Namoradas e namorados, saibam que o amor é a força que move o rock and roll.
Não o amorzinho sanitizado, cabeça-zona-sul, que deu forma, por exemplo, ao rock brasileiro dos anos 80 ("você não soube me amar", "ursinho Blau-Blau", "não posso mais ficar assim ao seu ladinho", "não há nada de novo, ainda somos iguais").
Falo de rock de verdade e amores proibidos, torturantes. Sofrimento e dúvida.
Do amor sob o ponto de vista da genial Thalia Zedek (vocalista do Come), habitante de um universo sombrio, onde as coisas saem quase sempre erradas e paixão e martírio se confundem.
Das emoções em pedaços de Ian Curtis (1956-1980), o poeta suicida do Joy Division que morreu há quase 20 anos e cuja influência ainda angustia bandas mundo afora.
Da libido balofa de Elvis Presley, dos vabagundos sem rum cantados por Neil Young, das perversões de Lou Reed e o Velvet Underground.
Do amor com cara de mau dos Rolling Stones; dos jovens inseguros, trancados em casa, de Brian Wilson e os Beach Boys.
"Mão na luva/ A gente pode ir aonde você quiser/ E tudo depende de você/ Ficar sempre perto de mim." Isso é "Hand in Glove", dos Smiths, aberta a todas as interpretações possíveis, mas quem se importava ou percebia, nos introspectivos anos 80?
Da voz única de Chrissie Hynde, dos Pretenders, autora de baladas que nos faziam, como escreveu há 15 anos um velho jornalista brasileiro, querer que as estrelas fossem de vidro, para que pudéssemos reduzi-las a pó, uma a uma.
Do amor ao som de rock nos bailinhos de garagem em sábados gelados, do som triste para ouvir sozinho(a) em casa.
Da paixão mutuamente destrutiva de Sid Vicious (1957-1979), dos Sex Pistols, e sua mulher, Nancy Spungen. E até do arranca-rabo 24 horas por dia entre a megera Courtney Love e seu querido suicida Kurt Cobain (1967-1994), a alma do Nirvana.
Das baladas brutalmente honestas dos Foo Fighters, do videoclipe mais maravilhoso de todos os tempos, "Dirty Boots", do Sonic Youth.
Do amoral Jerry Lee Lewis e seu casamento (o terceiro), com uma prima de 13 anos de idade.
Do reverso do amor, dos lábios de açúcar cantados por Ian McCulloch e o Echo and the Bunnymen.
Das adolescentes alucinadas que morrem de amores por bonitinhos sem talento, como Menudo, Bush, Bon Jovi ou até os Bay City Rollers (escoceses que fizeram sucesso na década de 70).
Dos bêbados com bom humor do Reverend Horton Heat, da melancolia infinita do sempre derrotado Roy Orbison.
A vida é louca e você sabe, baby. Quem avisa é Iggy Pop.
*Alvaro Pereira Junior, para a Folha de S. Paulo, em 09/06/1997.
Um comentário:
Só por ter citado Lou Reed e Neil Young, matou a pau. E ainda é bem escrito. Bela escolha. :)
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