III
A garota cumprimentava estátuas
E caminhava pelas sombras
dos cachorros de rua
(Isso quando perdeu uma coisa que valia mais que dois brincos)
Mas nos dias anteriores
Movia-se pelas calçadas como
se pulasse amarelinha
E perfurava nuvens com espadas imaginárias
Gostava de contar o tempo
pelas horas de Júpiter tão longas
quanto os anos que duram onze
E os minutos de silêncio dos
dos jogos de futebol
(Acabou perdendo os brincos onde Judas perdeu as cuecas)
Movia-se pelas calçadas como
se torcesse para um time falido
nos umbrais da segunda divisão
A garota cumprimentava sombras
E caminhava pelos escombros
de suas ruas sem saída
RENATA D'ELIA, MAIO/2013
domingo, 26 de maio de 2013
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Uma entrevista perdida do Piva
Aproveitando os 50 anos de "Paranóia", completados este mês, eis uma entrevista garimpada de Roberto Piva a Álvaro Alves de Faria na rádio Jovem Pan nos anos 1980, logo depois do lançamento de "20 Poemas Com Brócoli". Pena não termos acesso à época da pesquisa de "Os Dentes da Memória - Piva, Willer, Bicelli, Franceschi e Uma Trajetória Paulista de Poesia", que lancei com a Camila Hungria em 2001. Muita coisa ainda permanece em baús individuais. Mas vamos encontrando Alephs nos porões & sótãos.
Eu poderia transcrever trechos da entrevista aqui, mas é tão bom que prefiro deixar com vocês. A visão de Piva sobre "gerações poéticas", os poetas cânones das capas do caderno Ilustrada, Dante Alighieri e as saunas do subúrbio que os operários frequentam -- mas que Lula, então sindicalista, sequer passa perto. Façam o melhor proveito!
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segunda-feira, 1 de abril de 2013
Miklos Radnoti
Um Poema
És assim como um galho sussurrante
quando te debruças sobre mim,
e és sabor misterioso
como semente de papoula,
e como o tempo que encrespa o rio
és assim instigante,
e tão tranqüilizante
como a lápide num túmulo,
és como uma amiga que cresceu comigo
e que fosse ainda hoje
difícil reconhecer
o cheiro do teu cabelo,
e quando te magoas eu temo que me deixes,
vadia fumaça esgrouviada –
e às vezes temo mesmo a ti,
quando tens cor de relâmpago,
e como tormenta no céu que o sol varou:
douradoescuro –
se te irritas és então
exatamente como um úú,
profundo som, ressoante e escuro,
e nessas horas eu
faço com sorrisos laços luminosos
em redor de ti.
És assim como um galho sussurrante
quando te debruças sobre mim,
e és sabor misterioso
como semente de papoula,
e como o tempo que encrespa o rio
és assim instigante,
e tão tranqüilizante
como a lápide num túmulo,
és como uma amiga que cresceu comigo
e que fosse ainda hoje
difícil reconhecer
o cheiro do teu cabelo,
e quando te magoas eu temo que me deixes,
vadia fumaça esgrouviada –
e às vezes temo mesmo a ti,
quando tens cor de relâmpago,
e como tormenta no céu que o sol varou:
douradoescuro –
se te irritas és então
exatamente como um úú,
profundo som, ressoante e escuro,
e nessas horas eu
faço com sorrisos laços luminosos
em redor de ti.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Teus olhos
Teus Olhos
Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.
Octavio Paz
Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.
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