Seu cabelo já era: você toma chuva sem parar há mais de duas horas, as nuvens carregadas desabam na cidade inteira e suas mãos congelam coladas numa lata de cerveja aguada enquanto as filas se desdobram ao redor do estádio. É segunda-feira, estava calor até agora, e você já meteu as canelas em meia dúzia de póças d'água de procedência duvidosa, desejou que seus óculos de grau tivessem para-brisas e desembaçadores, e não consegue enxergar direito o palco do alto do seu metro e sessenta.
Enquanto isso, Paul McCartney atravessa a Marginal Pinheiros na contramão.
Obrigada Senhor pelos sapos engolidos e haja dinheiro pra financiar tanto escapismo. Não importa. Quando você menos espera, um velho baixo com formato de violino e um beatle modelo original 1942 estão em cima do palco. Nunca um divisor de águas da música pop te fez tanta diferença.
Você sorri em Jet
Você liga para sua mãe ouvir All My Loving na secretária eletrônica
Você delira em My Love
Você abraça amigos em Blackbird
Você observa amigos emocionados em Eleonor Rigby
Você canta de olhos fechados em Something
Você sorri sem parar em Band On The Run
Você toca uma guitarra imaginária em Day Tripper
Você expia demônios em Live And Let Die
Você quase morre em Helker Skelter
Você suporta até Ob-la-di-Ob-la-Da
Tanta gente blasé, com baldes de água fria sempre a postos. Para todos estes, caga-se e anda-se com desenvoltura.
Paul is life.
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Rápidas & rasteiras
1. Comprovado: camisa xadrez é o novo abadá. O novo Fusca azul calcinha. A nova elanca escolar. Válida como cédula de identidade indie tanto em shows de jazz-pop ao ar livre quanto na fila da Monga do Playcenter. A constatação foi feita durante pesquisa de campo da D'Elia Inc. & Consultores Associados no festival Planeta Terra, botecos da Rua Augusta e no concerto da cantora Norah Jones no Parque da Independência, em São Paulo, no mês de novembro. Assim como nas tribos indígenas sul-americanas, o grau de iniciação e hierarquia do membro em sua patota pode ser medido pela combinação da indumentária e com cortes de cabelo, aneis, tatuagens, alargadores de orelha, rostinhos blasé e óculos Ray Ban com lentes transparentes.
2. Viva a micareta indie!
3. Palmas para Norah Jones com banda entrosada, voz perfeita e repertório baseado em seu disco mais recente. Vaias pra quem reclamou disso. Até porque, hits de novela como Come Away With Me e Don't Know Why também figuraram no set list. Som com pequenos delays, mas ainda bom dentro dos padrões deste tipo de evento.
4. Tem indie jurando que o show do Hot Chip foi melhor que o do Pavement ou Smashing Pumpkins no festival Planeta Terra. Não, queridos. Arroz, feijão e umas aulinhas pra vocês. Billy Corgan tocando com o Karatê Kid na bateria e os sósias de James Iha e D'Aarcy é mais profissional e certeiro que quase o resto do festival junto. Take note.
5. Planeta Terra é, neste momento, o melhor festival de música do país. Pelo menos in Saint Paul Of The Rain. A começar pela ideia muito louca de se realizar no Playcenter, com os brinquedos todos funcionando. Vaias para a falta de táxis na saída, preço da cerveja e lotação nos bares. Ideias sustentáveis e astutas como a do festival Coachella, em que é possível trocar 10 copos descartáveis sujos por 1 cerveja geladinha, ainda não são aproveitadas por essas bandas.
6. Um carinha no bar tentou me convencer de que o aluguel da Chácara do Jockey não é mais barato do que o do Anhembi e outros espaços do gênero. Disse que não se pode culpar a produção dos shows pela "inacessibilidade" de determinados lugares; é tudo culpa do transporte público precário e ponto. E aí eu respondo: não, não e não, amigão. O transporte público, de fato, é ruim. Mas se a Chácara do Jockey não é mais barata que o Anhembi, o que justifica repetidas escolhas de um lugar barrento e cercado por vias estreitas e escuras em detrimento ao sambódromo, cercado de vias largas e de fácil acesso ao centro e marginais, próximo ao metrô e à rodoviária, com estacionamento suficiente para o público de eventos do porte do Carnaval à Fórmula Indy? Aluguel para outros eventos, licenças e alvarás, lobbys e outras questões até podem explicar.
7. Lou Reed com a banda do Metal Machine... passo pra quem viu e amou.
10 comentários:
eu abracei em Blackbird, me emocionei em Eleonor Rigby, sorri o tempo, sem parar, e não consegui esquecer do show por um segundo do dia. foi lindo!
eu abracei em Blackbird, me emocionei em Eleonor Rigby, sorri o tempo todo, sem parar, e hoje não consegui esquecer do show por um segundo do dia. foi lindo!
'xadrez eh o novo abadá' - essa eu vou incorporar! hahaha
e amanhã saio de abadá pra comemorar!
Yes, Paul is life! =)
Adorei o post!
EU CONTINUO USANDO MEUS XADREZ, FODAM-SE ELES.
meu! é foda o que esses modismos fazem... eu não vou jogar minhas camisetinhas xadrez de 5 anos atrás, NÃO VÔ! eu tava de xadrez na norah jones, hehe. uma das minhas xadrez verde, pq eu admito que os xadrez verde me atraem pra eles. foda! parece que eu to ca mesma roupa SEMPRE... e o vermelho e branco, que meu irmão chamava de toalha de cantina italiana e meu patrão de 2 anos atrás me chamava de peão de boiadeira =/ agora vem esses MERDINHAS estragarem tudo. vão pa puta que pariu. XADREZ ONTEM, HOJE E SEMPRE. quero ver esse bando de escrotos cuspirem no meu xadrez quando a moda passar...
HAHAHAHAHAHAHA,a Rita revoltada!
billy corgan é um cara chato, tem uma banda chata, com músicas chatas e uma apresentação ao vivo mais chata ainda.
hahaha!
hot chip ao vivo foi sim o melhor show do planeta terra. seguido de yeasayer, toma nota!
beijo, re. saudade!
paul is life
e pau no c. dos camisa xadrez sem personalidade
Alguém aí se habilita a dar umas aulas básicas pro Fê parar de ser indie de abadá? hahahaha =D, kisses!
"Billy Corgan tocando com o Karatê Kid na bateria e os sósias de James Iha e D'Aarcy é mais profissional e certeiro que quase o resto do festival junto. Take note." TE AMO.
/fendie: quem ama música ama o billy corgan chato como ele é.
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