, aposto e ganho.
5)Não Amarás (Krysztoff Kislowski, 1988)
Nas mãos de qualquer outro diretor, a história do garoto solitário e obsessivo, que cultiva um amor platônico pela mulher promíscua do apartamento vizinho, a qual espiona diariamente com um telescópio, se tornaria piegas e banal. Acompanhado pela trilha sonora de Zbigniew Preisner, por dentro de um distrito comunista da Polônia, Kieslowski constrói uma narrativa poética sobre solidão e incompreensão acima de qualquer moralidade. Acredite: mostrar a cena final não estragará em nada seu prazer de assistir a este puta filme.
6) Hannah & Suas Irmãs (Woody Allen, 1986)
Elliott (Michael Caine) é casado com Hannah (Mia Farrow), mas cultiva uma paixão secreta pela cunhada April (Carrie Fisher), que aguenta um casamento neurótico com um artista plástico insuportável (esqueci e não procurei o nome do ator). Elliott e April encontram-se numa rua em Nova York e adentram uma livraria. Ele a presenteia com um livro de e.e.cummings e pede para que leia o poema da página 112. O resto é só uma cena epifânica, como pede um poema excepcional. "Nada/nem mesmo a chuva/tem mãos tão pequenas". Viva Woody Allen!
7)Nosso Amor de Ontem (Sydney Pollack, 1975)
A militante esquerdista Katie (Barbra Streisand), cá entre nós, é bem da desleixada, mas consegue arrebatar o bonitão popular Hubbel (Robert Redford) e levá-lo bêbado pra casa.
8) A Primeira Noite de Um Homem (Mike Nichols, 1967)
Uma noiva roubada no altar. Quantas comédias românticas e novelas da Globo tentaram copiar! Mas eles não têm a audácia de Dustin Hoffmann, nem a música de Simon & Gurfunkel tampouco a casualidade de um ônibus suburbano nos Estados Unidos dos anos sessenta.
9) Encontros e Desencontros (Sofia Coppola, 2002)
É proibido incorporar, mas não assistir. E dessa vez eu não explico nada.
10) Simplesmente Amor (Richard Curtis, 2003)
Momento comédia romântica: Mark bate à porta de Juliet, que está prestes a se casar. Ele faz uma declaração de amor com cartazes, em silêncio. Incorporação desativada, veja aqui.
Momento comédia romântica: Mark bate à porta de Juliet, que está prestes a se casar. Ele faz uma declaração de amor com cartazes, em silêncio. Incorporação desativada, veja aqui.
3 comentários:
Muito boa a lista, mas eu ainda acrescentaria Brokeback Montain, na última cena, quando Heath Ledger abre a porta do armário e contempla a camisa do amado. De uma sutileza e delicadeza incomparáveis...
(...) é batido citar cenas de filmes como 'Romeu e Julieta' ou de 'Ghost, mas assim que li seu post tentei - também de cabeça - lembrar d algumas cenas romântica e nenhuma das quais citou me veio a cabeça. E eu as achei incríveis cada uma delas, principalmente 'Body Heat'; "amor bandido, paixão desgraçada!" Genial, Renata!
(...) é batido citar cenas de filmes como 'Romeu e Julieta' ou 'Ghost', mas assim que li seu post, tentei - também de cabeça - lembrar de algumas cenas românticas e nenhuma das quais citou me veio a cabeça. E eu as achei incríveis, cada uma delas; principalmente 'Body Heat' - "amor bandido, paixão desgraçada!". Genial, Renata!
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