Há cerca de um ano tomei conhecimento sobre a obra do psicólogo, escritor, dramaturgo e cineasta chileno - de expressão mexicana, Alejándro Jodorowsky. O responsável pela introdução foi Marcos Sposito, com quem compartilho certa predileção por trilhas sonoras de filmes B dos anos 60,70 e 80. "Como assim, você nunca assistiu Santa Sangre?". Confesso que nunca, até então.
Finalmente assisti Santa Sangre após eu e Paul Henry termos prometido o filme de presente ao poeta Roberto Piva. Baixei o DVD duplo com todos os extras e me deparei com um inusitado encontro entre Jodorowsky e alunos do curso de cinema de uma universidade americana. Num inglês sofrível, o diretor falava sobre a grande dificuldade em realizar projetos cinematográficos que, obviamente, não cabem na caixinha de idéias prontas Hollywoodianas. Ele afirma que seus filmes só passaram a ser exibidos nos EUA após John Lennon ter visto seu primeiro longa, El Topo, e passar a divulgá-lo junto dos curtas que fez com Yoko Ono.
Jodorowsky contou com a produção do italiano Claudio Argento para Santa Sangre, finalmente lançado em 1989, considerado até hoje uma obra-prima do "bizarro". Claudio estava acostumado a produzir as películas de horror do irmão, Dario Argento - conhecido como o "Hitchcock italiano". Guardadas todas as diferenças entre os diretores, é necessário dizer que o resultado de suas investidas é primordial para a sobrevivência das idéias dissonantes, mesmo entre os autores cinematográficos de verdade. Tanto Jodorowsky quanto Argento são grandes mestres do sensorial e do subconsciente. Delírio, surrealismo, medo e obsessões são as apostas de ambos, em oposição ao modismo de um cinema "híper-realista", como diria meu amigo Felipe Jordani.
Recentemente assisti também a Fando Y Lis (1968), filme de Jodorowsky baseado em peça de Fernando Arrabal. Depois dessa experiência fica difícil aplicar a palavra fantástico a qualquer outra coisa. Infantilidade, beleza, tormento e amor permeiam um universo narrativo filmado em preto e branco, provocando os sentidos e instigando a amoralidade nata de todo ser humano. Por outro lado, Suspiria, de Dario Argento explora a sensorialidade em todas as cores do pânico e do sobrenatural. Em nenhuma outra hipótese um assassinato seria bonito de ver - ou de ouvir, como na trilha composta pelo grupo de rock progressivo GOBLIN.
* acima, a personagem Lis (Fando Y Lis, 1968, A. Jodorowsky)
"Cuando llegues a Tar conocerás la eternidad y verás el pájaro que cada cien años bebe una gota de agua del oceano..."
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Antes que eu me esqueça
Em 1977, o cineasta e crítico Jairo Ferreira já havia filmado três curtas, auxiliado por gente como Carlos Reichenbach, Inácio Araújo e Rogério Sganzerla.
Conheceu o poeta Cláudio Willer no mesmo ano, entrevistando-o para a Folha de S. Paulo. Na época, Willer iniciava um projeto editorial chamado Feira de Poesia, que lançaria em dezembro sua primeira obra literária - "Antes que eu me esqueça", de Roberto Bicelli, com desenhos de um ilustrador até então desconhecido, Guto Lacaz.
Jairo Ferreira tomou conhecimento sobre o festim poético que se realizaria para o lançamento do livro em questão. Não por acaso, era o próprio Bicelli que organizava o evento, no Teatro Célia Helena. Não haveria somente sua leitura, mas participações de Roberto Piva, Eduardo Fonseca, Cláudio Willer, Nelson Jacobina e Jorge Mautner.
O resultado é um filme homônimo de 14 minutos, pouco (ou nada) visto nos últimos 30 anos. "Antes que eu me esqueça" faz parte do acervo do Itaú Cultural e está sendo exibido no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo - 2007, junto de outros 4 curtas de Jairo Ferreira.
Na foto abaixo, o encontro entre os poetas e alguns papagaios de pirata. Em sentido horário: Willer, Lia, Bicelli, Renata, Wagner e Douglas. No Catedral, São Paulo - ago/2007:
Conheceu o poeta Cláudio Willer no mesmo ano, entrevistando-o para a Folha de S. Paulo. Na época, Willer iniciava um projeto editorial chamado Feira de Poesia, que lançaria em dezembro sua primeira obra literária - "Antes que eu me esqueça", de Roberto Bicelli, com desenhos de um ilustrador até então desconhecido, Guto Lacaz.
Jairo Ferreira tomou conhecimento sobre o festim poético que se realizaria para o lançamento do livro em questão. Não por acaso, era o próprio Bicelli que organizava o evento, no Teatro Célia Helena. Não haveria somente sua leitura, mas participações de Roberto Piva, Eduardo Fonseca, Cláudio Willer, Nelson Jacobina e Jorge Mautner.
O resultado é um filme homônimo de 14 minutos, pouco (ou nada) visto nos últimos 30 anos. "Antes que eu me esqueça" faz parte do acervo do Itaú Cultural e está sendo exibido no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo - 2007, junto de outros 4 curtas de Jairo Ferreira.
Na foto abaixo, o encontro entre os poetas e alguns papagaios de pirata. Em sentido horário: Willer, Lia, Bicelli, Renata, Wagner e Douglas. No Catedral, São Paulo - ago/2007:
sábado, 25 de agosto de 2007
A long time ago, today
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Fragmento às seis
Um porta-treco
segura Portinari num
retrato envelhecido
muito simpático
Notei que algumas horas são azuis
Um adesivo
e algumas fotos
Controle-remoto
Emilia e Saci-Pererê
Lembrei do Sítio do Tio Pão-de-Ló em 1989
(com um sorrisinho maroto)
Estava em San Vicente
a cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
as mulheres e os homens
- e passei pelo clube da esquina longínqua...
onde costumamos nos encontrar
nas manhãs de sol
quando chove
segura Portinari num
retrato envelhecido
muito simpático
Notei que algumas horas são azuis
Um adesivo
e algumas fotos
Controle-remoto
Emilia e Saci-Pererê
Lembrei do Sítio do Tio Pão-de-Ló em 1989
(com um sorrisinho maroto)
Estava em San Vicente
a cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
as mulheres e os homens
- e passei pelo clube da esquina longínqua...
onde costumamos nos encontrar
nas manhãs de sol
quando chove
sábado, 4 de agosto de 2007
Além das nuvens
Num café parisiense um homem (Peter Weller) e uma mulher (Chiara Caselli), desconhecidos, sentam-se em mesas separadas. Nas mãos dele um jornal. Nas dela, uma revista. Minutos depois, ela se levanta e pede a ele para sentar à sua mesa. Perplexo e surpreso, o homem deixa-se acompanhar.
Mulher: Nessa revista, li uma coisa magnífica, e preciso compartilhar isso com alguém. Você é daqui?
Homem:Não, sou de Nova Iorque, mas moro aqui. E você?
Mulher: Sou italiana. Mas então, posso dizer?
Homem:- Sim, "sou todo ouvidos". É assim que se diz? (referindo-se à expressão idiomática).
Mulher: Sim...
(Silêncio).
Mulher: No México, cientistas contrataram carregadores para levá-los ao cume da montanha de uma cidade inca. A certa altura, os carrgadores não quiseram mais prosseguir. Os cientistas, irritados, não sabiam como fazê-los seguirem. Não entendiam o porquê de uma parada tão prolongada. Após algumas horas eles se puseram novamente em marcha. E por fim, o chefe dos carregadores ofereceu uma explicação.
Homem: O que se passou?
Mulher: Vejo que lhe interessa...
Homem: (sorrindo) Agora, muito
Mulher: Ele disse que haviam corrido muito e que por isso precisavam esperar suas almas.
Homem: As almas?
(Pausa)
Mulher:(sorri)É magnífico porque também corremos atrás de nossas coisas,e perdemos nossas almas. Devíamos esperar.
Homem: Para fazer o quê?
Mulher:(pausa) Tudo o que nos parece ínútil.
(Fade out).
*Em "Além das Núvens", de Michelangelo Antonioni e Wim Wenders(1995)
**Não se trata da reprodução fiel do roteiro, mas de uma breve descrição da cena e transcrição do diálogo, de acordo com as legendas em Português.
Mulher: Nessa revista, li uma coisa magnífica, e preciso compartilhar isso com alguém. Você é daqui?
Homem:Não, sou de Nova Iorque, mas moro aqui. E você?
Mulher: Sou italiana. Mas então, posso dizer?
Homem:- Sim, "sou todo ouvidos". É assim que se diz? (referindo-se à expressão idiomática).
Mulher: Sim...
(Silêncio).
Mulher: No México, cientistas contrataram carregadores para levá-los ao cume da montanha de uma cidade inca. A certa altura, os carrgadores não quiseram mais prosseguir. Os cientistas, irritados, não sabiam como fazê-los seguirem. Não entendiam o porquê de uma parada tão prolongada. Após algumas horas eles se puseram novamente em marcha. E por fim, o chefe dos carregadores ofereceu uma explicação.
Homem: O que se passou?
Mulher: Vejo que lhe interessa...
Homem: (sorrindo) Agora, muito
Mulher: Ele disse que haviam corrido muito e que por isso precisavam esperar suas almas.
Homem: As almas?
(Pausa)
Mulher:(sorri)É magnífico porque também corremos atrás de nossas coisas,e perdemos nossas almas. Devíamos esperar.
Homem: Para fazer o quê?
Mulher:(pausa) Tudo o que nos parece ínútil.
(Fade out).
*Em "Além das Núvens", de Michelangelo Antonioni e Wim Wenders(1995)
**Não se trata da reprodução fiel do roteiro, mas de uma breve descrição da cena e transcrição do diálogo, de acordo com as legendas em Português.
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