Faz 30 graus celsius em São Paulo no exato momento em que uma gigantesca população de pulgas gordas & piolhos mastigadores parte em direção às barbas e cabelos de nossos hipsters universitários, nossos riquinhos hypes, nossos indies de xadrez e nossas garotas hippie-chics: todos se coçam, todos se ouriçam -- elas arrancam as peles, eles arrancam os pelos --, e o motivo não era um pássaro, não era um avião, eram somente os indefectíveis sinais da mesma grande banda que eles juram detestar.
Nada como um show do
U2.Se fosse o Morrissey, gritar e rasgar-se era pouco. Mas hipster que é hipster, despreza U2. Eles preferem idolatrar 99% das bandas lideradas por riquinhos hypes e indies de xadrez que idolatram U2. Ou então, ficam quietinhos no armário, caprichando na pose de cocô-blasé. [Discutiremos a sutil dicotomia entre assumidos e enrustidos numa próxima oportunidade]. Mas para todos eles, qualquer definição é fácil: Bono é só um tiozinho chatão, The Edge é um guitarrista bundão e foda-se se eles fazam um baita showzão. Pronto, resolveu-se o teorema.
Enquanto isso, pulgas gordas & piolhos mastigadores seguem saltitando em direção ao hype. E de repente, hipsters universitários, riquinhos modernosos, indies de xadrez e garotas hippie-chicks quase se estapeiam pelo show de Amy Winehouse. Eles adorariam frequentar a Rehab. Mas nem tudo é possível para os hispters. "Alô, mãe, tô aqui na Pista Vip! A Amy rolou no chão, deu bafón, quase morreu e vomitou na minha cara. Tirei foto!" Cinco minutos depois, toda a glória da Rehab cai por água abaixo no estacionamento do Anhembi.
Em todo caso, se Amy der um treco, levo no bico Janelle Monae e Mayer Hawthorne.
Mas aí vem o show do U2.
E o fã de U2 que não quer ouvir Pride está para Paul McCartney como quem cagou para Hey Jude. Se você também faz parte do clube, encoste aqui sua mãozinha na minha, e vamos ao banheiro químico para nos poupar do discurso humanitário e dos classicões clichês, que já perderam vigor ao vivo, mas seguem no set list para agradar amadores e salseiros. [Mentira, a gente no máximo bebe uma água e poupa a garganta para berrar mais no bloco seguinte].
Os hipsters já nos mandaram ao limbo das massas. Os ressentidos já reclamaram de tudo. Os super críticos a postos nos chamam de otários com propriedade e convicção. Duas coisas nos restam: comprar um ingresso e chorar na rampa em abril de 2011 com mais uma bela história para a coleção.
Aos desavisadosMal começou a pré-venda exclusiva para o fã-clube e os primeiros corvos já babaram no anúncio de um setor "privilegiado", a Red Zone, com ingressos a R$1.000. Também acho loucura e só pagaria essa grana pra ver o espírito de Michael Jackson dançando Billie Jean exclusivamente pra mim. Mas nessas horas a gente precisa ser didático. Vamos lá:
1) A Red Zone não é uma pista premium como a de Paul McCartney, Madonna, e de festivais como o SWU, em que se paga mais caro para ficar em frente ao palco, criando um clima de Israel X Palestina entre os setores da plateia. Trata-se de um camarote lateral próximo ao palco, com comes & bebes à vontade, produtos do merchandising oficial grátis e outros mimos. É um modelo de setor muito praticado fora do Brasil.
2) O valor líquido de cada ingresso, descontando impostos e a taxa da T4Fun, será revertido para um fundo global contra a Aids. Informações aqui: www.joinred.com
3) O camarote não impede que os fãs da pista comum cheguem à grade e permaneçam na frente.
Muito pelo contrário. Procurem os vídeos, fotos e mapas de palco da 360° Tour e entendam: dentro do snakepit, estão os fãs que pagaram pista comum e chegaram primeiro. Isso é praxe nos shows do U2. Foi assim em 2006, quando eu estive no Morumbi dois dias seguidos.
4) O palco é enorme, redondo, centralizado na arena e cercado por uma garra gigante e um telão giratório que tornam possível uma boa experiência sensorial até para quem está longe. Quero dizer, isso é o que diz quem já assistiu a 360° Tour na Europa ou EUA.
5) Não é barato trazer uma parafernalha dessas pra América do Sul, que entrou na rota dos big shows outro dia. Mesmo assim, a média de preço dos ingressos dos U2 para todos os setores não é superior às de Madonna, Paul McCartney e Bon Jovi, que trabalham com estruturas menores de palco. Além do mais, nas pistas premium israelitas destes shows, não havia comida, bebida, produtos oficiais e outros mimos grátis. Muito menos renda revertida para salvar criancinhas, baleias ou coisas do tipo.
6) Fácil culpar as bandas pelo preço dos shows. Mas é preciso fazer uma apuração inteligente e aprofundada pra ver como essa conta fecha e de quanta gente esse dinheiro de ingressos vai molhando a mão até chegar nos véios magnatas do rock.
Não, ninguém é obrigado a aguentar chatice politicamente correta ou apoiar o que alguns dizem ser "o U2 fazendo cortesia com o chapeu dos outros". Tampouco alguém é obrigado a comprar
Red Zone, ou muito menos a ir ao show.
Informações sobre ingressos: www.ticketsforfun.com.br