O capítulo seguinte chama-se ressaca. Olha, cara, fazia um bom tempo desde a minha última ressaca. A rigor, estou bebendo melhor e bem menos. Como melhor mas não necessariamente menos. Ouço música melhor, na mesma quantidade e com a mesma intensidade de sempre, apenas mais contemplativa (afinal de contas, não dá pra fingir ou crer que a gente vá virar uma Janis Joplin ou uma Patti Smith a esta altura do campeonato). Tenho muito menos preconceitos estéticos importados da modernice babaca da vez. Leio muito menos resenhas musicais do que antes. É como se eu não precisasse mais de pretensos críticos de nada, o que não elimina meu gosto pela lenha na fogueira sobre qualquer assunto. Deve ser amadurecimento. Ou apenas o botão do foda-se, cada vez mais proeminente aqui no meio da minha testa. Viu?
Itamar Assumpção & Banda Isca de Polícia - "Beleléu, Leléu, Éu"
O que eu queria mesmo era o tal do especial da TV Cultura, em DVD, gravado em 1983 no auge do Lira Paulistana. "Eu não tô mais afim de curtir a tua, e nem de ficar tomando na cara!" Não achei. Suzana Salles genial, Virginia Rosa brilhante, baita bandaça! Hey você, fã da vanguarda Marcelo Camelo & Mallu Magalhães: pega no meu beleléu, leléu, éu e balança! "Entreguei meu sangue e o meu plasma, plasma, plasma, plasma". Muito carinho, Itamar.
Brian Wilson - "Smile"
Nunca fui muito ligada em Beach Boys, simplesmente porque achava aquilo tudo muito certinho, muito apolíneo, muito Beatles e pouco Rolling Stones pro meu gosto. Mas além do Pet Sounds, que é bonito demais acima de tudo, tive contato tardio com Smile, o projeto que os anos loucos afastaram de Brian, até que Brian afastasse de vez seus fantasmas e encarasse de frente essa parada harmonicamente genial, tão cheia de lirismo e cores. Tanta coisa feita pra se ouvir de joelhos: Child is The Father Of The Man e Surf´s Up entre elas.
George Harrison - "Let It Roll - The Best Of George Harrison"
Pra não dizer que não falei de um beatle, ataquei logo com essa coletânea lançada recentemente pela viúva do pisciano da turma. Não chega perto de um "spiritual game", mas tem acordes primorosos de guitarra, tudo muito bem arranjado, e com doses bem menores da chamada assepsia Paul McCartney. George é nosso hare-kirshna, and still his guitar gently weeps nas pequenas belezas de Ballad Of Sir Frankie Crips, Marwa Blues e My Sweet Lord. De como transformar um domingo morto numa imensa alegria, capítulo inicial.
Marlena Shaw - "Anthology"
Hey você, que acha que Beyouncé faz "música negra" e canta pra caramba: toma essa! Hey você, que adora dizer que é fã de Nina Simone (só pra pagar de culto na rodinha): tome mais uma também! Podemos conversar daqui a 10 dias? Vá esquentando com Loving You Was Like a Party ou Feel Like Making Love e Liberation Conversation, foxy. Solte essa cintura. Te aguardo, gato.
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