um grande utensílio de amor
meia laranja de alegria
dez toneladas de suor
um minuto de geometria
quatro rimas sem coração
dois desastres sem novidade
um preto que vai para o sertão
um branco que vem à cidade
uma meia-tinta no sol
cinco dias de angústia no foro
o cigarro a descer o paiol
a trepanação do touro
mil bocas a ver e a contar
uma altura de fazer turismo
um arranha-céus a ripar
meia-quarta de cristianismo
uma prancha sem porta sem escada
um grifo nas linhas da mão
uma Ibéria muito desgraçada
um Rossio de solidão
Mário Cesariny, in 'Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano'