Algumas canções me lembravam chuva. O som da chuva - silêncio & exílio. Eu tinha medo, tinha sombra e também solidão quando as tardes desaguavam repentinas, e por isso me comunicava no idioma secreto de Tar - embora eu nunca tenha estado em Tar - cercada de pernas gigantescas & pessoas com muita seriedade na vida. Depois fui saber que toda chuva é feita de saudade ou de memória do futuro, como a maioria das canções: você só precisa escolher a sua chuva e guardar pra ela uma canção. Desde então, passei a colecionar saudades & memórias, além de guardar canções para diferentes chuvas.
Eu sou daquelas com facilidade de fundir e separar. Primeiro eu junto tudo. Aí separo as roupas por cores, os sonhos por estações, os filmes por gênero e as canções em duas categorias mundiais: "sol & grama" e "grama & chuva". Odores acompanham. De toda a classe dos cheiros, os mais fáceis de guardar são das flores de cemitério, limonada de garrafa térmica, grama, e chuva. Por isso mesmo é muito fácil sonhar. Basta ouvir a primeira nota, e pronto: o cheiro vem fácil. A grama, como sempre, gruda no corpo e traz consigo um país de formigas.
Não basta ter canção & chuva, tem que saber filmar. Já guardei canções para tempestades londrinas, gotas frias de Moscou e ano novo em Paris: sempre à noite. Tem também uma que eu guardei pra contar até 15 de olhos fechados no meio do viaduto vazio, e uma para se equilibrar na guia [em fase de testes desde 1995]. E claro, já escolhi também a do momento exato em que que o espermatozóide corre feito um raio, triunfante, até fecundar o óvulo e fundir-se, exausto, numa célula mágica, enquanto eu brinco de nado sincronizado nos lençóis e cortinas do quarto azul. Estaremos vagabundos e radiantes, num hotel fantasma à esquerda do portal para a cidade proibida. Nos olharemos pelo breve instante que antecede uma pequena explosão do outro lado da rua. Fade out.
Eu sou daquelas com facilidade de fundir e separar. Primeiro eu junto tudo. Aí separo as roupas por cores, os sonhos por estações, os filmes por gênero e as canções em duas categorias mundiais: "sol & grama" e "grama & chuva". Odores acompanham. De toda a classe dos cheiros, os mais fáceis de guardar são das flores de cemitério, limonada de garrafa térmica, grama, e chuva. Por isso mesmo é muito fácil sonhar. Basta ouvir a primeira nota, e pronto: o cheiro vem fácil. A grama, como sempre, gruda no corpo e traz consigo um país de formigas.
Não basta ter canção & chuva, tem que saber filmar. Já guardei canções para tempestades londrinas, gotas frias de Moscou e ano novo em Paris: sempre à noite. Tem também uma que eu guardei pra contar até 15 de olhos fechados no meio do viaduto vazio, e uma para se equilibrar na guia [em fase de testes desde 1995]. E claro, já escolhi também a do momento exato em que que o espermatozóide corre feito um raio, triunfante, até fecundar o óvulo e fundir-se, exausto, numa célula mágica, enquanto eu brinco de nado sincronizado nos lençóis e cortinas do quarto azul. Estaremos vagabundos e radiantes, num hotel fantasma à esquerda do portal para a cidade proibida. Nos olharemos pelo breve instante que antecede uma pequena explosão do outro lado da rua. Fade out.
Um comentário:
Pois é Delia, é como você fala: underground mesmo é o Jaçanã.
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Postar um comentário