terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O fator Conrad Murray

Mesmo após Conrad Murray, médico pessoal de Michael Jackson, ter sido indiciado por aquele homicídio culposo que aconteceu em 25 de junho de 2009, na casa do cantor, em Los Angeles, nenhuma sensação de justiça pairou sobre os fãs ou sobre o famoso clã. A pena máxima, segundo a lei da Califórnia, é de 4 anos para crimes definidos por imprudência ou imperícia, em que não há intenção de matar. Mesmo que tamanha imprudência e imperícia pareçam propositais: de acordo com aos resultados da necrópsia divulgados na íntegra pelo TMZ, o cantor teve uma parada cardiorrespiratória provocada pelo excesso de medicamentos perigosos, ministrados em doses cavalares e concomitantes, que sequer deveriam ser aplicadas fora de um centro cirúrgico. O laudo também informa que o estado de saúde geral de Michael Jackson era bom, apesar de toda aquela papagaiada de plásticas e outros exageros.

Ora, Michael Jackson era mesmo um cara genial: a América, afinal, é um imenso país de mortos-vivos narcotizados mais assustadores que os zumbis de Thriller. Aliás, as doses absurdas de remédios que ele tomava eram receitadas por doutores badalados de Hollywood. Com tanto dinheiro no bolso, não foi o primeiro nem o último a se intoxicar com uma cacetada de drogas lícitas que, nessa América mórbida, só não vão matar a máfia podre de colarinhos brancos por trás da indústria farmacêutica. Traficante que se preze não consome o que vende, certo?

Alguns vão à falência. É o caso do dermatologista Arnold Klein, outro médico pessoal de Michael Jackson, que quase foi despejado poucos meses após a morte do cliente mais lucrativo. Conrad Murray, ao que tudo indica, era um cara legal que se envolveu com várias mulheres e se encheu de filhos e de pensões a pagar. Suas dívidas estavam estimadas em mais de 700 mil dólares quando Michael Jackson lhe ofereceu um emprego como médico pessoal por um salário de 150 mil dólares mensais. Paciente mimado, pressionado pela roda do showbizz, com histórico de dependência química, pagando especificamente por drogas prescritas? Sim, pode ser. Mas aceitar o trabalho sujo é assumir o comando da bocada. Murray assinou seu contrato de prostituição. E além de tigrar feio, tigrou com quem não devia.

Após o indiciamento, o Conselho de Medicina da Califórnia pediu a revogação da licença médica de Murray alegando "desprezo pelo bem-estar das pessoas confiadas a seu cuidado", mas o juiz , ironicamente, apenas proibiu o médico de prescrever anestésicos. E os americanos continuam longe de frear essa pandemia estimulada por curandeiros salafrários oriundos das grandes universidades. Espero apenas que, dentro do possível, a justiça seja feita e que os filhos de Murray e Jackson consigam ter alguma paz daqui para frente.

Foto: Conrad Murray em frente ao túmulo de Michael Jackson no cemitério Forest Lawn/TMZ. Sim, ele foi lá. Tire suas conclusões.

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